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Cartograma 22 – Florestas Nacionais

3.2 DIREITO AMBIENTAL

O Direito tem como função ordenar as relações sociais, por meio de leis e sanções, proporcionando a segurança indispensável para um convívio social harmonioso. Para isso, organiza-se em círculos concêntricos que regem sua organização, são eles: objetivos, princípios, instrumentos e instituições.

O Direito Ambiental é o ramo do Direito que busca adequar o comportamento humano ao meio ambiente que o rodeia. Para isso, trabalha com as normas jurídicas de vários ramos

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Bursztyn (2001b) explica que:

o uso da expressão solidariedade, associada a aspectos não estritamente religiosos, é bem mais recente. A solidariedade entre membros de um mesmo grupo social, movida por afinidades corporativas e pela identidade de interesses comuns, surge com o fim das políticas de compensação da pobreza (anti corn laws), na Grã- Bretanha do segundo quartel do século XIX (BURSZTYN, 2001b, p.64).

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do Direito e de outras áreas do saber humano. É, portanto, uma matéria transdisciplinar (RODRIGUES, 2008; SANTILLI, 2005; SILVA, 2004). Dessa maneira, o Direito passa a ter a função de gerir a produção de riscos, o que demanda medidas de prevenção e precaução, impondo prudência nos comportamentos e ações humanas como forma de garantir o convívio harmonioso para as gerações presentes e futuras.

Para a doutrina do Direito Ambiental Internacional, o momento considerado como ponto inicial foi a Convenção das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo – Suécia, em 1972, quando o mundo procura compreender e discutir os problemas do meio ambiente em escala global, buscando respostas, coordenando ações e procurando definir linhas de atuação futuras (BURSZTYN; PERSEGONA, 2008; PHILIPPI; BRUNA, 2004). Porém, no Brasil os instrumentos legais de proteção de elementos que compõem o meio ambiente existem desde a época da Colônia, tais como: cartas régias, alvarás e provisões. A primeira destas foi outorgada a Thomé de Souza, em 17 de dezembro de 1548, pelo Rei Dom João III, que em seu capítulo 35, reafirmava o regime do monopólio do pau-brasil para a Coroa Portuguesa, cuja extração deveria ser feita “com o menor prejuízo da terra” (BURSZTYN; PERSEGONA, 2008).

Mas, não é intenção aqui fazer um relato cronológico de como se estabelecem os instrumentos ambientais jurídicos no Brasil. Esse tema será abordado com maior detalhe no próximo capítulo – Política Ambiental Brasileira. Apenas, pretende-se mostrar que o Direito Ambiental no Brasil vem sendo construído há muitos anos e que a preocupação com o meio ambiente não é algo novo.

A década de 1930 marcou um surto de atividades conservacionistas e o estabelecimento dos primeiros parques nacionais. Nesse período foram promulgados os primeiros códigos ambientais e diversos decretos em prol do meio ambiente37. Nesse mesmo ano, a Constituição de 1934 passou a conter dispositivos relacionados às questões ambientais (LITTLE, 2003).

Outro momento que merece destaque é a década de 1960. Com a emergência de movimentos ecológicos, surgem novos instrumentos legais com normas diretamente dirigidas à preservação e ao controle da degradação ambiental. A maioria dos códigos promulgados na década de 1930 e 1960 ainda está vigente36.

Nos anos seguintes surgem a Lei nº. 6.001/1973 - Estatuto do Índio; Decreto-Lei nº. 1.413/1975 - Controle da poluição do meio ambiente provocada por atividades industriais;

Lei nº. 6.453/1977 - Responsabilidade civil por danos nucleares e responsabilidade criminal por atos relacionados com atividades nucleares; Lei nº. 6.513/1977 - Criação de áreas especiais e locais de interesse turístico; Lei nº. 6.766/1979 - Parcelamento do solo urbano; Lei nº. 6.938/1981 - Política Nacional do Meio Ambiente; Lei nº. 9.433/1997 - Política Nacional de Recursos Hídricos; Lei nº. 9.605/1998 - Lei de Crimes Ambientais; Lei nº. 9.795/1999 – Política Nacional de Educação Ambiental; e Lei nº. 9.985/2000 - Sistema Nacional de Unidades de Conservação.

E, mais recentemente, foi instituído o Decreto nº. 4.339/2002, o qual estabelece princípios e diretrizes para a implementação da Política Nacional da Biodiversidade.

Mas foi em 1988, quando da promulgação da Constituição Federal, que se reconheceu o meio ambiente ecologicamente equilibrado como um direito fundamental, expresso no seu caput do art. 225. Nele se estabeleceu, pela primeira vez na história do Brasil, que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida (BRASIL, 1988; LEUZINGER, 2005; LITTLE, 2003).

Nesse sentido, o meio ambiente passa a ser entendido pelo direito ambiental como um macrobem38 porque é um bem de interesse público que afeta à coletividade (res communes

omnium39). É tratado como um título e uma disciplina autônoma dentro do Direito. Sendo assim, é necessário que o meio ambiente tenha um conjunto de leis que regulem a sua gestão e a sua proteção. Para isso, foram criados vários instrumentos jurídicos. A Lei nº. 6.938/1981 - Política Nacional de Meio Ambiente e a Lei nº. 9.605/1998 - Lei de Crimes Ambientais, são os principais instrumentos jurídicos ambientais brasileiros (KRELL, 1998; LEITE, 2003; SANTILLI, 2005). Recentemente, foram promulgados dois decretos que complementam a Lei nº. 9.605/1998 no que se refere às sanções e aos procedimentos administrativos, o Decreto nº. 6.514/2008 e o Decreto nº. 6.686/2008.

O meio ambiente, do ponto de vista jurídico, pode ser composto por bens pertencentes ao domínio público ou privado. Dessa forma, a propriedade do bem jurídico meio ambiente, quando se trata de coisa apropriável, pode ser pública ou privada, porém a sua fruição é sempre de todos. A compreensão do meio ambiente como um bem público constitui elemento essencial para sua conservação. Fundamenta-se na supremacia do interesse

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O macrobem ambiental é composto de microbens, tais como florestas, rios, propriedade de valor paisagístico etc. É interessante destacar que quando se trata de microbem pode ter regime de propriedade variado, ou seja, pública e privada, no que concerne à titularidade dominial. Na outra categoria, é um bem qualificado como de interesse público, seu desfrute é necessariamente comunitário e destina-se ao bem-estar individual (LEITE, 2003).

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coletivo sobre o individual. Dessa maneira, cabe ao Estado ordenar o seu uso e sua proteção (BRASIL, 1988; GUIMARÃES, 2002; LANGE, 2005).

No entanto, Leite (2003) adverte que tanto o Código Civil Brasileiro de 1916 40 como o Novo Código Civil41 incorrem em um erro ao classificar os bens de uso comum do povo como bens públicos. O jurista explica que o erro ocorre porque o legislador dispensou ao bem ambiental de interesse público um tratamento restrito, considerando-o como pertencente ao Poder Público e não a toda a coletividade, como dispõe a Constituição da República Federativa do Brasil. Já o Código Civil de 1916 trata o meio ambiente como uma

res nullius, ou seja, coisa sem dono e possível de apropriação. Essa concepção foi alterada

no Novo Código Civil, sem, contudo, estabelecer expressamente o conteúdo das coisas sem dono ou apropriáveis.

Dessa forma, o meio ambiente (macrobem) passa a ser entendido como uma categoria difusa, de natureza pública e imaterial, não se confundindo com os bens ambientais (microbens), que são partes integrantes do ambiente, com autonomia e identidade própria. Os microbens possuem a mesma natureza pública de uso comum do macrobem (communes omnium). Com isso, pode-se interpretar que uma ação degradadora que provoque danos, ao mesmo tempo, ao macrobem e ao microbem terá a sua reparação de tal maneira que possibilite a recuperação tanto do microbem afetado individualmente, quanto do macrobem (BENATTI, 2005).

O Direito Ambiental coloca um conjunto de limitações às possibilidades de utilização do solo e dos recursos naturais e a confirmação da adoção do princípio biocêntrico, em detrimento do antropocêntrico. Em outras palavras, os legisladores demonstram sua inclinação para encarar o homem não como centro da natureza, mas como parte integrante dela (FERNANDES, 2001).

3.3 RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA POR DANOS AMBIENTAIS