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2.2. Pessoa com deficiência e o trabalho

2.2.4. Análise da tarefa

A análise da tarefa é o processo de identificação e descrição das unidades de trabalho e de avaliação dos recursos necessários para um desempenho do trabalho bem sucedido. Nesse contexto, recursos, são aqueles trazidos pelo operador (habilidade, conhecimento, capacidade física) e aqueles que devem ser fornecidos no ambiente de trabalho (comandos, mostradores, ferramentas, procedimentos e ajudas) (DRURY, 1987).

Enquanto isso, a finalidade da análise da tarefa é formular uma ou mais decisões para otimizar o ambiente e as ações, potencializar o número de acertos dos operadores envolvidos e, principalmente, minimizar o número de erros cometidos por falha na interpretação cognitiva dos sistemas. A análise da tarefa deve ser usada para definir as relações entre um operador, ou um grupo de operações, diante de um determinado número de atividades prescritas (KIRWAN e AINSWORTH, 1993). De acordo com esses autores, a análise da tarefa pode ser utilizada com foco em diversas áreas, tais como:

- Segurança: usada para identificar riscos para o operador no ambiente de trabalho e na relação entre produto/usuário. A análise da tarefa pode ser usada para adequar sistemas de segurança no ambiente e a confiabilidade de sistemas.

- Produtividade: a análise da tarefa pode auxiliar na tomada de decisões, na automatização de sistemas e treinamento de pessoal através de técnicas seguras e eficientes.

- Disponibilidade: a análise da tarefa pode ser usada para identificar demandas e definir a necessidade de ferramentas de apoio na prescrição e execução da tarefa.

Durante a análise da tarefa, o ergonomista lança mão das observações sistemáticas, dos registros de comportamento (de frequência, duração, sequência), e das técnicas da engenharia (diagramas de fluxo e mapofluxogramas) para

compreensão do modo operandi do trabalhador, ou seja, a forma como o mesmo desenvolve suas atividades (MORAES e MONT’ALVÃO, 2002).

Dessa forma, verifica-se que a análise da tarefa em suas diferentes áreas de atuação procura entender o trabalho com a finalidade de torná-lo mais eficiente. Para isso, segundo Moraes e Soares (2001), a base do diagnóstico e de uma investigação que busca melhorar o trabalho é o estudo das interações e comunicações que ocorrem no local de trabalho e no ambiente, sempre com o foco no trabalhador e na sua relação com o ambiente físico e organizacional, com suas ferramentas, equipamentos, máquinas, ordens de produção, com todos os problemas e/ou gratificações do cotidiano.

Enquanto isso, para Iida (1995), a análise da tarefa deve ser realizada em duas partes, a primeira chamada de descrição da tarefa, em um nível mais global, e a segunda de descrição das ações, em um nível mais detalhado. A tarefa também é conhecida como o trabalho prescrito.

A descrição da tarefa engloba os aspectos gerais da tarefa, como: objetivo, operador, características técnicas, aplicações, condições operacionais, condições ambientais e condições organizacionais. Naturalmente, dependendo do tipo da tarefa, a descrição não precisará abranger todos esses itens, pois certas características podem ser bem conhecidas (IIDA, 1995).

Enquanto que a descrição das ações, segundo Iida (1995), deve ser em um nível mais detalhado que a tarefa em si. As ações se concentram mais nas características que influenciam no projeto da interface Humano–Máquina e se classificam em informações e controles. As informações referem-se às interações no nível sensorial do homem (exemplo: tipos e características dos sinais) e, os controles, no nível motor ou das atividades musculares (exemplo: tipo de movimento corporal exigido, membros exigidos no movimento, tipos e características dos instrumentos de controle). A análise das ações é também denominada de análise das atividades.

Segundo Guérin (2001), o trabalho real só pode ser compreendido, através da atividade de trabalho realizada pelo operador. Ou seja, a atividade de trabalho é a forma como os meios disponíveis são utilizados para a obtenção dos resultados. Este autor afirma que a atividade de trabalho é uma estratégia de adaptação à situação real de trabalho, objetivo da prescrição. A análise da atividade é um momento em que o ergonomista entra em contato direto com o local de trabalho e

seus operadores, acrescentando que a coleta de informações da atividade de trabalho deve acontecer no momento em que esta ocorre para que a compreensão seja integral, utilizando-se para isso à observação de mesma.

Além disso, para Stammers (1990), existem três níveis para o processo de análise da tarefa. Segundo ele, a distinção dos três níveis é muito importante para o processo de análise da tarefa.

1. Requisitos da tarefa: competem aos objetivos ou as condições definidas pelo contexto do sistema, dado um estado inicial particular ou um conjunto de condições.

2. Ambiente da tarefa: referentes aos fatores envolvidos na situação de trabalho. Fatores estes que constrangem e dirigem as ações de um indivíduo, restringindo os tipos de ação que podem ser empreendidas, bem como a sua sequência ou oferecendo ajuda ou assistência que canalizem as ações do usuário/operador de uma determinada maneira.

3. Comportamento da tarefa: as ações reais que são desempenhadas por um indivíduo dentro dos obstáculos do ambiente ou da tarefa, de modo a cumprir os seus requisitos. Devido às limitações psicológicas ou fisiológicas ou ainda pela falta de habilidades ou de conhecimentos apropriados, o usuário/operador é obrigado a fazer algumas escolhas que compõem uma lista de atividades com base na experiência, que culminam na otimização das tarefas, no aumento da eficiência e, principalmente, na minimização dos esforços.

Verifica-se, assim, a importância da análise da tarefa para o entendimento do trabalho e dos fatores que podem causar inadequações, por exemplo, ergonômicas, de segurança e diminuição da produtividade no trabalho.

Com relação aos métodos utilizados para realizar a análise da tarefa, Drury (1987), afirma que todos eles implicam em três diferentes espécies de atividade, são elas:

a) descrição e análise do sistema: fornece as bases para a descrição da tarefa, enquanto a descrição da tarefa fornece a informação necessária para a análise da tarefa;

b) especificação dos requisitos da tarefa do homem no sistema: é a descrição da tarefa propriamente dita;

c) análise, interpretação, avaliação e transformação dos requisitos da tarefa à luz dos conhecimentos e teorias sob as características humanas: é a ―análise da tarefa‖ propriamente dita.

Nesse sentido, verifica-se que a análise da tarefa é uma ferramenta muito importante para o processo de inclusão laboral das pessoas com deficiência. Pois, através dela, é possível conhecer as exigências dos postos de trabalho e assim, poder verificar quais capacidades físicas e intelectuais do trabalhador são necessárias para o desenvolvimento das atividades do posto de trabalho.

Segundo Davis (2005), uma descrição do trabalho bem definida é a ferramenta chave para a inclusão laboral da PD. Essa descrição do trabalho é mais do que um checklist de atividades como, por exemplo, digitar certa quantidade de palavras por minuto ou levantar e carregar uma carga específica. Esse detalhamento das atividades dá uma completa noção do objetivo do trabalho e do ambiente, bem como as atividades essenciais e não essenciais ao trabalhador. A partir dessa descrição do trabalho, é possível determinar se a pessoa é capaz de realizar as tarefas do trabalho e quais adaptações são necessárias.

Assim, a análise da tarefa permite a identificação de postos de trabalho cujas exigências estão ao alcance das capacidades dos trabalhadores com deficiência, como de postos suscetíveis a sofrer alguma modificação; a localização de postos de trabalho próprios para estas pessoas, já que identifica as exigências e as limitações impostas pela tarefa (GARCÍA e BURGOS, 1994).

Além disso, a análise da tarefa possibilita também detectar a necessidade de treinamento das PD para realizar uma determinada tarefa, as adaptações necessárias do trabalho ou da necessidade de algum tipo de ajuda técnica para aumentar ou compensar a capacidade funcional do trabalhador.

Portanto, a partir do conhecimento das tarefas, podem ser realizadas adequadamente as adaptações dos ambientes de trabalho aos trabalhadores com deficiência. Para isso, é importante a integração de uma equipe multidisciplinar, envolvendo as áreas da Ergonomia e Segurança do Trabalho para, assim, viabilizar o levantamento, a análise dos dados e as recomendações físicas, intelectuais e organizacionais aos postos de trabalho.