• Nenhum resultado encontrado

Neste capítulo, faremos as análises de onze charges do chargista Angeli sobre o mensalão, no período de agosto a outubro de 2012, publicadas na Folha de S. Paulo. Baseamo-nos, para as análises, nas concepções aqui estudadas no capítulo III sobre a referenciação, a inferenciação, a recategorização associadas às expressões anafóricas. Devemos considerar que o critério sócio-cognitivo interacional, por nós adotado, permite a inclusão das recategorizações, das anáforas diretas e indiretas e dos intertextos para a compreensão do efeito de humor estudado no capítulo II. Isso posto, para Cavalcante (2005, p.129), o objeto do discurso se recategoriza por meio de pistas as quais direcionam o leitor a apreender o sentido a partir de “modelos mentais minimamente organizados em nossos conhecimentos culturalmente partilhados”.

Em outras palavras, para que o leitor tenha a capacidade de compreender o discurso presente, na figura da charge, faz-se necessário que ele tenha o conhecimento culturalmente partilhado para que haja compreensão na leitura do texto. Tais conhecimentos, como citado anteriormente, correspondem às experiências vivenciadas e compartilhadas por uma dada comunidade e armazenada mentalmente em modelos cognitivos. Além disso, para que o humor seja percebido pelo interlocutor, faz-se necessário que o leitor compartilhe dos conhecimentos exigidos pela autoria textual, para compreensão da intencionalidade discursiva presente na charge.

Tal como apresentado por Travaglia (2005) e por Possenti (2010) em seus ensaios teóricos, sabemos que o discurso humorístico não se manifesta por si só. Não há o engraçado vagamente apresentado sem que algo inserido à situação de produção textual não provoque o riso em quem presencia o fato humorístico. O humor é compartilhado por um determinado grupo de pessoas em que um assunto é difamado ou “rebaixado” mediante algum apontamento falho que justifique a ocorrência de um acontecimento ou de uma pessoa alvo desse apontamento. Dos fatores destacáveis mais comuns em um dado contexto social enfocamos os tipos estereotipados historicamente e socialmente. Obviamente, o tema que mais sofre recorrência estereotipada é o do político corrupto, falso e manipulador.

Charge 1

Fonte: Opinião – Folha de São Paulo, 2 de agosto de 2012

Na charge 1, publicada no início do julgamento do mensalão pelo STF, observamos a introdução do referente explícito “mar de lama”, termo utilizado pela política brasileira para categorizar a existência de enormes redes de corrupção em um governo. Esse referente é recategorizado pela imagem por ser o caso de corrupção mais “sujo” e “vergonhoso” na história política do Brasil. Um dia antes do julgamento, a Receita Federal confirmou punições contra réus e empresas ligadas ao processo do mensalão que somaram pelo menos R$ 64,4 milhões. As penalidades foram mantidas pelo Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, orgão do Ministério da Fazenda, que concordou com as acusações feitas criminalmente pela Procuradoria Geral da República na ação no STF.

As decisões do Conselho apontaram que o empresário Marcos Valério de Souza e outros réus do grupo citados como “núcleo operacional” do esquema cometeram diversas infrações como evasão de divisas, movimentação de dinheiro de origem não declarada e fraudes contábeis para justificar entradas e saídas de recursos. Segundo documentação da Receita Federal, o grupo mandava desde 2002 dinheiro ilegal ao exterior, sem passar pelo sistema financeiro nacional.

Assim, ancorado nesse contexto e ativado pela anáfora indireta “mensalão”, introduzida pela fala da personagem, o referente é recategorizado como o maior esquema de corrupção envolvendo arrecadação ilegal de recursos para campanha e compra de votos de parlamentares em troca de apoio do governo Lula.

A partir disso, observamos que o processo da recategorização do referente demanda uma abordagem tanto dos aspectos linguísticos quanto dos sociocognitivos para que o leitor possa compreender e construir sentido. Ele modula o referente em função da intencionalidade comunicativa do momento, que é criticar as ocorrências absurdas do mensalão.

Desse modo, o riso surge da difamação, do rebaixamento cuja intenção é ridicularizar, humilhar os políticos envolvidos no esquema e, ao mesmo tempo, corrigir e denunciar para que se possa manter a ordem social.

Charge 2

Fonte: Opinião – Folha de S. Paulo, 5 de agosto de 2012.

Nessa charge 2 temos um cenário em que Roberto Gurgel, Procurador-Geral da República, diante do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, declara-o ser o “mentor” e o principal responsável pela organização do mensalão. Gurgel descreveu um esquema de corrupção criado para assegurar apoio ao Governo no Congresso após a chegada do PT (Partido dos Trabalhadores) ao poder. Ele afirma que o esquema funcionava dentro do palácio da Presidência da República, por isso considerou o mensalão o mais “atrevido” e “escandaloso” sistema de corrupção do Brasil. Mesmo sem provas concretas, Gurgel invoca a teoria do “domínio do fato”, ou seja, por meio de depoimentos de testemunhas e outras evidências, ele o acusa nos casos que abrange crime organizado.

Na Folha de S. Paulo (2012), esse tipo de crime envolve o esquema mais sofisticado que arregimenta “laranjas”¹, intermediários, assessores, e o chefe não se envolve diretamente, ou seja, o autor do crime é quem decide e planeja a atividade dos demais.

________________________________________________ ¹ o termo “laranja” e “testa de ferro” designam, na linguagem popular, a pessoa que intermedeia transações financeiras fraudulentas, emprestando seu nome, documentos ou conta bancária para ocultar a identidade de quem a controla. Acesso em 12/08/2013 – http://pt.wikipedia.org/wiki/laranja

A partir disso, ancorados nesse contexto e amparados pela anáfora indireta do referente explícito “Jesus”, observamos que a imagem de José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil e figura política importante na sociedade, é recategorizada como “arrependido” diante das acusações feitas pelo Procurador-Geral da República e por desconhecer o mensalão e as pessoas envolvidas no esquema. Diante disso, Gurgel, espantado com o discurso de Dirceu, disse que nada disso importa, porque, de acordo com a teoria do domínio do fato, o que interessa é que ele idealizou o esquema e tinha domínio sobre o que a quadrilha fazia, mesmo sem se envolver com a execução dos seus crimes.

Assim, por meio dessas estratégias e amparado na anáfora indireta, o riso ocorre do aparecimento de uma incongruência inesperada entre o discurso de um político petista para um discurso religioso “Encontrei Jesus” que nos mostra o arrependimento dos seus erros, provocando, assim, o humor. A causa desencadeadora desse processo seria a quebra de uma expectativa, ou seja, a perda de controle em relação à postura indiferente e falsa de José Dirceu diante de uma autoridade pública e num espaço jurídico de respeito perante a sociedade.

Charge 3

Fonte: Opinião – Folha de S. Paulo, 6 de agosto de 2012

Nesse caso, a charge 3 é construída por meio do intertexto, sendo que o texto-base foi publicado pela Folha de S. Paulo, em 5 de agosto de 2013 e cujos fatos envolvem a contratação dos melhores advogados de São Paulo para que façam a defesa dos principais réus do mensalão.

Os advogados mobilizam equipes inteiras para acompanhar, em Brasília, o julgamento do processo, alegando poder dar conta das acusações que constam no mesmo. Para isso, cobram altíssimos honorários não divulgados pela mídia. Isso posto, ancorado no contexto, observamos a introdução do referente “festival de advogados de Brasília” recategorizado como “corruptos”. Pois, a partir do conhecimento de mundo que temos do referente “advogados”, profissionais liberais “sérios”, bacharéis em Direito e autorizados pelas instituições competentes de cada país a representar os interesses das pessoas físicas ou jurídicas em juízo ou fora dele, quer entre si, quer ante o Estado, passam a defender apenas seus interesses. Essa compreensão é possível pela associação da anáfora indireta “festival” com a imagem representada, ironicamente, pela equipe de advogados que aparece de feição alegre e mostra uma ação comum em situações de comemoração, festas e celebrações, querendo apenas levar vantagem do caso que envolve muito dinheiro, desencadeando, assim, o riso.

Além do mais, também constatamos o riso aristotélico baseado no aspecto moral, zombando dos vícios a que o homem se expõe, tentando, sem cessar, possuir cada vez mais, visando o ter por ter. Assim sendo, isso o leva ao ridículo, tornando-se alvo fácil do riso. Consequentemente, o texto só será cômico mediante a admissão da ocorrência da recategorização por meio da anáfora indireta e do intertexto.

Charge 4

Fonte: Opinão – Folha de S. Paulo, 14 de agosto de 2012

O cenário da charge 4 está associada ao texto-base publicado na Folha de S. Paulo de 13 de

agosto de 2012, onde Luis Flávio Zampronha, delegado da Polícia Federal que investigou o

caso de 2005 a 2011, afirma que o esquema era mais amplo nas suas duas mediações: arrecadação e distribuição. Deveria ser encarado como um grande sistema de lavagem de dinheiro e não só como canal para a compra de apoio político no Congresso. O delegado abasteceu de provas o Ministério Público Federal, que, em 2006, ofereceu a denúncia ao STF. Para ele, José Dirceu e Delúbio Soares poderiam ter sido denunciados também por lavagem de dinheiro, o que não foi feito pelo Ministério Público Federal.

Em relação à origem do dinheiro, Zampronha atesta que o mensalão “seria empregado ao longo dos anos não só para transferências a parlamentares, mas para custeio da máquina partidária e de campanhas eleitorais e para benefício pessoal dos integrantes”. O dinheiro não viria apenas de empréstimos ou desvios de recursos públicos, mas também poderia vir da venda de informações, extorsões, superfaturamento em contratos de publicidade, da intermediação de interesses privados e doações ilegais. Para ele, os empréstimos obtidos pelo Banco Rural e BMG eram verdadeiros e seriam quitados com o dinheiro a ser arrecadado pelo esquema.

Ancorada nesse contexto, na fala da personagem “se o caule é assim, imagine o tamanho da raiz” e na imagem deformada do caule, a anáfora indireta “mensalão” introduz um novo referente “a sombra do mensalão” que é recategorizado como um esquema de

corrupção mais abrangente do que se imaginava inicialmente, englobando outras atividades ilegais.

A partir disso, o riso é desencadeado pela alusão que fazemos sobre a corrupção ser muito maior do que aparenta ser e que abalou toda a estrutura política do governo Lula.

Charge 5

Fonte: Opinião – Folha de S. Paulo, 20 de agosto de 2012.

Na charge 5 verificamos a introdução do referente explícito “Oscar” categorizado como uma cerimônia formal na qual os prêmios são entregues anualmente pela Academia de Cinema Americana, em reconhecimento à excelência de profissionais da indústria cinematográfica, como diretores, atores e roteiristas. Assim, a partir disso, verificamos que o riso é desencadeado pela percepção contrária que estabelece a real finalidade do referente “Oscar”. Esse novo objeto de discurso no qual se ancora a anáfora indireta “mensalão” é reconstruído de forma irônica por meio da fala da personagem representada por Gurgel “...e o Oscar vai para...” recategorizado implicitamente como “...e o Oscar vai para os ‘figurões’ do mensalão para serem julgados”, referindo-se a José Dirceu, a José Genoino e a João Paulo Cunha, considerados figuras políticas importantes do Governo Lula. Além disso, percebemos que o referente implícito “premiação”, ancorado no referente explícito “Oscar”, é recategorizado como “punição” ou “castigo”, que associados à imagem de Gurgel segurando o resultado e o malhete relaciona-se ao contexto da notícia no caderno “Poder”, na Folha de S. Paulo, em 19/08/2012, que retrata logo no início do julgamento do

mensalão a decisão de serem julgados os principais réus do mensalão, principalmente, José Dirceu, considerado o mentor.

Charge 6

Fonte: Opinião – Folha de S. Paulo, 22 de agosto de 2012.

No caso da charge 6, a comicidade é desencadeada pelo intertexto estabelecido com o título “Inferno de Dante”²; relaciona-se com a primeira parte da “Divina Comédia” de Dante Alighieri. No poema, o referente “inferno” é descrito com nove círculos de sofrimento localizados dentro da Terra. Os pecados menos graves estão logo no início e os mais graves no final. Portanto, os maiores pecados são aqueles cometidos de forma premeditada usando a inteligência do ser humano para o mal e a traição, onde ambos recebem a punição máxima no local mais profundo do inferno que é representado pelo cenário da charge.

O referente “inferno” associado à anáfora direta representada pela imagem; à anáfora indireta, “partidos”, ancorada no discurso das personagens “Estão agrupados por partidos?”, e “No princípio era assim, mas, com o tempo foi virando uma coisa só” é recategorizado por “corrupção”, pois atribui a punição a todos os políticos independentemente do partido a que pertencem. A “corrupção” contaminou todos os lideres de partidos como PP, PL, PTB, etc., no caso mensalão, como se a partir disso não houvesse mais nenhum político honesto nos partidos políticos.

___________________________

Essa compreensão é possível por meio das expressões anafóricas que orientam a configuração do intertexto, fazendo com que o leitor seja capaz de relacionar e reconhecer a sua presença pela ativação do texto-origem em sua memória discursiva, associando-o às âncoras lexicais e imagéticas expressas no cotexto e no contexto. Portanto, amparados por esse processo, o riso surge da difamação e do rebaixamento dos políticos, tornando-os alvo sarcástico após o super-escândalo de corrupção na esfera política.

Charge 7

Fonte: Opinião – Folha de S. Paulo, 3 de setembro de 2012

Sequencialmente ao contexto da charge 2, observamos, na charge 7, o mesmo cenário, onde o Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, diante do ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, confirma possuir provas mais contundentes para sua condenação, sendo apontado como o “chefe da quadrilha”3. A partir disso, a comicidade é desencadeada

pela introdução do referente “perdeu, playboy” à anáfora direta representada pela imagem de Dirceu, que é recategorizada como “espanto” e “vergonha”.

____________________

Além do mais, temos o referente “Data Venia” categorizada por uma expressão latina que significa “dada a licença” ou “com o devido respeito”, que ancorado na fala do procurador desencadeia o riso pela incongruência entre o discurso formal e o discurso informal. Observamos, também, que o referente imagético Dirceu, figura política importante durante o governo Lula, é recategorizado como “playboy”, desencadeando o riso que advém do estereótipo criado no início da década de 50, quando os Estados Unidos passavam por grande onda de prosperidade. Homens, filhos de famílias que haviam enriquecido, começaram a dedicar seu tempo integral às festas, a relacionamentos e a esbanjar dinheiro.

Assim sendo, o leitor apreende que finalmente a justiça falou mais alto e que pela primeira vez um político cujo cargo era de grande importância à sociedade vai a julgamento como qualquer cidadão que desrespeita as leis morais e civis. Percebemos que as expressões anafóricas atuam como estratégias referenciais, que ancoradas aos referentes lexicais e imagéticos, ativam a memória discursiva e recategorizam o objeto do discurso deflagrando o humor.

Charge 8

Fonte: Opinião – Folha de S. Paulo, 25 de setembro de 2012.

Nessa charge 8, a comicidade é desencadeada por meio da anáfora indireta “o mentor”, que ancorada ao referente explícito “mensalão”, inferimos a José Dirceu, considerado o principal responsável por viabilizar o esquema do mensalão tendo um papel

proeminente que permanecia “à sombra” dos acontecimentos. Esse referente é recategorizado como “alienígena”, ser estranho, desconhecido e forasteiro proveniente de outro planeta que age com astúcia e inteligência. Além do mais, esse referente imagético é ancorado no texto-base do filme MIB – Homens de Preto III, lançado em 2012, que trata de uma organização criada pelo governo para investigar as atividades alienígenas na Terra. Agentes e ex-policiais se unem para desvendar os mistérios de um possível ataque extraterrestre. Assim, observamos que a reconstrução desse referente se baseia na anáfora indireta, que ancorada nas expressões lexicais e imagéticas, constitui o cômico e gera o riso.

Em seguida, outro gerador do riso, presente na charge, é a coisificação do humano, como forma de constituição da comicidade, ou seja, a desumanização do homem para coisa estranha e desconhecida provoca o riso.

Charge 9

Fonte: Opinião – Folha de S. Paulo, 1º de outubro de 2012.

Na revista Veja (2012), o ministro Joaquim Barbosa, relator do mensalão, condenou os petistas José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, que formavam a cúpula do PT, por crime de corrupção ativa e formação de quadrilha, mostrando como eles usavam dinheiro desviado dos cofres públicos para subornar parlamentares e comprar o apoio de partidos políticos do governo Lula. Joaquim Barbosa coordenou toda a fase de

instrução do processo, e em tese é quem conhece os mínimos detalhes das mais de 50.000 páginas de depoimentos, laudos, memoriais e perícias; por isso é a personagem mais visível desse embate que impôs à corrupção uma derrota. É um ministro diferenciado e respeitado diante dos demais ministros. Sua postura muitas vezes polêmica ajudou a fixar a imagem do cavaleiro disposto a enfrentar as resistências em busca da justiça, um ato de bravura.

Roberto Da Matta, antropólogo, afirma que “O Ministro incorpora uma espécie de herói do século XXI. Precisávamos de uma pessoa com o perfil dele para romper com os rapapés aristocráticos, pois chegamos ao limite da tolerância com a calhordice no poder” (Veja, 2012).

A partir desse contexto, observamos, nessa charge, a introdução do referente implícito “relator”, que ancorado na imagem, é recategorizado como “Justiceiro”, um dos mais famosos anti-heróis das histórias em quadrinhos, criado por Gerry Conway, Ross Andru e John Romita. Além disso, é considerado um homem-guerra entre todos os criminosos em geral, conhecendo quase todo o tipo de armamento e sua função é vigiar e destruir inimigos, criminosos, mercenários, etc.

Assim, podemos observar nesse caso que o humor é desencadeado por meio da recategorização que funciona como gatilho e através da homonímia representada pelo cenário que permite apreender a mudança de um mundo textual para o outro, por meio da ativação de conhecimentos de mundos diferentes que resultarão em mundos textuais distintos e opostos. Primeiramente, ativamos o mundo da política e da justiça e, em segundo lugar, ativamos o mundo da ficção, das histórias em quadrinhos, provocando o riso.

Charge 10

Fonte: Opinião – Folha de S. Paulo, 3 de outubro de 2012.

Nessa charge 10, a anáfora indireta “mensalão” introduzida na fala da personagem, “Sabe o pior? Esse mensalão vai levar cem anos para se decompor” ancora-se na imagem das cabeças de políticos representando lixo em decomposição. Esse referente é recategorizado como “política sustentável”. Na Folha de S. Paulo, de 02 de outubro de 2012, o STF confirma o principal ponto da acusação no processo do mensalão, de que o sistema financeiro clandestino montado pelo PT com o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza cooptou deputados e líderes partidários para que aprovassem projetos de interesse do Executivo4; assim sendo, apreendemos que a quantidade de políticos envolvidos no esquema de corrupção divulgado pela mídia é absurda, por isso vai levar muito tempo para desintegrar ou dissolver.

Em vista disso, observamos que o humor é desencadeado pela sátira política, pois a vida política desenvolve-se de maneira caótica em direção à democracia, fazendo com que o riso ganhe terreno e exerça uma atividade social de denúncia para que se possa manter a ordem social.

_______________________

Charge 11

Fonte: Opinião – Folha de S. Paulo, 25 de outubro de 2012.

Dos vinte e cinco condenados por participação do mensalão, Marcos Valério teve a pena mais alta, que ultrapassa 40 anos de prisão por formação de quadrilha, corrupção ativa, peculato, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Marcos Valério foi considerado o operador do esquema e o abastecia com empréstimos junto aos bancos Rural e BMG. A partir disso, na charge 11, a anáfora indireta “o contador” ancorada na imagem do “quadro” no interior de uma cela representada pelo cenário da charge, introduz o referente “Valério” que é recategorizado como contador de dias na prisão, desencadeando o riso. Dessa forma, o humor é provocado pela ocorrência da recategorização que serve como gatilho para o efeito do riso, sendo que isso é possível pelas pistas visuais e pela anáfora indireta que permitem ativar a memória discursiva do interlocutor. Além do mais, observamos o episódio do riso zombeteiro como forma de ridicularizar o comportamento