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4. CURRÍCULO OFICIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO

4.1. O que propõe o atual Currículo do Estado de São Paulo?

4.1.2. Princípios norteadores do Currículo do Estado de São Paulo

4.1.2.6. Articulação com o mundo do trabalho

Na última seção, o documento aponta a necessidade de desenvolver competências orientadas pelas “demandas do mundo contemporâneo”. Aqui fica claro quais demandas são essas, totalmente articuladas e demandadas pela legislação federal (LDBEN, PCN e DCN). A preocupação aqui é promover uma articulação da escola com o mundo do trabalho desde o primeiro ano do Ensino Fundamental II (SÃO PAULO, 2011, p. 22). De acordo com o documento da SEE-SP, a LDBEN tem desde o início de seu texto a relação com o mundo do trabalho, como princípio que deve estar presente na educação básica desde a Educação Infantil até o Ensino Médio.29

São apresentados o que chamaremos de “princípios norteadores da articulação da escola

com o mundo do trabalho” nesta seção de Apresentação do Currículo, que são de especial

importância para entendermos o sentido que a SEE-SP e a LDBEN dão a essa articulação:

1. A educação básica não forma especialistas: a escola deve formar um estudante com determinadas competências gerais que o possibilitem depois se especializar em qualquer área (SÃO PAULO, 2011, p. 22);

2. Relação entre teoria e prática: todo desenvolvimento teórico deve necessariamente apresentar seu reflexo na vida cotidiana, prática;30

3. Relação entre educação e tecnologia: relação mais presente no Ensino Médio e tem dois sentidos centrais: “1. como educação tecnológica básica”; e “2. como compreensão dos

fundamentos científicos e tecnológicos da produção”.31 O primeiro sentido envolve a

“tecnologia”, em sentido mais amplo, os aspectos gerais para o acesso técnico a determinado campo do conhecimento que, embora envolva entender o funcionamento de um computador, também envolve o acesso às disciplinas curriculares comuns. O segundo sentido se refere às diferentes formas de produzir, no sentido de qual tecnologia é necessária para produzir um

29 Ibid., p. 24. 30 Ibid., p. 23. 31 Ibid., p. 24.

computador, uma obra de arte, uma música etc, ou seja, produzir “bens e serviços de que [a

humanidade] necessita para viver”;32

4. Prioridade para o contexto do trabalho: a escola deve valorizar o trabalho e articulação dos conteúdos apreendidos em sala com o mundo trabalho;33

5. Preparar o estudante do ens. Médio para as atuais necessidades do mercado não é promover um ensino tecnicista: diferentemente da anterior pedagogia “tecnicista”, quando aqui se fala em preparar para o mundo do trabalho, fala-se em preparar para um mundo diferente da década de 70:

Hoje essa separação já não se dá nos mesmos moldes porque o mundo do trabalho passa por transformações profundas. À medida que a tecnologia vai substituindo os trabalhadores por autômatos na linha de montagem e nas tarefas de rotina, as competências para trabalhar em ilhas de produção, associar concepção e execução, resolver problemas e tomar decisões tornam-se mais importantes do que conhecimentos e habilidades voltados para postos específicos de trabalho (SÃO PAULO, 2011, p. 25).

As DCN, nesse sentido, foram mais longe, legislando sobre a possibilidade de priorização de certos conteúdos em relação a outros, ou mesmo inserção de novos conteúdos, em detrimento da necessidade do mercado de trabalho para cada contexto, a partir do Ensino Médio, via Lei 9394/96 (SÃO PAULO, 2011, p. 26).

4.1.3.

Breve Análise do Currículo do Estado de São Paulo

Nesta pequena seção, no sentido de apresentar a compreensão adquirida e fruto do acúmulo em disciplinas da Pós-graduação, discorreremos sobre a análise que fazemos dos princípios que acabamos de elucidar presente no Currículo Oficial do Estado de São Paulo.

4.1.3.1. Uma escola que deve “curar” a sociedade

É sempre difícil afirmar qual a “ideologia” desse ou daquele indivíduo, dessa ou daquela instituição. Contudo, tentaremos, dentro das limitações do presente trabalho, afirmar o que predomina no caso específico aqui abordado.

32 Ibid., p. 24. 33 Ibid., p. 25.

Partindo da pesquisa desenvolvida por Patto (1984) podemos ver que o ideal da escola enquanto instituição responsável por gerar a igualdade de oportunidades é algo bastante antigo e que na sociologia e filosofia se expressou a partir de pensadores proeminentes como Durkheim e John Dewey (PATTO, 1984). Quanto a este último, afirma Patto (1984, p. 28):

Em última instância, a mudança social que defende e pela qual luta através do detalhamento de um modelo educacional alternativo parece consistir numa maior permeabilidade nas barreiras que separam rigidamente as classes, de modo a tornar mais justa a ascensão social e mais rico o intercâmbio entre as classes.

Sendo assim, longe de questionar a sociedade de classes, esses autores tendem a naturalizar o atual sistema socioeconômico e, a partir disso, elegem a escola como a única instituição capaz de “curar” suas as doenças.

Essa ideologia é amplamente difundida no Currículo do Estado de São Paulo, embora sub-repticiamente. Ela está presente quando se fala em gerar oportunidades por meio da escola:

A relevância e a pertinência das aprendizagens escolares construídas nessas instituições são decisivas para que o acesso a elas proporcione uma real oportunidade de inserção produtiva e solidária no mundo (SÃO PAULO, 2011, p. 13 – grifo nosso).

Ou quando conectam a escola com as necessidades da dita “sociedade do conhecimento” e de “preparar jovem para o novo tempo”:

Contempla algumas das principais características da sociedade do conhecimento e das pressões que a contemporaneidade exerce sobre os jovens cidadãos, propondo princípios orientadores para a prática educativa, a fim de que as escolas possam preparar seus alunos para esse novo tempo (SÃO PAULO, 2011, p. 9 – grifo nosso).

De acordo com a terminologia utilizada por Patto (1984), estamos, assim, diante de uma ideologia liberal da educação. Neste sentido, constatamos duas linhas características desta forma de pensamento: 1. Não se questiona a estrutura social dentro da qual a educação escolar acontece, somente a existência dos males sociais; e 2. A escola é eleita como a instituição capaz de “curar” a sociedade de tais males promovendo a igualdade de oportunidades.

4.1.3.2. Uma escola que promove a adaptação do jovem ao “novo