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SUMÁRIO

3.1 ASPECTOS TEÓRICOS DA METODOLOGIA

3.1.2 Metodologia de Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP)

Segundo Bender (2014), a Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP), do inglês Problem Based Learning (PBL), é constantemente denominada por outros termos, tais como aprendizagem investigativa, aprendizagem por descoberta e aprendizagem baseada em projetos.

Para Ribeiro (2010), a metodologia ABP se caracteriza pela utilização de problemas da vida real para “estimular o desenvolvimento do pensamento crítico e das habilidades de solução de problema”, bem como promover a aprendizagem dos conteúdos conceituais inerentes à área de conhecimento em foco. Ainda de acordo com o autor ora referido, a metodologia ABP permite a integração do conteúdo acadêmico com o mundo do trabalho, aliando a teoria à prática. Essa metodologia comporta, assim, o domínio do conhecimento específico e o desenvolvimento de habilidades e atitudes relacionadas com aspectos profissionais e da participação enquanto cidadão.

García (2016) destaca a importância da ABP para o desenvolvimento pessoal quando enfatiza que, com o trabalho em equipe, os estudantes devem adquirir confiança e responsabilidade para desenvolver a habilidade de dar e receber críticas voltadas para a melhoria de seu desempenho e do grupo. Ao mesmo tempo, salienta que a aplicação da ABP deve objetivar um desenvolvimento integral dos estudantes, combinando o entendimento de conteúdo conceitual com aquisição de valores e atitudes.

Concordando com os demais, Bender (2014) descreve ABP enquanto uma abordagem de ensino que consiste em possibilitar aos estudantes a confrontação entre questões e problemas do mundo real, sendo eles os responsáveis pela definição da forma de abordagem e coordenação da ação cooperativa na busca de soluções. A perspectiva de ter o poder para escolher os métodos e procedimentos a serem empregados, faz com que os discentes tendam a estar mais motivados para a realização do trabalho.

Araújo e Arantes (2009) afirmam que os principais alicerces que sustentam a metodologia ABP nas instituições onde é aplicada são: o protagonismo do estudante no processo de aprendizagem do conhecimento; a experiência de ser o pilar da estrutura de ensino e aprendizagem; e o desenvolvimento da autonomia dos educandos. Os autores propõem que os temas adotados para

aplicação da ABP sejam vinculados com “o fortalecimento da cidadania, a

resolução de problemas sociais e a articulação entre os conhecimentos científicos e os problemas do cotidiano” (ARAÚJO; ARANTES, 2009, p. 109). No que tange à elaboração da situação-problema, os autores ora citados alegam que o problema ideal precisa que a resposta não esteja estabelecida; ao mesmo

tempo, deve ser simples e objetivo para não abrir demais as possibilidades de condução, evitando o desvio do conteúdo a ser estudado.

A metodologia ABP, conforme Ribeiro (2010) e González e López (2010), sugere que os estudantes tenham papel central no processo, ou seja, os conteúdos devem ser relevantes e a eles deve ser dada a responsabilidade sobre a aprendizagem, tornando-os capazes de gerir sua aquisição de conhecimento para toda a vida. Esses autores propõem ações semelhantes para os estudantes no processo da ABP: entendimento do problema, proposição de hipóteses e identificação de questões de aprendizagem; proposição de solução a partir dos conhecimentos existentes; levantamento dos conhecimentos existentes e do que precisa ser adquirido; priorização das questões de aprendizagem; organização da equipe para o trabalho autônomo; compartilhamento de conhecimento de forma eficaz entre os membros da equipe; aplicação do conhecimento acumulado para solucionar o problema; e avaliação do novo conhecimento, da solução e processo.

García (2016) complementa afirmando que, no processo de interação entre os componentes da equipe, o estudante pode perceber suas próprias necessidades de aprendizagem, compreender a importância do trabalho colaborativo, desenvolver habilidades de análise e síntese de informações, bem como comprometer-se com seu processo de aprendizagem.

Com relação ao professor, Ribeiro (2010) aponta que este deve interagir com os estudantes no sentido de instigar a sua curiosidade e espírito questionador, discutindo raciocínios superficiais e respostas vagas. Para o professor, a aplicação da ABP representa um grande desafio, pois implica deixar de ser meramente transmissor de informações para ser orientador, facilitador e co-aprendiz na construção do conhecimento. Tendo em conta que o ambiente onde se desenrola a aplicação da ABP se reveste de situações mais complexas que as encontradas numa aula tradicional, o professor precisa refletir sobre a sua própria prática a fim de que possa construir o conhecimento pedagógico necessário para administrar essa nova condição.

Para Bender (2014), o uso de uma aprendizagem baseada em projetos exige uma mudança de papel tanto dos professores quanto dos estudantes. Ao professor cabe deixar de ser transmissor de conteúdos para se transformar em

facilitador da aprendizagem, aprendendo novas habilidades, tais como: assegurar material de apoio (textos, internet, vídeos), sugerir pessoas para serem entrevistadas, facilitar discussões em grupo, analisar com os estudantes o seu planejamento e cronograma, oferecer pequenas lições sobre conteúdos específicos, orientar individualmente ou em grupo e avaliar tarefas. Para os estudantes, essa metodologia demanda habilidades não comumente exigidas, como: identificação e seleção de questões importantes, obtenção de soluções alternativas, trabalho cooperativo, desenvolvimento de crítica construtiva sobre a opinião do outro e reconhecimento do valor da contribuição do colega.

González e López (2010) concordam com Bender (2014) quando assinalam que muitas das características da ABP têm como base a premissa de que a aprendizagem é um processo de construção de um conhecimento novo sobre outro, já existente. Para as autoras, essa metodologia promove o uso do conhecimento e a consciência de como se aprende, propiciando que o estudante aprenda por si mesmo. Assim, consideram que a ênfase está na aprendizagem autorregulada, que requer uma atitude ativa por parte do educando.

Bender (2014) descreve algumas estratégias de ensino aplicadas à ABP. No que tange aos estudantes, devem ser incentivadas práticas que favoreçam o desenvolvimento de habilidades de aprendizagem investigativa, como tempestade de ideias (brainstorming), processamento em grupo, planejamento de cronograma e exploração da criatividade. Com relação às estratégias que podem ser utilizadas pelos professores, o autor referido propõe que existam atividades individuais e em grupo, empregando a estratégia de aprendizagem compartilhada denominada “pense e compartilhe” (do inglês Think-Pair-Share), na qual o estudante pensa individualmente, compartilha as ideias com um colega e ouve as do colega; depois, a dupla compartilha com a turma.

Além disso, Bender (2014) recomenda ferramentas de planejamento

metacognitivo, como o quadro SQA (Saber – Querer – Aprendido). O quadro

SQA foca em três perguntas para ajudar os estudantes na percepção de como está o seu conhecimento com relação ao conteúdo específico, o que precisam saber sobre este conteúdo e o que aprenderam com a atividade desenvolvida. Dessa forma, o estudante acessa o conhecimento prévio antes de começar a

atividade, percebendo o que sabe e o que precisa saber, e planeja como pesquisar para realizar a atividade; ao final, reconhece o que aprendeu.

A aplicação da sequência didática elaborada para esta pesquisa tem aderência, em alguns aspectos (como o uso de um problema próximo à realidade dos estudantes, o trabalho em grupos pequenos e a responsabilização dos educandos pela aprendizagem), com a aprendizagem baseada em problemas (ABP). No entanto, dada a realidade da aplicação, considerando o tempo disponível, que não permite que os alunos sejam efetivamente responsáveis pela condução das atividades, e a capacidade de envolvimento dos estudantes, que não possuem muita disponibilidade de tempo fora da sala para encontros de equipe e pesquisas, não foi possível empregar de maneira plena a ABP. Assim, na elaboração da sequência didática, a ABP entrou no suporte à construção de alguns instrumentos de coleta de dados que são aplicados durante a SD (ver item 3.2.2).

3.1.3 Conteúdo Conceitual: Corrente alternada (CA) e Fator de