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Ambiente Institucional e o Sentido Simbólico das Organizações

2 Revisão da Literatura e Fundamentação Conceitual

2.3 Teoria Institucional

2.3.1 Ambiente Institucional e o Sentido Simbólico das Organizações

Diferente das teorias de ambiente precedentes, tais como a Teoria da Contingência e a Teoria da Dependência de Recursos, que enfatizam as exigências técnicas do ambiente tarefa (SCOTT, 1987), para a Teoria Institucional são as pressões e restrições dos ambientes institucionais o foco mais específico deàate ç oà OLIVE‘,à .àEstaà a pliaç oà o eitualà daà is oàdeàa ie te ,ài o po a doàaàdi e s oài stitu io al,àpodeàse àat i uídaàaàJoh àW.à Meyer e Brian Rowan (MACHADO-DA-SILVA; GONÇALVES, 1999). Dessa maneira, o trabalho destes estudiosos desafiou as tradições teóricas e empíricas então dominantes na pesquisa organizacional (TOLBERT; ZUCKER, 1999).

De acordo com Scott (2008, p.48), instituições s oà o p ee didasà deà ele e tosà regulatórios, normativos e cultural-cognitivos que, juntos com atividades e recursos associados, fornecem estabilidade e sig ifi adoà à idaà so ial . Grande parte dos teóricos institucionais concorda que instituições que exercem pressão e expectativas são o Estado, as profissões e também grupos de interesse e opinião pública (OLIVER, 1991), moldando a vida organizacional diretamente pela imposição de restrições e exigências e indiretamente criando e promulgando novos mitos racionais (SCOTT, 1987). Teorias organizacionais anteriores não enfatizaram, como o institucionalismo, estes outros atores entre os elementos ambientais relevantes (SCOTT, 1987).

A ênfase no ambiente institucional sugere que a fonte de poder externo está naquele que molda e executa regras e crenças (OLIVER, 1991), e que processos de ligação entre organização e ambiente se baseiam na incorporação e no isomorfismo (SCOTT, 1987). Dessa maneira, segundo os principais autores desta perspectiva, as organizações enfatizam a sobrevivência mediante a conformidade com o ambiente institucional e a incorporação de regras e normas externas (OLIVER, 1991).

Como conseqüência da ampliação da visão de ambiente, Meyer e Rowan (1977) introduzem a idéia de que a organização, normalmente compreendida como um sistema de coordenação e controle (dimensão técnica), possui também um sentido simbólico (dimensão institucional). Dessa maneira, estes autores realizam uma grande ruptura com a forma convencional de se pensar sobre estrutura organizacional (TOLBERT; ZUCKER, 1999).

Tolbert e Zucker (1999) ressaltam que a noção de que as organizações apresentam aspectos simbólicos importantes não era totalmente nova, no entanto, segundo as autoras, a contribuição de Meyer e Rowan está no esforço de compreensão das implicações do uso da estrutura formal para propósitos simbólicos, especialmente no sentido de ressaltar as limitações de explicações de cunho mais racional.

Meyer e Rowan (1977) explicam que as teorias organizacionais predominantes supõem que as organizações funcionam de acordo com suas estruturas formais, que coordenam e controlam as atividades organizacionais. No entanto, segundo os autores, não existe necessariamente uma conexão estreita entre as estruturas e os comportamentos dos membros da organização; estruturas formais não coordenam e controlam as atividades de maneira plena, elementos estruturais são frouxamente agrupados.

Para explicar esta idéia, os autores argumentam que estas teorias negligenciam a questão da crença na legitimidade das estruturas formais racionalizadas, como exposto por Weber. Segundo estas teorias, a legitimidade é dada: as normas racionais são aceitas como necessárias à burocratização. No entanto, as normas não são simplesmente valores gerais que facilitam a formalização, elas cumprem um papel mais específico e poderoso nas regras, entendimentos e significados das estruturas sociais institucionalizadas. Os autores defendem, portanto, que a importância destas instituições no processo de burocratização tem sido negligenciada (MEYER; ROWAN, 1977).

Dessa maneira, pode-se entender que as sociedades modernas são repletas de burocracias por duas razões. Primeiro, de acordo com as teorias predominantes, as redes relacionais se tornam cada vez mais complexas, levando à necessidade de estruturas formais. Segundo, sociedades modernas são repletas de regras institucionais que funcionam como mitos que geram estruturas organizacionais formais como meios racionais para realização de fins desejáveis. Estes mitos são prescrições racionalizadas e impessoais e são altamente institucionalizados; fornecem legitimidade, independente de seu impacto no desempenho da atividade técnica (MEYER; ROWAN, 1977).

Considerando que as organizações surgem em contextos altamente institucionalizados, elas são criadas a partir do que se compreende como racional, isto é, elas são levadas a incorporar práticas e procedimentos organizacionais definidos como racionais e institucionalizados na sociedade. Assim, aumentam sua legitimidade perante esta sociedade e, conseqüentemente, suas expectativas de sobrevivência, independente da eficácia imediata das práticas e procedimentos incorporados (MEYER; ROWAN, 1977).

Pode-se compreender que as estruturas organizacionais se formam para atender aos doisà o te tos :àoà ela io al,à ueàe igeà oo de aç oàeà o t oleàdasàati idadesàpa aàate de à as demandas de eficiência; e o institucional, que exige que a organização obtenha legitimidade. Assim, a sobrevivência de algumas organizações pode depender mais do controle das demandas relacionais internas enquanto de outras pode depender mais de demandas cerimoniais (MEYER; ROWAN, 1977). Dessa maneira, apesar de alguns mecanismos de seleção atuarem, o processo de competição interorganizacional pode não eliminar as organizações ineficientes (MEYER; ROWAN, 1977; DIMAGGIO; POWELL, 1983; TOLBERT; ZUCKER, 1999).

As práticas organizacionais institucionalizadas funcionam, portanto, como mitos poderosos e muitas organizações as adotam cerimonialmente, a fim de proteger suas estruturas formais das incertezas das atividades técnicas. Dessa maneira, as atividades organizacionais se tornam frouxamente acopladas para manter a conformidade cerimonial, formando lacunas entre a estrutura formal e as atividades reais de trabalho. As estruturas formais de muitas organizações da sociedade pós-industrial podem refletir mais os mitos de seus ambientes institucionais do que as demandas de suas atividades de trabalho (MEYER; ROWAN, 1977).

Meyer e Rowan (1977) discutem algumas implicações empíricas destas idéias. Segundo eles, ambientes constituídos por um grande número de mitos racionais institucionalizados geram mais organizações formais; assim, a ascensão do Estado e de outras instituições para ação coletiva tem como resultado o surgimento de organizações formais e o aumento da complexidade de suas estruturas. Neste contexto, organizações devem se adaptar atendendo a estes mitos, mesmo que nenhuma evidência de eficiência exista. Ainda, organizações que incorporam elementos estruturais terão mais sucesso em ambientes nos quais estes elementos são mais amplamente institucionalizados; organizações que incorporam elementos estruturais não institucionalizados em seus ambientes podem não ser bem sucedidas. Como conseqüência, em contextos altamente institucionalizados, organizações devotam mais esforços na conformidade ou isomorfismo ritual (MEYER; ROWAN, 1977).

Tolbert e Zucker (1999) explicam que este novo ponto de vista ajudou a questionar os modelos causais de estrutura baseados em características organizacionais internas, convencionalmente consideradas como fontes de estrutura formal, tais como tamanho e tecnologia. Segundo estes modelos, conforme aumenta a complexidade das relações

envolvidas na troca econômica, as estruturas organizacionais também se tornariam cada vez mais complexas (MEYER; ROWAN, 1977). Também foram questionados estudos relacionados à conceituação e medição de estruturas em termos gerais e abstratos, tais como formalização, complexidade e centralização (TOLBERT; ZUCKER, 1999).