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CAPÍTULO 1 – DELINEANDO O PROBLEMA DE PESQUISA

1.2 SEGURANÇA PÚBLICA

1.2.2 Superintendência da Polícia Técnico-Científica (SPTC) de São Paulo,

contra a Pessoa (NPCCPessoa) do Município de São Paulo

A Superintendência da Polícia Técnico-Científica (SPTC) foi criada em 1998, durante o mandato de Mário Covas, com objetivo principal de administrar as perícias criminalísticas e médico-legais. A SPTC está diretamente subordinada à Secretaria de Segurança Pública e trabalha em estreita cooperação com as Polícias Civil e Militar, além do Departamento Estadual de Trânsito (Detran). A função da SPTC é auxiliar a Polícia Civil e o Sistema Judiciário em todo o estado de São Paulo. O organograma da SPTC é apresentado na Figura 15.

A SPTC tem por finalidade coordenar e supervisionar os trabalhos de pesquisas nos campos da criminalística e da medicina legal; proceder a estudos técnicos no âmbito de suas atividades específicas; prestar orientação técnica às unidades subordinadas; manter intercâmbio com entidades ligadas às áreas científicas correspondentes; exercer as atividades inerentes aos sistemas de administração geral, e zelar pela regularidade das atividades exercidas nas unidades subordinadas (SSP/SP, 2019).9

Figura 15 - Organograma da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, Brasil.

Fonte: Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Disponível em: http://www.ssp.sp.gov.br/Institucional/Organograma/Organograma.aspx Acessado em: 23. Janeiro de 2019.

A SPTC foi regulamentada pela Lei Estadual 756, de 1994, e teve sua estrutura organizacional disposta no Decreto n° 42.847, de 9 de fevereiro de 1998. Ela é responsável pela coordenação dos trabalhos do Instituto de Criminalística (IC) e do Instituto Médico Legal (IML), editando normas, ações conjuntas e implementando políticas de atendimento à população. Antes da criação da SPTC, a Polícia Civil era a responsável pelo IC, fundado em 1924 com o nome de Delegacia de Técnica Policial e pelo Instituto Médico Legal, criado em 1886 como Serviço Médico Policial da Capital. Ambos eram gerenciados pelo extinto Departamento Estadual de Polícia Científica (DEPC).

O Superintendente da SPTC é o responsável em dirigir a Polícia Técnico- Científica. Somente peritos podem ocupar tal cargo, seja perito criminal ou médico- legista. Em janeiro de 2019, tomaram posse: o novo Superintendente da Polícia Técnico-Científica, Mauricio Rodrigues Costa; o novo diretor do Instituto de Criminalística (IC), Mauricio da Silva Lazzarin; e o novo diretor do Instituto Médico Legal (IML), Alexandre Marcos Inaco Cirino. A Superintendência representa todo o território do estado de São Paulo.

A SPTC é especializada e responsável por produzir a prova técnica (ou prova material), por meio da análise científica de vestígios produzidos e deixados durante a prática de delitos. Mesmo com a confissão do criminoso que cometeu o delito, a prova técnica é a principal fonte da Justiça no estabelecimento de sanções, penas e indenizações e, portanto, é indispensável nos crimes que deixam vestígios.

A Lei 11.690 de 10 de junho de 2008 alterou o Código de Processo Penal – CPP, basicamente, nos pontos relacionados à produção e à apreciação da prova, intenta colocar certa ordem nesse campo, conferindo realce ao princípio do contraditório e da ampla defesa, especialmente em relação às evidências probatórias recolhidas na fase policial da investigação.

O conjunto dos elementos materiais relacionados com a infração penal, minuciosamente estudados por profissionais especializados, permite provar a ocorrência de um crime, determinando de que forma este ocorreu. Quando possível e necessário, o laudo pericial identificará todas as partes envolvidas (vítima, criminoso e outras pessoas que de alguma forma tenham relação com o delito) (SPTC, 2015).

As atividades periciais são regulamentadas pelo Código de Processo Penal (CPP). Nele, os peritos são enquadrados como auxiliares da justiça (CCP, 2005, art. 275) por possuírem conhecimento específico em determinada área. Além disso, os peritos estão sujeitos à disciplina judiciária e aos mesmos impedimentos dos juízes (CCP, 2005, art. 280). NUCCI (2006) define perícia como sendo “o exame de algo ou alguém realizado por técnicos ou especialistas em determinados assuntos, podendo fazer afirmações ou extrair conclusões pertinentes ao processo penal” (NUCCI, 2006, p. 367).

A perícia está inserida no título das provas, que são dez: pericial; interrogatório do acusado; confissão; perguntas à vítima; testemunhal; reconhecimento de pessoas ou coisas; acareação; documental; indiciária; e busca e apreensão (CÓDIGO..., 2005, art. 158-250).

Além de identificar a autoria de crimes específicos e compor o inquérito criminal visando condenar os autores do crime, a perícia atua também no levantamento das características padrão de diversos crimes, como: tipos de armas utilizadas, consumo de álcool ou drogas pelo agressor, tipo de local, perfil das vítimas e agressores, modus

estatísticos para diagnosticar causas, fatores criminógenos e desenvolvimento de políticas públicas que atendam a realidade da criminalidade.

A Figura 16 foi retirada do artigo “Perícia criminal: uma abordagem de serviços” escrito por RODRIGUES CV et al., (2010). Tais autores realizaram uma síntese do processo já elaborado por CAULLIRAUX et al., (2004), que mapearam e sequenciaram os macroprocessos do evento infracional até a sentença, enfatizando os serviços das Polícias Civil, Técnico-Científica e Militar.

Figura 16 - Macroprocesso simplificado do evento até a sentença final.

Fonte: RODRIGUES CV et al., 2010, p. 847

A Figura 16 resume os ciclos policial, judicial, e de ambos associados frente a um crime. Na ocorrência de um crime, a Polícia Militar ou Rodoviária é acionada pela população, desloca-se até o local do delito e o isola até a chegada da Polícia Civil. Essa, por sua vez, assume a investigação, realizando a preservação do local, a solicitação da perícia ao SPTC e iniciando a investigação. A solicitação de perícia ao IC é feita pelo delegado responsável pela Delegacia Policial (DP) da área onde o crime ocorreu. A solicitação chega pela plataforma de comunicação digital diretamente ao encarregado da sala de plantão. Nessa sala, a solicitação é direcionada ao núcleo responsável pela perícia, e a equipe pericial é então encaminhada ao local. A perícia

é então realizada, recolhendo-se dados e vestígios para compor o laudo pericial, o qual faz parte da investigação policial que irá compor o inquérito criminal. Os laudos devem ser emitidos no prazo de 10 dias, que pode ser prorrogado caso haja exames laboratoriais a serem incluídos. O local é liberado da preservação pelo perito ou pelo delegado, ou pode ser mantido por um período maior até a total apuração dos fatos (SPTC/SP, 2019).

A Polícia Civil segue com a investigação buscando suspeitos e testemunhas e registrando depoimentos que poderão compor o inquérito. Por fim, o delegado emite um relatório para o juiz de direito, que o repassa ao promotor de justiça, sendo esse o responsável por denunciar, arquivar ou complementar as informações. Quando a denúncia é aceita, inicia-se a instrução processual dirigida pelo juiz. As partes envolvidas (promotor e advogado) realizam as defesas e algumas provas são refeitas, exceto o laudo pericial do primeiro atendimento ao local. Caso o juiz julgue necessária uma nova perícia, ela poderá ser realizada pela equipe de Reconstituição, que simulará a ocorrência com a participação dos envolvidos no processo. Depois disso, o juiz emite a sentença, que poderá caber recurso. Se não couber recurso, cumpre- se a sentença e encerra-se o caso.

Percebe-se, portanto, que o perito auxilia tanto a Polícia Civil quanto o Poder Judiciário, quando o juiz solicita exames e/ou laudos para compor o processo e reconstituição com os suspeitos para elucidar a dinâmica do crime. O juiz poderá também requisitar a presença do perito em juízo para sanar dúvidas sobre o fato apurado. “O principal usuário final desta rede é a sociedade como um todo, para quem o valor de serviço é a imparcialidade da Justiça. A perícia criminal contribui para esse valor com um insumo – a prova material ou pericial” (RODRIGUES CV et al., 2010, p. 847).

As perícias são realizadas de acordo com sua especificidade e natureza. Em São Paulo, a triagem das requisições ocorre na sala de plantão, chamada de “Sala de Meio”. O encarregado da Sala de Meio é um perito criminal com mais experiência, que gerencia as requisições e coordena a equipe da rua, da linha.

O Instituto de Criminalística (IC) e o Instituto Médico Legal (IML) são subordinados à SPTC e responsáveis por realizar os exames periciais. O organograma da SPTC (e os núcleos distintos) é descrito na Figura 17.

Figura 17 - Organograma da Superintendência de Polícia Técnico-Científica (SPTC) do estado de São Paulo, Brasil.

Fonte: Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Disponível em: http://www.ssp.sp.gov.br/institucional/organograma/organograma_sptc.aspx. Acessado em: 23 de janeiro De 2019.

O Instituto Médico Legal (IML), na Grande São Paulo e interior, é estruturado por núcleos que realizam perícias especializadas (por exemplo, Clínica Médica, Tanatologia Forense, Radiologia, Odontologia Legal) e núcleos responsáveis por exames, análises e pesquisas (por exemplo, Anatomia Patológica, Toxicologia Forense e Antropologia). Todos estão sediados na sede do IML, na Capital, e os peritos são todos médicos forenses (SPTC, 2019).

A mais conhecida das funções do IML é a necropsia, vulgarmente chamada de autópsia, que é o exame do indivíduo após sua morte. Porém, este tipo de exame constitui apenas 30% do movimento do Instituto. A maior parte do atendimento (70%) é dada a indivíduos vivos, pessoas que foram vítimas de acidentes de trânsito, agressões, acidentes de trabalho, etc. (SPTC, 2019).

O Instituto de Criminalística (IC), também denominado como Polícia Técnica, foi criado em 1924 pela lei nº 2.034 com o nome de Delegacia de Técnica Policial. Após dois anos de sua criação, foi renomeado como Laboratório de Polícia Técnica. Em 1951, passou a ser chamado de Instituto de Polícia Técnica e sofreu incorporações de seções especializadas. Em 1975, recebeu outra denominação: Divisão de Criminalística. Nesse período, ficou subordinado ao Departamento Estadual de Polícia Científica (DEPC). Finalmente, em 1988, recebeu o nome atual "Instituto de Criminalística Dr. Octávio Eduardo de Brito Alvarenga", em homenagem ao perito que realizou grandes avanços na perícia do Brasil (SPTC, 2019). O IC é estruturado por núcleos de perícia na Grande São Paulo e interior.

Em 1961, as cidades de Araçatuba, Araraquara, Assis, Barretos,

Bauru, Botucatu, Campinas, Casa Branca, Guaratinguetá, Itapetininga, Jaú, Marília, Piracicaba, Presidente Prudente, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Sorocaba e Taubaté passaram a ter os Postos de Polícia Técnica. Um ano depois, os

postos foram instalados em Guarulhos, Santo André, São Caetano e São Bernardo do Campo.

(SPTC, 2019) O IC possui núcleos especializados (Acidentes de Trânsito, Crimes Contábeis, Crimes Contra o Patrimônio, Crimes Contra a Pessoa, Documentoscopia, Engenharia, Perícias Especiais, Identificação Criminal e Perícias de Informática e núcleos responsáveis por exames, análises e pesquisas (Análise Instrumental, Balística, Biologia e Bioquímica, Física, Química e Exames de Entorpecentes. Os

núcleos especializados estão localizados na sede do IC, no bairro do Butantã, zona oeste do município de São Paulo.

O descritivo funcional do IC engloba a realização de pesquisas no campo da Criminalística, com o intuito de aperfeiçoar técnicas e criação de novos métodos periciais, tendo como embasamento o desenvolvimento tecnológico e científico. Além disso, busca desenvolver, promover e divulgar estudos de trabalhos técnico-científicos relacionados à perícia. Nesse contexto, realiza perícias em (SPTC/IC/SP, 2019)10:

• “Locais de acidentes de trânsito, aéreos, ferroviários, marítimos e do trabalho;

• Sistemas de segurança de tráfego;

• Sistemas, peças ou componentes de veículos motorizados; • Livros ou documentos contábeis;

• Ocorrências de uso indevido de marcas, patentes e similares; • Documentos manuscritos, mecanografados ou impressos e em

assinaturas e moedas;

• Instrumentos e apetrechos utilizados na falsificação em geral; • Objetos, marcas ou apetrechos relacionados a crimes contra o

patrimônio;

• Locais de crimes contra a pessoa, o patrimônio, a saúde pública, os serviços públicos, a economia popular e a dignidade humana;

• Locais de incêndio, explosões, desabamentos, desmoronamentos, poluição ambiental e do meio ambiente; • Aparelhos mecânicos, elétricos e eletrônicos;

• Materiais gravados com som e imagem;

• Locais e aparelhos computadorizados, programas de software e hardware, relacionados à prática de delitos na área de informática e telemática.”

Os exames realizados são (SPCT/IC/SP, 2019)11:

• “Nos materiais encontrados em locais de crimes; • Em armas de fogo e peças de munição;

• Em materiais biológicos encontrados em locais de ocorrências e instrumentos de crimes, inclusive para identificação antropológica;

• Dosagem alcoólica e de identificação e comprovação de tóxicos;

• Pesquisas criminalísticas nas áreas de física, química, bioquímica e toxicologia.

10 Site da Superintendência da Polícia Técnico-Científica (SPTC). Disponível em:

http://www.policiacientifica.sp.gov.br/ic-instituto-de-criminalistica/ Acessado em: 23. Janeiro. 2019.

11 Site da Superintendência da Polícia Técnico-Científica (SPTC). Disponível em:

Após a apuração do ocorrido, os peritos emitem um laudo pericial de acordo com sua área de atuação, seguindo a legislação em vigor.

O Núcleo de Perícias em Crimes contra a Pessoa (NPCCPessoa) é subordinado ao Centro de Perícias (CP) do IC. Foi nesse núcleo que optamos por realizar o estudo, já que é o responsável por perícias envolvendo seres humanos. O NPCCPessoa está localizado na sede do IC, na zona oeste, Butantã e suas atribuições incluem (SPTC/IC/CP, 2019)12:

• “Elaboração de laudos periciais de locais e peças relacionados com delitos praticados contra a pessoa, exceto os homicídios originários de acidente de trânsito ou de acidente de trabalho, e contra os costumes;

• Elaboração de laudos periciais de locais peças relacionados com delitos resultantes de roubo seguido de morte e exercício ilegal da medicina, da odontologia ou da atividade farmacêutica;

• Elaboração de laudos periciais relacionados ao encontro de material de origem supostamente humana, à exumação e ao disparo de arma de fogo (envolvendo tentativa de homicídio); • Coletar amostras destinadas a exames de produtos residuais

de disparo de arma de fogo, dentro de sua área de atuação; • Propor normas para a realização de exames periciais e para a

elaboração dos respectivos laudos em sua área de atuação; • Executar outros exames que lhes sejam solicitados.”

Optamos por descrever somente o NPCCPessoa porque foi o local onde a pesquisa foi realizada. Os demais núcleos especializados não serão descritos para não estender a redação e prejudicar a fluidez da leitura. No entanto, todos os núcleos foram citados ao longo do texto.

Inferimos que a perícia criminal tem papel fundamental na segurança pública e na justiça criminal, sendo responsável por unir a ciência e a justiça. Destaca-se, nesse processo, a objetividade e imparcialidade da prova material. Percebe-se que os principais recursos utilizados são as competências profissionais e os aparatos tecnológicos para coleta, análise e produção de ciência. Mesmo diante do impacto

12 Site da Superintendência da Polícia Técnico-Científica (SPTC). Disponível em:

que o laudo pericial traz ao inquérito investigativo, as referências literárias sobre o tema são bem reduzidas, principalmente em relação ao NPCCPessoa.

O desempenho das perícias foi avaliado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE), que emitiu um relatório em 2013 apontando que a maior parte das unidades da Polícia Científica tem espaços físicos “insuficientes e inadequados” e que mais de 98% das unidades funcionavam sem alvará emitido pelas prefeituras e sem autos de vistoria do Corpo de Bombeiros. Há também um déficit de peritos criminais no IC, de forma que um terço das vagas para perito criminal no estado de São Paulo estão desocupadas. De um total de 1.735 postos de trabalho na categoria, 576 estão atualmente vagos. A defasagem é agravada pela perspectiva de aposentadorias em massa entre peritos criminais e fotógrafos nos próximos anos. Entre os funcionários da Polícia Científica, 54% têm entre 21 e 30 anos de tempo no serviço público, e outros 14% têm mais de 30 anos de experiência no funcionalismo estadual (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2012).

Em entrevistas e notas oficiais, o presidente do Sindicato dos Peritos Criminais do Estado de São Paulo (Sinpcresp), Eduardo Becker, utiliza o déficit de peritos para justificar os atrasos nos atendimentos das requisições e emissão de laudos: “Isso

aconteceu por causa da falta de profissionais”, afirma. Ele também denuncia o volume

de solicitações desnecessárias feitas pelas polícias Civil e Militar. “Em uma série de

locais há o acionamento desnecessário da Polícia Científica”, diz o presidente do

Sinpcresp. Ele estima que cerca de 40% das solicitações feitas à perícia envolvem casos em que o trabalho científico é dispensável. No entanto, resoluções da Secretaria de Segurança Pública obrigam o IC a atender à todas as chamadas. “Quando você perde tempo para atender o desnecessário, aquilo que é importante

tem de esperar”, diz Becker.

Desmembrado da Polícia Civil paulista desde 1998, em uma década e meia o IC tornou-se uma das quatro perícias criminais menos produtivas do País. Os últimos dados disponíveis sobre o assunto no Brasil, reunidos em diagnóstico da Secretaria Nacional de Segurança Pública elaborado em 2012, mostram que 62% das ocorrências em São Paulo tiveram laudos expedidos no mesmo ano em que foram solicitadas. Apenas Alagoas, Amazonas e Roraima tiveram produtividade menor (KRUSE, 2015).

O artigo 2º da Lei n.º 12.030/2009 assegurou a autonomia funcional, técnica e científica tanto para a instituição quanto para o indivíduo, porém, autonomia funcional não significa ausência de responsabilidade, ainda há uma dependência administrativa. A autonomia funcional pressupõe desnecessidade de autorização de qualquer pessoa, física ou jurídica, para a realização da atividade, não se afastando, em hipótese alguma, o princípio da legalidade. Caso a atividade seja realizada em desacordo com alguma norma, plenamente viável a responsabilização administrativa, cível e criminal, dependendo do caso concreto. Em atendimento à autonomia funcional, caberá apenas à Diretoria Técnico-Científica gerir seu funcionamento, nas atividades de natureza pericial, não sendo possível ingerência nem mesmo de órgãos superiores hierárquicos a este órgão.

Os peritos oficiais de natureza criminal, uma vez que se assegurou apenas a autonomia funcional, têm a possibilidade de afastar qualquer ingerência que diga respeito a órgãos que se encontrem fora da instituição. Interessante a situação, pois, os órgãos periciais que se encontram desvinculados da polícia judiciária apresentam maior autonomia, uma vez que nestas não existem cargos dentro da própria estrutura que possam causar ingerências, situação diversa do caso dos órgãos periciais que estão inseridos na polícia judiciária. Contudo, para evitar que a autonomia funcional transforme-se apenas em um garantia sem efetividade prática, não representando, de fato, autonomia alguma, deve-se interpretar a norma no sentido de que, a partir desta lei, os órgãos periciais que se encontram inseridos na polícia judiciária devem ser vistos como vinculados na estrutura organizacional aos órgãos centrais de perícia, notadamente nas atividades periciais.