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3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

3.3 ANÁLISE COMPARATIVA DAS VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS

CATARINA

Como analisado e explicado anteriormente, são muitos os questionamentos sobre os benefícios fiscais oferecidos pelos estados às empresas importadoras, tudo isso porque são muitas as empresas que estão saindo de seus próprios territórios à procura de incentivos para realizarem suas importações em outros estados. E agora, com a unificação do ICMS para 4%, são grandes as chances de diminuir o interesse em importar um produto por uma fronteira que seja distante do consumidor final e o custo de transporte passará a ser um fator determinante no momento de uma empresa escolher um porto ou aeroporto para desembarcar suas mercadorias.

Para alguns, os benefícios fiscais na importação representam uma forma de crescimento na economia local por intermédio do comércio exterior. Já para outros, esses benefícios representam concorrência desleal com os demais Estados e prejudicam a indústria nacional.

Obviamente que isso gera controvérsias. No estado de São Paulo, por exemplo, está instalado o porto de Santos que é o maior no território nacional e o mais próximo dos principais centros consumidores do país. Com o fim dos benefícios fiscais nos outros estados em virtude da unificação do ICMS, tal porto poderá acabar concentrando ainda mais as importações brasileiras, sendo que hoje já é a porta de entrada para 36% de todas as importações do Brasil, como se pode visualizar no gráfico 1. Para efeito de comparação, Santa Catarina responde por apenas 7% desse volume (DIÁRIO CATARINENSE, 2012).

Gráfico 1: Comparativo das importações brasileiras Fonte: Secex/MDIC (2012).

No entanto, o senador Luiz Henrique da Silveira afirmou que os cincos portos catarinenses têm boa infraestrutura, mão de obra qualificada e conseguem movimentar as cargas com mais eficiência, por isso, poderão competir contra os demais após a unificação dos ICMS, e acredita-se ainda que, diante disto, o estado catarinense conseguirá manter pelo menos parte das empresas que hoje usufruem dos benefícios fiscais. Mas essa não é a realidade de muitos empresários catarinenses, principalmente as tradings companies, que alegam que cidades como Itajaí, Navegantes, São Francisco do Sul e Imbituba, que cresceram na última década impulsionadas pelo avanço de seus portos, irão sofrer um retrocesso (DIÁRIO CATARINENSE, 2012).

Para o senador Eduardo Braga (PMDB-AM), que é a favor do fim dos benefícios fiscais, a unificação da alíquota garante a manutenção dos empregos no país. Ele afirma que os incentivos afetam a indústria nacional e que consequentemente geram menos oportunidade de emprego, trabalho e renda em um momento que a crise mundial assusta os empregos de todos os brasileiros (APORTE ECONOMIA, 2012).

Em uma pesquisa da Federação das Indústrias de São Paulo – FIESP (2012), no ano de 2010, as importações superaram as exportações em US$ 4,39 bilhões em Santa Catarina e a pesquisa mostrou ainda que a prática de incentivar as importações já fez o Brasil deixar de gerar 771 mil empregos, desde que essas práticas começaram a serem feitas até o ano da pesquisa.

A FIESP (2012) afirma também que, ao contrário do que muitos pensam, os benefícios fiscais que os estados vêm ofertando para estimular a importação por seus portos com o pretexto do desenvolvimento industrial local, nem sempre são a realidade e que o

principal prejudicado é o produto nacional, que, por não ter estímulo algum, passa a ser mais caro do que o beneficiado importado.

A FIESP (2012) relata ainda que quando o produto nacional é substituído pelo importado, significa um prejuízo econômico e social para o país, já que o produto nacional deixa de gerar emprego e renda internamente tanto no próprio setor, como em toda a cadeia a montante. O resultado disso, conforme estimado acima, é a perda de milhões de postos de trabalho em todos os setores da atividade econômica.

Diferentemente do que relata a FIESP (2012), a Associação Brasileira de Empresas de Comércio Exterior – ABECE (2012) afirma que a importação ajuda o país e que de todos os produtos importados pelo Brasil, 83% das importações se destinam ao processamento industrial, como máquinas, equipamentos, insumos e petróleo. São importações que complementam a produção nacional e, ao contrário do que muitos pensam, elas não substituem o produto brasileiro.

A ABECE (2012) afirma ainda que esse perfil das importações estimula a economia, com novos investimentos e empregos. Além disso, o país já tem protecionismo demais, com altas alíquotas de Imposto de Importação, custos de frete, seguro e logística dos portos, e os produtos importados, vendidos no exterior ao mesmo preço dos nacionais, ficam até 50% mais caros depois de nacionalizados.

O coordenador de estudos do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário - IBPT, Gilberto Luiz do Amaral, prevê que as empresas de comércio exterior que abriram filiais em Santa Catarina nos últimos anos sem investir em infraestrutura, como centros de distribuição, devem retornar para os seus estados de origem (OGEDA, 2012).

Para o estado de Santa Catarina, dar um fim nos benefícios fiscais é transferir milhares de empregos, em tradings companies, comissárias de despacho, armazéns, terminais portuários e retroportuários, agentes marítimos e empresas de logística, para outros estados da federação, além de uma brutal queda na arrecadação do estado.

Raimundo Colombo, através do site da SEF (2012), afirma que “é um absurdo pensar que essa resolução vai resolver o problema da desindustrialização". Para ele, “alguns tipos de matéria-prima têm que entrar por algum lugar no Brasil para as nossas indústrias produzirem”.

O governador citou como exemplo a indústria têxtil catarinense que, ao se utilizar de matéria-prima importada mais barata, passou a agregar valor no produto dentro do Estado e cresceu 28% no ano passado. Segundo ele, “precisamos identificar quais são os produtos que estão prejudicando as indústrias no país e irmos corrigindo pontualmente.” Ele afirma que a

unificação do ICMS só vai criar distorções em vez de ajudar a indústria nacional (SEF NA IMPRENSA, 2012).

Seguindo esse mesmo pensamento, apesar de o setor têxtil ter crescido em Santa Catarina, em entrevista com Almir Gorges, secretário-adjunto de Fazenda de Santa Catarina, através de Rayani (2012), a disputa entre os estados foi iniciada quando o governo federal, para desenvolver o Norte e o Nordeste, começou a conceder benefícios fiscais dos tributos federais.

Para o secretário, o que aconteceu foi que algumas empresas tradicionais de Santa Catarina, as têxteis especialmente, migraram suas plantas para essas regiões.

Nós éramos o maior polo têxtil do Brasil e a maioria das empresas foi para o Ceará e outros estados. O próprio Governo Federal deu margem para os estados começarem a guerra fiscal. Para nos defender, tivemos que começar a conceder benefícios fiscais no ICMS, afirma Almir Gorges (RAYANI, 2012).

Klaus Raupp, diretor de Assuntos Tributários da Associação Comercial e Industrial de Florianópolis – ACIF é a favor dos benefícios e acredita que atualmente Santa Catarina ganha com a guerra fiscal. Para ele, "o estado está num superávit entre aquilo que seria daqui e aquilo que não é". Explicou, ainda, que muitas empresas que destinam seus produtos a outros estados importam pelos portos catarinenses em função dos benefícios, gerando com isso um maior movimento nos portos de Santa Catarina (RAYANI, 2012).

No entanto, de acordo com o secretário da Fazenda do Rio Grande do Sul, Odir Tonollier, a unificação e o fim dos benefícios fiscais são de cunho urgente. Ele defende que “a medida é importante para o País, pois acaba com os subsídios às importações, o que é inadmissível por parte dos estados que praticam esta política que suprime os empregos nacionais em detrimento da criação de postos de trabalho na China”. Segundo ele, haverá um forte impacto na indústria em um primeiro momento e, consequentemente, os estados passarão a arrecadar mais (BANKER, 2012).

Em contrapartida, a ABECE (2012) afirma que “é falácia afirmar que os incentivos fiscais nos Estados acarretam avalanche de importações, esse estímulo é amparado em bases legais e ajuda a descentralizar regionalmente o comércio exterior brasileiro”.

Consoante a ABECE (2012), as importações são muito centralizadas. Como foi visto anteriormente, o estado de São Paulo importou sozinho 36% do total importado pelo Brasil, totalizando US$ 82 bilhões em 2011, o que constitui uma enorme diferença em relação aos demais estados. “E a indústria é a maior importadora. Se os Estados não puderem seguir com incentivos às suas atividades portuárias, essa distorção econômica ficará ainda maior”, afirma a ABECE.

Para o doutor em Direito Tributário e professor Fábio Canazaro, o governo confunde o contribuinte quando aplica aumento de 30% no Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI de carros importados, por exemplo, e cria uma alíquota mais baixa para o ICMS para mercadorias vindas de fora do País. Com base nisso, o professor entende que a Resolução 72 está na contramão do crescimento do País. “É o maior absurdo dar incentivo às indústrias estrangeiras, isso é contra o desenvolvimento”, critica. Para ele, a disparidade existente entre os ICMS só se resolveria com a Reforma Tributária (BANKER, 2012).

Apesar disso, Canazaro admite que o movimento de unificação possa representar o início da tal sonhada mudança no sistema tributário nacional. Porém, o especialista só acredita numa transformação paulatina e diz que o Brasil já está atrasado para começar essa reestruturação. “Os estados estão destruindo com as suas indústrias” (sic), lamentou ele (BANKER, 2012).

Diante disto, acredita-se que, em vez de os políticos discutirem a guerra fiscal e o fim dos benefícios fiscais, talvez seja o momento propício para se debater seriamente a redução da burocracia estatal, o famoso “custo Brasil” e a efetiva desoneração da produção. Só assim as vantagens oferecidas pelo abatimento do ICMS poderiam ser substituídas por um custo mais baixo para importar ou para exportar. Consequentemente, se os impostos hoje pagos pelas indústrias brasileiras diminuíssem, os produtos nacionais ficariam ainda mais competitivos se comparados aos importados.

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