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CAPÍTULO 3 – ESTUDO I

3.2. Apresentação dos Resultados do Estudo I

3.2.2. Análise Descritiva Preliminar

3.2.2.1. Avaliação da Experiência e do Estímulo Sonoro

Os participantes foram convidados a exprimir a sua opinião quanto à experiência de visualização das obras, e também quanto à música ouvida, estando tal informação contida na Tabela 11 e na Tabela 12. Considerando a amostra agregada, a experiência foi avaliada de forma neutra (M = 3,4), tendo a maior parte dos participantes classificado a sua impressão quanto à mesma no nível 3 ou 4 (68,3%) da escala. Relativamente à música, 4% dos participantes (nos grupos de tratamento com música) afirmaram não

59 se ter apercebido da sua presença (no entanto, segundo Milliman (1982), o papel desempenhado pela música não está dependente do grau em que o consumidor toma consciência desta), enquanto 80% reportaram ter notado a sua presença e tê-la considerado agradável. Em termos relativos, a música Starlight Memories, ouvida no cenário música calma, foi consideravelmente mais apreciada do que a Sunny, ouvida no cenário música mexida. Um teste t-Student (quadro IV-7, no anexo) atestou que as duas composições foram percecionadas de modo diferente pelos participantes dos dois grupos (t(161)

= -3,924; p = 0), confirmando a existência de discrepâncias, anteriormente sugeridas pelo pré-teste 1.

Tabela 11 – Estudo I: Perceções da Amostra quanto à Experiência Visual e Auditiva

N % M (SD)a

Impressão geral quanto à experiência Negativa 43 18,7 3,4 (1,076) Média (neutra) 157 68,3 Positiva 30 13 Total 230 100 Perceção quanto à presença de música Não percecionada 7 4,2 Incómoda 26 15,7 Agradável 133 80,1 Total 166 100

a Escala de Likert de 1, “muito negativa”, a 6, “muito positiva”. M (SD) = Média (Desvio-padrão).

Fonte: Elaboração própria (a partir de outputs do SPSS).

Tabela 12 – Estudo I: Opiniões da Amostra quanto às Peças Musicais Ouvidas

N % M (SD)a

Opinião quanto à música

Sunny

Negativa 21 25,6

3,5 (1,398)

Média (neutra) 45 53

Positiva 16 19,6

Opinião quanto à música

Starlight Memories

Negativa 8 9,9

4,3 (1,267)

Média (neutra) 38 46,9

Positiva 35 43,3

a Escala de Likert de 1, “não gostei nada”, a 6, “gostei muito”. M (SD) = Média (Desvio-padrão).

Fonte: Elaboração própria (a partir de outputs do SPSS).

Analisando as variáveis por grupos de tratamento, pelos reportes relativos às avaliações da experiência (item transversal aos três cenários), denota-se maior homogeneidade entre os grupos com música (2 e 3), tendo sido na presença de música que se registaram as apreciações mais desfavoráveis (quadro IV-

5, no anexo). Nenhum participante do grupo sem música considerou a experiência “muito negativa”,

mas nos grupos 2 e 3 esta foi avaliada dessa forma por 2% e 3% dos indivíduos. Por seu turno, no que concerne a perceção quanto à atmosfera sonora (variável excluída da análise do grupo sem música), a presença de música foi notada pela maioria dos participantes, tanto no cenário música mexida (72%) como no cenário música calma (87%) (quadro IV-6, no anexo). Em relação à opinião pessoal quanto à música, tal como referido anteriormente, são visíveis algumas diferenças entre os grupos 2 e 3, com as opiniões a serem mais favoráveis no cenário com música calma (quadro IV-7, no anexo).

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3.2.2.2. Avaliação da Arte

Após traçado o perfil geral da amostra e analisadas as suas impressões quanto à experiência e quanto aos estímulos sonoros, nesta subsecção são apresentadas as análises descritivas das dimensões afetivas entusiasmo, prazer, gosto/preferência e da dimensão comportamental intenção de compra, que surgem sob a forma de scores médios (Tabela 13), sintetizando as perceções quanto ao conjunto das 16 obras avaliadas (os resultados referentes à sua avaliação individual surgem em anexo, no quadro IV-8).

Tabela 13 – Estudo I: Avaliação da Arte – Scores Médios Globais

N M (SD)a Dimensões Entusiasmo 234 2,8 (0,697) Prazer 234 2,6 (0,642) Gosto/Preferência 234 2,6 (0,660) Intenção de Compra 234 2,1 (0,730)

a Escala de Likert de 1 a 5. M (SD) = Média (Desvio-padrão).

Fonte: Elaboração própria (a partir de outputs do SPSS).

A dimensão afetiva com maior score médio é o entusiasmo (uma medida do nível de estimulação dos participantes perante as obras), situando-se, ainda assim, pouco acima do ponto médio da escala (M = 2,8), sugerindo que estes avaliaram a arte como medianamente estimulante. Quanto à dimensão prazer, o seu score médio situa-se ainda mais próximo do ponto médio da escala (M = 2,6), revelando que os participantes não percecionaram as obras de arte de forma particularmente positiva, nem as avaliaram como globalmente agradáveis. A obtenção de valores tão próximos para estas duas dimensões sugere que a amostra não fez uma forte distinção entre estados afetivos de estimulação e prazer. A dimensão gosto/preferência (uma medida subjetiva do nível de apreço manifestado pelas obras de arte) apresenta um score médio igualmente baixo (M = 2,6), significando que a amostra não expressou uma particular preferência pela arte observada. Por último, a dimensão que traduz as intenções comportamentais foi aquela que registou o score mais baixo (M = 2,1), ou seja, mesmo numa situação de compra hipotética, os participantes manifestaram um reduzido interesse em possuir ou adquirir a arte observada.

Não obstante a análise avançada, estes resultados preliminares não permitem, por si só, retirar ilações relevantes. Na realidade, atendendo a que a presença de música ambiente se assume como o elemento de manipulação central neste estudo, reveste-se de particular interesse a interpretação das dimensões supracitadas numa perspetiva comparativa. Deste modo, na secção seguinte, os scores serão analisado por grupos de tratamento, no intuito de clarificar se a atmosfera sonora terá impactado as perceções e avaliações da arte. Antes disso, visto que o estilo artístico foi conceptualizado como um possível fator moderador do impacto da música no consumidor de arte, importa verificar se os resultados evidenciam a influência do estilo no entusiasmo e no prazer induzidos pela arte, nas preferências, e bem assim nas intenções de compra. Para efetuar tal análise, as perceções quanto às obras avaliadas que fazem parte do espólio figurativo de Paula Rego e do espólio abstrato de Vieira da Silva foram sintetizadas num score médio, para as mesmas quatro dimensões (Tabela 14).

61 Tabela 14 – Estudo I: Avaliação das Obras de Paula Rego e Vieira da Silva – Scores Médios Globais

N M (SD)a t (df) p

Entusiasmo Paula Rego 234 2,6 (0,840) -5,009 (233) 0,000

Vieira da Silva 234 2,9 (0,796)

Prazer Paula Rego 234 2,4 (0,767) -7,482 (233) 0,000

Vieira da Silva 234 2,8 (0,755)

Gosto/Preferência Paula Rego 234 2,5 (0,809) -6,414 (233) 0,000

Vieira da Silva 234 2,8 (0,793)

Intenção de Compra Paula Rego 234 1,8 (0,790) -9,237 (233) 0,000

Vieira da Silva 234 2,3 (0,931)

a Escala de Likert de 1 a 5. M (SD) = Média (Desvio-padrão);

t (df) = Valor do teste t-Student (graus de liberdade); p = Sig. do teste. Fonte: Elaboração própria (a partir de outputs do SPSS).

Para as quatro dimensões da avaliação são visíveis diferenças significativas entre arte figurativa e arte abstrata. As obras de Paula Rego foram consideradas menos estimulantes (M = 2,6 e 2,9) e menos positivas que as de Vieira da Silva (M = 2,4 e 2,8, respetivamente). Foram também menos apreciadas (M = 2,5 e 2,8) e despertaram menor interesse de compra na amostra (M = 1,8 e 2,3). A significância destas diferenças foi confirmadas por testes t-Student, quer em relação ao entusiasmo (t(233) = -5,009; p = 0), prazer (t(233) = -7,482; p = 0) e o gosto/preferência (t(233) = -6,414; p = 0), quer em relação às intenções de compra (t(233) = -9,237; p = 0) (confrontar quadro IV-9, no anexo).

As avaliações da arte foram também comparadas em função dos atributos da amostra, nomeadamente a idade (faixa etária) e o género (ver quadro IV-10, no anexo), bem como em função da frequência de visitas e da familiaridade (capacidade de identificação) com as artistas (ver quadro IV-11). Conclui-se quanto à inexistência de diferenças nos níveis de entusiasmo, de gosto/preferência e nas intenções de compra, entre indivíduos até aos 30 anos e acima dos 50 anos (p > 0,05). O mesmo não se verifica no que concerne à dimensão prazer, onde os participantes na faixa jovem registaram índices de avaliação significativamente inferiores (t(227) = -2,129; p = 0,034). Por outro lado, não são significativas as diferenças na avaliação da arte entre mulheres e homens (p > 0,05), muito embora ao nível da amostra participantes femininas registem índices ligeiramente superiores em pelo menos três das dimensões. Comparando os grupos definidos pela frequência de visitas e pelo familiaridade com a obra de Paula Rego e Vieira da Silva, conclui-se quanto à existência de diferenças nos níveis de entusiasmo, prazer e gosto/preferência entre participantes com diferentes hábitos de visita ou nível de familiaridade com as artistas (p < 0,05), ainda que tais diferenças não sejam expressivas na amostra. No geral, quanto maior a frequência de visitas e o grau de familiaridade, maior entusiasmo e prazer são induzidos pelas obras, e maior a preferência manifestada pelos indivíduos. Todavia, não se concluiu serem significativas as diferenças quanto às intenções de compra (X2(3) = 0,463; p = 0,933 e X2(3) = 1,265; p = 0,738).

3.2.2.3. Recordação da Arte

Analisando os dados recolhidos por meio do teste de memória, constatamos que, no geral, a proporção de respostas corretas (“recordo-me” para obras vistas, “não me lembro” para as não vistas) foi sempre

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superior à proporção de respostas incorretas, como ilustra a Tabela 15, revelando os participantes uma capacidade de memória relativamente boa. Não obstante, são visíveis diferenças entre as duas artistas. Pelos dados da amostra podemos afirmar que os quadros de Paula Rego foram melhor assimilados que os de Vieira da Silva, pois a proporção de indivíduos que recordaram as obras vistas foi superior para a primeira artista (86%) do que para a segunda (77%), assim como foi menor a parcela de indivíduos que as confundiram com as obras não vistas (3,6% para Paula Rego e 12% para Vieira da Silva).

Tabela 15 – Estudo I: Recordação das Obras de Paula Rego e Vieira da Silva

Paula Rego % Vieira da Silva %

Quadros vistos

Recordo-me 86,9 Recordo-me 77,7

Familiar 6,2 Familiar 13,5

Não me lembro 6,9 Não me lembro 8,8

Quadros não vistos

Recordo-me 3,6 Recordo-me 12

Familiar 7,4 Familiar 14,2

Não me lembro 89 Não me lembro 73,8 Fonte: Elaboração própria (a partir de outputs do SPSS).

Esta constatação é suportada pelo valor obtido para os scores de memória (Tabela 16), os quais foram calculados adaptando as instruções avançadas por Cirrincione et al. (2014) (a partir de Taylor et al. (2013)), ou seja, subtraindo a proporção de respostas “incorretas” à proporção de respostas “corretas” (confrontar quadro IV-13, no anexo). Tendo por base estudos anteriores, nos quais foram empregues variantes deste paradigma (ex: Kensinger et al., 2006; Kensinger et al., 2007), considera-se que a dimensão “Recordo-me” traduz a capacidade de memória da amostra para detalhes visuais dos itens observados (reconhecimento específico), a dimensão “Familiar” traduz a recordação mais genérica dos itens observados (reconhecimento não específico), enquanto a dimensão “Não me lembro” traduz a incapacidade de identificação dos itens não observados (não reconhecimento).

Tabela 16 – Estudo I: Recordação da Arte – Scores Médios Globais e por Artista

Score global (M) Score por artista (M) t (df) p

Recordo-me 74,4 Paula Rego 82,8 10,326 (233) 0,000

Vieira da Silva 66,0

Familiar 0 Paula Rego 0 -0,334 (223) 0,738

Vieira da Silva 0

Não me lembro 73,2

Paula Rego 81,3

10,069 (233) 0,000 Vieira da Silva 65,2

M = Média percentual; t (df) = Valor do teste t-Student (graus de liberdade); p = Sig. do teste. Fonte: Elaboração própria (a partir de outputs do SPSS).

Como ilustra a Tabela 16, o maior score “Recordo-me” obtido para as obras de Paula Rego indicia que estas foram melhor recordadas (em termos de reconhecimento especifico). Da mesma forma, o maior score “Não me lembro” revela que a proporção de respostas assinaladas erradamente nesta categoria foi consideravelmente inferior, face ao verificado para as obras de Vieira da Silva. De modo a verificar

63 a significância destas observações, os scores de memória de cada uma das artistas foram comparados com recurso a testes t-Student, os quais confirmaram serem estatisticamente relevantes as diferenças para as categorias “Recordo-me” e “Não me lembro” (ver quadro IV-13, no anexo).Tal significa que a arte figurativa de Paula Rego motivou um maior número de julgamentos corretos de memória, não só “ativa” (t(233) = 10,326; p = 0), como também “passiva” (t(233) = 10,069; p = 0). As obras desta artista foram, portanto, relembradas com maior detalhe (nos que se refere aos aspetos contextuais). Já na categoria “Familiar”, as diferenças nos scores não foram significativas (t(233) = -0,334; p = 0,738), o que significa que os julgamentos de familiaridade (memórias vagas, sem detalhe) reportados pela amostra não diferiram significativamente em função da artista.

Mais uma vez, os resultados apresentados nesta subsecção apenas permitem retirar potenciais ilações quanto à influência do estilo artístico na recordação da arte, revestindo-se de maior interesse a análise dos scores de memória por grupos de tratamento. Antes disso, as recordações da arte foram analisadas em função da idade e género da amostra (ver quadro IV-14, no anexo), bem como da sua frequência de visitas e da familiaridade com as artistas (ver quadro IV-15). Constatou-se que os participantes até aos 30 anos revelaram maior facilidade em identificar corretamente as obras vistas (t(220) = 3,583; p = 0), bem como as não vistas (t(227) = 4,041; p = 0). Por outro lado, conclui-se quanto à inexistência de diferenças nas recordações da arte em função do género, frequência de visitas ou familiaridade com as obras (p > 0,05), tendo homens e mulheres e indivíduos com diferentes hábitos de visita a exposições ou diferente familiaridade com as artistas revelado, em média, idêntica capacidade para identificar corretamente, quer as obras vistas, quer as obras não vistas anteriormente.