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No decorrer deste estudo, analisando a trajetória de Albano Pereira enquanto artista e empresário circense, pude observar o estabelecimento de algumas relações de parceria de trabalho artístico, bem como de sociedades particulares. Com relação às parcerias de trabalho artístico, penso que Albano tenha acertado em suas escolhas. Digo isso porque tais parcerias não resultaram, senão em temporadas de espetáculos bem- sucedidas. Um primeiro caso a ser analisado diz respeito a uma parceria familiar: seu irmão, Antônio Pereira.

Quando iniciei meus estudos a respeito de Albano e seus negócios circenses, tinha conhecimento de que o mesmo havia chegado a Porto Alegre integrando a companhia de Giuseppe Chiarini, em 1871. Após esse episódio, sabia também que Albano teria retornado a esta cidade em 1875 e que aqui teria construído seu primeiro circo estável em terras brasileiras, o Circo

Universal. Nesse contexto, eu pensava

que Albano Pereira, ao findar da temporada de Chiarini em Porto Alegre, teria ido embora com sua esposa Juanita, junto da companhia com que trabalhava.

No entanto, num esforço recente de levantamento de novas fontes para o meu estudo, constatei que Albano Pereira estava trabalhando no Brasil, em

parceria com seu irmão Antônio Pereira, em 1873, conforme se pode ver no anúncio de espetáculo que conta nesta e

na página seguinte (CORREIO

PAULISTANO, 05/06/1873). A análise

da documentação indica que os irmãos Pereira estiveram em temporada com seu Grande Circo em São Paulo, primeiro na capital, no Largo de São Bento, e depois em Campinas, na Rua Direita (CORREIO PAULISTANO, 11/05/1873;

GAZETA DE CAMPINAS, 12/06/1873).

Em um dos anúncios de espetáculo publicado na Gazeta de Campinas,

informa-se que a companhia era formada por 49 pessoas, entre artistas e demais trabalhadores. Entre os artistas enumerados constam ao menos cinco indivíduos de sobrenome Pereira, entre eles a esposa, Juanita Pereira. Os nomes de Albano e Antônio vinculam-se aos cargos de “proprietários e diretores” e entre os demais integrantes da companhia, citam-se 4 capatazes, 4 criados, 1 guarda-roupa, 1 cabeleireiro, 1 bilheteiro, 1 chefe de cocheira, 2 criados de cocheira, 1 secretário e 12 músicos que compunham a banda. Consta também que os espetáculos se davam às terças, quintas, sábados e domingos, às 20h “em ponto” (GAZETA DE CAMPINAS, 12/06/1873).

Após essa temporada em 1873, Antônio Pereira voltou a trabalhar com o irmão Albano em 1876, num momento em que este já possuía dois circos estáveis em funcionamento. À época, Albano encontrava-se em Porto Alegre, onde estava investindo em novos artistas para sua companhia que acabava de se despedir da companhia Schumann, que por sua vez, seguiu para Rio Grande para realizar uma temporada de espetáculos no Anfitheatro Albano Pereira (O DESPERTADOR, 05/05/1876). Com a partida da companhia Schumann, Albano providenciou a contratação de novos artistas para sua companhia, entre eles, estava seu irmão Antônio Pereira, “artista de mérito”, segundo o referido jornal. No caso da companhia Schumann, parece-me que esta apesar de trabalhar junto à companhia de Albano no Circo Universal, não constituiu de fato uma parceria ou

sociedade, apenas tendo utilizado os circos estáveis de Albano Pereira enquanto espaços de espetáculo.

Entre os anos de 1887 e 1888, entretanto, posso afirmar que Albano Pereira trabalhou em parceria com Cândido Ferraz e sua afamada companhia – parceria esta firmada num momento bastante oportuno, qual seja: a reabertura do Theatro de

Variedades, após as reformas realizadas ao findar de 1886. A análise das notas publicadas

a respeito dessa parceria, indica que a companhia de Cândido Ferraz era uma companhia artística de renome, que tinha em meio ao seu elenco artistas que “tiveram a honra de trabalhar nos principais circos da Europa e da América e ultimamente em Montevideo” (A

FEDERAÇÃO, 01/01/1887). A parceria com Cândido Ferraz, parece-me ter sido

extremamente proveitosa, uma vez que a mesma contribuiu para reativar a programação de espetáculos do Theatro de Variedades que parecia estar um tanto quanto enfraquecida, antes das reformas e da reinauguração. Além disso, foi em parceria com Cândido Ferraz que Albano Pereira, após mais de uma década trabalhando aparentemente apenas na província de São Pedro do Rio Grande do Sul, saiu desta província e partiu primeiro para o Paraná (Commercial, 21/05/1887), depois para o Rio de Janeiro (Gazeta da Tarde, 10/12/1887), para Minas Gerais (O Diário de Minas, 21/07/1888) e, posteriormente para outras províncias – que logo deixaram de ser províncias, para tornarem-se estados, após 1889 – não mais retornando ao Rio Grande do Sul. Ao menos não localizei registros de temporadas posteriores a esse período e relativas à Albano Pereira e sua companhia em qualquer cidade do Rio Grande do Sul.

Nesse contexto, acredito que Cândido Ferraz tenha representado uma grande influência para a partida de Albano Pereira dessas bandas para outros estados do Brasil e creio também que esse impulso de retomada de uma prática circense itinerante, não restrita unicamente à manutenção de espaços estáveis de espetáculo, tenha contribuído para que Albano Pereira levasse sua arte para outros cantos do país, tornando-se um artista e diretor de companhias equestres reconhecido. Com relação às sociedades que estabeleceu por estas bandas, entretanto, não posso dizer o mesmo que disse a respeito das parcerias de trabalho. Albano não teve sorte. Nem com os sócios com quem firmou compromisso para abrir o Theatro de Variedades, nem com aquele junto do qual erigiu o

Polytheama Rio-grandense. E basta acessar os processos judiciais relativos a ambos os

estabelecimentos e à Albano Pereira, para constatar que foram sociedades malfadadas. E isso é tema da próxima seção de meu escrito.