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Análise descritiva da Violência, Clima Organizacional e Burnout numa Amostra

de Enfermeiros Portugueses

Tomás, C.C.*

Resumo

Evidências científicas levam à conclusão de que os enfermeiros são uma das classes profissionais que mais sofre de stresse laboral, havendo relações já provadas entre esses níveis, e os níveis de percepção do clima organizacional e acontecimentos violentos. Realizou-se um estudo descritivo-correlacional, com as variáveis clima organizacional, acontecimentos violentos e Burnout, nos enfermeiros que prestam cuidados nas unidades de ambulatório do Instituto da Droga e da Toxicodependência, I.P.. Tendo sido percebidas diferenças matemáticas entre as várias regiões do país, no que respeita aos níveis das variáveis estudadas, aplicaram-se testes de significância. Percebeu-se que existem diferenças estatisticamente significativas nestes níveis entre as várias regiões.

Palavras-chave: Clima Organizacional, Acontecimentos Violentos, Burnout, Enfermeiros

Abstract

Scientific evidences had lead to the conclusion that nurses are one of the professional classes who suffer most from stress at work, having already been proved a relation between the levels of stress, and the levels of perceived organizational climate and the occurrence of violent events. A descriptive-correlational study was realised with nurses who provided care in outpatient units of the “Instituto da Droga e da Toxicodependência, I.P.”, with the organizational climate, violent events and Burnout variables. We applied tests of significance after notice math- ematical differences in terms of variables levels, between the various regions of the country. It was noticed that there are significant differences in these levels between the various regions.

Keywords: Organizational Climate, Violent Events, Burnout, Nurses

Introdução

Novos riscos psicossociais, emergentes das reformas laborais e organizacionais a que se tem assistido nos últimos anos, são, por vários autores associados a um aumento de stresse e Burnout laboral. A classe de enfermagem, em Portugal, nomeadamente, não se exceptua desta realidade, e tem também sofrido com as alterações impostas pela evolução. A acrescer a isto, o risco de violência, quer física, quer verbal, a que os enfermeiros estão expostos diariamente no seu trabalho, por parte de utentes e usuários dos serviços de saúde, incrementa o risco de sofrer de stresse laboral.

Metodologia

Os resultados aqui apresentados, respeitam a um estudo realizado, de tipo quantitativo, descritivo-correlacional, em que se utilizaram como variáveis a percepção do clima organizacional (que comporta dez subescalas, agru- padas em três dimensões), níveis de acontecimentos violentos (subdivididos em duas dimensões), e níveis de

Burnout (nas suas três dimensões definidas por Maslach), nos enfermeiros que prestavam cuidados nas unidades de ambulatório (Centros de Respostas Integradas) do Instituto da Droga e da Toxicodependência, I.P., à data da aplicação dos questionários (Julho e Agosto de 2010).

O questionário utilizado constituí-se de quatro partes: Work Environment Scale (elaborada por Moos, 1986, e traduzida e adaptada à população portuguesa por Louro, 1995); escala de avaliação de acontecimentos violentos; Maslach Burnout Inventory – General Survey (elaborada por Schaufeli, Leiter, Maslach e Jackson, 1996, e tra- duzida e validada para a população portuguesa por Nunes, 1999); e questões de caracterização socioprofissional. O questionário foi aplicado a toda a população, sendo que 91 dos enfermeiros responderam de forma válida, constituindo assim a amostra.

Com o objectivo de perceber se as diferenças encontradas entre regiões do País (regiões delimitadas pelas Del- egações Regionais do referido Instituto: Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve), relativamente aos níveis das variáveis em estudo, são ou não estatisticamente significativas, aplicaram-se testes de significância (One-Way ANOVA e Tukey). A probabilidade máxima admitida para ocorrência de Erro Tipo I foi de 0,05.

Análise dos Resultados

De forma global, os valores mais baixos de percepção de clima organizacional respeitam à região norte. A região de Lisboa e Vale do Tejo apresenta os níveis mais satisfatórios de percepção do clima organizacional, com excep- ção do conforto físico. Em relação aos acontecimentos violentos, verifica-se um aumento do nível de aconteci- mentos violentos no geral, das ameaças e dos ataques no sentido sul-norte. As regiões do Algarve e do Alentejo registam os valores mais baixos de violência, seguidas da região de Lisboa e Vale do Tejo, sendo a região Centro e, em particular, a região Norte, as que apresentam níveis de violência mais elevados. Os níveis de exaustão emo- cional e física e de cinismo elevam-se também no mesmo sentido (sul-norte), e os níveis de eficácia profissional elevam-se no sentido contrário (norte-sul). Perante estas diferenças matemáticas, aplicados os testes de significân- cia, obteve-se que as variações regionais nos valores da percepção do apoio do supervisor, da autonomia, da pressão no trabalho e do conforto físico, bem como nos níveis de exaustão física e emocional, e eficácia profis- sional, são significativos, em particular, entre algumas das regiões.

Discussão dos Resultados

Os níveis de percepção do clima organizacional mais baixos respeitam à região Norte do país, bem como os níveis mais altos de acontecimentos violentos, o que se reflecte, consequentemente em níveis mais elevados de Burnout nesta região, o que vem de acordo com alguns estudos já realizados (Queirós, 2005, Loureiro et al., 2008, Durais- ingam et al., 2007, Pires, Mateus, Câmara, 2004). Não tendo sido apuradas as causas das diferenças de percepção do clima organizacional ou dos níveis de acontecimentos violentos entre regiões, parece-nos que as mesmas se possam dever, em parte, a diferenças de gestão e ao volume de trabalho e de utentes bastante superior nas regiões onde os valores encontrados foram menos satisfatórios.

Conclusões

Na população estudada, os níveis de percepção do clima organizacional decrescem na direcção sul-norte, ao mesmo tempo que se elevam os níveis de acontecimentos violentos, bem como os níveis de Burnout. Parte destas diferenças entre regiões são estatisticamente significativas. Impõe-se, depois de realizada esta análise, a necessi- dade de perceber de forma exacta quais as causas que levam às diferenças entre regiões, dos valores das variáveis estudadas, bem como quais as estratégias que poderão ser adoptadas no sentido de promover um ambiente de trabalho saudável, isento de riscos e promotor da saúde e bem-estar dos enfermeiros.

Referências Bibliográficas

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LOUREIRO, H.; et al. – Burnout no trabalho. Referência, n.º 7 (2008), p. 33-41.

PIRES, Sandra; MATEUS, Rosa; CÂMARA, Jorge (2004) – Síndroma de Burnout nos Profissionais de Saúde de um Centro de Atendimento a Toxicodependentes. Toxicodependências, Vol. 10, n.º 1 (2004), p. 15-23.

Sintomatologia ansiosa e depressiva no

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