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5.4 ANÁLISE DOS DADOS QUALITATIVOS

5.4.2 Análise da entrevista com tutores presenciais

As entrevistas não estruturadas foram assim realizadas propositalmente pela pesquisadora, para que os respondentes ficassem livres para construir as suas respostas da forma que considerassem conveniente. As repostas foram gravadas e logo após transcritas e analisadas. A referida transcrição compõe o apêndice E. Segundo Queiroz (1983), ao realizar a transcrição, o pesquisador tem a invejável posição de ser ao mesmo tempo interior e exterior à experiência.

A elaboração das perguntas foi feita com base nos objetivos da pesquisa e todo o conteúdo gravado e posteriormente transcrito foi importante para a análise, o que corrobora com Marcuschi (1986), ao afirmar que o pesquisador deve saber quais são seus objetivos e assinalar o que lhe convém para análise.

O tutor 01, atuante no ensino presencial, trabalha com a turma de Licenciatura em Espanhol e suas Literaturas e registra através do seu discurso que existe confusão entre o papel executado pelos tutores presenciais, online e professores, fato que fatalmente gera ruídos na comunicação e situações problemáticas, tais como as vinculadas à avaliação dos estudantes, conforme é relatado. Segundo o entrevistado, os professores não possuem comunicação fluída com os tutores e estudantes, fazendo do uso do ambiente virtual de aprendizagem um refúgio e, segundo ele, abstendo-se de suas responsabilidades, o que fica claro na passagem “... a gente acaba que faz tarefa que não é da nossa responsabilidade, os papéis se confundem... os professores usam o AVA de escudo, ficam escondidinhos lá e de lá muitas vezes não saem...”. Ainda sobre essa ausência de comunicação adequada entre os envolvidos, o tutor evidencia que essa característica não representa o que ocorre em todos os cursos, o que fica claro na passagem “...acredito que isso depende muito do curso, da interação entre os atores envolvidos no curso”.

Ainda segundo esse tutor, o ensino a distância acaba afastando o aluno do contato direto com o professor e para justificar a colocação ele afirma: “...é aquela questão de esclarecer a dúvida e tal... e isso torna o processo um pouco difícil, porque a pergunta é feita online e às vezes a resposta não chega com a mesma rapidez que necessitam... Os tutores online não dão esse retorno em tempo hábil e por isso, às vezes, o tutor presencial acaba assumindo o papel do tutor online, porque se o tutor presencial é quem está com eles...” Essa passagem evidencia a confusão de papéis entre os tutores online e presenciais, fato ao qual o entrevistador se refere como a causa do afastamento entre o estudante e o professor.

A proposta do ensino a distância é que, mesmo distantes fisicamente entre si – professores, tutores e estudantes – os processos de ensino e aprendizagem ocorram sem ruídos e prejuízos. O que se percebe através da fala do tutor é a insatisfação com a comunicação entre os tutores – online e presenciais – pois a ausência da eficácia da comunicação estabelecida gera o afastamento do estudante desse processo, o que é muito ruim. O uso de ferramentas externas ao ambiente virtual de aprendizagem é pontuado como algo positivo, o que aponta para a ineficiência na forma de utilização do AVA, para o estabelecimento da comunicação efetiva e necessária, o que também foi registrado pelos discentes.

Sobre o atendimento das expectativas dos estudantes no que se refere ao ensino ofertado, o tutor evidencia que os estudantes, ao ingressarem no curso, acreditavam que o processo seria de uma forma e durante a vivência foram tendo suas expectativas frustradas, atribuindo a esse fato a ausência de comunicação efetiva entre os professores, tutores e estudantes, principalmente nos momentos de esclarecimento de dúvidas.

O tutor 02 trabalha com o curso de Licenciatura em Matemática e também atua no ensino presencial e tem uma visão majoritariamente positiva sobre o sistema de educação a distância, ofertado pela UNEB através da UAB. Fica claro em toda a fala que esta visão positiva é produto de uma boa interação entre estudantes, tutores e professores.

Em sua fala, ressalta a importância de uma grande maturidade dos estudantes, no que se refere a serem independentes e compreenderem muito bem o contexto no qual se encontram inseridos. Isso fica evidente na passagem “...o aluno da EAD tem que ser autônomo no processo de aprendizagem... tem atividades determinadas por semana... fóruns virtuais para participar... ele precisa se articular com o sistema para aprender e evoluir... se comunicar com os colegas... desenvolver a sua autonomia... entretanto é uma impressão minha de que o conteúdo é visto de forma superficial... ele estuda praticamente sozinho... buscando suporte no material disponibilizado virtualmente... livros da biblioteca e outros... para o mercado... essa é uma forma adequada de preparar estes estudantes para trabalharem com o ensino básico...”

Esse tutor enfatiza algumas vezes que a UNEB, em sua estrutura virtual, contribui e incentiva a fluidez da comunicação entre os envolvidos, tendo esta como uma das suas preocupações. Ele afirma ainda que existe clareza sobre os papéis e responsabilidades de cada um dos envolvidos nos processos de ensino e aprendizagem. Sobre encontros e capacitações para professores e tutores, o entrevistado afirma que já ocorreram algumas, mas há mais ou menos dois anos ele não recebe mais convites dessa natureza e atribui esse fato ao corte de gastos do governo. O discurso também evidencia que esses eventos tinham o papel de discutir

sobre as fragilidades do sistema, as alternativas para estas fragilidades, esclarecimento sobre as responsabilidades dos professores e tutores, uso das ferramentas do ambiente virtual e discussões vinculadas a compreensões sobre os estudantes, suas vivências, expectativas e necessidades.

Sobre a estrutura, ele considera adequada em termos gerais, porém pontua a falta de recursos básicos para a manutenção das atividades do polo, tais como papel e tonner, materiais de apoio que, segundo ele, por muitas vezes são providenciados através de recursos próprios da coordenadora e demais envolvidos. Além dessa informação, pontuada com muito pesar pelo entrevistado, foi registrado que a falta de acessibilidade do prédio compromete o seu funcionamento, fato crucial para a avaliação negativa do MEC sobre a estrutura do polo e consequente inexistência de previsão da ocorrência de novas turmas da UNEB no referido polo. Esta parte da fala do tutor foi uma das mais relevantes de toda a entrevista, uma vez que comprova claramente o que foi concluído e discutido na análise dos dados coletados através do questionário aplicado aos estudantes, no qual os estudantes registraram insatisfação com a estrutura do polo.