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6. RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO

6.2. Discussão

6.2.4. Discussão sobre as Faltas Relativas

As faltas ao trabalho dos funcionários tem sido amplamente utilizadas para indicar e, especificamente, para estimar a perda de produtividade devido ao tempo de trabalho perdido. No entanto, a perda de produtividade deve incluir não só o absenteísmo, mas também o presenteísmo, que é a perda de produtividade relacionada com a saúde, enquanto em trabalho remunerado (LOEPPKE, HYMEL e LOFLAND, 2003; LOFLAND, PIZZI e FRICK, 2004; TAKEGAMI et al, 2014). Portanto, nessa pesquisa também foi utilizado dados da quantidade de faltas dos trabalhadores com deficiência em relação aos sem deficiência para avaliar o desempenho das PD.

Ao analisar os dados da quantidade de faltas de cada trabalhador com deficiência em comparação aos sem deficiência, foi encontrado que 40% (n=10) das PD apresentaram quantidade maior de faltas, enquanto que 12% (n=3) tiveram quantidade igual de faltas e 48% (n=12) apresentaram quantidade menor de faltas. Dessa forma, percebe-se que uma maior proporção dos trabalhadores com deficiência apresentaram quantidade de faltas menor ou igual aos sem deficiência.

Esse resultado é semelhante ao encontrado em diversas pesquisas disponíveis na literatura. No estudo de Chomka (2004), 80% dos empresários afirmaram que os trabalhadores com deficiência tinham a mesma quantidade ou menores quantidades de faltas que os funcionários sem deficiência. De acordo com um estudo feito pela DuPont Corporation (1993), 86% dos empregados com deficiência foram avaliados como tendo menor ou igual quantidade de faltas em comparação com os trabalhadores sem deficiência. Enquanto isso, Olson, Cioffi, Yovanoff e Mank (2001) encontraram em seu estudo das percepções dos empregadores sobre os funcionários com deficiências cognitivas, que a quantidade de tempo doente e custos do absentismo eram os mesmos ou menor para os trabalhadores com deficiência.

No entanto, ao realizar o quociente entre a média das faltas dos trabalhadores com e sem deficiência, foi encontrado que as PD, no geral, tiveram 19% mais faltas que as pessoas sem deficiência, porém não houve diferença estatística. Esse resultado foi semelhante a pesquisa de Adams-Shollenberger e Mitchell (1996) que os trabalhadores com deficiência tiveram maiores taxas de faltas que os sem deficiência.

Ao analisar a quantidade de faltas por tipo de deficiência, foi encontrado na pesquisa que os trabalhadores com deficiência física foram os únicos que tiveram diminuição de faltas em relação aos colaboradores sem deficiência, porém a diferença não foi estatisticamente significativa. Esse resultado pode ter sido encontrado, porque as pessoas com deficiência física foram as que tiveram a maior pontuação média (3,88277) na média ponderada do questionário WLQ sobre Limitações no Trabalho, sendo que quanto maior essa variável, menor a quantidade de faltas relativas, diferença estatisticamente significativa. Além disso, nos casos que foram realizadas adaptações organizacionais, houve diminuição de 19,89% nas faltas relativas dos trabalhadores com deficiência, sendo que devido às limitações funcionais, as pessoas com deficiência física foram as que apresentaram maiores percentuais de realização dessas adequações. Assim, esse achado pode estar relacionado com o medo de perder o emprego, pois as pessoas com deficiência física foram os que tiveram maior diminuição da produção relativa.

Esse resultado é semelhante ao encontrado por Graffama et al (2002) que realizou estudo na Austrália com 643 empregadores de trabalhadores com deficiência. Nesse estudo, colaboradores com deficiência apresentaram diminuição de 38% nas faltas ao trabalho em relação aos trabalhadores sem deficiência.

Nos casos dos trabalhadores que a empresa não realizou adaptações

organizacionais, houve quantidade de faltas 64,37% maior, diferença

estatisticamente significativa, dos trabalhadores com deficiência em relação aos sem deficiência. No entanto, foi encontrado nesta pesquisa que nos casos que não foram realizadas adaptação organizacional, os trabalhadores com deficiência tiveram produção 10,03% maior que os sem deficiência. Esse resultado pode estar relacionado com o fato de que esses trabalhadores com deficiência que não receberam adaptações do ambiente de trabalho, como tiveram maior produção relativa, ao atingirem as metas estabelecidas pela empresa, podiam se sentir desmotivados para ir trabalhar no dia seguinte, devido a meta já ter sido atingida. Assim, apresentariam mais faltas que os outros colaboradores.

Os resultados da pesquisa mostram que quanto maior a escolaridade menor a quantidade de faltas em relação aos trabalhadores sem deficiência, sendo essa diferença estatisticamente significativa. Esse resultado é semelhante a pesquisa de Isosaki (2003), Rocha et al (2006), Primo, Pinheiro e Sakurai (2010), Pacico (2013),

onde os trabalhadores com maior nível de escolaridade, apresentaram menor a quantidade de faltas ao trabalho. Este fato pode ocorrer em virtude de esses trabalhadores apresentarem melhores condições socioeconômicas e pelo conhecimento adquirido sobre cuidados com a saúde, inclusive com a alimentação, segundo o qual os trabalhadores com maior escolaridade teriam mais acesso às informações (PITTA, 1990; ALVES, 1996; GODOY, 2001 e ROCHA et al, 2006)

Com relação à função, os serventes (auxiliar de almoxarifado) apresentaram a menor quantidade de faltas (80%) em relação aos sem deficiência, diferença estatisticamente significativa, enquanto que os serventes de pedreiro com deficiência tiveram 60% menos faltas que os sem deficiência. Esse resultado pode ter ocorrido, tendo em vista que os dois trabalhadores que exerciam a função de servente (auxiliar de almoxarifado) apresentavam deficiência física, que foram os que apresentaram maior diminuição de faltas relativas da amostra. Assim, esse achado pode estar relacionado com o medo de perder o emprego, pois os serventes (auxiliar de almoxarifado) apresentaram diminuição da produção relativa.

Os trabalhadores que tiveram menos faltas em relação aos sem deficiência foram os que afirmaram que a origem da deficiência era congênita e doenças, respectivamente, porém não foi encontrada diferença estatisticamente significativa. Esse resultado pode ter sido encontrado, pois a maioria desses trabalhadores apresentava deficiência física, que foram os que apresentaram menores quantidades de falta. Além disso, esse resultado pode ter relação com o medo de perder o emprego, pois as pessoas com deficiência física foram os que tiveram maior diminuição da produção relativa.

Nos casos em que o trabalhador com deficiência e os chefes afirmaram que a deficiência atrapalha pouco e moderado, respectivamente, a realização das tarefas, foi encontrada diminuição estatisticamente significativa de 86,67% das faltas em relação aos colaboradores sem deficiência. Esse resultado pode estar relacionado com a satisfação e a motivação desses trabalhadores com deficiência, pois 95,34% da amostra total da pesquisa declarou que apresentava desempenho ótimo ou bom no trabalho.

Nesse sentido, segundo Schermerhorn et al (2002), os trabalhadores mais satisfeitos com seus empregos tendem a ter melhor registro de presença e estão menos propensos a faltar por motivos não-explicados do que os insatisfeitos. Além

disso, a quantidade e a duração das ausências estão relacionadas com o grau de satisfação dos funcionários (CHIAVENATO, 1999).

Para melhor entendimento da influência das variáveis sobre a falta relativa dos trabalhadores com deficiência em relação aos sem deficiência é apresentado o quadro 5. Assim, verifica-se que as variáveis que influenciaram na diminuição da quantidade de faltas dos trabalhadores com deficiência em relação aos sem deficiência foi: apresentar deficiência física, quanto maior a idade e o tempo que exerce a função, apresentar ensino médio completo, a empresa ter realizado adaptação organizacional, quanto maior a pontuação média ponderada do questionário WLQ, exercer a função de servente de pedreiro e servente (auxiliar de almoxarifado), origem da deficiência: congênita, doença, opinião do trabalhador: deficiência atrapalha a realização das tarefas – pouco e moderado e opinião do chefe: deficiência atrapalha a realização das tarefas – moderado.

Quadro 5 – Resumo da influência das variáveis sobre a falta relativa dos trabalhadores com deficiência

Variáveis Aumentaram a quantidade de faltas Diminuíram a quantidade de faltas Não alteraram Deficiência física x

Deficiência visual parcial (monocular) x

Deficiência auditiva parcial x

Idade x

Tempo que exerce a função x

Nível de escolaridade – médio incompleto x

Nível de escolaridade – médio completo x*

Tempo de surgimento da deficiência x

Não realização de adaptação organizacional x

Realização de adaptação organizacional x*

Média ponderada do questionário WLQ x*

Pedreiro x

Servente geral x

Servente de pedreiro x

Servente (auxiliar de almoxarifado) x*

Origem da deficiência: congênita x

Origem da deficiência: doença x

Origem da deficiência: acidente x

Origem da deficiência: acidente de trabalho x

Opinião do trabalhador: deficiência atrapalha a realização das tarefas - não

x

Opinião do trabalhador: deficiência atrapalha a realização das tarefas - pouco

x*

Opinião do trabalhador: deficiência atrapalha a realização das tarefas - moderado

x

Opinião do chefe: deficiência atrapalha a realização das tarefas - não

x

Opinião do chefe: deficiência atrapalha a realização das tarefas - pouco

x

Opinião do chefe: deficiência atrapalha a realização das tarefas - moderado

x*

Opinião do chefe: deficiência atrapalha a realização das tarefas - muito

x