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CAPÍTULO 4 AVALIAÇÃO DO ART 135 E SEGUINTES DA LEI MUNICIPAL N o 111/

4.4 Da legalidade e legitimidade do termo Zona Rural Especial

Como já falamos, na nossa ótica o município é parte legítima e competente para criar normas que regulamentem o uso do espaço urbano do município. Para isso, deverá existir um Plano Diretor cujas leis determinem a forma como se darão este ordenamento e a ocupação.

Vejamos o que diz o Art. 135 da Lei Municipal no 111/05:

Art. 135 Zona Rural Especial é toda área onde ocorram núcleos de povoamento com características urbanas no interior do município, devendo ser priorizados para estas áreas os usos de serviços de hospedagem, lazer, turismo, residencial unifamiliar, de propriedade rural e demais usos de baixa densidade e impacto ambiental.

Na expressão “área em que ocorram núcleos de povoamento com características urbanas”, utilizada pelo legislador, este não foi feliz, pois conforme determina a Lei no 112/05 que define a organização territorial do Município de Guaramiranga, este está dividido nas seguintes áreas:

Art. 3o O Município de Guaramiranga, para fins de planejamento, é dividido em:

I. Zona Urbana da Sede Municipal; II. Zona Urbana dos Núcleos Distritais; III. Zona Rural Especial.

...

Art. 9o A Zona Rural Especial compreende todas as áreas situadas fora dos limites urbanos, inclusive o aglomerado rural - entendido como um povoado ou um assentamento.

90 Como mostra o Art. 9o da supracitada lei, tudo aquilo que não esteja na área urbana do município é considerado como Zona Rural Especial. Por conseguinte, tudo o que não é urbano ou núcleo urbano é rural, diferentemente do conceito no caput do Art. 153, isto é, a Zona Rural Especial tem características urbanas no interior do município.

Estas polêmicas se prolongam e ainda não encontraram um ponto de convergência. Sobre elas, Alexandre Landin, coordenador da equipe responsável pela elaboração do Plano Diretor de Guaramiranga, relata:

“Então você imagina que a nossa lei ia ser só na área urbana, única e exclusivamente no núcleo urbano de Guaramiranga e Pernambuquinho. O próprio Estatuto da Cidade orienta para que o plano seja municipal, então, depois de muitas conversas nós mostramos e provamos que até a pressão imobiliária se dava mais na zona rural do que na zona urbana do município, onde havia um problema muito grande de lotes com menos do que 4 (quatro) ha sendo comercializados, onde a legislação brasileira desde a década de 70 obriga que o lote mínimo naquela região deve ser no mínimo de 4 (quatro) ha. E sabemos que existem sítios sendo comercializadas com áreas muito menores do que o lote mínimo. Então mostramos a importância deste ordenamento e a lei deveria contemplar a totalidade do território municipal”.

Configurou-se, então, um grande problema para fins de desmembramento dos terrenos exatamente na área rural do município, onde os terrenos eram negociados com lotes muito pequenos, facilitando a degradação ambiental. Isto no concernente à área hoje definida como ZRE.

Como podemos observar, é pertinente a preocupação da equipe que regulamentou a ZRE do Município de Guaramiranga. Consoante demonstrado há uma pressão imobiliária sobre a área rural, até mesmo por pequenas casas em lotes diminutos, pois estas provocam mais impactos ambientais do que projetos para os quais se requerem licenciamentos mais complexos, tendo exigências como tratamento de efluentes e necessitando dispor de instrumentos mitigadores de impactos, diferentemente do ocorrido em construções menores.

Postulamos anteriormente a favor da legalidade do município em regulamentar o uso do solo rural, o que foi executado pela equipe que construiu o Plano Diretor de Guaramiranga, sendo muito importante grifar que o instrumento é legal para regulamentar a matéria.

91 Zona Rural Especial, como foi intitulada pela legislação em foco, é toda área não urbana do Município de Guaramiranga, ou seja, a ZRE é a zona rural do município e deverá ser tratada como a legislação pátria a define. Não existe ilegalidade ou ilegitimidade alguma em chamá-la de especial. Mas para a interpretação de alguns, isso pode suscitar determinadas dúvidas. Neste sentido, perguntamos: Especial por quê? Porque ela está regulamentando o solo na área rural. Se isso é competência municipal, não há que se falar em especialidade alguma.

Na continuidade, os incisos do Art.136 da Lei Municipal no 111/05 ainda definem alguns itens a serem respeitados como parâmetros de proteção da área:

I. A preservação e proteção ambiental;

II. Adequação à capacidade de suporte dos ecossistemas;

III. O aprimoramento das culturas tradicionais e inserção de novas culturas com a utilização de tecnologias modernas e sustentáveis;

IV. A geração de emprego e renda para a população; V. Melhoria da qualidade de vida da população;

VI. A preservação dos hábitos, costumes, história e cultura das comunidades locais/nativas;

VII. O desenvolvimento do turismo rural e ecológico;

VIII. O desenvolvimento do artesanato e da produção agrícola familiar; IX. A proteção aos monumentos naturais, históricos e culturais.

Produção da agricultura familiar, turismo rural e ecológico e proteção de monumentos naturais são alguns dos itens que firmam nosso entendimento segundo o qual a ZRE é uma zona a ser percebida e utilizada como uma área rural do município.

Ainda como ressalta o Art. 138, “deverão ser desestimulados atividades e padrões de ocupação que promovam o êxodo rural e o desenvolvimento agrícola e atividades extrativistas em larga escala”.

92 A nosso ver, denominar de ZRE a zona rural do Município de Guaramiranga não surte efeito jurídico algum sobre os preceitos legais federais e estaduais que tratam de áreas rurais, pois a região sob a tutela da lei é uma zona não apenas de características rurais, mas essencialmente rural, por suas especificidades sociais, infra-estruturais e naturais, combinadas, de forma que o legislador apenas deu ênfase de que esta área deveria ser tratada de maneira restrita e especial.

Conforme concluímos, a nomenclatura ZRE não tem restrição legal alguma, e pode suscitar dúvidas sobre ela do título Especial aos usuários do instrumento. Se a denominação desta fosse apenas Zona Rural, não haveria o que se contextualizar sobre esta zona e seu enquadramento legal. Esta zona é rural, possui todas estas características, e por definição da lei de organização territorial municipal e dos seus mapas, ela é uma área rural.