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CAPÍTULO 1 DELIMITAÇÃO DO TEMA

1.1 Contexto histórico: a herança da desorganização urbana brasileira

1.1.4 O ambiente natural

Situado no Estado do Ceará, o Maciço de Baturité localiza-se a noroeste da cidade de Fortaleza, sendo Acarape a primeira cidade que se acessa através da CE-060 e distante a 60 km da capital. O maciço é composto por três sub-regiões: a primeira é a serrana, a dos vales; a segunda é a dos sertões; e a terceira a de transição. Todas elas têm características naturais distintas, e uma diversidade ambiental significativa, pois seus índices pluviométricos são variados com seus microclimas específicos em cada uma das três sub-regiões (COSTA FILHO, 2004).

Inserido no Maciço de Baturité, o Município de Guaramiranga, foco do nosso estudo, dista 110 km da capital Fortaleza, por acesso via CE-060. Está localizado a mais de 800 m acima do nível do mar, tendo uma área total de 59 km2 (IBGE, 2007). Situada na sub-região serrana, composta ainda pelos municípios de Pacoti, Palmácia, Mulungu e Aratuba, é a mais sensível das sub-regiões considerando-se os aspectos ambientais (Figura 7).

Figura 7 – O acesso para Guaramiranga é feito saindo de Fortaleza através da CE-060, passando-se aí por cidades que compõem a subzona de transição do litoral

36 Em grande parte da sua territorialidade, Guaramiranga é recoberta por uma vegetação densa de Mata Atlântica. Como mostra a citação, o relevo local apresenta uma topografia com feições de inclinação muito forte.

De acordo com BRASIL (1981), a área do maciço está toda inserida no Complexo Nordestino. Estes maciços são marcados por um tectonismo intenso, onde as zonas de cizalhamento, fraturamentos, dobramentos e falhamentos dispersos por toda a área condicionam a uma morfologia fortemente acidentada (BRASIL, 2002, citado por Bastos, 2005, p 42).

Com uma formatação de relevo muito íngreme, a região é visivelmente sensível em seus aspectos ambientais, pois as dinâmicas de drenagem superficial formam uma cadeia excessivamente rica de vertentes e curvas que projetam colinas com inclinações variáveis entre 15 e 30% (Figura 8). Nas vertentes ocidental e setentrional, existe uma diminuição desta inclinação, a qual fica por volta de 10 a 15%, pois a concentração de chuvas nesta área é menor. Na vertente oriental e no platô, com uma concentração de umidade que gera maior energia através da drenagem, as escarpas são maiores (PLANEJAMENTO BIORREGIONAL DO MACIÇO DE BATURITÉ, 2002).

Figura 8 – Vista panorâmica do Município de Guaramiranga Fonte: Costa Filho, 2004.

Determinadas especificidades tornam o ambiente natural do município muito singular. Desta forma, sobressai a necessidade da proteção do ambiente natural local. Neste conceito relata Bastos:

Na porção úmida (vertente de barlavento e platô), o relevo apresenta-se extremamente dissecado (ver Figura 02), em decorrência do forte poder de

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entalhe de sua drenagem, que devido a essa característica, forma vales em forma de V. Em alguns trechos de seu prolongamento esses vales se alargam, propiciando a formação de planícies alveolares, originadas a partir de depósitos colúvio-aluviais, que se caracterizam como áreas bastante utilizadas pela agricultura uma vez que apresentam baixas declividades (0 – 2%) (BASTOS, 2005, p. 45)

Como mostra a Figura 8, o Município de Guaramiranga possui uma dinâmica hídrica importante para a captação de água, pois sua cobertura florestal abundante desempenha o papel de catalisador de chuvas, o que imprime um ritmo pluviométrico específico àquela região. Na referida figura pode-se observar, numa visão panorâmica do município, a extensão e relevância da sua cobertura vegetal.

Num Estado nordestino caracterizado por baixos índices pluviométricos, com extensa área de clima semi-árido, a exuberante cobertura vegetal do Maciço de Baturité, onde está inserido o Município de Guaramiranga, é um marco ambiental do Ceará. Ademais, constitui reconhecida fonte de recursos hídricos, inclusive para o abastecimento da Região Metropolitana de Fortaleza. Em virtude destas características naturais da região, a proteção da sua fauna e flora é essencial para a manutenção dos recursos hídricos desta área do Estado do Ceará, tanto em qualidade como em quantidade.

A preservação das nascentes e da cobertura florestal deste maciço é a melhor forma para a proteção e manutenção das águas que abastecem os principais açudes da região metropolitana, mantendo-os com águas de boa qualidade. Em face desta vantagem, frisamos a necessidade da proteção dos recursos hídricos encontrados fora do limite da APA de Baturié, mas que influenciam na qualidade destes recursos.

Na Figura 9, consta a média pluviométrica de Guaramiranga no período de 1974-2004.

38 0 50 100 150 200 250 300 350

jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez meses pr ec ip ita çã o em m m

Figura 9 – Média pluviométrica de Guaramiranga (1974-2004) Fonte: Bastos, 2005.

No platô e vertente oriental, onde está localizada a cidade de Guaramiranga, o clima é úmido, em média 120 mm. O período de maior incidência de precipitações se concentra nos meses de março, abril e maio, quando chega a chover 60% do total previsto para toda quadra (PLANEJAMENTO BIORREGIONAL DO MACIÇO DE BATURITÉ, 2002).

As temperaturas no Município de Guaramiranga são atenuadas pelos níveis altimétricos, girando em torno de 19 e 22oC durante o ano. Mas em determinados meses do ano entre julho e setembro, no período da noite pode se sentir temperaturas ainda mais amenas, beirando os 14 e 15oC. Com a incidência dos ventos, esta sensação térmica pode baixar ainda mais. (PLANEJAMENTO BIORREGIONAL DO MACIÇO DE BATURITÉ, 2002).

Quanto à biodiversidade local, é extremamente complexa e singular por causa do isolamento físico do maciço. Nestes ambientes encontram-se espécies vegetais e animais oriundos das Florestas de Mata Atlântica e da Floresta Amazônica. Portanto há um alto grau de endemismo de espécies, sendo este um fator ainda mais relevante para o controle ambiental, pois espécies endêmicas não se adaptam a ambientes novos e possuem pouca

39 resistência às alterações antrópicas ocorridas em seu habitat (RODRIGUES; AMARAL; SALES JÚNIOR, 2004).

Dentro da APA, foram catalogadas 39 famílias de aves, no total de 155 espécies. O número de famílias representa 45% de todas as famílias de aves do Brasil (PLANEJAMENTO BIORREGIONAL DO MACIÇO DE BATURITÉ, 2002). Toda esta variedade de fauna constitui um ambiente natural sofisticado e muito delicado, demonstrando a necessidade de se manter um equilíbrio na região, com vistas à manutenção do sistema natural.

Algumas espécies como o periquito-de-cara-suja (Pyrrhura anaca) e o pica-pau- anão-do-nordeste (Picumnus limea), além de serem endêmicas do local, encontram-se catalogadas como animais em extinção. Inegavelmente este ambiente é de extrema importância para a manutenção destas espécies (RODRIGUES; AMARAL; SALES JÚNIOR, 2004).

Territorialmente, o Município de Guaramiranga, segundo a Lei Municipal no 111/05, possui 85% da sua área situada na Zona Rural Especial. Esta zona representa a grande vertente de concentração das áreas de florestas municipais, e são as mais sensíveis nos sistemas ambientais. Tais áreas devem possuir instrumentos legais e de controle, não apenas para regular sua ocupação, mas também na utilização deste solo, para se poder dar a devida manutenção do equilíbrio ambiental local.

De acordo com estudos realizados na região, a proteção apresentada na APA de Baturité foi restringida no momento em que se delimitou apenas a cota de 600m como sendo a área a ser protegida, pois as interações entre o ambiente do sertão e o Maciço Residual, como são conhecidos estes enclaves de mata úmida aflorados nesta região, ficam vulneráveis (PLANEJAMENTO BIORREGIONAL DO MACIÇO DE BATURITÉ, 2002). O legislador deveria ter estendido estas áreas até o sopé da serra, em virtude de ali se encontrar grandes reservatórios naturais de águas que advêm do seu topo e geram necessidade de proteção destes para a sobrevivência de tão importantes bens naturais.

40 Criar uma área de proteção ambiental é um ato essencial para a manutenção de sistemas ambientais. Contudo, a nosso ver uma pequena avaliação da necessidade da extensão da proteção do ambiente natural ora discutido deveria ter sido levada em consideração por aqueles que constituíram os marcos legais para a construção da APA de Baturité.