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CAPÍTULO 2 PERCURSO METODOLÓGICO

2.9 ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES

Ao buscar elementos diversificados do mesmo fato e por cotidianos distintos de cada participante da pesquisa, reunimos elementos comuns e subjetivos sobre o objeto, trazendo as impressões de cada sujeito e o eco de suas falas sobre o objeto pesquisado e suas ramificações. Essas impressões só poderiam ter sido identificadas após a familiarização da pesquisadora com o objeto de estudo.

Participar do cotidiano desse grupo nos permitiu inferir que o intrapessoal é um diferencial na construção de comportamentos diante de situações de estresse (distress) No entanto, sabe-se que há a influência do meio em que o sujeito circula, principalmente por se tratar de um contexto submetido a uma hierarquia militar, em que existem regras a serem seguidas, pois, caso contrário, poderá gerar punições aos participantes. Portanto, não apresentaremos falas dos sujeitos que contenham características que possam identificá-los. Visando o anonimato, atribuímos nomes de flores aos peritos13 e de cores aos fotógrafos14, com terminologia masculina e

13 Identificação dos(as) peritos(as) criminais: Perito 1: Lisianto; Perito 2: Antúrio; Perito 3: Lírio; Perito

4: Saramago; Perito 5: Hibisco; Perito 6: Açafrão; Perito 7: Cacto; Perito 08: Jacinto; Perito 9: Gerânio; Perita 1: Orquídea; Perita 2: Margarida; Perita 3: Hortênsia; Perita 4: Roseira; Perita 5: Açucena; Perita 6: Acácia; Perita 7: Violeta.

14 Identificação dos (as) fotógrafos (as) técnico-periciais: Fotógrafo 1: Vermelho; Fotógrafo 2: Azul

Marinho; Fotógrafo 3: Verde; Fotógrafo 4: Azul; Fotógrafo 5: Marrom; Fotógrafo 6: Branco; Fotógrafo 7: Amarelo; Fotógrafo 8: Roxo; Fotógrafa 1: Lilás; Fotógrafa 2: Rosa; Fotógrafa 3: Laranja; fotógrafa 4: Turquesa.

feminina. Da mesma forma, algumas situações ou falas não serão descritas a fim de manter o acordo de não expor a intimidade e a segurança dos participantes. Essa escolha não prejudicou a pesquisa, visto que o cenário e as observações realizadas por si só já são de extrema riqueza científica.

Buscou-se não apenas identificar, mas também compreender questões subjetivas de fortalecimento psicológico sobre as adversidades comuns a esse grupo específico de profissionais que exercem a função de peritos criminais e fotógrafos técnico-periciais. Por isso, julgou-se importante manter tais condutas de preservação; alcançar o objeto de estudo é diferente de expor os sujeitos de estudo. Assim, mais uma vez enfatizamos que, neste estudo, o conteúdo é mais relevante do que a quantificação do fenômeno.

Os dados coletados foram organizados por meio da construção de grandes temas e categorias a partir de uma análise constante e conflitante de todos os elementos identificados durante o levantamento de dados das diversas fontes de informação, sejam elas sublinhadas e recortadas das entrevistas aprofundadas gravadas e/ou transcritas. Os dados foram relacionados com o diário de campo e contextualizados com as notícias veiculadas pela mídia impressa e virtual, sempre utilizando o arcabouço teórico para dar densidade analítica ao material produzido. Os dados secundários também foram essenciais na discussão dos resultados, visto que novas hipóteses foram levantadas após as visitas técnicas.

Desse modo, cabe explicitar que a análise empreendida nesta pesquisa foi realizada por meio da codificação temática baseada nos dados, conforme GIBBS (2009) e FLICK (2009). Para tal, utilizou-se o software MAXQDA, versão 12, conforme citado por GIBBS (2009, p. 143-177). Para esse autor, “o uso da tecnologia transformou a análise de dados qualitativos de muitas formas” e o uso de softwares de análise de dados qualitativos como o MAXQDA, pode “ajudar consideravelmente no gerenciamento de conjuntos de dados grandes e complexos”. Ainda assim, o autor adverte: “contudo, as ideias analíticas propriamente ditas devem ser oferecidas pelo pesquisador” (SILVA, 2011, p. 192)

O software MAXQDA foi fundamental para transcrever as entrevistas gravadas de forma mais técnica, sem perder a riqueza das pausas, nuances de voz e verbalização. Da mesma forma, também foi crucial o cruzamento dos diários de campo com as notícias veiculadas nas mídias sobre os casos de locais de crime observados. A codificação utilizando esse software também possibilitou cruzar diversos dados

utilizando refinamentos distintos, com escopos que poderiam ser analisados e acrescidos de informações relevantes.

A elaboração da escrita sobre o objeto de estudo visou discorrer sobre o processo de construção de estratégias de enfrentamento em um cotidiano laboral repleto de significados diante da interrupção da vida por meio de um ato violento. A investigação forense em um corpo destituído de vida é uma das peças de observação na cena de um crime.

(...) ao tentar penetrar em formas de vida que lhe são estranhas, a vivência que delas passa a ter cumpre uma função estratégica no ato de elaboração do texto, uma vez que essa vivência - só assegurada pela observação participante “estando lá” - passa a ser evocada durante toda a interpretação do material etnográfico no processo de sua inscrição no discurso da disciplina (OLIVEIRA RC, 2000, p. 34).

Não limitaremos a transcrição das entrevistas apenas à análise semântica, mas sim a uma análise aprofundada dos elementos que surgiram ao longo da imersão da pesquisadora no campo de atuação desses protagonistas sociais. “O fenômeno não pode ser compreendido fora do seu contexto, por isso o significado emerge da relação com outros signos e, na antropologia, o significado é sempre construído culturalmente: nada é o que parece ser” (BANYAI, 2002 apud CAPRARA e LANDIM, 2008, p. 366). Para tanto, após o esgotamento das hipóteses, o afastamento do campo foi necessário para escrever o texto etnográfico, relatando as percepções da pesquisadora e dos protagonistas sobre os temas abordados a fim de torná-lo inteligível aos leitores (MALINOWSKI, 1996).

É a introdução deste relato detalhado das vicissitudes pelas quais passa o etnógrafo, junto com a descrição minuciosa e apaixonante do que chama de “imponderáveis da vida real”- aqueles fatos cotidianos sutis, mas ricos de significados, como os cuidados com o corpo, o modo de comer, o tom das conversas e da vida social, a amizade, simpatia ou aversão entre as pessoas e outros (...) (DURHAM, 1986, apud CAPRARA e LANDIM, 2008, p. 366).

A partir da descrição apresentada, é possível perceber que, para alcançar o nível de aprofundamento exigido pela análise de dados qualitativos, diversos procedimentos sistemáticos e complementares foram necessários e empregados nesse trabalho. Somente após essa reflexão a partir da análise de todos os prismas e

materiais interpretados, foram construídas as categorias e subcategorias que serão apresentadas nas próximas seções.