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SUMÁRIO

5 RESULTADOS E ANÁLISES

5.2 APLICAÇÃO PROTÓTIPO DA SD

5.2.2 Análise da categoria CTS na Turma A

Em termos da condição geral da turma, existe uma predominância de opiniões sobre a rejeição à neutralidade da ciência (opinião 1) e determinismo tecnológico (opinião 4), seguida de modelo de decisões tecnocráticas (opinião 2) para o questionário inicial, conforme pode ser visto na Figura 2. Isso demonstra que muitos estudantes questionam a isenção de interesses por trás dos desenvolvimentos científicos e tecnológicos. Contudo, uma grande parte deles deposita uma confiança muito grande na tecnologia e na ciência.

Figura 2 – Resultado da análise das respostas do questionário inicial para as categorias CTS na Turma A.

Fonte: elaborado pela autora (2019).

No questionário final, aumentou a predominância da opinião considerando a rejeição à neutralidade da ciência (opinião 1), mas a segunda mais selecionada passou a ser a emissão de sua própria opinião (opinião 5), conforme apresentado na Figura 3. Isso leva a crer que a discussão sobre os aspectos que envolvem CTS através dos vídeos ajudou a fazer com que os estudantes pensassem melhor sobre as opiniões apresentadas no questionário. Além disso, a troca de ideias e as pesquisas realizadas contribuíram positivamente para a ampliação da análise de situações.

Figura 3 – Resultado da análise das respostas do questionário final para as categorias CTS para a Turma A.

Fonte: elaborado pela autora (2019).

Rejeição à neutralidade da ciência e da tecnologia 31% Decisões tecnocráticas 17% Perspectiva salvacionista 11% Determinismo tecnológico 31% Opinião própria 10% Rejeição à neutralidade da ciência e da tecnologia 47% Decisões tecnocráticas 6% Perspectiva salvacionista 18% Determinismo tecnológico 8% Opinião própria 21%

Numa análise por situação apresentada no questionário inicial, percebe-se uma maior concentração de respostas na rejeição à neutralidade da ciência e tecnologia e no determinismo tecnológico, conforme explicitado na Tabela 2.

Tabela 2 – Distribuição das respostas dos estudantes da Turma A por categoria CTS e situação para o questionário inicial.

Categoria CTS

Quantidade de respostas de cada categoria em cada situação Situação 1 Situação 2 Situação 3 Situação 4 Situação 5 Rejeição à neutralidade da ciência e

da tecnologia 6 7 1 19 2

Decisões tecnocráticas 0 2 0 1 16

Perspectiva salvacionista 4 6 1 1 1 Determinismo tecnológico 11 6 16 0 2

Opinião própria 2 2 5 2 1

Fonte: elaborado pela autora (2019).

Nota: os valores em negrito representam o maior quantitativo de respostas para cada uma das situações.

Nas Situações 1 (Inovação no combate a doenças neurológicas) e 3 (Do laboratório para você) houve predomínio de respostas na categoria de determinismo tecnológico (opinião 4), indicando que muitos estudantes acreditam que a mudança tecnológica determina a mudança social. Os exemplos de justificativas para essas opiniões demonstram a visão nos estudantes:

 Estudante A9 para situação 1: “Será um grande passo para a medicina essa descoberta, assim dará uma expectativa de prolongamento da vida para paciente afetados neurologicamente.”.  Estudante A19 para situação 3: “...as inovações tecnológica não

para de crescer, e melhorar nossas vidas.”.

Nas Situações 2 (Esporte paraolímpico: tecnológico e inclusivo) e 4 (Terceirização começa a enfrentar problemas com a justiça brasileira) houve superioridade de respostas para a categoria de rejeição à neutralidade da ciência e da tecnologia (opinião 1), indicando que muitos estudantes percebem que ambas sofrem influências e pressões sociais, econômicas e políticas. Exemplos de justificativas para essas opiniões ressaltam o ponto de vista dos educandos:

 Estudante A2 para situação 2: “Os grandes empresários sempre estão envolvidos nas mudanças políticas trabalhistas pois procuram a melhor forma para que eles sejam sempre favorecidos...”.

 Estudante A15 para situação 4: “Acho muito difícil o sistema político brasileiro estar preocupado com o povo.”.

Na Situação 5 (Novas regras trabalhistas podem reduzir custos da empresa em mais de 60%) predominou a resposta para a categoria de decisões tecnocráticas (opinião 2), transparecendo que os estudantes acreditam não terem poder para interferir no processo científico-tecnológico e que as decisões devem ser tomadas sempre pelos especialistas. Exemplo de justificativa para

essa opinião foi apresentada pelo estudante A2: “Os empresários estão com todo

o poder na mão essas novas leis só vieram para mostrar que quem manda é quem tem o capital.”.

A mesma análise para o questionário final resultou numa concentração maior de respostas para a categoria de rejeição à neutralidade da ciência e da tecnologia, conforme explicitado na Tabela 3.

Tabela 3 – Distribuição das respostas dos estudantes da Turma A por categoria CTS e situação para o questionário final.

Categoria CTS

Quantidade de respostas de cada categoria em cada situação Situação 1 Situação 2 Situação 3 Situação 4 Situação 5 Rejeição à neutralidade da ciência

e da tecnologia 8 8 6 6 3

Decisões tecnocráticas 1 0 0 2 1 Perspectiva salvacionista 3 1 3 2 3

Determinismo tecnológico 2 0 0 1 2

Opinião própria 1 5 4 2 2

Fonte: elaborado pela autora (2019).

Nota: os valores em negrito representam o maior quantitativo de respostas para cada uma das situações.

Nas Situações 1 (Android Pay, sistema de pagamentos do Google, chega ao Brasil), 2 (Carro autônomo freia para balões em teste no mundo real), 3 (Qual o melhor videogame: PS4 ou Xbox One?) e 4 (Lei sobre terceirização aprimora relações de trabalho, diz AGU ao STF) houve predomínio de respostas na

categoria de rejeição à neutralidade da ciência e da tecnologia (opinião 1), indicando que a imagem de que a ciência e a tecnologia estão sempre em função da melhoria da vida das pessoas foi reavaliada. Os exemplos de justificativas para essas opiniões demonstram a visão ora citada nos estudantes:

 Estudante A12 para situação 1: “Realmente poucas pessoas terão acesso a tecnologia sem esquecer dos perigos virtuais.”.

 Estudante A15 para situação 2: “O sistema está preocupado com o lucro, o resto é resto.”.

 Estudante A17 para situação 3: “Os jogos são viciantes, prejudicando em alguns casos o desenvolvimento educacional e até ensinando pessoas a práticas ilícitas.”.

 Estudante A18 para situação 4: “É uma realidade que não surgiu agora o patrão sempre visou o lucro, e vai ser assim sempre o dinheiro fala mais alto...”.

As respostas para a Situação 5 (Em ano de crise, o ideal é reduzir custos) se dividiram entre rejeição à neutralidade da ciência e da tecnologia (opinião 1) e perspectiva salvacionista (opinião 3), denotando que uma parte dos alunos tem descrença da isenção da ciência e da tecnologia em relação às interferências de interesses diversos, mas que outra parte acredita que ciência e tecnologia resolverão qualquer problema da sociedade, conduzindo-a ao bem-estar. Exemplos de justificativa para essa opinião:

 Estudante A12 para situação 5: “Muitas empresas em tempos de crise reavaliam os gastos desnecessários e recursos utilizados na produção para manter o quadro de funcionários estáveis sem que haja demissões em massa.” (opinião 3).

 Estudante A19 para situação 5: “Estamos lidando com um sistema capitalista, sendo assim a visão é somente lucro, não tendo vez para o empregado” (opinião 1).

Apenas dez estudantes, dos que participaram das duas atividades,

opinaram em todas as situações propostas nos questionários. A Tabela 4

Tabela 4 – Quantitativo de respostas dos estudantes que responderam plenamente os dois questionários para a Turma A por categoria CTS.

Categoria CTS

Quantidade de respostas por categoria em cada questionário

Inicial Final Rejeição à neutralidade da ciência e da tecnologia 13 22

Decisões tecnocráticas 7 2

Perspectiva salvacionista 10 10

Determinismo tecnológico 16 5

Opinião própria 4 11

Fonte: elaborado pela autora (2019).

Dentre esses, existe uma predominância do determinismo tecnológico (opinião 4) seguido de rejeição à neutralidade da ciência e da tecnologia (opinião 1) para o questionário inicial. No questionário final, a predominância passou a ser da rejeição à neutralidade da ciência (opinião 1) seguida da emissão de sua própria opinião (opinião 5). Este resultado espelha o que aconteceu na turma como um todo. Aqui também fica aparente a alteração da forma de análise dos estudantes. Isso pode indicar uma mudança na maneira de perceber e analisar as relações CTS depois da aplicação da atividade.

A alta incidência do determinismo tecnológico nas respostas da Turma A ao questionário inicial se explica pela grande confiança que a sociedade coloca na ciência e na tecnologia, alinhando-se à crença de que mais ciência implica em mais tecnologia, que deve implicar mais renda para a população, conjunto

denominado de “modelo linear” por Cerezo e outros (2003). De acordo com

Freire (2007), os estudantes estão afirmando sua ignorância sobre o processo de decisões no desenvolvimento científico-tecnológico quando tratam a tecnologia como causa da mudança social. Isso pode implicar uma população passiva que, mesmo não concordando com o que está colocado, sente-se incapaz de reagir e mudar a realidade.

A existência de seleção de opinião correspondente à rejeição da neutralidade da ciência e da tecnologia denota que os alunos conseguem perceber interesses por trás dos desenvolvimentos científico-tecnológicos, mesmo depositando tanta confiança neles. A seleção dessa opinião aparece

como um aparente despertar dos estudantes frente ao domínio tecnológico que permeia a turma.

Esse tipo de pensamento dificulta o principal objetivo da educação que é a formação para a cidadania, tendo em conta a relevância do conhecimento da ciência e da tecnologia para o desenvolvimento da sociedade. Isso evidencia a necessidade de revisão da forma de estruturação da educação científica e tecnológica, na perspectiva de inclusão de abordagens que favoreçam o pensamento crítico e, portanto, o questionamento dos modelos e valores postos na sociedade.

Por meio da análise dos dois questionários, fica evidente que os estudantes passaram a questionar mais as intenções científicas com relação ao desenvolvimento tecnológico dentro das notícias apresentadas, considerando que interesses políticos, econômicos e sociais interferem diretamente nas decisões sobre ciência e tecnologia, conforme apontado na pesquisa de Freire (2007).

Ao mesmo tempo, a maior escolha da opinião 5 pode indicar que os discentes passaram a não aceitar as respostas prontas como as mais adequadas, fugindo, após a aplicação da atividade, ao padrão inicial evidenciado. De fato, uma leitura das justificativas dessa seleção indica que os estudantes colocavam argumentos extraídos de duas ou mais opiniões da situação, construindo um argumento totalmente misturado, que não permite um enquadramento dentro das categorias CTS definidas. Um exemplo disso é a justificativa apresentada pelo estudante A6 para a situação 5: “Acredito que as novas reformas visam o melhoramento e o lucro dos empresários...somos os grandes prejudicados dessa história ficando à mercê dos poderes dos empregadores.”. Essa resposta está impregnada do contexto exposto pelas opiniões 1 (Acordos feitos entre empregador e empregado... visam principalmente manter o lucro.) e 2 (...as decisões continuam sendo tomadas pelos empregadores, deixando os funcionários sem poder de interceder.).

Possivelmente a discussão sobre as relações CTS feita através dos vídeos tenha sido bastante positiva para esta modificação, além da aula expositiva na qual foram discutidos aspectos para seleção de uma tecnologia. Essas duas intervenções parecem ter contribuído para a alteração observada nos

questionários, pois os estudantes demonstraram não ter noção das implicações das relações CTS durante a discussão dos vídeos; porém, conseguiram trazer aspectos relevantes quando foi feita a discussão sobre parâmetros para seleção de tecnologias, no decurso da aula expositiva sobre fator de potência.

É possível perceber que o tipo de tema nos questionários influenciou o tipo de resposta dos educandos, pois as situações que envolvem temas distantes de sua realidade suscitaram mais respostas da categoria de determinismo tecnológico, enquanto que para as situações relativas a temas da área trabalhista, os estudantes optaram mais pela rejeição à neutralidade da ciência. No questionário final isso não fica tão claro, já que a categoria de rejeição à neutralidade da ciência foi a mais selecionada em ambos os questionários.