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Capítulo I – Considerações Teóricas

3. Organização de um curso de línguas

3.1. Análise de necessidades

Uma das características mais acentuadas em curso de LSP, e o que mais o diferencia de outros, é a análise de necessidades. Por isso, teremos neste momento a visão de alguns autores em relação a esse primeiro passo a ser adotado em um desenho de curso.

Quando elaboramos um curso de língua, seja ela qual for, é preciso ter em mente alguns aspectos que podem contribuir para o seu sucesso. O que ocorre muitas vezes é que as necessidades específicas dos alunos são desconsideradas quando esses procuram aprender outro idioma. Um mesmo tipo de material é utilizado para vários alunos sem que haja qualquer customização e interesse por aquilo que realmente o levou a tomar a decisão de fazer o curso. Frente a isso, Hutchinson e Waters (1987, p. 53-55) defendem a ideia de que um curso de LSP precisa se preocupar seriamente em analisar a necessidade do aluno e, para que isso ocorra, é preciso investigar a situação em que a língua alvo será utilizada – situação-alvo (target situation).

Os autores pontuam alguns outros termos que acabam surgindo quando se menciona a situação-alvo, tais como: as necessidades-alvo (target needs) e as necessidades de aprendizagem (learning needs) (ibid., p.55-56). Nessa perspectiva, necessidades-alvo é um termo guarda-chuva que engloba outros termos como: necessidades, lacunas e expectativas (necessities, lacks and wants).

_______CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS_______

Uma análise de necessidades (necessities) irá mostrar o que o aluno precisa aprender11 para se comunicar eficientemente na situação-alvo. A comparação entre aquilo que o aluno já sabe com aquilo que ele precisa usar na situação-alvo determinará a sua lacuna (lack). Uma análise de expectativas (wants) irá explicitar aquilo que o aluno deseja aprender dentro daquilo que foi constatado em sua lacuna.

De acordo com Hutchinson e Waters (1987, p. 60) a análise da situação-alvo nos mostra o quê as pessoas precisam executar com a língua a ser aprendida. E isso implica preocupar-se com a forma como esse processo de ensino-aprendizagem pode efetivamente ocorrer. Os autores sugerem que uma análise de aprendizagem (learning needs) seja feita, de modo que os seus dados mostrem como as pessoas geralmente aprendem.

Dudley-Evans e St. John (1998, p. 121) conceituam a análise de necessidades como o processo de estabelecer o “o quê” e o “como” de um curso: o que ensinar e como ensinar. Ao delinear um conceito para a análise de necessidades os autores englobam abordagens de vários outros autores da área de ESP, e deixam bem claro o que é necessário investigar (ibid., p.125):

A. Informação profissional do aluno: quais atividades e tarefas o aluno realizará (ou já está realizando) em inglês12 – análise de situação-alvo e necessidades objetivas13. B. Informação pessoal do aluno: fatores que podem afetar a forma como o aluno

aprende, tais como experiências anteriores, informação cultural, razões para fazer o curso e as suas expectativas em relação ao mesmo – expectativas, meios e necessidades subjetivas14.

C. Informação sobre o nível de inglês do aluno: suas habilidades atuais no uso da língua – análise da situação presente – que nos permitem avaliar o próximo item. D. As lacunas do aluno: diferença percebida entre os itens C e A.

E. Informação de aprendizagem da língua: formas eficientes de se aprender as habilidades e os aspectos da língua percebidos como lacuna (D) – necessidades de aprendizagem.

11 Hutchinson & Waters (1987), baseados em Munby (1978), apresentam uma tabela exemplificando algumas

situações sociais em que alunos poderão participar (communication activities), as micro-funções (micro-

functions) relacionadas a essas situações e as formas de linguagem (language forms) para cada uma dessas funções. É a isso que se referem quando questionam o que o aluno já sabe ou precisa saber/aprender para ter um bom desempenho na situação-alvo.

12 Neste caso o autor considera a língua inglesa a língua-alvo. 13 Objective needs (Brindley, 1989, p. 65).

_______CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS_______

F. Informação de comunicação profissional sobre (A): conhecimento de como a língua e habilidades são usadas na situação-alvo – análise linguística, análise de discurso e análise de gênero.

G. O que é esperado do curso.

H. Informação sobre o ambiente no qual o curso será realizado – análise do meio. O que vale a pena ressaltar, como novas contribuições em LSP, entre os pontos citados por Dudley-Evans e St. John (1998, p.125) é a questão da análise do meio, o interesse pela forma de como o aluno aprende, e a análise de gêneros. Percebe-se um olhar mais cuidadoso sobre o aluno como um ser integral e sua relação com o meio em que vai ter aulas, sendo a situação-alvo vista como um ambiente que produz tipos específicos de textos.

Outro ponto abordado por Dudley-Evans e St. John (1998) – e que também é citado por Long (2005) de uma forma mais extensa – diz respeito a como obter mais dados de uma análise de necessidades. Os autores mencionam que, geralmente, existem – e valem a pena ser consultados – literaturas e documentos escritos relacionados às atividades profissionais em que nossos alunos irão atuar, em que se apontam tanto as tarefas quanto as habilidades necessárias na atividade em questão.

Long (2005) discorre sobre aspectos metodológicos para uma análise de necessidades e traz sugestões a serem seguidas para que cursos de quaisquer espécies sejam mais relevantes para os alunos. Sugere a tarefa (task) como unidade de análise para avaliar necessidades. Ou seja, o objeto principal a ser analisado em uma situação-alvo não é o léxico, a gramática, ou estrutura – unidades linguísticas – mas, sim, a tarefa, a situação em sua totalidade. Cada tarefa exige habilidades linguísticas e competências específicas para realizá-las. De acordo com Long (2005, p. 23) são as tarefas que motivam os textos e não o contrário. Segundo o autor, portanto, a língua deve estar em função da tarefa: a situação dará origem às formas linguísticas e, por isso, o foco deve estar na tarefa.

Uma vez coletados dados sobre a situação-alvo, e depois que obtivermos detalhes sobre a(s) tarefa(s) que o aluno de LSP precisa desempenhar nessa situação, já será possível caminhar para o próximo passo: o desenho de curso.

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