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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.2 REVESTIMENTO NA BANANA

4.2.3 Análise das características químicas das bananas

Assim como as físicas, as características químicas ocorrem como resultado do processo

de amadurecimento e senescência dos frutos. Ocorrem alterações nos teores de açúcares, amido

e acidez, influenciando propriedades organolépticas como sabor, aroma, frescor e acidez,

mudanças que afetam o valor comercial das frutas (PEROTTI; MORENO; PODESTÁ, 2014;

LIU et al., 2013).

A Tabela 4 apresenta os valores das características químicas investigadas no presente

estudo: sólidos solúveis (SS), ratio, açúcares solúveis totais (AST), pH, acidez titulável (AT) e

amido (AMD).

Tabela 4: Características químicas de bananas "Williams" para os frutos controle e revestidos com os Filmes 1C e

2C, à 20ºC±2ºC, durante 15 dias que apresentaram interação entre tratamento e armazenamento (Filme 1C: base

polimérica de fécula de mandioca 3% com adição de cera de carnaúba 0,2%; Filme 2C: base polimérica de fécula

de mandioca 2% e quitosana 1%, com adição de cera de carnaúba 0,2%).

Letras minúsculas indicam diferença estatística (p< 0,05) no tratamento, a comparação é realizada na coluna pelo

teste de Tukey 5%. Letras maiúsculas indicam diferença estatística (p< 0,05) no tempo de armazenamento, a

comparação é realizada na linha pelo teste de Tukey 5%. Linhas que apresentam apenas uma média ao longo do

período de armazenamento sem distinção de tratamento não mostraram interação entre tratamento e

armazenamento, nesse caso, as letras minúsculas indicam diferença estatística (p< 0,05) no tempo de

armazenamento, e a comparação é realizada na linha pelo teste de Tukey 5%.

Para os sólidos solúveis, ratio e açúcares solúveis totais, foi observada influência, tanto

do armazenamento quanto dos diferentes tratamentos, ou seja, como previsto na literatura as

frutas apresentaram alterações químicas decorrentes do processo natural de amadurecimento e

senescência ao longo do tempo de experimento e, além disso, foi verificado efeito significativo

dos diferentes tratamentos, mantendo os parâmetros em valores mais baixos, em relação ao

controle, para um mesmo tempo de armazenamento.

É possível observar na Tabela 4 que o valor de sólidos solúveis cresce a partir de

2,25°Brix, no dia inicial e cresce linearmente entre os frutos controle e os frutos do Tratamento

1, mostrando igualdade estatística (p<0,05) entre os tratamentos desde o dia zero até o dia 15

de armazenamento, sinalizando uma maturação aproximada entre os dois grupos.

Propriedades

Químicas Cobertura

Tempo de armazenamento a 20°C±2ºC (dias)

0 3 6 9 12 15

SS

Controle 2,25

aC

10,65

abB

21,48

aA

20,74

aA

21,18

aA

21,07

aA

Revestimento 1C 2,25

aC

11,03

aB

20,15

aA

20,43

aA

20,59

aA

20,78

aA

Revestimento 2C 2,25

aD

9,41

bC

16,04

bB

17,83

bB

20,49

aA

20,65

aA

Ratio

Controle 7,68

aE

24,87

aD

49,57

aC

58,35

aBC

69,44

aAB

78,02

aA

Revestimento 1C 7,68

aE

25,70

aD

52,18

aC

61,30

aB

68,64

aA

68,92

bA

Revestimento 2C 7,68

aD

23,38

aC

41,09

bB

48,19

bB

59,31

bA

66,11

bA

Controle 1,56

aC

5,12

aC

7,35

bB

15,34

aB

20,98

aA

21,72

aA

AST Revestimento 1C 1,56

aD

3,82

abD

12,30

aC

16,31

aB

20,72

aA

20,93

aA

Revestimento 2C 1,56

aC

2,23

bC

13,68

aB

14,69

aA

15,83

bA

16,75

bA

pH - 5,51

a

5,05

c

4,97

c

5,02

c

5,21

b

5,09

bc

AT - 0,29

c

0,42

a

0,41

a

0,36

b

0,32

c

0,30

c

AMD - 8,35

a

5,09

b

3,12

c

2,62

cd

2,14

cd

1,38

d

Comportamento diferente pode ser visualizado nos frutos do Tratamento 2c, que apresentaram

diferença estatística (p<0,05) até o dia nove, sinalizando um comportamento parecido apenas

no dia 12 de armazenamento, convergindo para um valor em torno de 21°Brix, valores

semelhantes ao observados por Deng et al., (2017), no último dia do armazenamento.

Os sólidos solúveis servem como índice de padronização comercial, representando um

valor aproximado da quantidade de açúcares no fruto. Durante o período de armazenamento é

possível avaliar que os frutos controle e os frutos do Tratamento 1c atingiram valores superiores

a 20°Brix desde o dia seis de armazenamento, enquanto os frutos do Tratamento 2c atingiram

esse patamar de sólidos solúveis apenas no dia 12 de armazenamento, evidenciando redução da

atividade metabólica durante o período de armazenamento.

O ratio foi calculado a partir da razão entre sólidos solúveis (SS) e acidez titulável (AT).

Conforme consta na Tabela 4, no dia zero todos os grupos apresentaram ratio de 7,68, evoluindo

ao longo do armazenamento. É possível observar que os frutos Controle e os frutos do

Tratamento 1c não mostraram ser influenciados significativamente pelos tratamentos até o dia

12 de armazenamento, variando apenas em função do efeito do armazenamento, mostrando uma

evolução de metabolismo muito próxima mas que apresentava diferença significativa (p<0,05).

Apenas no dia 15, os valores mostraram influência do tratamento no ratio dos frutos do

Tratamento 1c, quando se aproximou do ratio dos frutos do Tratamento 2c, que se manteve

diferente estatisticamente (p<0,05) dos frutos controle durante os 15 dias de armazenamento.

Por ser um parâmetro associado ao sabor das frutas, sobretudo ao dulçor, também indica menor

grau de amadurecimento das frutas do Tratamento 2c, seguido dos frutos do Tratamento 1c.

Durante o período de armazenamento, os valores do ratio apresentaram valores próximos

dentro dos tratamentos, sinalizando valores menores para os frutos do Tratamento 2c. Os frutos

dos três tratamentos indicaram igualdade estatística (p<0,05) a partir do dia 12, quando os

resultados de cor (Tabela 3), indicaram comportamento de transição de estádios de maturação,

decorrentes do processo mais acentuado nos frutos controle e frutos do Tratamento 1c.

Os frutos controle e os frutos do Tratamento 1c apresentaram um comportamento

semelhante do dia zero ao dia 15 de armazenamento, mostrando diferença estatística (p<0,05)

apenas no dia seis, possivelmente um pela transição mais rápida de estádio de maturação dos

frutos controle, conforme se observa pela coloração dos frutos (Tabela 3). O Tratamento 2c se

mantém diferente estatisticamente (p<0,05) dos frutos controle durante os 15 dias de

armazenamento, inclusive com diferença estatística desde o dia 12 com os frutos do Tratamento

1c. Nesse contexto, os resultados mostram mais um parâmetro que comprova a diminuição da

atividade metabólica do fruto em decorrência da redução de respiração causado pelos

revestimentos.

Os açúcares solúveis totais (AST) também aumentam ao longo do tempo de

armazenamento, como esperado. Na Tabela 4 é possível observar um aumento mais elevado

dos frutos Controle e os frutos do Tratamento 1c, sendo mais lento no Tratamento 2c. Nos dia

três, seis, 12 e 15 de armazenamento, é possível observar, conforme a Tabela 4, que os

tratamentos mostraram influência significativa nos valores de AST. Quanto à influência do

armazenamento, é possível observar interação até o dia 9, já que a partir do dia 12 não foi

evidenciado diferença significativa do armazenamento para os valores do AST, estes

divergindo apenas em função dos tratamentos, sendo que apenas o Tratamento 2c, nesse

período, mostrou diferença significante (p<0,05).

O aumento de AST pode ser atribuído ao aumento da quantidade de açúcares, em termos

absolutos, em decorrência da degradação do amido, mas também devido à perda de água do

fruto, o que resulta num aumento relativo do teor de açúcares. Esse aumento gradual na

quantidade de açúcares solúveis totais ocorre nas bananas em decorrência da atividade

metabólica, mais especificamente da degradação do amido e outros carboidratos em açúcares

solúveis como sacarose, glicose e frutose (SORADECH et al., 2017; YAP et al., 2017; NUNES;

YAGIZ; EMOND, 2013).

Já para pH, acidez titulável (AT) e amido, não foi observada interação significativa entre

os tratamentos e os valores desses parâmetros, todavia, conforme a Tabela 4, verifica-se

influência do tempo de armazenamento. Ou os tratamentos não afetaram essas características

ou estas sofreram influência preponderante do armazenamento, de modo a não ser possível

identificar o efeito dos diferentes tratamentos. Como já mencionado, a temperatura é o principal

fator pós-colheita para diversas frutas e hortaliças (DEFRAEYE et al., 2016; KIM et al., 2015).

Como a banana é uma fruta de rápido amadurecimento, é possível que a temperatura de 20°C

influenciou significativamente em sua degradação, já que estudos apontam que temperaturas

um pouco mais baixas, na faixa de 15°C, podem prolongar seu tempo de armazenamento

(NUNES; YAGIZ; EMOND, 2013).

Acidez titulável e pH são parâmetros associados ao sabor, já que a acidez é capaz de

diminuir a percepção de açúcar no paladar e sua diminuição acaba por aumentar a doçura, em

muitos casos, mesmo mantidas as quantidades de açúcar. O pH é determinado com auxílio de

um pHmetro, enquanto a acidez é calculada percentualmente em relação ao ácido predominante

na fruta, sendo este o ácido málico no caso da banana. Inicialmente ocorre aumento da acidez

titulável até um ponto máximo, o que coincide com o momento em que a casca está totalmente

amarela (o que ocorreu entre os dia seis e nove), seguido de redução desse valor, o que pode

estar associado à utilização do ácido málico e cítrico como substrato de reações enzimáticas

associadas à respiração (DENG et al., 2017; SORADECH et al., 2017; YAP et al., 2017; BICO

et al., (2009).

Durante o armazenamento, o teor de amido sofreu um declínio acentuado, o

armazenamento mostrou interação significativa para este parâmetro, o que provavelmente está

associado à temperatura na qual os frutos foram armazenados, o que pode ter influenciado

fortemente esta característica química. No dia inicial havia 8,35% de amido na polpa, ao final

do experimento as bananas apresentaram valores muito baixos para o amido, apenas 1,38%,

evidenciando significativa degradação, como também pôde ser visto pelo amaciamento e

redução de firmeza da polpa.

O amido é a reserva energética vegetal, degradada ao longo da senescência dos frutos,

resultando no aumento na concentração de açúcares solúveis, sobretudo sacarose, e que quanto

mais alta a temperatura de armazenamento, maior é a taxa de declínio do amido (SORADECH

et al., 2017; YAP et al., 2017; NUNES; YAGIZ; EMOND, 2013).

4.2.4 Análise sensorial

Na última etapa desse trabalho foi realizada avaliação sensorial do desempenho dos

revestimentos bem como dos frutos e sua intenção de compra.

4.2.4.a Análise do desempenho do revestimento

Apesar dos Filmes 1c e 2c apresentarem taxas de permeabilidade ao vapor de água

semelhantes, não divergindo significativamente, os revestimentos 1c e 2c apresentaram

resultados significativamente distintos em algumas características, sobretudo respiração, perda

de massa e em algumas propriedades físico-químicas, o que de modo geral evidencia diferente

eficiência na aplicação pretendida.

Conforme tratado na metodologia, o desempenho dos revestimentos foi avaliado em

termos de brilho, opacidade, fragilidade, adesão e capacidade de recobrimento.

Em termos de brilho, opacidade e cor os Filmes apresentaram valores muito próximos,

divergindo apenas em relação a cor, sendo o Filme 2c um pouco amarelado, conforme diferença

no parâmetro b* exibido na Tabela 2. Essa diferença, no entanto, não era perceptível nos

revestimentos. A espessura depositada sobre a fruta era inferior a dos filmes formados por

casting, e apresentavam-se semelhantes, tanto que foi necessário marcar as frutas de diferentes

tratamentos e acondiciona-las em locais diferentes com placas indicativas.

Quanto aos aspectos de adesão, fragilidade e capacidade de recobrimento, foi observada

diferença significativa entre os dois revestimentos. O Revestimento 1c não apresentou boa

adesão, após alguns dias era possível ver sobre alguns frutos porções de filme rompidas ou

desprendidas, enquanto o Revestimento 2c se preservou intacto até o fim do experimento. Essa

diferença na adesão foi atribuída às diferenças significativas entre a solubilidade dos filmes 1c

e 2c: 33,25% e 28,52% e de resistência à tração, 0,004mPa e 0,010mPa, sendo o Filme 2c bem

melhor em termos de comportamento mecânico.

Filmes e revestimentos biodegradáveis devem apresentar resistência mecânica,

extensibilidade e baixa solubilidade para que possam manter sua integridade física e sua

capacidade de barreira durante transporte e armazenamento (REN et al., 2017). A quitosana é

capaz de melhorar as propriedades mecânicas dos filmes de fécula/amido (REN et al., 2017;

TALÓN et al., 2017; SANTACRUZ; RIVADENEIRA; CASTRO, 2015; BONILLA et al.,

2013), e ainda sua solubilidade(VÁSCONEZ et al., 2009) o que foi evidenciado nesse estudo

pela maior resistência à tração do Filme 2c, o que influenciou no desempenho superior

do Revestimento 2c em relação ao do Revestimento 1c.