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Análise de uma situação de brincadeira hipotética

CAPÍTULO I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.2 Concepções sobre desenvolvimento infantil

3.3.3 Brincadeiras

3.3.3.1 Análise de uma situação de brincadeira hipotética

As concepções de gênero relativas às brincadeiras, primeiramente, foram abordadas a partir de uma situação hipotética de brincadeira, uma adaptação da situação-problema descrita por Gomes (2006). Cada participante foi questionado sobre quais seriam suas reações nas seguintes situações:

1. Um menino observa atentamente uma menina brincando com um carrinho, manifesta vontade de pegá-lo e pede-lhe o brinquedo.

2. Uma menina observa atentamente um menino brincando com uma boneca, manifesta vontade de pegá-la e pede-lhe o brinquedo.

Além dessa descrição, os participantes foram informados de que ambas as crianças envolvidas tinham, aproximadamente, dois e três anos de idade e estavam em uma situação de brincadeira em que os objetos não pertenciam a nenhuma das duas, mas ao ambiente, como em uma brinquedoteca. Aos pais sugeriu-se que pensassem em seus filhos de acordo com o sexo dos participantes das situações.

A situação 1 só foi apresentada para progenitores de meninas. Além desse grupo, essa questão também foi apresentada para as educadoras. A pergunta 1 iniciava da seguinte forma para os progenitores de meninas: “Um menino observa atentamente sua filha brincando com um carrinho...”. A situação 2 foi apresentada exclusivamente para os progenitores de meninos e para as educadoras. Para os primeiros, a questão foi esta: “Uma menina observa atentamente seu filho brincando com uma boneca...”. Depois de feita a análise das respostas dos participantes, foram extraídas cinco categorias:

1. Não permite que a criança continue com o brinquedo: A situação 1 é relativa às respostas dos pais que disseram não permitir que a menina brinque com o carro, e a situação 2, a não permitir que o menino brinque com a boneca;

2. Permite que quem estiver com o brinquedo continue com ele: No caso da situação 1, refere-se ao fato de a menina continuar com o carro, e a 2, de o menino continuar com a boneca. Nesse caso, o que se destaca é a prioridade de quem escolheu determinado objeto para brincar continuar com ele, qualquer que seja. 3. Compartilha o brinquedo: os adultos estimulam as crianças a dividirem com o

4. Não interferência: os participantes não interferem na relação entre as crianças; 5. Outros: Essa última categoria se refere às respostas dos participantes que não

formaram uma categoria unitária, já que a resposta dada não se repetiu.

Assim como ocorreu com as demais questões, aqui foi analisado se as respostas dos participantes variavam mais em função do sexo da criança, do sexo dos pais ou do nível socioeconômico/educacional deles. Nos três casos, quando as diferenças foram analisadas por ausência e presença de categorias, todas apresentaram apenas uma categoria diferente. Já quando as diferenças foram analisadas em termos percentuais, as maiores diferenças foram encontradas entre os grupos EPU e EPI (103%), porquanto as diferenças por sexo dos pais e por sexo dos filhos apresentaram percentuais de 45% cada.

Análise por sexo da criança

As situações hipotéticas foram analisadas de acordo com o sexo das crianças - se as respostas variavam por serem dadas por pais e mães de meninas ou de meninos. As categorias que surgiam no grupo de progenitores de meninas foram: ‘compartilha o brinquedo’ (30%), ‘não permite que a criança continue com o brinquedo’ (28%), ‘permite que quem estiver com o brinquedo continue com ele’ (25%), e ‘não interferência’ (10%). Já os progenitores de meninos citaram apenas três categorias: ‘não permite que a criança continue com o brinquedo’ (48%), ‘permite que quem estiver com o brinquedo continue com ele’ (25%) e ‘compartilha o brinquedo’ (15%). Verifica-se uma sutil diferença apenas na categoria ‘não interfere’, pois foi citada para meninas (10%), mas não, para meninos.

Análise por sexo dos pais

As situações hipotéticas analisadas a partir dos sexos dos pais tiveram suas categorias distribuídas da seguinte forma: as mães citaram as categorias ‘permite que quem estiver com o brinquedo continue com ele’ (38%), ‘não permite que a criança continue com o brinquedo’ (33%) e ‘compartilha o brinquedo’ (23%), e os pais: ‘não permite que a criança continue com

o brinquedo’ (43%), ‘compartilha o brinquedo’ (23%), ‘permite que quem estiver com o brinquedo continue com ele’ (13%) e ‘não interferência’ (10%). Nesse caso, houve três categorias em comum: ‘não permite que a criança continue com o brinquedo’, ‘permite que quem estiver com o brinquedo continue com ele’ e ‘compartilha o brinquedo’, e uma diferente – ‘não interferência’, citada por 10% dos pais.

Análise por nível socioeconômico/educacional

Em relação à análise por nível socioeconômico/educacional, no grupo de pais e mães de crianças matriculadas em centros de educação infantil públicos, a resposta que mais prevaleceu foi a de que ‘não permite que a criança continue com o brinquedo’ (63%). Um total de 15% respondeu que quem estivesse primeiro com o brinquedo continuaria com ele ou estimularia o compartilhamento.

No grupo de pais que tinham filhos na educação infantil privada, as respostas não variaram da mesma forma, pois a maioria ‘permite que quem estiver com o brinquedo continue com ele’ (35%) ou ‘compartilha o brinquedo’ (30%). As categorias ‘não interferência’ (18%) e ‘não permite que a criança continue com o brinquedo’ (13%) também foram citadas. Percebe-se, então, que, em termos de diferenças entre presença e ausência de categorias, de acordo com a distribuição por nível socioeconômico/educacional, há três categorias em comum e uma diferente.

Apesar de a análise que considera a ausência ou presença de categorias ter apresentado apenas uma categoria diferente nas três formas de análise, em termos percentuais, as maiores diferenças foram encontradas entre os grupos EPU e EPI (103%). Considerando essas diferenças, verifica-se que a maioria do grupo EPU (63%) citou a categoria ‘não permite que a criança continue com o brinquedo’, enquanto que só a minoria do grupo EPI (13%) a citou. As demais categorias – ‘permite que quem estiver com o brinquedo continue com ele’ (15% EPU e 35% EPI), ‘compartilha o brinquedo’ (15% EPU e 30% EPI) e ‘não interferência’

(citada exclusivamente pelo grupo EPI 18%) - foram mais destacadas pelo grupo EPI. Considerando as diferenças intragrupais, no grupo EPU, não houve diferenças entre meninas e meninos superiores a 20%. Já no grupo EPI, isso ocorreu em duas situações: a categoria ‘não permite’ foi utilizada exclusivamente para meninos, e a categoria ‘compartilha o brinquedo’, mais para meninas (40%) do que para meninos (20%).

As educadoras citaram apenas duas categorias: ‘permite que quem estiver com o brinquedo continue com ele’ (50%) e ‘compartilha o brinquedo’ (35%). Considerando as diferenças internas entre as respostas do grupo de educadoras, verifica-se que as educadoras de instituições públicas citaram mais a categoria ‘permite que quem estiver com o brinquedo continue com ele’ (70% público e 30% privada) e só as de instituições privadas mencionaram ‘compartilhar o brinquedo’ (70%).

Não houve diferenças em relação às respostas das educadoras quando foram divididas em relação ao sexo das crianças, pois, de acordo com elas, 50% das educadoras afirmaram para meninas e meninos que “permite que quem estiver com o brinquedo continue com ele”, e 35% responderam “compartilhar o brinquedo” para ambos os sexos.

Tabela 16- Situação de brincadeira hipotética

Público n = 40 Privado n = 40 Educadora n = 40

Menina n=20 Menino n=20 TOTAL Menina n=20 Menino n=20 TOTAL Público n=20 Privado n=20 TOTAL Não permite 11 14 25 0 5 5 2 0 2 55% 70% 63% 0% 25% 13% 10% 0% 5% Continua 3 3 6 7 7 14 14 6 20 15% 15% 15% 35% 35% 35% 70% 30% 50% Compartilha 4 2 6 8 4 12 0 14 14 20% 10% 15% 40% 20% 30% 0% 70% 35% Não interfere 0 0 0 4 3 7 0 0 0 0% 0% 0% 20% 15% 18% 0% 0% 0% Outros 2 1 3 1 1 2 4 0 4 10% 5% 8% 5% 5% 5% 20% 0% 10%

De forma geral, os resultados indicam que, em uma situação em que uma menina brinca com um carrinho, e um menino, com uma boneca, o grupo EPU não permite que a criança manipule um brinquedo que os pais consideram do sexo oposto. Já o grupo EPI e o de educadoras estimulam para que as crianças que estiverem inicialmente com o brinquedo continuem com ele ou o compartilhem.