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5. A ARTE NO “CHÃO DA ESCOLA”

5.1. Observações em campo

5.1.1. Observação 1 – Professora Sara

5.1.1.1. Considerações sobre a observação 1

A observação do trabalho de Sara resultou nas seguintes respostas às seis perguntas norteadoras (ver seção 1.3.2.1.) de nossa observação:

1. O Caderno do Professor não é um instrumento norteador de sua prática. Funciona predominantemente como material de apoio;

2. O discurso de “Arte útil”, ou Arte para o mercado de trabalho é presente nas atividades desenvolvidas em sala de aula. O eixo criativo é, em uma das atividades (Design da palmilhas), predominantemente atrelado às necessidades de mercado;

3. Há predominância de trabalho com artes visuais na disciplina Arte, mesmo com uma professora não graduada inicialmente nesta linguagem artística;

4. Há pouco desenvolvimento de novas habilidades procedimentais no ensino de Arte. As atividades acabam mais fazendo uso do repertório individual de cada estudante em propostas/encomendas artísticas do que ampliando seus respectivos leques de habilidades técnico-artísticas.

5. Os conteúdos e habilidades do Currículo Oficial, caso trabalhados em sua totalidade, fazem com que o professor pense em atividades-resultado curtas, muitas vezes reduzidas a explanação oral ou escrita.

6. Apesar da predominância da Arte contemporânea no currículo, há deliberadas ações no sentido de desenvolver outros conteúdos.

Quanto à pergunta de número 1, o caderno do Professor só foi efetivamente utilizado no dia 04/04, ainda como complemento frente a outras estratégias didáticas. No restante dos dias a professora preferiu preparar suas aulas a partir de sua pesquisa, utilizando materiais que extrapolam as propostas do Caderno do aluno.

O trabalho de Sara seguiu com certo rigor a proposta do Currículo Oficial. Quanto a este aspecto, referente à resposta à pergunta 5, basta analisar os conteúdos e habilidades do 1º e 2º bimestres do ensino de Arte (SÃO PAULO, 2011, p. 215-16). Facilmente identificaremos que Sara abordou boa parte dos conteúdos ali estabelecidos, a saber, Patrimônio Cultural (quando se fala em danças folclóricas e Circo especialmente) e Intervenção em Arte (quando fala-se em Arte Contemporânea e propõe a atividade de Instalação no dia 16/05). A única atividade que poderíamos dizer que foge ao padrão foi a atividade de “Design das palmilhas”. Embora isso seja facilmente justificável dentro da ampla gama de possibilidades do Currículo Oficial, é um exemplo de como a resposta à pergunta 6 não é inteiramente verdadeira, ainda que os exemplos em seu favor prevaleçam.

Essa resistência quanto à predominância dos conteúdos e habilidades voltadas à Arte contemporânea, apontada na resposta à pergunta 6, acreditamos ter sido expressa tanto nas aulas de design da palmilha quanto antes, por exemplo no primeiro registro do diário de campo, dia

28/03/2016. Veja o que explica Sara em entrevista informal sobre a necessidade de ir além do currículo e ensinar História da Arte:

S: [...] Quando eu comecei a dar aula para o ensino médio... a primeira coisa que eu fui fazer - eu sou uma pesquisadora – Eu fui lá buscar, bom, o que meu aluno precisa saber... Para prestar o que? ENEM! Porque meu aluno de escola pública, então, a ideia é prestar ENEM para conseguir uma faculdade pública. Bom, quando eu olhei a apostila, e eu olhei o que meu aluno precisava saber... não tinha nada a ver com a apostila. Meu aluno precisava saber história da arte. E... como é que eu faço isso em sala de aula, mas eu sou “obrigada” a dar apostila? Porque é o currículo do Estado, é o que ele está me pedindo para dar em qualquer escola em que eu esteja dando aula. Então, de... para complementação eu coloco... História da Arte, a linha do tempo, (explico o que é linha do tempo) e explico que eles precisam.... e o que nós estamos aprendendo dentro das apostilas e o que é que eles precisam saber antes disso, né? Porque é isso que ele vai precisar para prestar um vestibular, ou ENEM, ou qualquer prova para entrar em Faculdade ele vai precisar de História da Arte. Né? [...] (Entrevista Informal, Profa. Sara, 28/03/2016).

Também interessa aqui o fato da professora entender que segue a apostila e que a complementa. Na verdade, Sara segue o currículo e o complementa, neste caso, com História da Arte. Em nosso entendimento seguir a apostila significa seguir a sequência de atividades formuladas na apostila. Sara não fez isso.

Quanto às respostas às perguntas 2 e 4, acreditamos que o melhor exemplo é a sequência de atividades desenvolvida com o “Design das palmilhas”, mesmo que não se resuma a isso. Em específico quanto à segunda hipótese, o monólogo apresentado no dia 11/04 ocorreu sem tempo de ensaio em aula, p. ex. Ou seja, espera-se que o aluno crie algo sem orientação técnica mais elaborada. O que é avaliado é a criação e o comprometimento do estudante, enquanto aspectos técnicos não são desenvolvidos em sala, ficando a critério de cada aluno e de seus respectivos repertórios individuais.

Quanto à resposta à terceira pergunta, os registros são claros. Mesmo na aula mais elaborada do dia 16/05, com utilização do DataShow e ampla ‘nutrição estética’, discutiu-se predominantemente exemplos das artes visuais. A única atividade observada não relacionada com Artes visuais foi o monólogo, que não contou com desenvolvimento prático em sala, ao menos nos momentos os quais realizamos a observação.

Algumas observações adicionais são pertinentes, a fim de comparação com os demais dados coletados. Um primeiro ponto adicional é a forma de avaliação.

Sara avalia os alunos de acordo com os trabalhos entregues, porém não conseguimos concluir se há critérios precisos nesta avaliação. O dia 18 de abril de 2016, p. ex., foi um dia de fechamento de notas do primeiro bimestre, e encontramos as seguintes anotações:

“A professora já se antecipa e explica que trata-se (sic) de uma aula de fechamento de bimestre. [...] Contudo, a professora relembra os textos que os alunos precisam entregar para fechamento de nota.

‘1 – Revisão 4 linguagens; 2. Patrimônio Cultural; 3. Linha do tempo; 4 – Arte Urbana.’” (Relatório de campo, Profa. Sara, 18/04/2016).

Quanto ao fechamento do segundo bimestre, conseguimos uma resposta mais conclusiva de Sara:

Perguntou-se à professora (o pesquisador) sobre como será a avaliação do final do bimestre. Esta será baseada em três dispositivos avaliativos: 1. Design do “chinelo”; 2. Participação (Caderno do aluno + textos da lousa); 3. Trabalho da maquete – Cidade Saudável (Relatório de campo, Profa. Sara, 13/06/2016).

Ou seja, se há algo que se mantém nos dois bimestres é a avaliação relativa às participação e produção dos estudantes nas atividades. Apesar disso, não percebemos um critério claro que defina se um trabalho entregue poderia ser melhor ou pior, nem mesmo conseguimos observar se isso é importante para Sara. Em futuras observações isso deve ser analisado com mais cuidado, pois pode indicar contribuições à prática docente em seu conjunto.