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Capítulo II – Metodologia de Pesquisa

3. Participantes da Pesquisa

3.1. O professor – participante focal

O professor-pesquisador, objeto principal de investigação desta pesquisa, sou eu, Rubens Fernando de Souza Lopes. Apesar de estar rodeado por vários participantes, parceiros de ação da pesquisa, os olhos investigativos estão sobre mim. Sou, portanto, considerado como participante focal.

Com bacharelado em Administração, comecei a dar aulas de inglês, inicialmente, pela oportunidade de trabalho e, depois, por uma opção consciente pelo magistério. A sala de aula sempre foi para mim um ambiente prazeroso: um espaço de descobertas que proporciona momentos em que as pessoas têm a oportunidade de interagir e compartilhar experiências. Essa percepção foi fortemente alimentada durante as aulas de inglês, que frequentei como

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aluno em minha adolescência na cidade de Jacareí, interior de São Paulo, onde nasci e moro até hoje.

No início de 2002, após voltar de uma viagem de um país cuja primeira língua é o inglês, decidi voltar para a sala de aula. Agora não mais como aluno, mas como professor de língua estrangeira. Essa foi a alternativa que encontrei para estar no mercado de trabalho até concluir a graduação. No entanto, a atração que senti pela Educação fez com que, mesmo já graduado em Administração, continuasse atuando nesta área.

Essa opção levou-me a fazer uma pós-graduação lato-sensu no estado de Minas Gerais. Durante essa especialização de/em língua inglesa, conheci alguns professores mestres e doutores formados pelo Programa de Estudos Pós-Graduados (PEPG) em Linguística Aplicada e Estudos de Linguagem (LAEL) da PUC-SP. As discussões e estudos proporcionados por tais professores docentes fizeram-me ver que o ser humano tem a possibilidade de ter a história de sua vida transformada por meio da educação. Esse novo olhar, aliado ao trabalho voluntário que já realizava na ONG Guri na Roça, direcionou-me também ao PEPG em LAEL da PUC-SP.

Deparo-me agora com a minha constituição como professor na ONG. As aulas ministradas nesse local sempre tiveram como foco a gramática, o ensino normativo da língua inglesa. Não possuo dados anteriores à pesquisa para compará-los com os dados coletados durante esta investigação. O meu foco não está nessa comparação, das minhas práticas pedagógicas antes e durante a pesquisa, mas como iniciei e me transformei durante uma parte do processo de elaboração de material.

3.2. Alunos – parceiros de ação

A fim de construir conhecimento coletivamente tive como participantes alguns alunos da ONG, que fizeram parte do grupo de parceiros de ação. A pesquisa social tem como uma de suas características o dinamismo, ou seja, não é algo estável e linear; isso porque envolve seres humanos, e seres humanos são imprevisíveis. Mudanças no grupo de participantes na pesquisa-ação podem ocorrer, como sinaliza Dionne (2007, p. 121):

É importante que cada membro da equipe de pesquisa-ação possa apontar as possíveis rupturas a efetuar com as pessoas implicadas no processo. A pesquisa pode continuar sob outras formas, com outros pesquisadores, ou mesmo outros atores podem vir a participar.

Recorro a essa citação para justificar as mudanças ocorridas no grupo de alunos selecionados. Exponho, primeiramente, os critérios de seleção; depois descrevo todos os

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alunos que fizeram parte da pesquisa; e, finalmente, explico a substituição de alguns alunos, as mudanças.

3.2.1. Seleção dos alunos

Primeiramente tivemos a sensibilização à problemática que, de acordo com Rizzini, Castro e Sartor (1999, p. 46), é o momento em que várias questões do problema são discutidas. Para isso, tivemos uma reunião em que todos os alunos adolescentes presentes na ONG foram conscientizados de alguns problemas percebidos nas aulas de inglês, mais especificamente, aqueles relacionados aos materiais didáticos em uso e à necessidade de mudança da prática do professor. Foi explicada a necessidade da seleção de alguns alunos para serem parceiros de ação e apresentadas quais seriam as medidas tomadas para que outros não deixassem de ter as aulas às sextas-feiras.

Alguns alunos não foram incluídos na pesquisa porque não estariam mais matriculados na ONG no período da coleta de dados, devido ao limite de idade de permanência no projeto (18 anos). Depois de aplicado esse primeiro critério de seleção, ficamos com um grupo de alunos que estavam próximos a completar dezoito anos quando esta pesquisa fosse concluída e, consequentemente, mais prováveis a participar de entrevistas de emprego (preocupação inicial do professor-pesquisador).

Diante desse grupo, realizei uma exposição do objetivo e metodologia da pesquisa, seguida de uma entrevista semiestruturada para a averiguação de interesse e comprometimento. Caso o aluno não se interessasse, mesmo em meio a esclarecimentos durante a entrevista, daria oportunidade para que outro participasse. Ao final dessa fase, tivemos 06 alunos que se comprometeram a participar da pesquisa. A descrição que faço de cada um deles, abaixo, é uma síntese de uma pesquisa de campo que fiz junto aos alunos e seus pais, nas casas onde moram. Vale lembrar que os nomes citados são fictícios e todos moram no Bairro Veraneio Ijal23:

• Ana, 17 anos, estuda em escola estadual. Filha única e mora com os pais. O pai é envolvido com causas sociais dos aposentados e a mãe demonstra um grande interesse pela formação educacional de sua filha. Ana sempre demonstrou um grande interesse pela língua inglesa e seu empenho nos estudos é perceptível por seus educadores. Ana tem planos de ingressar na universidade após os 18 anos e ser engenheira. Entrou no Guri na Roça aos 11 anos de idade e

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reconhece que durante o período que passou na ONG se tornou uma pessoa mais expressiva e desenvolveu melhor sua habilidade de leitura.

• Marta, 17 anos, estuda em escola estadual. Mora com seus pais e mais cinco irmãos. O pai presta serviços em chácaras e a mãe trabalha em casa. Marta gosta de realizar trabalhos artesanais de vários tipos e tem planos de conseguir uma bolsa integral para fazer uma faculdade na área de ciências humanas. Percebe a necessidade da língua inglesa para conseguir emprego. Tanto os pais quanto a aluna reconhecem que as atividades realizadas no Guri na Roça colaboraram para o desenvolvimento da comunicação de Marta. A aluna sempre demonstrou interesse por seus estudos e tem muita facilidade com a língua inglesa. Afirmou valorizar muito a afetividade que encontra na ONG.

• Kássia, 17 anos, estuda em escola estadual. Até há pouco tempo morava com os pais, mas agora está casada e mora com seu esposo na casa que estão construindo no bairro. O casal diz gostar do bairro, mas reclama da falta de saneamento básico e policiamento. O esposo concluiu o Ensino Médio e trabalha em uma empresa próxima a sua casa; a aluna se dedica aos estudos e aos serviços domésticos. Kássia pretende cursar uma faculdade de Letras e dar aulas para crianças. Ambos são envolvidos com trabalhos na igreja durante a semana e finais de semana. Kássia reconhece que as aulas de cidadania, inglês e leitura na ONG a ajudaram a desenvolver sua habilidade comunicativa; e, de acordo com seu relato, valoriza muito o carinho e a confiança que encontra nos professores no Guri na Roça.

• Robson, 16 anos, estuda em escola estadual. Mora com a mãe, com o padrasto e um irmão mais novo; os outros dois irmãos moram com a avó materna. A mãe admira muito o filho e diz ter percebido um desenvolvimento na habilidade de comunicação depois que Robson entrou na ONG. O aluno pretende ser um jogador de futebol profissional. Sua família reconhece que a educação é essencial para que o filho tenha um bom futuro.

• Leandro, 14 anos, estuda em escola estadual. É o segundo filho do total de quatro. Mora com a mãe, o padrasto e dois irmãos. Leandro sempre se destacou nas aulas de língua inglesa na ONG, já demonstrou vontade de ser professor de inglês e agora pretende ser comissário de bordo. Em seu tempo livre, além de se divertir com atividades esportivas, corta cabelo de seus amigos e parentes e

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já considera essa atividade como sua primeira profissão. A mãe espera que o filho consiga ter condições de pagar sua própria faculdade e gostaria de ter condições financeiras para matriculá-lo em uma escola de idiomas.

• Igor, 16 anos. No início desta investigação o aluno estudava em uma escola particular, foi premiado com uma bolsa de estudos pelos diretores da escola, mas no ano seguinte precisou voltar para a rede estadual. Mora com sua mãe e mais três irmãos. Em minhas aulas, é um aluno bem participativo. Com relação a perspectivas profissionais, Igor já disse que pretende ser um desenhista industrial.

Os alunos citados acima são aqueles que inicialmente foram separados para o processo investigativo desta pesquisa; no entanto, antes do início da coleta de dados, Ana e Marta, que participaram da análise de necessidades e expectativas, precisaram deixar as aulas por um bom motivo: conseguiram um emprego no Shopping da cidade de Jacareí. Laís, irmã de Marta, pediu para entrar no grupo. Como demonstrou interesse e comprometimento para participar da pesquisa foi incluída. A análise de necessidades não foi realizada com a aluna porque a primeira unidade didática já estava pronta quando ela começou a frequentar as aulas. Porém, em todos os outros momentos de participação com ideias e críticas a aluna foi incluída. Apresento, a seguir, um pouco mais sobre sua descrição:

• Laís, 17 anos, moradora da cidade de São José dos Campos, ex-moradora do Bairro Veraneio Ijal. Estuda em escola estadual no terceiro ano do Ensino Médio. Mora com seu futuro esposo desde março de 2008, fato que determinou sua saída do bairro Veraneio Ijal e ida para a cidade de São José dos Campos. Seu futuro esposo, que já concluiu o Ensino Médio, é eletricista em um dos Shoppings da cidade. Moram em uma casa que planejam usar como empresa de engenharia e automação. A aluna viaja duas vezes por semana para participar das atividades do Guri. Em minhas aulas, Laís é bem participativa e comunicativa. De acordo com seu relato, sua vontade é cursar uma faculdade de gastronomia.

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