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5. A ARTE NO “CHÃO DA ESCOLA”

5.2. Análise das entrevistas de campo

5.2.2. Análise das respostas do questionário aberto

5.2.2.2. Análise das respostas referentes às habilidades

Nesta etapa todos os entrevistados tiveram que tentar explicar as duas habilidades por nós listadas.

A primeira habilidade, também da 1ª série do Ensino Médio, foi “Investigar a arte e as

práticas culturais como patrimônio cultural no contexto da cultura urbana” (SÃO PAULO,

2011, p. 215). Seis dos entrevistados explicaram esta habilidade como uma forma de conhecer o atual por meio do passado, de compreender as produções de hoje a partir do repertório criado do conhecer o que veio antes. Por exemplo, o Prof. B:

Em uma metrópole como São Paulo pede-se a capacidade de olhar em volta e perceber quão rico é o nosso patrimônio histórico e cultural, pois a vigência cultural de cada período está impregnada em cada parede em cada monumento e principalmente nas pessoas, que em alguns momentos afloram poeticamente. Percebendo o patrimônio artístico que nos foi deixado criamos o patrimônio que deixaremos

O Prof. C segue a mesma linha e diz: C: “A partir deste o aluno compreende a herança

deixada, e resgatar e vivenciar a cultura presente no meio onde vive.” Os professores F, H, I e

N caminham na mesma direção.

Outra concepção apresentada por 5 professores é que esta habilidade está mais focada na compreensão de obras artísticas do passado. O Prof. A diz que essa habilidade tem a ver com “Promover e incentivar os alunos a ampliar seus olhares para o Patrimônio Cultural da

humanidade. Quais são os locais que foram tombados pelo IPHAN, por que, a arte urbana. Os acervos, livros, músicas, etc.”. O professor J sugere “Propor pesquisas, abordar a prática do ‘ver’ ou olhar perceber os acontecimentos, as mudanças a nossa volta.” e o Prof. O “Conhecer a cultura local. Seus pertences, suas memórias”. Em todos esses casos e nos dois não citados o

que vemos é a compreensão dessa habilidade ligada ao entendimento da construção artística e cultural do passado.

Somente o Prof. K dá ênfase absoluta ao entendimento desta habilidade como algo ligado à compreensão da arte urbana hoje, de modo mais sincrônico:

Estudo dos acontecimentos da cidade e do bairro principalmente na linguagem híbrida que nasce dos anseios da população. Práticas que imprimem o grito do povo, como o hip-hop que junta a questão musical, corporal e visual. Observar o posicionamento social da população através dos fenômenos de Arte (nas ruas, nas praças, no transporte público, nos muros...)

Já o Prof. D responde ressaltando como essa habilidade influi no processo criativo dos estudantes:

Quando o trabalho educativo é desenvolvido com grupos de cultura urbana é necessário promover o reconhecimento de valores criativos, linguagens, estéticos. O espaço urbano público é rico para a circulação de ideias, a disseminação de códigos presentes na pichação e grafite, nas intervenções em caráter de protesto, nas dissenções políticas. Este todo de manifestações artísticas, políticas, criativas, formam o espaço urbano uma fonte de investigações constante, poética e provocativa. E o prof. M fala em desenvolvimento crítico: “Desenvolver habilidade questionadora

da cultura popular.”.

No geral, as respostas variam entre dois pontos: a habilidade de conhecer patrimônios culturais e a habilidade de conhecer a cultura popular praticada hoje. Assim como na resposta do Prof. J, isso tem a ver com ampliação do olhar, da percepção dos alunos em relação às produções artísticas, sejam elas reconhecidas como patrimônios ou não. Porém, as categorias criatividade e criticidade também se fazem presentes como uma das habilidades a serem trabalhadas.

A segunda habilidade apresentada aos professores foi: “Identificar o patrimônio

Cultural, a memória coletiva, os bens simbólicos materiais e imateriais” (SÃO PAULO, 2011,

p. 215).

A maioria dos professores (A, C, D, G, H, I, J e L) compreendeu essa habilidade dentro do âmbito de conhecer o que foi produzido no passado.

O Prof. C compreende esta habilidade como “Reconhecer a própria história familiar e

a partir desse contextualizar, a memória coletivo e os bens que possuímos”. Ou seja, uma

perspectiva histórica do que temos hoje.

Os professores D e G focam no conhecer e respeitar os patrimônios culturais:

Independente do espaço coletivo urbano, rural, de origem indígena ou quilombola há produção de cultura. Essa cultura se manifesta pelo acúmulo de memórias na oralidade, tradições, expressões e todo um conjunto de bens chamados ‘imateriais’. Todo o coletivo patrimonial de um povo ou cultura precisa ser reconhecido, olhado com carinho e no mínimo entender que o respeito é necessário. Que há diversidade e que esta produz riqueza cultural, conhecimento e profunda beleza (Prof. D).

O Prof. D ainda coloca a dimensão do respeito à diversidade.

Os Professores H, I e L enfatizam a importância de conhecer os patrimônios culturais, ampliando o conhecimento histórico dos mesmos:

É uma viagem à nossa ancestralidade. Buscar memórias que são retransmitidas através das gerações, preocupar entender qual o valor simbólico de algo que é considerado patrimônio cultural e seu porquê. (Prof. H)

Apropriar-se dos conhecimentos quanto ao que é patrimônio cultural memória coletiva, bens simbólicos materiais e imateriais, conseguindo compreendê-los e distingui-los (Prof. I).

Para que o aluno consiga identificar o patrimônio cultural ele precisa manter contato, construir um conhecimento, e isso se dá com o estudo e a visualização dos bens simbólicos (Prof. L).

O Prof. A indica uma proposição prática para o melhor desenvolvimento desta habilidade, dentro do que ele entende que ela significa: “Incentivar os alunos a conhecerem o

Patrimônio Histórico através de colagens de imagens das memórias culturais tombadas, quais são, os bens simbólicos – materiais e imateriais.” (Prof. A – grifo nosso).

O último professor que enfatizou sua compreensão da referida habilidade como estudo dos patrimônios culturais, o Prof. J, foi o que apresentou, de modo mais claro, a concepção de patrimônio cultural como algo a ser preservado e uma preocupação pela manutenção da cultura: “Motivar e conscientizar os alunos a preservação, manutenção, resgate de uma história que

faz parte do nosso desenvolvimento.” (Prof. J).

Três dos professores entrevistados (F, K e N) compreenderam a habilidade em questão como uma possibilidade de desenvolvimento do perceber e do compreender os patrimônios culturais presentes na atualidade, ou seja, na arte praticada hoje.

O Prof. F apresenta isso de modo mais abrangente: “Se a investigação desses elementos

contribui para o processo de formação humana; Identificar tais elementos nos enriquece no sentido de apropriação de certo capital cultural.”.

O Prof. K responde no âmbito da cultura popular, do conhecer as memórias coletivas para compreender a cultura popular hoje: “Perceber tradições e as práticas das pessoas a partir

de sua história da família dos amigos e dos elementos que caracterizam o perfil do povo.”.

O Prof. N responde na mesma linha, porém de modo mais desenvolvido:

Patrimônios são heranças, são memórias passadas de geração em geração. É através dos patrimônios que entramos em contato com a nossa memória. Patrimônios são bens, que fazem parte da memória coletiva. Quando realizamos uma dança que faz parte da nossa tradição, quando entramos em contato com o prato típico da nossa região, ou até mesmo quando realizamos rituais, é nesse momento que estamos em

contato com nossas heranças culturais, é nesse momento que o patrimônio se faz presente.

Os Profs. B e N compreendem a habilidade acima mencionada como forma de nutrição estética do olhar e mesmo para o fazer, como ampliação da capacidade de perceber e fazer uso da arte a partir do desenvolvimento de tal habilidade:

Supervaloriza a capacidade artística de materializar e distanciar-se da concepção por trás da obra, perceber o sutil e estrito pensamento poético e estético do artista. Resguardar a memória das práticas é tão importante quanto as obras e monumentos resultantes. (Prof. B – grifo nosso);

Desenvolver o gosto estético com base histórica da pesquisa (Prof. M).

Nós decidimos descartar as respostas dos professores E e O, por entendermos que não se encaixam em qualquer indicativo de análise, já que são muito evasivas. Assim, coletamos três perspectivas: 1. Sete professores compreendem a habilidade destacada como: entender, respeitar e preservar o passado; 2. Três professores a concebem como: entender o passado para compreender o presente; e 3. Dois professores percebem a habilidade como: capacidade de enxergar proposições práticas do fazer artístico.

5.2.2.3. Comparação entre as atividades desenvolvidas em sala e as propostas