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CAPÍTULO 3 APA DE BATURITÉ E SEUS REFLEXOS NAS POLÍTICAS URBANÍSTICAS DE GUARAMIRANGA

3.4 O Art 4 o do Decreto Estadual n o 20

No ano de 1991, foi aprovada a instrução normativa (IN) reguladora da APA de Baturité. Este instrumento legal tem como premissa apresentar as regulamentações do Art. 7o do Decreto no 20.956, de 18 de setembro de 1990, responsável pela efetiva criação da APA.

Composta por apenas 12 artigos, a referida instrução é muito sucinta e apenas retificou o Código Florestal Brasileiro no tocante às limitações de uso do solo, não tendo inovado em preceitos legais mais rigorosos, para aplicar as proteções mais específicas ao local, deixando uma grande possibilidade de ocupação da APA.

Em seu Art. 2o a IN deu sua maior contribuição para as políticas públicas ambientais e locais da APA quando criou o zoneamento da APA de Baturité. Vejamos o que relata o referido artigo:

Art. 2o - Nos termos desta IN e para os fins previstos no Decreto n° 20.956/90, fica a

APA da Serra de Baturité dividida em 05 (cinco) Sistemas de Terra, configurados e delimitados no Mapeamento (Escala 1: 50.000) contido no documento denominado: Zoneamento Ambiental da APA da Serra de Baturité: Diagnóstico e Diretrizes. Parágrafo Único – O documento a que se refere o caput deste artigo estará à disposição dos interessados , para fins de consulta nos seguintes locais :

Procuradoria Jurídica e Biblioteca da SEMACE;

Prefeituras Municipais de Aratuba, Guaramiranga, Mulungu, Baturité e Pacoti. Foi a criação e publicação do Zoneamento Ambiental da APA da Serra de Baturité: Diagnóstico e Diretrizes, a maior contribuição desta instrução normativa. Desde sua elaboração, houve muito avanço nas políticas de gestão ambiental da APA, pois este instrumento zoneou e ordenou os espaços geográficos da região, onde puderam ser mapeadas as suas nuances locais, capazes de fornecer à SEMACE (órgão gestor da APA) informações confiáveis para que esta pudesse realizar o monitoramento da APA.

69 Ressaltamos a importância do zoneamento, mas devemos considerar limitações para a aplicação nos dias de hoje. Marcos Nogueira, Professor Doutor em Geografia Física pela Universidade de São Paulo, um dos responsáveis pela elaboração deste documento, atesta a necessidade de criar um novo zoneamento ambiental da APA de Baturité, considerando as novas alterações naturais existentes no local, as novas formas de intervenção dominantes na área, além da urgência de se aplicar novas tecnologias mais precisas com vistas a se obter um melhor resultado na aplicação final da norma jurídica.

Do Art. 3o ao 12, da referida instrução, foram apenas reforçados os conceitos de algumas limitações de uso, apresentando como de suma importância a correta utilização do solo, em face das suas peculiaridades. Algumas restrições foram feitas a usos de certos recursos naturais, já protegidos pelo código florestal, como mencionamos anteriormente.

A seguir, citamos apenas um pequeno conflito normativo gerado pela IN, em seu Art. 6o, § 3o como exposto:

Art. 6° - A construção, instalação, ampliação e funcionamento dos estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetivamente ou potencialmente poluidoras, bem assim, os empreendimentos capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental na APA da Serra de Baturité, dependerão de prévio licenciamento da Semace, sem prejuízo de outras licenças legalmente exigíveis a nível federal e municipal, em consonância com o disposto na lei estadual n° 11.411, de 28 de dezembro de 1987, c/c Lei Federal n° 6.938, de 31 de agosto de 1981 e seu Decreto regulamentador n° 99.274, de 06 de junho de 1990.”

§ 3° - A concessão de Alvarás pelas Prefeituras Municipais, na área de circunscrição da APA da Serra de Baturité, para construções em áreas de qualquer do Sistema de Terra desta IN, estará condicionado à anuência prévia da Superintendência Estadual do Meio Ambiente – SEMACE. (destaque nosso).

Em momento algum uma gestão municipal será obrigada a comunicar ao órgão gestor da APA uma autorização de atividade regulamentada pelo seu ordenamento jurídico. Como citado no primeiro capítulo do trabalho, os conflitos entre as normas de áreas de proteção ambiental e legislação municipal não podem retirar desta última suas competências essenciais.

70 Outro aspecto fundamental a ressaltar é o do engessamento da gestão pública e do ônus para esta, pois a SEMACE teria de avaliar previamente as licenças dos municípios para depois revê-las em seu licenciamento ambiental. Isto é inviável administrativamente, além de a imposição ao município ser ilegal.

Este ponto da instrução poderia ser excluído, considerando-se a dinâmica dos processos ambientais. Embora a instrução normativa afirme a necessidade da realização do licenciamento pela SEMACE, seria mais cabível a análise das anuências ou licenças dos municípios no momento do pronunciamento do órgão gestor. Desta feita, se o órgão entende não ser passível de construção, nega o seu licenciamento e pronto.

Na criação da APA através da Lei no 20.956 de 1990, não encontramos nenhuma restrição capaz de gerar conflito de competência legislativa. Porém ao analisar a Instrução Normativa 01 de 1991 da SEMACE, identificamos um pequeno conflito. No caso em tela, seria mais prudente conceituar de forma correta a competência do órgão gestor e dos municípios, e não impor e este o encargo de requerer anuências prévias daquele para a concessão dos respectivos alvarás.

O Art. 4o do decreto de criação da APA é essencial para o nosso trabalho, pois através dele iniciamos a discussão da possibilidade legal de instalação de condomínios fechados na Zona Rural Especial do Município de Guaramiranga.

Neste momento, é preciso nos aprofundarmos na análise legal do mencionado decreto para podermos construir o entendimento da existência de legitimidade e legalidade da norma para fins de regulamentação da matéria em discussão.

O caput do artigo diz o seguinte:

A construção ou reforma de unidades multifamiliares, conjuntos habitacionais, hotéis, clubes e assemelhados na zona rural da APA da Serra de Baturité, dependerá do prévio licenciamento da Superintendência Estadual do Meio Ambiente, o qual somente poderá ser concedido.

Como podemos observar, o legislador foi claro em especificar a sua competência de atuação junto à zona rural da APA.

71 Com vistas a compreendermos o todo, primeiramente devemos entender o que o legislador relatou em seu texto, o conceito de unidades multifamiliares. Segundo Houaiss (2002), multifamiliares é “relativo a ou que integra várias famílias”. Neste sentido, podemos entender que o conjunto de casas comuns agrupadas em sistema de condomínio passa a ser integrado no conceito de multifamiliar e o decreto de criação da APA, já em 1990, se preocupava com a criação e implantação destes instrumentos urbanísticos.

Ainda como consta no referido caput e conforme podemos ver, o legislador ampliou o espectro de atividades considerando hotéis e clubes como opções passíveis de licenciamento e implantação nas áreas rurais, ou seja, aquelas áreas sobre as quais as leis municipais, à época da criação da APA, não definiam como seria o uso e ocupação do solo.

Quanto ao uso de zona rural da APA, existem restrições, como rezam as alíneas do Art. 4o. Estas restrições serão estabelecidas dentro do uso da zona rural da APA, demonstrando quais são as medidas restritivas de uso e enquadramento dos projetos e propostas para a ocupação da APA.

a. após estudo do projeto, exame das alternativas possíveis e a avaliação de suas conseqüências ambientais;

b. mediante a indicação das restrições e medidas consideradas necessárias à salvaguarda do ecossistema regional.

Vejamos o que positiva o texto do parágrafo único do Art. 4o:

Parágrafo Único - Em nenhuma hipótese, será concedido o licenciamento previsto neste artigo, quando se tratar de áreas de preservação permanente, definidas no artigo 18 da Lei Federal n.º 6.938, de 31.08.81.

No parágrafo único, o legislador frisa algo parecido com o observado no decreto de criação do Parque Ecológico de Guaramiranga. Ele submete o licenciamento aos ditames do Art. 18 da no Lei 6.938/81 (BRASIL, 1981), que instituiu a Política Nacional de Meio Ambiente. Mas este artigo, especificamente, remete às Áreas de Preservação Permanente (APP), vinculando ao Art. 2o do Código Florestal, como no decreto de 1979.

Há, pois, uma lógica jurídica coerente com a normatização pátria. Até o momento, não podemos relatar a existência de conflito de competências entre os ordenamentos jurídicos

72 da APA e a legislação dos municípios que dela fazem parte. Existe apenas um decreto criador de uma área de proteção ambiental que norteia os usos e ocupações das áreas restritas aos perímetros rurais dos municípios

3.5 Das Leis Estaduais no 13.668/05 e no 13.874/07, que regulamentam a APA da Serra de