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CAPÍTULO 1 – DELINEANDO O PROBLEMA DE PESQUISA

1.1 VIOLÊNCIA; CONCEITOS E DELINEAMENTO DO ESTUDO

1.1.1 Violência: Definição

As formas de violência são tão numerosas que seria limitador enumerá-las, principalmente pela ocorrência frequente de mudanças socioantropológicas. Ressurgem na sociedade com novos modos e repercussões, rompendo, em algumas circunstâncias, com as dimensões moral e ética.

Violência não é apenas aquela que causa óbito, mas também aquela presente no segmento de vida de diferentes faixas etárias, afetando a saúde dos indivíduos e aumentando a taxa de morbidade e transtornos futuros.

Violência consiste em ações humanas individuais, de grupos, de classes, de nações que ocasionam a morte de seres humanos ou afetam sua integridade e sua saúde física, moral, mental ou espiritual (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001, p. 3).

A palavra violência deriva do latim, violentia, e expressa o ato de violar outrem ou de se violar. Remete a algo fora do estado natural, ligado à força, ao ímpeto e ao comportamento deliberado que produz danos físicos (como ferimentos, tortura e

morte) ou danos psíquicos (como humilhações, ameaças e ofensas) (MODENA, 2016).

A violência é descrita, estudada e analisada por diversas ciências, entre elas, sociologia, antropologia, biologia, psicologia, psicanálise, teologia, filosofia e direito. Neste estudo, com foco na Saúde Pública, especificamente na saúde do trabalhador, abordaremos a violência tendo como contexto a criminologia, pois esse é o cenário de atuação dos participantes desta pesquisa.

A criminologia é o conjunto de conhecimentos que se ocupa do crime, da criminalidade e suas causas, da vítima e do controle social do ato criminoso. Etimologicamente, o termo deriva do latim crimino (crime) e do grego logos (tratado ou estudo), sendo, portanto, definido como o "estudo do crime". É uma ciência empírica porque se baseia na experiência da observação, nos fatos e na prática, mais do que em opiniões e argumentos. Ao mesmo tempo, ela é interdisciplinar e formada pelo diálogo entre uma série de ciências e disciplinas, como a biologia, psicopatologia, sociologia, política, antropologia, direito e filosofia (FERNANDES N e FERNANDES V, 2012).

A Tanatologia é a parte da medicina legal que lida com a morte e com os problemas médico-legais relacionados. O termo origina-se do grego Thánatos — o deus da morte e Logia — ciência (VANRELL, 2016).

A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo e a SPTC, em conjunto com a Lei Nº 10.095/1968, indicam que a necropsia pelo IML deve ser realizada nos seguintes casos: morte violenta (por acidente de trânsito ou de trabalho, homicídio, suicídio, etc.), morte suspeita ou morte natural de pessoa não identificada. Quando há casos de morte por falta de assistência médica ou causas naturais desconhecidas, os corpos são encaminhados para o SVO subordinado à administração municipal (SSP/SP, 2019). Segundo a Medicina Legal, as mortes por ação isógena classificam- se como:

Morte natural é a que resulta da alteração orgânica ou perturbação

funcional provocada por agentes naturais, inclusive os patogênicos sem a interveniência de fatores mecânicos em sua produção; morte

súbita é a morte imprevista, que sobrevém instantaneamente e sem

causa manifesta, atingindo pessoas em aparente estado de boa saúde; morte violenta é aquela que tem como causa determinante a ação abrupta e intensa, ou continuada e persistente de um agente biológico, físico ou químico sobre o organismo(por exemplo, homicídio, suicídio ou acidente; morte fetal é a morte de um produto

da concepção antes da expulsão ou da extração completa do corpo da mãe, independente da duração da gravidez; morte materna é a morte de uma mulher durante uma gestação ou dentro de um período de 42 dias após o término da gestação, independente da duração ou localização da gravidez; morte catastrófica é toda morte violenta de origem natural ou de ação dolosa do homem em que, por um mesmo motivo, ocorre um grande número de vítimas fatais; morte presumida é a morte que se verifica pela ausência ou desaparecimento de uma pessoa, depois de transcorrido um prazo determinado pela Lei (CROCE e CROCE JÚNIOR, 2009, p. 45).

Acidentes e violência são reconhecidos na Classificação Internacional das Doenças (CID-11) como causas externas, dentre as quais a morte violenta também é contemplada. Os acidentes que resultam em óbito, bem como as diversas violências contra a pessoa que resultam em lesão corporal e morte, são considerados crimes contra a pessoa e, portanto, de interesse e intervenção da perícia criminal.

Uma investigação criminal é realizada quando há crime lesivo ou letal, em que é necessário verificar sua intencionalidade ou descartar a hipótese de crime. Sabe-se que a trajetória desses crimes compete à vara criminal e, portanto, necessitam de investigação para realização da justiça exercida pelo Estado.

Alguns estudiosos, como OLIVEIRA RP (2008) e SANTOS JUNIOR e DIAS (2004), apontam que trabalhadores que lidam com a violência direta e/ou indireta podem sofrer impactos físicos, psicológicos ou morais, resultando em alterações comportamentais.

A “violência do trabalho” seria aquela originada na organização do processo de trabalho e, assim, o modo como o trabalho pode ser organizado e gerenciado constituiria uma forma de violência. A “violência no trabalho” relaciona-se às formas de violência que representariam riscos ao trabalhador no ambiente de trabalho e que podem ser consideradas crimes, tais como agressões físicas, assaltos, assassinatos (TURTE-CAVADINHA, 2016, p. 48).

Este capítulo foi dividido em subcapítulos que objetivaram contextualizar a violência mundial, na América Latina, no Brasil e, por fim, no município de São Paulo, local onde se deu a coleta de dados. Optou-se em realizar uma explanação ampla sobre a violência por tratar-se de dados que irão fomentar a discussão dos resultados obtidos, em que as produções científicas são escassas sobre a organização do trabalho pericial, em que este atua no âmbito da violência urbana.