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Após a inauguração do pavilhão do Circo Universal em Porto Alegre, em 13 de agosto de 1875, Albano logo tratou de expandir seus empreendimentos circenses para outra cidade estratégica da província, qual seja: a cidade portuária de Rio Grande. Em outubro daquele mesmo ano, já estava o empresário, representado por seu secretário, em negociação com a municipalidade por um terreno onde pudesse erigir um circo “igual ao da capital” (O DESPERTADOR, 05/10/1875).

Conforme se pode verificar na nota ao lado, a municipalidade rio-grandense apresentou-se simpática ao projeto de Albano Pereira, tendo-lhe cedido um terreno “magnífico” – público, ressalto aqui – uma vez que, entendia que a construção de um circo estável aos moldes daquele construído na capital da província contribuiria para o “aformoseamento” da Praça Municipal. Para além disso, o sucesso do empreendimento parecia garantido, dado que na capital os espetáculos oferecidos pela companhia vinham tendo grande aceitação.

Tudo indica que, logo após esta ocasião em que esteve em negociação o secretário de Albano Pereira e a municipalidade rio- grandense, tenha-se dado início às obras relativas à construção da primeira estrutura estável de Albano Pereira na cidade de Rio Grande. Uma outra nota publicada dias depois, informava a chegada da companhia de Albano à cidade, tal como se vê ao lado (O DESPERTADOR,

19/10/1875). Sobre esta nota, chamo a atenção para o uso de uma estrutura móvel ou provisória, “coberta de pano”, possivelmente aos moldes da estrutura descrita por Erminia Silva, denominada circo de pau-fincado. Além disso, o texto indica que, caso a construção da estrutura estável ainda não houvesse principiado, ao menos estava sendo encaminhada. Quem sabe, Albano Pereira estivesse visitando a cidade com sua companhia justamente para tratar das questões relativas ao seu novo empreendimento e, possivelmente, aproveitava para divulgar o trabalho de sua companhia, promovendo uma temporada de espetáculos a serem realizados numa estrutura provisória enquanto não ficasse pronta a estrutura estável na Praça Municipal.

Uma semana após, noticiou-se o início das obras da seguinte maneira: “Está em princípio a construção do vasto círculo do Sr. Albano Pereira. Em 1 ou 2 meses estará concluído e então virá o restante da companhia para fazer a sua estreia” (O

DESPERTADOR, 26/10/1875). Sim, leitor (a), chamou-se “círculo” mesmo. Não errei a

transcrição. Noutra nota publicada posteriormente, comentou-se a respeito do andamento da obra e descreveu-se em parte o edifício, tal como se pode ler abaixo (O

DESPERTADOR, 06/11/1875). Penso ser interessante observar no texto desta nota alguns

aspectos. Primeiro, o entusiasmo com que se comenta a construção do que já se denominava - antes mesmo de estar pronto - “magnífico circo” que viria embelezar a praça municipal. O segundo aspecto diz respeito às

proporções da obra, ou melhor, à magnitude do edifício que estava sendo construído sobre “pilares de pedra” e com uma capacidade estimada para “4.000 espectadores”. Albano Pereira estava construindo na Praça Municipal de Rio Grande um “magnífico” circo estável que viria a representar um “grande melhoramento” naquele espaço urbano.

A análise da documentação, especificamente das ocorrências relativas ao periódico

O Despertador (SC) nos anos de 1875 e 1876, indica que as obras foram concluídas dentro

do prazo estimado de dois meses, inclusive porque, no mês de janeiro já circulava a notícia de que Albano Pereira estava a preparar seu anfiteatro para os bailes mascarados de carnaval (O DESPERTADOR, 21/01/1876). Neste ponto, penso ser interessante refletir sobre os usos do edifício construído por Albano Pereira na Praça Municipal de Rio Grande. De maneira objetiva quero destacar o fato de que para além dos espetáculos circenses de sua companhia, o empresário construiu naquela cidade um espaço de espetáculo destinado a atividades de lazer e diversão em geral. Então, para além do possível embelezamento do espaço público, o anfiteatro de Albano Pereira representava também a oferta de um espaço voltado ao lazer, ao entretenimento e à cultura.

A respeito dessas atividades relativas ao carnaval, temos notícia de que alguns clubes carnavalescos fariam “sua aparição pela cidade e no Anfitheatro Albano Pereira, nas noites de 27, 28 e 29 do presente mês”, qual seja, fevereiro (O

DESPERTADOR, 22/02/1876). E, não apenas

bailes de carnaval, mas também outros bailes sediou o anfiteatro da Praça Municipal, tal como podemos observar na primeira imagem que aqui consta (O DESPERTADOR, 18/04/1876). Note-se aqui que, mesmo ausente de Rio Grande e encontrando-se em Porto Alegre – provavelmente cuidando dos negócios relativos ao Circo Universal - Albano Pereira também dedicava atenção às atividades correntes no anfiteatro que mantinha naquela cidade, designando, inclusive, uma pessoa encarregada para garantir a realização dos tais bailes à fantasia. Pelo tom da nota, parece que o empresário geria muito bem os negócios que mantinha simultaneamente na capital da província e em de Rio Grande.

O último registro da realização de um baile de carnaval realizado no Anfitheatro Albano Pereira, conforme análise da documentação levantada, diz respeito ao ano de 1881 e revela que o anfiteatro fazia parte de uma grande programação cultural local (O DESPERTADOR, 26/02/1881). A análise do texto que consta na imagem ao lado, indica que a cidade de Rio Grande estava de fato às voltas com os preparativos para o carnaval e, nesse contexto, o

Anfitheatro Albano Pereira figurava como um

importante espaço cultural. E, note-se também que não eram quaisquer bailes de carnaval, mas “pomposos bailes” - do que decorre que, muito provavelmente, o anfiteatro, tal como o teatro, estaria repleto de frequentadores da alta sociedade ou, ao menos, pessoas que pudessem custear tal divertimento.

Acho interessante que se observe a diversidade de atividades culturais, de lazer e diversão que foram sediadas no anfiteatro, uma vez que, dado que o produto cultural oferecido era diverso, também era diverso o público que o frequentava. Nesse sentido, penso que podemos tomar o empreendimento de Albano Pereira como uma estrutura estável, de caráter privado, construída em área pública, mas que em contrapartida consistia num espaço cultural de caráter democrático, posto que oferecia uma programação capaz de atingir públicos de todos os níveis econômicos. Além disso, como veremos adiante, Albano Pereira realizou uma série de espetáculos em benefício da municipalidade.

A análise das notas publicadas em jornais da época relativas à Albano Pereira e seu anfiteatro em Rio Grande denota o esforço do empresário em manter seu espaço em funcionamento e, quando não locado para terceiros, oferecendo espetáculos de sua companhia sempre repletos de novidades e renomados artistas, conforme se pode verificar na primeira imagem (O DESPERTADOR, 04/02/1876). Nesta nota, chamo a atenção para a afirmativa de que os espetáculos circenses oferecidos no anfiteatro tinham um público regular e que saudava diversos artistas, tais como clown Tracey, o acrobata Algebran e a equestre Rosalia. Chamo a

atenção também para mais um detalhe, caso tenha passado desapercebido: o anfiteatro da Praça Municipal comportava apresentações equestres – o que implica uma estrutura considerável, com pista circular para os exercícios equestres e também espaço para alojar os animais. Agora, imagine o (a) leitor (a) esta estrutura em meio à Praça Municipal. Que magnífico devia ser!

Dias após a publicação desta nota, o mesmo jornal noticiava o retorno de Albano Pereira de uma viagem à Montevideo e Buenos Aires, onde o empresário teria deixado “(...) ali contratados alguns artistas, que logo que finde o tempo em que devem permanecer em suas companhias, virão fazer parte da companhia Albano” (O

DESPERTADOR, 11/02/1876). Um mês após noticiava-se a achegada dos tais artistas da

para a importante companhia do Sr. Albano Pereira” (O DESPERTADOR, 14/03/1876). Os registros apontam que, após a chegada desses artistas, Albano Pereira esteve em Porto Alegre com sua companhia em uma temporada de espetáculos no Circo Universal, onde o grande frenesi foi a “esplêndida” pantomima Cendrillon (O DESPERTADOR, 26/05/1876). Tão logo as notícias a respeito do sucesso de

Cendrillon em Porto Alegre chegaram a Rio

Grande, anunciou-se uma temporada de apresentações da mesma no anfiteatro, conforme se pode ver na nota ao lado (O

DESPERTADOR, 13/06/1876).

Não sei dizer ao certo quando Albano e sua companhia chegaram à Rio Grande e nem quando estreou Cendrillon, mas posso dizer que, tal como se noticiou acerca de Porto Alegre, a pantomima teve grande sucesso entre o público riograndino. Uma nota publicada ao findar de julho, comentou o sucesso da companhia, dizendo que o anfiteatro estava tendo “formidáveis enchentes” de público e que a “bonita pantomima” Cendrillon despertava cada vez mais entusiasmo entre os riograndinos, além de elogiar alguns artistas, o luxo do cenário e comentar os altos investimentos do diretor para colocar a pantomima em cena (O DESPERTADOR, 28/07/1876). É possível afirmar que Albano Pereira esteve com sua companhia em temporada no anfiteatro da Praça Municipal, ao menos, entre os meses de julho e agosto, dado que a última nota a respeito foi publicada em agosto daquele ano e, além de mais uma vez confirmar o sucesso de público de

Cendrillon, anunciava a retirada de Albano para Pelotas, em função da vinda da companhia

de Giuseppe Chiarini (O DESPERTADOR, 11/08/1876).

Dos artistas independentes e

companhias circenses que visitaram a cidade de Rio Grande e se apresentaram no

Anfitheatro Albano Pereira, cito aqui cinco

casos que se deram entre os anos de 1876 e 1881, conforme análise da documentação. Em maio de 1876, esteve no anfiteatro – assim como no Circo Universal, em Porto Alegre – a

temporada de espetáculos, conforme se lê na nota ao lado (O DESPERTADOR, 19/05/1876). Note-se que, segundo informa o mesmo periódico, a companhia esteve em temporada em Porto Alegre, unida à companhia de Albano Pereira (O DESPERTADOR, 05/05/1876); após passou alguns dias em Rio Grande – aparentemente, trabalhando independente da companhia de Albano, tendo posteriormente, seguido para Pelotas. Outro aspecto a ser observado é o efeito que causou a companhia Schumann ao apresentar trabalhos “inteiramente desconhecidos”, ou seja, ainda não apresentados pela companhia de Albano Pereira ou por qualquer outra companhia que tenha visitado a cidade de Rio Grande.

No ano seguinte, 1877, foi a vez da jovem equilibrista Maria Spelterini - a famosa

heroína do Niágara - estrear no Anfitheatro Albano Pereira, tendo vindo de Montevideo no

navio Canova (O DESPERTADOR, 13/07/1877). Artista renomada, famosa na imprensa europeia e americana, trouxe ao anfiteatro em sua estreia uma enchente extraordinária de público, segundo o Jornal do Comércio (07/1877). O mesmo jornal comparava-a a outro artista da época, também equilibrista, o célebre Blondin. No entanto, apesar da “enchente” de público que esteve no anfiteatro quando de sua estreia, parece que o desempenho da artista não foi lá o que se esperava. Conforme se pode ver na primeira imagem, de fato, uma “enchente extraordinária” de público ocupou os assentos do anfiteatro para prestigiar a estreia da famosa artista. Contudo, pelo texto publicado, parece que os riograndino esperavam muito mais da artista, afirmando, inclusive, terem visto artistas iguais na cidade (O DESPERTADOR, 24/07/1877). Assim, diferentemente da companhia Schumann de que tratei anteriormente, a artista Spelterini não apresentou em seu repertório nenhuma novidade aos olhos do

público riograndino. Penso que desta vez, Albano Pereira investiu numa atração que não atingiu as expectativas do público local que parecia tornar-se cada vez mais exigente com relação às atrações artísticas que ali se apresentavam.

Dois meses depois, no entanto, Albano acertara novamente em seus investimentos em atrações convidadas para o seu anfiteatro à Praça Municipal. Tratava-se da companhia equestre Amato & Seyssel e esta não poderia ter estreado em data mais oportuna - leia-se na nota ao lado (O DESPERTADOR, 14/09/1877). Pois bem, tendo feito sua estreia na noite do

55º aniversário da Independência do Brasil, a companhia Amato & Seyssel abriu sua temporada de espetáculos no Anfitheatro Albano Pereira com direito a execução de hino. A mesma nota anunciava os próximos espetáculos e garantia ao público riograndino que a companhia continuaria a trabalhar em Rio Grande nos dias subsequentes.

Sabe-se que, ao menos até o findar daquele mês, a referida companhia manteve suas apresentações no anfiteatro da Praça Municipal, oferecendo ao público ávido por novidades, atrações inéditas, conforme se pode ler na nota abaixo (O DESPERTADOR, 28/09/1877). Não posso afirmar ao certo a especialidade do “homem voador”, mas penso que deveria se tratar de um homem bala e, pelo

visto, o público local aprovou a atração apresentada pela companhia Amato & Seyssel, uma vez que reconheceu que o artista mereceu “extraordinários aplausos” em função do risco que correu durante a execução de seu trabalho.32

Em abril de 1878, a empresária e atriz Emilia Adelaide, não tendo tido sucesso nem em Pelotas, nem em Porto Alegre, no teatro, achou no anfiteatro de Albano Pereira em Rio Grande, a salvação de sua estada na província do Rio Grande do Sul. Segundo se comentou no Álbum de Domingo, Emilia Adelaide “levou para o circo o seu repertório já gasto para o teatro”, e lá teve enchentes de público apresentando três peças teatrais – uma delas em seu benefício, inclusive (ALBUM DE DOMINGO, 21/04/1878). Interessante observar neste ponto que o público que frequentava o circo também demonstrava interesse em assistir

32 Homem bala: Artista circense que nos espetáculos é lançado a distância por um engenho provido de molas,

as atrações que usualmente se apresentavam no teatro – tal como no caso da atriz Emilia Adelaide. Assim, quando uma atração teatral se apresentava no circo, geralmente à preços mais acessíveis, esse público desfrutava da oportunidade que não tinha nos teatros.

Por fim, tem-se notícias da visita da companhia de Manoel Pury que, em novembro de 1881, esteve em temporada no Anfitheatro Albano Pereira. Conforme se lê em nota publicada em O Despertador, a companhia que vinha do Rio de Janeiro, capital do Império, era esperada na cidade de Rio Grande e tinha previsão de estreia no Anfitheatro Albano

Pereira para o dia 3 de novembro (O DESPERTADOR, 05/11/1881). A mesma nota

informava que o secretário da companhia já se encontrava na cidade e que os retratos dos artistas estavam expostos nas vitrines de “uma loja de cabeleireiros, à rua D. Pedro II”.

Porém, apesar de esperada, sua estreia precisou ser adiada, conforme consta na nota ao lado (O DESPERTADOR, 09/11/1881). Aqui, para além das informações a respeito da afamada companhia ginástica dirigida por Manoel Pury que teve sucesso em São Paulo e no Rio de Janeiro e que, naquele momento, visitava o anfiteatro de Albano

Pereira em Rio Grande, chamo a atenção para o complemento da notícia de adiamento da temporada, ou seja, para o fato de o anfiteatro estar “sofrendo alguns reparos”. Uma vez que a estreia da temporada estava prevista para dia 05 de novembro e tendo, inclusive, sido anunciada nos jornais, é de se estranhar que o anfiteatro tenha entrado em reforma justamente no momento da estreia. Contudo, como veremos adiante, a análise cruzada desta nota publicada em jornal e das atas da Câmara Municipal de Rio Grande revela que os tais reparos foram uma exigência da municipalidade.

Nem só de espetáculos se fez a história do Anfitheatro Albano Pereira. Tenho notícia de um incidente ocorrido no ano de 1877 e comento-o nas linhas que seguem. Conforme longa nota publicada no Diário de São Paulo – que reproduzia texto da Gazeta

Mercantil (01/11/1877) - durante a representação da ópera Fausto, no circo de Albano

Pereira, “deu-se tamanho barulho, que não foi possível chegar senão ao segundo ato” (DIÁRIO DE SÃO PAULO, 15/11/1877). No texto, originalmente publicado na Gazeta

descrever um verdadeiro atentado que se deu, com cenas “vandálicas” cometidas por “patrícios”, no anfiteatro de Albano Pereira.

A leitura da nota publicada informa que era de conhecimento geral que se preparava na cidade uma “forte pateada” dirigida à Companhia Lírica Italiana, em função de, anteriormente, um “súdito italiano” ter suscitado manifestações de desagrado por parte de um “limitadíssimo grupo de indivíduos” com relação à apresentação do “distinto prestidigitador nacional Sr. Wallace”. Para piorar a situação, a bandeira inglesa teria sido hasteada no circo, em lugar da bandeira brasileira, fato que teria acirrado os ânimos das pessoas que já preparavam a tal “pateada”. Informa-se também que os tais “atos vandálicos” partiram de alguns poucos indivíduos que se encontravam nas galerias e foram abafados e fortemente condenados pela grande maioria do público que estava na plateia e nas galerias. Diz-se que de fora do circo, onde havia mais de quatrocentas pessoas reunidas por “curiosidade”, um pequeno grupo de indivíduos decidiu arremessar “grandes pedregulhos” nas vidraças do circo, além de fazer um “barulho infernal”, a tal ponto que as autoridades presentes não conseguiram conter em função do baixo efetivo. Inclusive, alguns indivíduos acabaram invadindo o circo, bem como outros indivíduos bem-intencionados que estavam em seus camarotes tentaram, sem sucesso, acalmar os ânimos que seguiram acirrados no segundo ato da ópera, após o intervalo. A nota informa que o subdelegado de polícia deu por encerrado o espetáculo e, a pedidos, tocou-se o hino nacional para que se incitasse a “ordem e o sossego”. Após a execução do hino, teriam se retirado algumas famílias, seguindo-se as tais cenas de vandalismo em que se quebraram cadeiras e danificaram a estrutura do circo. O jornal encerra a nota publicada afirmando fazer um protesto em nome da sociedade riograndina, dirigindo-o aos indivíduos que teriam cometido tal “atentado” e, também ao presidente de província, em virtude de deixar a mesma chegar a tal “estado anárquico, bem como por manter as autoridades locais sem dispor da “força necessária” para conter tais desordeiros. Por fim, o jornal ainda clamou pela abertura de um inquérito, para fins de apurar os responsáveis pelo ocorrido e para restituir a “dignidade” e os “foros de civilização” da sociedade riograndina. Comentou-se por último que, tendo embarcado com sua companhia para Montevideo, o empresário teria restituído os valores referentes às cadeiras e camarotes quebrados e apresentou ao representante de sua nação um protesto pelos prejuízos “avaliados em 20.000$” e pelos “excessos de que foi vítima”.

Agora, desculpe-me o (a) leitor (a) por esse longo parágrafo. É que achei interessante narrar o caso, uma vez que sua análise permite vislumbrar os variados gêneros artísticos que foram atração no anfiteatro, bem como conhecer o contexto cultural no qual estava inserido esse espaço de espetáculo. Nesse sentido, destacaria na descrição do referido incidente o fato de o anfiteatro estar recebendo uma companhia lírica – mais uma entre as atrações convidadas, as quais comentei anteriormente – e, consequentemente, estar oferecendo ao público riograndino outro tipo de produto cultural, diferente do circo e do teatro, por exemplo.

Também destacaria o contexto em que tais manifestações de repúdio a determinada etnia se deram, ou seja, o período da história do Rio Grande do Sul em que se deu a entrada de boa parte dos imigrantes europeus que vieram para o Brasil. Noutras palavras, diria que as relações estabelecidas entre indivíduos locais e imigrantes deviam ser ainda bastante sensíveis e, visivelmente, marcadas pela intolerância. Desse modo, penso que o caso do incidente ocorrido no Anfitheatro Albano Pereira - cujos motivos parecem claramente ter um fundo étnico - possa ser interpretado como um reflexo dessas relações.

Outro incidente ocorrido no Anfitheatro Albano Pereira diz respeito às intempéries do tempo. Sim, isso mesmo. Em nota publicada em julho de 1878, o correspondente que escrevia para O Despertador comentou que em Rio Grande também se fazia “sentir as enchentes de Porto Alegre e outros lugares da província”, tendo as águas subido consideravelmente “alcançando quase a frente do circo Albano Pereira” (O