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2.2. Pessoa com deficiência e o trabalho

2.2.7. Tecnologias assistivas

Enquanto os países da América do Norte e da Europa investiam em pesquisadores e em pesquisa sobre tecnologia assistiva (TA) desde a década de 50, no Brasil, havia poucos investimentos na área e a utilização desses recursos ainda estava limitada (MELLO, 2006). Ainda segundo a mesma autora, os principais fatores que contribuíram para a pouca utilização desses recursos foi a ausência de recursos financeiros para aquisição dos dispositivos, o custeio insuficiente do serviço de tecnologia assistiva, por parte dos órgãos públicos de saúde e pelas empresas privadas de saúde, o desconhecimento técnico dos profissionais de reabilitação em relação a esses dispositivos e a falta de treinamento específico desses profissionais para se tornarem provedores desse tipo de tecnologia.

Segundo a Assistive Technology Act (1988), a tecnologia assistiva é qualquer item, peça de equipamento, ou conjunto de produtos que é usado para aumentar, manter ou melhorar habilidades de pessoas com limitações funcionais, sejam elas físicas ou sensoriais.

Um conceito mais atualizado e amplo é dado pela legislação brasileira, onde a tecnologia assistiva é:

Uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação, de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social (BRASIL, 2007b).

Nesse contexto, a implantação do uso desses equipamentos tem como objetivo favorecer o desempenho das pessoas frente a uma tarefa a ser realizada, seja ela relacionada ao trabalho ou as atividades diárias, aumentando a qualidade de vida e independência da pessoa. As tecnologias assistivas englobam conhecimentos de diversas profissões, como por exemplo, de fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, médicos, engenheiros, designers, entre outros.

Segundo Gamble, Dowler e Orslene (2006) em estudos sobre tecnologias assistivas no contexto do trabalho, verificou-se que a implementação de dispositivos de baixo custo e baixa tecnologia, geralmente fazem a diferença entre ter ou não postos de trabalho que possam ser ocupados por pessoas com deficiência. Além disso, a utilização da TA pode promover o desempenho ocupacional, otimizando a produtividade dos trabalhadores com deficiência (FUHRER et al, 2003; SCHWANKE & SMITH, 2005; YEAGER et al, 2006), aumentar a autoestima e diminuição do absenteísmo (YEAGER et al, 2006).

Assim, a aplicação dos dispositivos de tecnologia assistiva no contexto do trabalho, possibilitará o aumento das oportunidades de emprego as PD, facilitando a adaptação dos postos de trabalho às capacidades dos trabalhadores com deficiência e a sua permanência no emprego.

De acordo com King (1999), a tecnologia assistiva se divide em diversas subáreas, dependendo do tipo de funcionalidade que ela busca recuperar:

a) comunicação aumentativa e alternativa; a) auxílio para acesso ao computador;

b) auxílio para atividades de vida diária; c) educação e aprendizagem alternativas; d) modificações ambientais;

e) dispositivos para baixa audição; f) dispositivos para baixa visão; g) próteses e órteses;

h) lazer e recreação; i) mobilidade e transporte; j) adequação postural;

Assim, verifica-se que as tecnologias assistivas podem variar desde objetos simples e de baixo custo, como por exemplo, bengalas a dispositivos complexos e de custo elevado como dispositivos que capturam o movimento dos olhos para uso de computador.

Devido ao aumento da quantidade disponível de diferentes dispositivos de tecnologia assistiva, a sua utilização tem sido amplamente considerada e recomendada (COOK e HUSSEY, 2002). Diante disso, verifica-se que esses dispositivos estão cada vez mais acessíveis aos cidadãos, consequentemente, têm crescido a quantidade de pessoas com deficiências utilizando esses recursos, para auxiliar nas atividades diárias e profissionais.

Porém, o sucesso no uso e aceitação de um dispositivo de TA por parte do usuário e de seus cuidadores, seja ele produzido de forma seriada (em massa) ou confeccionado sob medida, frequentemente, envolve um somatório de fatores econômicos, ergonômicos e estéticos na sua fase de desenvolvimento, os quais, juntos, agregam valor ao produto que, enfim, se destina a ampliar ou facilitar a participação da pessoa e/ou cuidadores nas atividades, refletindo-se numa melhor qualidade de vida (DUTRA e GOUVINHAS, 2010).

De acordo com Scherer et al (2005) as características pessoais e psicossociais da pessoa vão influenciar no uso das TA. Pape, Kim e Weiner (2002) realizaram um estudo de revisão sobre os significados dados à tecnologia assistiva e as influências destas, na integração do recurso em atividades diárias. Este estudo mostrou que a integração bem sucedida da TA dependerá do significado atribuído à mesma, das expectativas do usuário, do benefício social trazido pelo recurso e de como a deficiência é compreendida pelo usuário. Os autores indicaram que o tempo

funcional e a energia despendida na tarefa realizada com o recurso de TA influenciam no uso. Além disso, esses autores mostraram que, o estágio de vida, contexto social, familiar e cultural tiveram consequências para o uso da tecnologia assistiva.

Enquanto isso, os fatores que estão relacionados ao abandono do uso de TA pelas pessoas são: mudanças das habilidades ou das atividades funcionais do consumidor; falta de motivação do usuário para usar o dispositivo ou para fazer a tarefa; falta do treinamento significativo para o uso do equipamento, desempenho ineficaz do dispositivo, obstáculos ambientais, falta de acesso à informação sobre o reparo e manutenção do recurso, nenhuma ou mínima necessidade para o dispositivo, estética, peso, tamanho e aparência do dispositivo (SCHERER et al, 2005). Além desses, em seus resultados, Riemer-Reiss e Wacker (2000) demonstraram que os consumidores que não acreditavam que estavam envolvidos na seleção da TA apresentavam maior probabilidade a interromper o uso do que as pessoas que se sentem envolvidas.

Além disso, aproximadamente 30% das tecnologias assistidas obtidas são abandonadas pelos usuários dentro de um ano (DAY et al, 2001). Dessa forma, percebe-se que mesmo com a evolução e variedade das tecnologias assistivas disponíveis, devido à grande quantidade de variáveis que influenciam na adequação ao usuário e por serem relacionadas à personalidade da pessoa, encontrar os dispositivos ideais às características e necessidades dos consumidores é uma tarefa difícil.

Portanto, alguns desses fatores que vão influenciar no uso da TA pelas PD é decorrente da forma em que cada pessoa reage às mudanças nas suas capacidades físicas, cognitivas e sensoriais.

Então a partir do conhecimento dos fatores que influenciam o uso e o abandono das tecnologias assistivas, Scherer et al (2005), desenvolveram o modelo de Matching Person and Technology (MPT), o qual sugere que três áreas devem ser dirigidas ao avaliar a predisposição de uma pessoa ao uso da tecnologia: a) os fatores psicossociais do usuário como a motivação, a cooperação, o otimismo, a paciência, a autodisciplina, experiências positivas de vida, habilidades para o uso e a percepção entre a situação desejada e atual; b) os fatores do ambiente em que o recurso de tecnologia assistiva será utilizado, incluindo o apoio da família, colegas de trabalho, do empregador, o ajuste que recompense o uso do dispositivo e a

exigência externa e c) os fatores específicos do recurso de tecnologia como a habilidade de ser usada sem desconforto ou estresse, a compatibilidade com outras tecnologias, o custo, a credibilidade do recurso, a facilidade de uso no período presente e futuro e a portabilidade (SCHERER et al, 2005).

Os mesmos autores sugeriram que o foco da avaliação de um recurso assistivo deve ir de um modelo clínico mais tradicional para os modelos que olhem os resultados do desempenho como: a) o que acontece a pessoa em consequência da tecnologia, b) a qualidade de vida relatada pelos consumidores e c) avaliações que forneçam resultados sobre os benefícios recebidos pelo usuário, o progresso de implementação e a eficiência do recurso.

Assim, para conseguir o adequado equilíbrio entre o usuário e os dispositivos de tecnologia assistiva, é necessário considerar as necessidades e habilidades da pessoa, o ambiente e as tarefas realizadas, bem como as questões ergonômicas e as demandas fisiológicas impostas pelo uso desses recursos, a fim de determinar a TA mais adequada para determinada situação. Dessa forma, diminuirá a chance de abandono e possibilitará uma maior produtividade no trabalho e melhor qualidade de vida a PD.

Para isso, além dos fatores que influenciam o uso as tecnologias assistivas citados anteriormente, é necessário que os profissionais envolvidos neste processo tenham conhecimentos sobre as capacidades funcionais do trabalhador, sobre as atividades que serão desempenhadas por ele e sobre os princípios da Ergonomia. Isso ocorre porque cada situação é única, ou seja, cada pessoa tem as suas próprias habilidades e desejos e uma relação própria com o ambiente em questão.