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Grande festa artística! Assim, foram denominados muitos dos espetáculos em “benefício” ou “a favor” oferecidos pela companhia de Albano Pereira e, claro, por muitas outras companhias dirigidas por outros empresários circenses, uma vez que tais espetáculos constituíam uma prática comum realizada tanto nos circos, quanto nos teatros. Os espetáculos em “benefício” podiam destinar-se a artistas – geralmente escolhidos pelo diretor da companhia – ou podiam destinar-se a instituições religiosas, civis, vítimas de calamidades públicas, obras públicas, entre outros.

Erminia Silva ao comentar a respeito da prática dos espetáculos em “benefício”, afirma que sua realização frequentemente era acordada nos contratos firmados entre empresários e artistas – ainda que se tratassem de contratos verbais – e, sendo assim, a renda obtida nesses espetáculos somava-se ao ganho salarial do artista. Conforme Silva,

Nos espetáculos “benefícios” em favor de um artista, geralmente se alterava a programação e outras companhias eram convidadas para chamar a atenção do público. Quando estas apresentações eram realizadas por companhias teatrais, os circenses que estivessem se apresentando na cidade eram convidados para compor o espetáculo, tendo em vista que a maioria da população comparecia pois conhecia o circo, e, principalmente, seus artistas (2007, p. 56).

A análise da documentação levantada neste estudo indica que Albano Pereira, enquanto diretor de companhias equestres e empresário circense, por diversas vezes realizou espetáculos em benefício de seus artistas. Um caso exemplar é o “benefício” das irmãs Hermenegilda e Minervina, conforme se pode analisar no anúncio que consta na

página seguinte (A FEDERAÇÃO, 27/01/1887). Note-se que, dentro do anúncio do “esplêndido e maravilhoso espetáculo da moda”, a ser realizado em meio à temporada da companhia de Albano Pereira e Cândido Ferraz no Theatro

de Variedades, foi reservado um espaço para

que, aparentemente, às próprias artistas fizessem o convite ao público local e manifestassem seus agradecimentos e sua “eterna gratidão” aos seus favorecedores. Note- se ainda que, segundo o anúncio, o espetáculo além de ser em “benefício” das “simpáticas e aplaudidas” Hermenegilda e Minervina, era também dedicado à “laboriosa classe operária” que seria representada pelo Club 6 de Janeiro de

1887.

Outro exemplo significativo e que se deu dentro da mesma temporada da companhia é o caso do espetáculo em benefício dos

“interessantes filhinhos” do artista Albano Pereira. Nesse caso, conforme se pode observar em nota publicada, os diretores escolheram uma data muito oportuna para realizar o “benefício”, qual seja, a última representação da famosa pantomima Cendrillon. A mesma nota ressaltava que, se acaso não bastasse a pantomima para “levar o público às Variedades”, que se considerasse o benefício das crianças que eram a “alma dessa pantomima pela graça com que executam os papéis que lhe foram distribuídos” (A

FEDERAÇÃO, 14/02/1887).

Os espetáculos em benefício também poderiam ser analisados como um instrumento das companhias teatrais e circenses para estabelecer relações com o público local ou mesmo com a municipalidade. Nesse sentido, o sucesso ou o fracasso de público desses espetáculos poderia ser encarado como um reflexo dessas relações. Nas palavras de Silva “era um momento de medida do quanto o circo ou o teatro tinha agradado, ou quanto o artista beneficiado era reconhecido” (2007, p. 56).

A análise da documentação reunida nesta pesquisa aponta que Albano Pereira realizou inúmeros espetáculos em benefício oferecidos tanto aos artistas que integravam sua companhia, quanto a instituições civis, entidades religiosas, obras públicas, caridade, entre outros. Esta pequena nota publicada em um jornal de 1876 e que partilho aqui colabora para a construção da imagem de

Albano Pereira enquanto empresário e diretor circense que realizava muitos espetáculos em benefício, uma vez que enaltece seu

“procedimento humanitário” (O

DESPERTADOR, 18/08/1876).

Dois espetáculos realizados em fevereiro do mesmo ano também são exemplos notáveis de benefícios oferecidos por Albano Pereira a diferentes entidades. Em 11 de fevereiro, o periódico O Despertador publicou uma nota comentando o sucesso da companhia de Albano Pereira em seu anfiteatro em Rio Grande, destacando que na noite do dia 05 daquele mês, realizou-se o “benefício concedido para a conclusão da elegante Igreja da Conceição, o qual foi imensamente concorrido, recebendo os artistas mimosos ramalhetes e coroas” (O DESPERTADOR, 11/02/1876).

Quatro dias depois, o mesmo periódico publicou nova nota anunciando a realização de outro espetáculo em benefício oferecido por Albano Pereira ao Asylo do

Coração de Maria. Na referida nota, informou-se que os bilhetes estavam esgotados e que,

por conseguinte, o “belo circo” iria apresentar um espetáculo imponente. Além disso comentou-se que o fim não poderia “ser mais filantrópico” e que as bênçãos das órfãs do asilo seriam lançadas sobre a fronte do incansável artista Albano Pereira (O

DESPERTADOR, 15/02/1876). Um último exemplo que gostaria de trazer, consta nos Relatórios dos Presidentes das Províncias Brasileiras de 1876, onde registrou-se a respeito

do Colégio de Santa Thereza, que parte de sua receita referente ao ano de 1875, proveio de benefício dado pela companhia de Albano Pereira – entre outras fontes.33 Como se pode perceber, os benefícios oferecidos por Albano Pereira destinavam-se a diferentes fins e, aparentemente, eram espetáculos bem-sucedidos onde boa parte da comunidade local

33 Os Relatórios dos Presidentes das Províncias Brasileiras do Império (1830 - 1889) está disponível em:

aparecia para prestigiar a grande “festa artística” e colaborar com a causa, seja lá qual fosse!