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2.1 CONCEITUAÇÕES DE COMPORTAMENTO VERBAL

2.1.2 Análise do Comportamento verbal e o estudo da linguagem

Vários estudos produzidos a partir das ciências do texto buscaram analisar o

fenômeno da linguagem em sua dinâmica e múltiplas manifestações. Skinner,

entretanto, aponta que um dos aspectos fundamentais no estudo da linguagem é

concebê-la como comportamento e, sob esta perspectiva, afirma que tal estudo deve

ocorrer a partir da ciência comportamental:

A responsabilidade final caberá às ciências do comportamento e

particularmente à Psicologia. O que ocorre quando um homem fala

ou responde a uma fala é claramente uma questão relativa ao

comportamento humano e, portanto, uma questão a ser respondida

com os conceitos e técnicas da psicologia enquanto ciência

experimental do comportamento (1957/1978, p. 7).

O estudo científico do comportamento verbal, segundo Skinner, parece não

ser difícil à primeira vista. Explicando a questão, afirma que a constituição do mesmo

como objeto de estudo é facilitada por ser de fácil acesso, há abundância de

material, uma vez que os seres humanos estão sempre o utilizando, trata-se de um

comportamento real, pois apesar de utilizar da representação é uma ação específica

do sujeito acessível às outras pessoas e o fato de existir a escrita ajuda

significativamente para que haja o seu registro.

De acordo com Skinner (1957/1978, p. 5), o que pode ser visto na história do

desenvolvimento dos estudos da linguagem é que pouca atenção se deu a uma

análise funcional ou causal. Apesar das contribuições até da Psicologia nesse

sentido, o fato é que nunca se organizou sistematicamente um estudo com tais

propósitos.

Com a doutrina da expressão das ideias, outrora utilizada com bastante

frequência, acreditava-se que o organismo por si mesmo era capaz de gerar a

linguagem (SKINNER, 1957/1978, p. 7). Nessa direção, dependendo do tipo de

pensamento que o sujeito tivesse, sua linguagem seria determinada por ele. Caso a

pessoa tivesse determinado tipo de ideia, sua linguagem expressaria claramente o

que se estava pensando. No caso de pessoas com dificuldades em expressarem

seu pensamento, talvez suas ideias estivessem bastante desarticuladas ou mesmo

apresentaria poucas possibilidades de expressão naquele dado idioma ou no campo

semântico do indivíduo.

Apesar do foco deste tipo de análise ser a busca da causa do

comportamento verbal, os resultados deste tipo de análise não gozavam de

credibilidade científica na visão de Skinner. Um dos argumentos utilizados por ele é

de que as ideias expressas através dos sons da fala não podem ser vistas de forma

independente. Em outras palavras, não é possível separar, hermeticamente,

pensamento e linguagem. Por outro lado, tanto o que é classificado como linguagem

como o que é classificado como pensamento operam sob as mesmas leis

comportamentais.

Outras formas de explicações causais para o comportamento verbal

também já foram utilizadas, como o recurso à imagens mentais, ao significado, etc.

Contudo, na visão skinneriana, o grande problema destas tentativas de explicação é

que elas partem do princípio de que a fala tem uma existência independente do

comportamento do sujeito:

As palavras são encaradas como ferramentas ou instrumentos,

análogos a marcas, fichas ou bandeiras de sinalização que são,

algumas vezes, empregadas para fins verbais. É verdade que o

comportamento verbal comumente produz entidades objetivas. A

gravação de uma fala, as palavras numa página, os sinais

transmitidos por telefone ou telégrafo são registros produzidos pelo

comportamento verbal. Como fatos objetivos, todos eles podem ser

estudados, como já o foram ocasionalmente, pela linguística, pela

engenharia de comunicações, pela crítica literária e por outras

disciplinas. Mas embora as propriedades formais dos registros das

expressões vocais sejam interessantes, temos de preservar a

distinção entre uma atividade e seus traços. Devemos,

particularmente, evitar a formulação artificial do comportamento

verbal como "uso de palavras". Não temos maiores razões para dizer

que um homem "usa a palavra água" ao pedir para beber do que

para dizer que ele "usa um instrumento de alcance" ao pegar o copo

oferecido (SKINNER, 1957/1978, p. 8-9).

Pelas formulações conceituais de Skinner, evidencia-se que sua busca é

por fatores funcionais da linguagem que sirvam, cientificamente, para explicar a

existência do comportamento verbal. A análise funcional gozaria, então, de um

status científico neste estudo, cujos resultados poderão apresentar variáveis que

sejam possíveis de medidas e de manipulação. Para tal desígnio, faz-se necessário

rejeitar a formulação considerada tradicional de explicação do comportamento verbal

em termos de significado, uma vez que ela não consegue oferecer resultados

efetivos no caso de uma ciência do comportamento.

A partir de seus estudos experimentais, Skinner apresentou passos

importantes a serem considerados no que se refere ao estudo do comportamento

verbal sob a metodologia de uma ciência comportamental. Ele começa apontando

que é fundamental para a elaboração de uma topografia deste tipo de

comportamento a realização de um estudo descritivo em que apresentará ação em

sua forma de manifestação (SKINNER, 1957/1978, p. 4).

Em seguida, vem o estágio da explicação. Em que o objetivo será identificar

os motivos pelos quais aquele comportamento ocorre. Para tal, faz-se necessário

investigar de que variáveis aquele comportamento é função, ou seja, com que

fatores ambientais ele mantém uma relação de dependência. Apenas após a análise

destes fatores, torna-se possível um estudo mais acurado no tocante ao quadro

apropriado do comportamento como um todo.

No contexto da análise de um episódio verbal, Skinner destaca que é de

fundamental importância considerar o comportamento do ouvinte também.

Principalmente, na relação com a ação verbal do falante. Um se torna ambiente para

o outro sob a égide de uma contingência. Além disso, o próprio falante é também um

ouvinte de sua própria verbalização e, desta forma, reage de diferentes modos ao

que fala (SKINNER, 1957/1978, p. 12).

Para aquelas que colocam o foco da análise do comportamento verbal na

análise exclusiva no significado das palavras, Skinner afirma que este não é uma

propriedade da verbalização em si, mas das condições sob as quais o

comportamento ocorre (SKINNER, 1957/1978, p. 15). Expressando em termos

técnicos, pode-se dizer que a busca dos significados tem o seu lugar junto às

variáveis independentes num contexto de uma explicação funcional, não

simplesmente como sendo parte da variável dependente. À guisa de exemplo,

quando uma pessoa afirma que é capaz de perceber os significados de determinada

frase, ela está demonstrando que consegue inferir acerca de algumas das variáveis

das quais a resposta é uma função (SKINNER, 1957/1978, p. 15).

Mesmo que uma pessoa possua uma série de palavras aprendidas, o uso e

a combinação delas dependerá das consequências que se quer produzir. Isto implica

dizer que a dinâmica do repertório verbal de alguém não pode ser analisada

profundamente sem a consideração do que se quer provocar no ouvinte ou leitor.

Justamente para a tentativa de manipulação destes efeitos é que existem diversos

recursos linguísticos e de retórica.

2.1.3 Contraposições de Noam Chomsky à visão skinneriana de comportamento