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CAPÍTULO 3 – ESTUDO I

3.1. Conceção da Investigação Empírica

3.1.3. Descrição do Procedimento Aplicado

Seguindo de perto a metodologia de Cirrincione et al., (2014) o estudo I foi operacionalizado por meio de um procedimento experimental conduzido em “laboratório” – simulações simplificadas do cenário de uma exibição de arte visual. Os participantes foram alocados aleatoriamente a cada cenário testado, cujas condições foram aplicadas numa base diária e replicadas, quatro vezes cada, intermitentemente durante um período de 12 semanas, entre os meses de dezembro (2014), janeiro e fevereiro (2015). Ao contrário de Cirrincione et al. (2014), a participação dos indivíduos foi feita em ambiente coletivo e em simultâneo, não de forma isolada. De fato, o consumo de arte, nos moldes em que é perspetivado neste estudo, é visto como um ritual de cariz social, e no qual as atitudes dos consumidores tendem a espelhar o fato de este ser realizado em conjunto com outros (Evard e Colbert, 2000). Inclusivamente, visitas a museus ou galerias são muitas vezes feitas em grupo, não sendo invulgar que a abordagem às obras exibidas ocorra em interação com outros visitantes, resultando em trocas verbais ou não-verbais, que podem afetar o modo como a experiência é vivida e apreendida (Dirsehan, 2012). Por essa razão, numa tentativa de replicar com maior rigor o ambiente de uma exibição artística, os indivíduos deram o seu contributo inseridos num espaço comum, e em conjunto com os outros participantes.

A operacionalização da experiência, com duração de cerca de 30 minutos, foi dividida em duas fases: avaliação e teste de memória. Para garantir a utilidade dos dados recolhidos, procedeu-se sempre, nos instantes iniciais de cada sessão, à explicação detalhada dos pressupostos do estudo, no intuito de se assegurar a inexistência de dúvidas por parte dos participantes.

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Em termos práticos, foi-lhes pedido que atentassem à projeção de uma sequência aleatória de 16 obras de arte (imersos num ambiente caracterizado pela ausência de música, pela presença de música mexida ou de música calma), imaginando que se encontravam fisicamente no cenário de uma exposição. De referir que a atmosfera sonora foi a única dimensão manipulada para efeitos do estudo (as condições visuais e olfativas das salas onde foi aplicado o procedimento foram preservadas, e nem a temperatura, nem os elementos sociais foram modificados). Cada obra foi projetada durante 60 segundos, o tempo que a audiência dispunha para a apreciar. Naturalmente, limitações logísticas impediram a replicação de todas as condições inerentes à experiência em espaços de arte; a possibilidade de contemplação das obras por tempo ilimitado foi um dos aspetos impossíveis de salvaguardar. Não obstante, acredita-se que o tempo concedido aos participantes terá sido o suficiente, face aos propósitos do estudo.

Nesta fase, os participantes procederam à avaliação da arte, tendo sido instruídos a responder às quatro primeiras questões do questionário que lhes foi distribuído. Foi-lhes solicitado que as questões fossem respondidas durante apreciação da arte (e não posteriormente), tendo em conta que, em estudos deste cariz, segundo Yalch e Spangenberg (2000), a recolha dos dados deve ser feita enquanto os indivíduos estão a reagir aos estímulos sob manipulação. A primeira fase do procedimento durou sensivelmente 20 minutos. Na segunda fase, iniciada de imediato e terminada ao fim de 10 minutos, a memória dos participantes foi testada, tendo-lhes sido pedido que visualizem um novo lote de imagens (32, no total, em suporte de papel) e que, de entre elas, identificassem as 16 “repetidas” (em relação à fase anterior) e as 16 “novas”. O objetivo passava por aferir se o ambiente musical afetaria a sua recordação, daí que estes não tivessem sido previamente informados de que a sua capacidade de memória seria testada.

3.1.3.1. Os Estímulos Visual e Sonoro

No estudo foram usadas um total de 32 imagens, representativas de 16 pinturas realistas de Paula Rego (arte figurativa) e de 16 pinturas abstracionistas de Vieira da Silva. Um pré-teste inicial avançou que as obras de Paula Rego serão mais congruentes com a música Starlight Memories e incongruentes com a Sunny, enquanto as obras de Vieira da Silva serão congruentes com a música Sunny e incongruentes com a Starlight Memories. Para a fase da avaliação, foram aleatoriamente escolhidos oito quadros por artista, tendo cada participante visualizado um total de 16 imagens, com igual dimensão aproximada, e misturadas entre si, numa ordem aleatória mas fixa. As restantes obras (oito por pintora) surgiram na fase do teste de memória (apresentando também igual dimensão aproximada e estando dispostas numa ordem fixa e aleatória), para por à prova a capacidade dos participantes as distinguirem das observadas na fase anterior (para um enquadramento mais completo, os anexos 2.4.1 e 2.4.2 reproduzem as obras usadas na experiência, e os anexos 2.6.1 e 2.6.2 uma sucinta biografia das duas pintoras).

A utilização particular da obra das duas artistas referidas não se ficou a dever apenas à sua importância no panorama nacional, mas também às diferenças no seu estilo artístico. Alguns estudos sugerem que diferentes estilos podem gerar diferentes perceções e reações afetivas à arte, diferenças que podem ser

45 explicadas pelo nível de complexidade a eles associados. Em teoria, arte visualmente menos complexa está associada a observações mais amplas e a movimentos mais rápidos e curtos; pelo contrário, maior complexidade exige movimentos visuais lentos e prolongados, já que a maior exigência em termos de interpretação obriga a uma maior fixação visual dos elementos simbólicos que a compõem (Uusitalo et al., 2012). Face ao exposto, tendo em conta que a arte representacional e a arte abstrata diferem na sua composição e conteúdo, é expetável que possam evocar respostas diferenciadas nos indivíduos. Neste âmbito, o objetivo da utilização de obras de Vieira da Silva e Paula Rego passou também por fornecer contributos para a compreensão da forma como o estilo pode molda a perceção e memorização da arte. Por outro lado, as músicas que acompanharam a visualização da arte (nos dois cenários com música), pretendendo simular música ambiente no cenário físico de uma exposição, foram difundidas de forma a poderem ser ouvidas uniformemente por todo o espaço. O seu volume foi mantido constante durante o procedimento, e para que fossem percecionadas apenas como música de fundo (claramente audível). Tal como referido, foram usadas duas peças musicais, escolhidas por meio de um pré-teste (descrito no subcapítulo seguinte), que determinou a sua (in)congruência com a arte das duas pintoras: a música Sunny, do artista Jazeboo (com 120 BPM, foi usada para criar o cenário “música ambiente mexida”) e a música Starlight Memories, de Dennis Kuo (com 88 BPM, foi utilizada para criar o cenário “música ambiente calma”). Ambas as peças musicais apresentam natureza exclusivamente instrumental, tendo- se garantido, desse modo, um maior controlo sobre os resultados, e foram tocadas ininterruptamente durante a exposição às obras, na fase de avaliação, ou seja, por um período de 16 minutos.