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4. UMA SEQUÊNCIA DE ATIVIDADES EM DUAS ETAPAS

5.1 Análise da reescrita final dos três alunos da base metodológica

5.1.2 Análise da produção final da segunda aluna

O segundo texto analisado na primeira parte (Saudades de você) foi de uma aluna que trouxe para sua narrativa escrita, praticamente todos os recursos da oralidade. Os elementos coesivos foram os marcadores conversacionais e as repetições. Como o seu processo de produção se sustentou nos diálogos como se estivessem em um contexto de comunicação imediata, trouxe com isso uma perturbação para o entendimento do leitor. Até mesmo, a formalizou estrutural não apresentou nenhum elemento da escrita, nem parágrafos, travessões e pontuação.

Ao reescrevê-lo, buscou alguns traços linguísticos que se ligavam mais à elaboração de proposições escritas, com uma estrutura sintática mais explicativa, procurando situar um contexto para o leitor e não para um interlocutor do imediatismo da fala. Mesmo mantendo como interligação dos fatos os marcadores conversacionais, as repetições, buscou construir uma sequenciação com leves traços do texto escrito.

Na fase final da segunda etapa, a aluna fez a última produção, mas não compareceu para realizar a sua reescrita. Como o texto estava a lápis, não foi possível escaneá-lo como os demais.

Eu estava na fazenda do meu pai e meu pai ario e cavalo para eu andar e eu disse pai já pode ir e o meu pai me disse pode mais toma cuidado para não cair e para ficar perto para não se perder e eu disse tabom pai eu subi ao cavalo e fui estava andando e cantarolando mas logo ouvi um barulho e fiquei com medo e parei e perguntei quem está aí? E não falou nada e quando virei para frente logo vi um menino negro de uma perna só e estava correndo e perguntei por que você está

correndo? e ele não respondeu nada e eu falei não fique com medo eu não vo fazer nada com você e ele foi se aprocimando e eu disse você esta perdido e ele balanço a cabeça dizendo não e eu

perguntei esta brincando de que? e ele falou de nada você quer ir para minha casa meu pai vai gosta de você quer ir ele disse sim e eu falei vem sobe no cavalo e ele disse eu vol de apé eu falei elonge mas vou.

– E eles chegou lá e eu logo chamei meu pai Pai Pai Pai vem ver pai oi filho olha truce e meu novo amigo e meu pai disse como você chama? Saci olho Você e o famoso Saci que faz bagunça e ele disse Sim sou eu legal pai tambem amo faze bagunça mais filho papai vai sair agora e você vai ter que ir tabem Saci você pode voltar outra hora e o Saci disse vouto sim Tabom tchau amigo saci tchau

Na segunda narrativa os problemas de paragrafação, uso de travessões na permuta de falas e ausência dos sinais de pontuação se mantiveram. Apenas colocou o parágrafo inicial (Eu estava na fazenda...) e um segundo seguido de travessão bem mais para o final do texto (– E eles chegou lá e eu logo...). Essa construção foi usada para marcar uma mudança de tópico introduzida pelo narrador de terceira pessoa, anteriormente era personagem-narrador. Somente o sinal de interrogação foi usado (quem está aí? [...] perguntei por que está correndo? [...] perguntei esta brincando de que? [...] meu pai disse como você chama?). São quatro perguntas bem específicas, bem individualizadas, introduzidas pelo verbo

perguntar, menos a interpelação do pai, nos outros questionamentos introduzidos pelo verbo dizer ou uma pergunta sem verbo dicendi, a sinalização não ocorreu ([...] disse você esta

perdido e ele balanço [...] você quer ir para minha casa meu pai vai gosta de você...). Observando a construção dos diálogos no texto, nota-se que algumas falas apresentaram as mesmas características das do texto oral, definindo seu sentido pelo contexto externo, principalmente as falas iniciais e as do Saci (eu disse pai ja pode ir e o meu pai me disse pode mais toma cuidado para não cair e para ficar perto [...] eu perguntei esta brincando de que? ele falou de nada você quer ir para minha casa meu pai vai gosta de você quer ir ele disse sim e eu falei elonge mas eu vou). São respostas que só significam no contexto imediato.

Em comparação à primeira produção, houve uma melhora no desenvolvimento, a sequenciação dos fatos apresentou uma maior clareza, embora a coesão se deu por meio de repetições e marcadores conversacionais; em alguns momentos, percebe-se, inclusive, um trabalho de elaboração das proposições (estava andando e cantarolando mas logo ouvi um barulho e fiquei com medo e parei e perguntei quem esta aí?). Nessa passagem, a aluna conseguiu criar um clima de tranquilidade que é interrompido por um barulho, envolvendo o leitor num momento de tensão para introduzir o personagem Saci na cena. Outro momento trabalhado no texto foi o primeiro contato entre os dois personagens, não aconteceu abruptamente, foi aos poucos, mostrando um Saci arredio (logo vi um menino negro de uma perna só e estava correndo e perguntei por que você esta correndo? e ele não respondeu e eu falei não fique com medo eu não vo fazer nada com você e ele foi se aprocimando...). Se o texto recebesse a pontuação devida, uma organização estrutural com parágrafos e travessões para indicar a alternância de interlocutores, eliminando as repetições e o marcador conversacional E, teria uma narrativa desenvolvida e sequenciada, apesar de bastante simples, sem muita inspiração.

O problema ortográfico não foi um ponto relevante nesta pesquisa nem recebeu destaque nas atividades de AL, mas há alguns casos nessa narrativa que resultaram naturalmente da interferência da fala na escrita. Como é normal na fala ocorrer a monotongação de ditongos, a aluna transferiu para a escrita esse fenômeno fonológico, foi o caso do ditongo [ow] nas seguintes palavras vo (vou), balanço (balançou), truce (trouxe), olho (olhou). Ocorreram também algumas segmentações de palavras, tais como tabom, apé, elonge; a ditongação da palavra mas (mais) e desnasalização da palavra também (tabem).