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Cartograma 22 – Florestas Nacionais

3.1 MEIO AMBIENTE

Inicialmente, para se chegar à compreensão do que é meio ambiente, será abordado o entendimento conceitual (etimológico), científico (advindo da Ecologia) e jurídico (proveniente do Direito).

Atualmente, expressões como ecologia, conservação, preservação, desenvolvimento sustentável e meio ambiente foram incorporados ao cotidiano, não apenas como conceitos oriundos da Ecologia, mas como elementos ideológicos da sociedade contemporânea. São instrumentos da expressão do pensamento humano e estão presentes nos meios de comunicação, no vestuário e no imaginário social (BURSZTYN, 2001a; LANGE, 2005; PHILIPPI; SILVEIRA, 2004).

O significado etimológico do vocábulo ambiental tem sua origem na língua latina. É aplicado como adjetivo para referir-se às coisas do ambiente; tanto o ambiente construído, quanto o ambiente natural. A palavra ambiente é constituída por dois termos latinos: a preposição amb (ao redor de, à volta de) e o verbo ire (ir). A junção dos dois termos resulta em ambire, cujo particípio presente, ainda em latim, é ambiens, ambientis. Portanto, ambiente é entendido como tudo que está ao redor de um determinado ser (ANTUNES, 2008; LEITE, 2003; PHILIPPI; BRUNA, 2004).

De fato, os termos ambiente, meio e meio ambiente são frequentemente usados como sinônimos. E os termos “meio” e “ambiente”, possuem o mesmo significado e juntos constituem um pleonasmo, como afirmado por vários autores (ANTUNES, 2008; LEITE, 2003; PHILIPPI; BRUNA, 2004). Mas, o termo “meio ambiente” se consagrou e foi incorporado na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, e em outros instrumentos legislativos nacionais esparsos que constituem a gestão ambiental brasileira31.

A Ecologia é o ramo do conhecimento que procura entender como os organismos interagem entre si e com os componentes não-vivos. Esse termo foi introduzido pelo biólogo alemão Ernest Heinrich Philipp August Haeckel, em 1866, em sua obra Generalle

morphologie der organismen. Foi inspirado nas expressões gregas oikos (casa, morada) e logos (significado). Essa área do conhecimento traz forte influência do evolucionismo

darwiniano.

Também existe na Ecologia32 uma subárea que estuda a interação humana com o seu meio, denominada de Ecologia Humana. Durante o estudo das interações dos seres vivos entre si e com os não-vivos, foi constatado que existem vários níveis ecológicos de organização da natureza, os quais evoluem do mais simples para o mais complexos, de organismos individuais para populações de organismos, e destes para as comunidades e, finalmente, para os ecossistemas (BURSZTYN, 2001b; BURSZTYN; PERSEGONA, 2008; LANGE, 2005; PHILIPPI, ROMÉRO; BRUNA, 2004; PHILIPPI; SILVEIRA, 2004).

O meio ambiente pode ser classificado como construído ou natural. O meio ambiente construído é aquele constituído pelo ambiente agrícola e urbano. O meio ambiente urbano é o ambiente natural transformado onde os seres humanos se aglomeram. A partir do momento que o ser humano interage no meio natural e o transforma, esse processo passa a ser definido como antropismo. Já o meio ambiente natural está constituído pelos fatores bióticos (flora marinha e terrestre; e fauna: aves, animais marinhos e terrestres), fatores abióticos (solo, água, ar e energia) e cultura humana (religião, economia, sociedade, artes, ciência, moral, política, paradigmas e valores filosóficos) (LANGE, 2005).

O meio ambiente no Direito, no caso brasileiro, faz parte dos direitos de quarta geração. Constitui um bem comum, definido na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, no art. 225; é Direito Difuso, de natureza pública e imaterial, tratado no Código de Defesa do Consumidor (CDC) no art. 81, parágrafo único, inciso I 33. Não se confunde com os bens ambientais (microbens), que são partes integrantes do ambiente (macrobem), que têm autonomia e identidade própria. Nessa categoria de direitos estão o meio ambiente, a qualidade de vida34, o direito à paz e ao progresso, observada a autodeterminação dos povos (BENATTI, 2005; FRIZZO, 2003; LEITE, 2003; RODRIGUES, 2008).

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A classificação das grandes áreas do conhecimento adotada pelo CNPq está constituída por oito áreas: Ciências Exatas e da Terra, Ciências Biológicas, Engenharias, Ciências da Saúde, Ciências Agrárias, Ciências Sociais Aplicadas, Ciências Humanas e Linguística, Letras e Artes. A Ecologia é uma subárea da área da Ciências Biológicas.

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Lei nº 8.078/1990 – Código de Defesa do Consumidor:

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.

Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:

I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato.

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Para Canotilho e Moreira, qualidade de vida:

... é uma conseqüência derivada de múltiplos fatores no mecanismo e no funcionamento das sociedades humanas e que se traduz primordialmente numa situação de bem-estar físico, mental, social e cultural no plano individual, e em relação de solidariedade e fraternidade no plano coletivo.(CANOTILHO; MOREIRA,

O conceito legal de meio ambiente (macrobem), encontra-se definido na Lei nº. 9.638/1981 - Política Nacional de Meio Ambiente, na qual diz que é:

Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:

I – meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas (MEDAUAR, 2007, p.785).

Nesta lei, os recursos ambientais (microbens) são entendidos como parte do meio ambiente que é constituído de:

a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora (MEDAUAR, 2007, p.785).

É interessante observar a diferença na definição utilizada pela legislação brasileira e a americana com relação aos recursos naturais. A legislação nacional prefere listar os bens ambientais a criar um conceito, diferente da abordagem americana que define o recurso natural como sendo tudo que não foi feito pelo homem (anything not man-made). O Direito Ambiental importou o termo recurso natural da Economia, o qual é sinônimo de bem ambiental no Direito (BENATTI, 2005; PHILIPPI; SILVEIRA, 2004; RIOS; ARAÚJO, 2005).

Síntese do conceito de meio ambiente

Alinhando os diversos conceitos apresentados – etimológico, acadêmico e legal –, concebe-se o seguinte discernimento sobre o meio ambiente, o qual servirá de fundamento para esta pesquisa (BRASIL, 1981; BRASIL, 1988; BURSZTYN; PERSEGONA, 2008; LANGE, 2005; LEITE, 2003; PHILIPPI; SILVEIRA, 2004):

No sentido genérico – etimológico e acadêmico, meio ambiente:

a. envolve diversas áreas do conhecimento, portanto, configura-se como interdisciplinar ou transdisciplinar;

b. é um conceito que destaca a relação homem-natureza; e

c. deve ser tratado com uma visão antropocêntrica abrangente, que admita a inclusão de outros elementos e valores. Essa concepção já faz parte do sistema jurídico brasileiro.

No sentido jurídico:

a. o conceito de meio ambiente nas leis brasileiras tem um sentido amplo, que envolve a vida em todas as suas formas. No conceito jurídico, abrange os elementos naturais, artificiais e culturais;

b. o meio ambiente ecologicamente equilibrado é um macrobem unitário e integrado. Portanto, é um bem incorpóreo e imaterial, com uma configuração também de microbem;

c. é um bem de uso comum do povo. Trata-se de um bem jurídico autônomo de interesse público; e

d. é um direito fundamental do homem. Trata-se, em suma, de um direito fundamental intergeracional, intercomunitário, incluindo a adoção de uma política de solidariedade35.

O meio ambiente é um conceito que deriva do homem e a ele está relacionado, porém, interdependente com a natureza. Qualquer que seja o conceito adotado para meio ambiente deverá englobar o homem e a natureza, com todos os seus elementos (BURSZTYN; PERSEGONA, 2008). Também não é possível conceituar meio ambiente fora de uma abordagem antropocêntrica ampliada, pois a proteção jurídica depende de uma ação humana. Por isso, se ocorrer danos ao meio ambiente, estes se estendem à coletividade humana, por se tratar de um bem difuso36 interdependente (LEITE, 2003).