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Na análise de dados, foi utilizado o referencial da Análise de Conteúdo de Bandin (1977). A escolha deste referencial de análise permitiu a construção de critérios para categorização e subcategorização dos conteúdos oriundos das entrevistas e documentos analisados. Em substância, a Análise de Conteúdo de Bardin (1977) se configura como:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens. (p 35).

A Análise de Conteúdo é um método complexo que parte de um esforço de compreensão de características, estruturas e modelos que podem existir entre os fragmentos e falas, documentos e imagens de diversas formas de comunicação (GODOY, 1995b apud CÂMARA, 2013).

O método da Análise de Conteúdo pode ser utilizado de diversas formas para qualificar a construção de categorias e subcategorias. Em uma perspectiva quantitativa, a análise de frequência da aparição das palavras pode ser um caminho para se evidenciar o conteúdo explícito de um texto ou de uma fala. Outra perspectiva consiste e utilizar a Análise de Conteúdo para propósitos de pesquisa qualitativa, permitindo uma maior plasticidade dos procedimentos do método, sendo mantidos os passos de validação e rigor. Moraes (1999) chama atenção para as seguintes características da Análise de Conteúdo:

Mesmo tendo sido uma fase de grande produtividade aquela em que esteve orientada pelo paradigma positivista, valorizando sobremodo a objetividade e a quantificação, esta metodologia de análise de dados está atingindo novas e mais desafiadoras possibilidades na medida em que se integra cada vez mais na exploração qualitativa de mensagens e informações. Neste sentido, ainda que eventualmente não com a denominação de análise de conteúdo, se insinua em trabalhos de natureza dialética, fenomenológica e etnográfica, além de outras (p 02)

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Importante deixar claro que a Análise de Conteúdo é uma proposta de método que também exige posicionamento do pesquisador frente aos dados. Bardin (1977) afirma, por exemplo, que mesmo a Análise de Conteúdo aplicada aos documentos, é um procedimento de envolve o pesquisador, pois haverá o tratamento de o material bruto para um material sistematizado e analisado. Ou seja, os passos de rigor para categorizar exigirão um posicionar- se epistemológico do pesquisador na interpretação e leitura dos dados.

Dentre as diversas formas de se conceber a Análise de Conteúdo, esta pesquisa está identificada com a proposta de análise temática dos dados coletados em campo. Como desdobramento desta escolha, o método empregado objetivou a análise das mensagens propriamente ditas, os valores das informações contidas ou a ausência de informações das falas das entrevistas e dos documentos analisados. Busca-se, assim, as palavras e expressões, presentes e ausentes, os argumentos e as principais ideias ali expressas ou escondidas (MORAES, 1999).

A Análise de Conteúdo possui as seguintes etapas centrais, cujas as etapas intermediárias serão desdobradas mais a seguir:

Figura 5 – Etapas da Análise de Conteúdo

Fonte: Bardin (1977) apud Câmara (2013)

Na fase de Pré-Análise, é realizado um trabalho muito cansativo e organização do material a ser explorado posteriormente. Nesta etapa preparatória, os materiais das entrevistas

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e os documentos devem ser organizados por semelhança temática ou de ideias obtidas na primeira leitura flutuante dos textos (Bardin, 1977). Esta leitura é fundamental para que o pesquisador faça escolhas sobre o que de fato faz sentido ser transformado em corpus (corpo de análise).

Na segunda etapa, Exploração do Material, constitui-se também uma tarefa desta etapa a codificação dos dados. Na codificação feita nesta pesquisa foram utilizados marcadores de tipo de profissão do entrevistado, temas de relevância aparecidos, ausências principais e novos conteúdos não previstos. Estas foram as escolhas de classificação e agregação de sentido.

Ainda fase supracitada, foram estabelecidas as unidades de contexto. Esta etapa é de extrema importância, pois precede a categorização em definitivo do corpus dos dados. A esse respeito, Moraes (1999) alerta:

Uma vez identificadas e codificadas todas as unidades de análise, o analista de conteúdo estará pronto para envolver-se com a categorização. Na verdade, seguidamente, especialmente se a quantidade de materiais a serem investigados é grande, recomenda-se realizar o trabalho de unitarização inicialmente apenas com uma parte do material. Daí faz-se um primeiro esforço de categorização, retornando depois à unitarização para completar o trabalho. Isto é especialmente verdadeiro quando as categorias são definidas a partir do material em exame e quando o próprio conceito de unidade de análise é construído a partir do conteúdo investigado. (p 06)

No caso específico desta pesquisa, com volume médio de dados, foi necessário fazer alguns retornos ao trabalho de unitarização e codificação que sempre envolve perdas de alguns sentidos. Estes sentidos podem ser retomados da fase de interpretação, quando são inseridos novos elementos, inclusive a crítica do pesquisador sobre o que os dados demonstram.

Para realizar a última etapa da Análise de Conteúdo concernente à Exploração de Material, seguindo para a categorização propriamente dita, faz-se necessário atender aos princípios da categorização. São estes dos princípios: Exclusão Mútua (cada elemento deve estar em apenas uma categoria); Homogeneidade (os elementos de mesma categoria devem

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ter semelhanças fortes); Pertinência (as categorias devem estar conectadas com as intenções do pesquisador, objetivos da pesquisa e aos resultados trazidos pelos dados); Objetividade e

Fidelidade (as categorias devem ser o mais objetivas e coerentes possíveis) e Produtividade

(as categorias serão produzidas em função dos elementos possíveis dos dados obtidos). (Câmara, 2013).

Para realizar a etapa de interpretação dos dados, o pesquisador se valeu os aportes teóricos do Materialismo Histórico Dialético. Faz-se necessário que a interpretação dos dados ocorra à luz de um arcabouço teórico do qual o autor se identifique e que forneça elementos conceituais para desdobrar a compreensão dos dados em uma perspectiva que permita ir além do conteúdo manifesto.

Utilizou-se também para finalidade de montagem da apresentação dos resultados, duas ferramentas de criação de nuvens de palavras (Word Cloud). A ideia e montar nuvens de palavras após o refinamento dos dados objetivou encontrar uma forma mais didática e agradável visualmente de apresentar os conteúdos relevantes das categorias elaboradas. Sem nenhum demérito à forma de apresentação por tabelas, contudo, a depender do número de frases e palavras, esta forma pode se tornar exaustiva e pouco ilustrativa para a leitura. Neste sentido, cabe a seguinte reflexão sobre o uso destas ferramentas de apresentação de dados nas pesquisas qualitativas:

Em seu clássico artigo “What is Visualization”, Lev Manovich explica que visualização de dados, historicamente, sempre envolveu a redução. Ao invés de mostrarmos uma lista com cinco mil respostas a uma survey, transformamos essa lista em um gráfico como um histograma, mostrando a distribuição das respostas. Ou seja, uma redução. Esta redução envolve transformar um dado em outro formato visual: o volume de respostas a cada pergunta, por exemplo, se é traduzido/reduzido em tamanho de colunas. (SILVA, 2013)

A primeira ferramenta utilizada para os fins que se mencionou acima se chama-se WordCounter14. Esta ferramenta faz a contagem das palavras submetidas enquanto texto e final e fornece um panorama das palavras e expressões mais mencionadas no texto. A

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utilização deste programa online permite que o autor elimine da nuvem de palavras as palavras conectivas (ex: “que”, “para”) que se repetem nas falas e em textos formais e, que na verdade, não trazem informações relevantes sobre o contexto e o sentido para apresentação de dados.

A segunda ferramenta utilizada, após a eliminação das palavras conectivas e permanência das palavras chave de sentido para discussão, foi gerado uma imagem para cada macro categoria por meio do Voyant Cirrus15. Cada imagem foi exibida na abertura da discussão de cada categoria temática de forma a facilitar ao leitor uma compreensão daquilo que foi mais significativo tanto pela frequência do que apareceu quanto pela edição do autor para evidenciar questões neste sentido quanto ao objeto e os achados desta pesquisa.

Os principais conceitos, análises e debates a respeito do diálogo dos dados produzidos com o Materialismo Histórico Dialético serão explicitados nas seções Resultados e Discussão dos Resultados. Na seção Referencial Teórico, o leitor encontrará os principais conceitos da teoria acima referida, bem como encontrará mais conceitos relevantes para o entendimento dos produtos desta dissertação.