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2 Revisão da Literatura e Fundamentação Conceitual

2.4 A Teorização da Pequena Empresa

2.4.1 Administração, Racionalidade e Organização

2.4.1.1 Formação do Moderno Pensamento Administrativo

No século XVIII, o racionalismo atingiu seu apogeu e no século XIX foi aplicado nas ciências naturais e sociais. O campo de trabalho foi afetado pela racionalização no início do século XX (MOTTA; VASCONCELOS, 2004). É neste momento histórico que surge a organização burocrática. O conjunto de idéias que formam este contexto pode ser denominado de Movimento da Racionalização do Trabalho, influenciado pela Segunda Revolução Industrial, quando se destacavam a ciência e a tecnologia, expansão do sistema fabril e dos mercados e o aumento do porte das empresas. Alguns desafios deveriam ser enfrentados pela gerência das empresas, como a coordenação de grande fluxo e processamento de materiais, criação de novos departamentos funcionais e estabelecimento de uma direção geral (ESCRIVÃO FILHO, 2008).

A resposta da sociedade ao desafio de produzir mais e melhor foi a racionalização do trabalho. As idéias da Escola da Administração Científica e da Escola Clássica da Administração foram fundamentais para substituição do tradicionalismo pelo racionalismo como meio de coordenação das atividades produtivas, inaugurando a moderna administração. Enquanto Frederick W. Taylor estudou a racionalização do trabalho do operário, Henri Fayol estudou a racionalização do trabalho do administrador.

Dessa maneira, uma nova organização estava sendo criada, com a intervenção no trabalho humano e em suas relações sociais, transferindo a esfera de decisão para o ápice de uma hierarquia e submetendo os participantes a regras racionalizadas e fundamentadas em aspectos legais abstratos (ESCRIVÃO FILHO, 2006).

O início da teorização sobre a organização e, conseqüentemente, sobre o conflito, aconteceu com a aplicação do estruturalismo à Administração, passando de uma análise microorientada da questão gerencial para uma visão organizacional, sendo fundamentais neste momento os estudos de Max Weber sobre a dominação existente na relação entre dirigentes, funcionários e dominados (ESCRIVÃO FILHO, 2006).

Dominação é definida por Weber (1999, p.139) o oà aàprobabilidade de encontrar obediência para ordens específicas (ou todas) dentro de um determinado grupo de pessoas . Segundo o autor, a dominação pode se basear nos mais diversos motivos de submissão, desde o hábito inconsciente até considerações racionais, referente a fins. Ele apresenta três tipos puros de dominação legítima, isto é, motivos de submissão, de aceitar a autoridade como legítima (WEBER, 1999, P.139).

A vigência de sua legitimidade pode ser, primordialmente: 1. de caráter racional: baseada na crença na legitimidade das ordens estatuídas e do direito de mando daqueles que, em virtude dessas ordens, estão nomeados para exercer a dominação (dominação legal), ou

2. de caráter tradicional: baseada na crença cotidiana na santidade das tradições vigentes desde sempre e na legitimidade daqueles que, em virtude dessas tradições, representam a autoridade (dominação tradicional), ou, por fim,

3. de caráter carismático: baseada na veneração extracotidiana da santidade, do poder heróico ou do caráter exemplar de uma pessoa de dar ordens por esta reveladas ou criadas (dominação carismática).

Segundo Weber, a dominação no contexto das organizações tem caráter racional- legal: as pessoas obedecem ao estatuto legal – ordem impessoal, objetiva e legalmente estatuída – e aos superiores por ele determinados.

Escrivão Filho (2006) explica que os autores estruturalistas da Administração usaram parcialmente os conceitos de burocracia de Weber. Eles têm uma orientação ad i ist ati ista àeàs oàde o i adosàfu io alistas;àpor outro lado existem os weberianos ueà s oào ie tadosàpelaà íti aàpolíti a àdaà u o a ia.àOàauto àdefe deà ueà aà dis uss oà sobre dominação burocrática tornou-se um conceito de autoridade administrativa, sem política. Muitos autores, inclusive no Brasil, apresentam Weber de forma primária e vulgar como propositor de uma teoria administrativa burocrática, quando, na verdade, ele foi um g a deà íti oàdaà u o a ia à E“C‘IVÃOàFILHO,à ,àp. .àDessaà a ei a,àoàest utu alis oà estava introduzindo no estudo da administração, por meio de uma leitura empobrecida e despolitizada, os conceitos de burocracia de Weber. Os estudos microorientados davam lugar e se integravam aos estudos organizacionais (ESCRIVÃO FILHO, 2006).

Para o segundo momento do pensamento administrativo, Movimento das Relações Humanas, o conflito entre organização e indivíduo não deveria existir; assim, psicólogos, sociólogos, antropólogos, psicossociólogos buscavam encontrar a melhor maneira de integrar o operário à organização, tentando minimizar o conflito (ABREU, 1982), enfatizando elementos de pouca ou nenhuma importância para a escola clássica (ETZIONI, 1973). Os

autores do Movimento Estruturalista-Sistêmico criticaram essa concepção ingênua dos hu a istas , que enfatizava apenas os aspectos informais da organização, apresentava um quadro irreal sobre harmonia no trabalho e a organização como uma grande família. A Teoria Institucional, importante contribuição do terceiro movimento a partir das idéias de Philip Selznick, propõe uma síntese entre estrutura formal e relações humanas e reconhece a existência do conflito na organização (ESCRIVÃO FILHO, 1998).

Etzioni (1973) lembra que os dois primeiros momentos do pensamento administrativo – Racionalização do Trabalho e Relações Humanas – tinham um elemento em comum: não viam qualquer contradição fundamental ou dilema na relação entre procura da racionalidade da organização e busca de felicidade humana. O terceiro momento – Estruturalista-Sistêmico – fornece uma visão mais ampla e integrada do que os momentos precedentes com suas visões parciais (ABREU, 1982), considerando inevitáveis a alienação e o conflito entre organização formal e informal (ETZIONI, 1973).

De acordo com Etzioni (1973), a teoria estruturalista se inspirou na obra de Max Weber e, até certo ponto, também no trabalho de Karl Marx, enxergando a organização como uma unidade social grande e complexa, onde interagem muitos grupos sociais; embora estes grupos compartilhem alguns interesses, têm outros incompatíveis. Os diversos grupos poderiam cooperar em certas esferas e competir em outras, mas dificilmente seriam uma grande família feliz. O esforço da administração para fazer os operários trabalharem é fundamentalmente alienador; existem maneiras de tornar o trabalho mais agradável, mas nenhuma que o torne satisfatório em um sentido absoluto (ETZIONI, 1973).

áà Teo iaà ád i ist ati aà udaà oà fo oà daà dis uss oà daà so iedade à a o à pa aà aà organização (micro), da questão política para a questão administrativa (ESCRIVÃO FILHO, 2006).