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2.1 CONCEITUAÇÕES DE COMPORTAMENTO VERBAL

2.1.3 Contraposições de Noam Chomsky à visão skinneriana de comportamento

O linguista norte-americano Noam Chomsky foi um dos estudiosos da

linguagem que reagiu às concepções de Skinner sobre o comportamento verbal. Ele

escreveu uma resenha na qual apresenta seus principais argumentos apontando,

em sua interpretação, várias fragilidades da obra “Verbal Behavior”.

De acordo com Bandini e Rose (2010, p. 21), devido à complexidade da

abordagem behaviorista radical, muitos leitores da obra de Skinner sentem

dificuldade em entender adequadamente suas proposições teóricas e

metodológicas. Com a obra “Comportamento Verbal” não teria sido diferente, pois

muitos tentaram enquadrá-la na visão inicial do behaviorismo de Watson, como

sendo a linguagem apenas resposta ao meio, sob o paradigma Estímulo-Resposta.

Diversas críticas vieram também de linguistas e psicólogos ligados a

abordagem cognitiva. Neste campo, encontram-se as críticas de Chomsky. Para ele,

a principal fragilidade dos conceitos de Skinner sobre o tema está relacionada com a

questão da geratividade da linguagem (CHOMSKY, 1959, p. 150).

Chomsky afirma que o conceito de representação, rejeitado por Skinner, é

perfeitamente possível de ser estudado sob o ponto de vista científico, uma vez que

a capacidade de representar é um processo mental resultante da atividade cerebral.

É bem verdade que o pensamento dos dois autores parte de pressupostos

científicos diferentes, é o que afirma Bandini e Rose (2010, p. 21).

Essa rejeição ao chamado “mentalismo” por parte dos behavioristas não

iniciou com o Behaviorismo Radical, na verdade, ainda no início do século XX, ela já

havia influenciado a Filosofia, a Linguística e a Antropologia (GARDNER, 2003,

p.19). O ponto de partida behaviorista fundamental era de rejeitar o método

introspectivo e conceituações abstratas como as relacionadas à categoria “mente” e

a análise das representações inconscientes.

Em reação também a estas considerações behavioristas, autores como

Chomsky afirmavam a necessidade de que a ciência também tratasse do tema da

representação, considerando o uso de símbolos e de imagens mentais. Por esta

lógica, era imprescindível descobrir como as representações mentais resultavam nos

processos linguísticos e, além disso, o papel da Biologia, considerando-se que

vários destes processos eram inatos (BANDINI; ROSE, 2010, p. 29).

O aspecto central da crítica de Chomsky, a geratividade da linguagem,

apontava para o fato de que não era possível explicar aquisição da linguagem, por

exemplo, apenas pela interação do sujeito com o ambiente. Tanto que uma criança

era capaz de falar muito mais sentenças do que lhe havia sido ensinado. Isso

indicaria que fatores intraorganísmicos estariam na base desta aquisição

(CHOMSKY, 1959, p. 35).

Evidencia-se ainda mais as diferenças de explicação entre estes dois

autores. Enquanto Chomsky partia do pressuposto de que a geratividade da

linguagem estava relacionada com causas internas que iam do processamento

mental ao desenvolvimento neurológico, Skinner partia de outro pressuposto que era

a história da relação do sujeito com o seu ambiente, considerando todo o histórico

de reforçamento e modelagem que a comunidade verbal oportuniza ao sujeito. Isso

fez com que a teoria skinneriana fosse vista por Chomsky como aplicável apenas ao

estudo dos animais. (BANDINI; ROSE, 2010, p. 29).

Além disso, Chomsky apontou fragilidades nos procedimentos

metodológicos desta abordagem. Pode-se resumir em duas principais questões.

Para ele, de modo geral, os resultados obtidos, um estudo realizado em laboratório

sob um rígido controle, não serão os mesmos fora de tais condições. Em outras

palavras, tal metodologia não se aplica bem ao objeto de estudo em questão, a

linguagem, que não tem como ser rigorosamente controlada num laboratório e/ou

fora dele. A outra crítica feita por ele foi que resultados de pesquisa com animais não

poderiam ser atribuídos também a outras espécies (CHOMSKY, 1959, p. 40).

Chomsky ainda questiona o seguinte: se um dado comportamento operante

ou uma classe de respostas é mantida por suas consequências, como seria possível

explicar aquelas respostas emitidas pela primeira vez antes mesmo de se receber

qualquer tipo de reforçamento?

De acordo com Bandine e Rose (2010, p. 35-36), as respostas behavioristas

a todas estas questões podem ser dadas revisando cuidadosamente o livro

“Comportamento Verbal”. Quanto às últimas questões aqui apresentadas, pode-se

perceber nas definições de Skinner sobre o operante verbal tato que o sujeito fica

sob controle, inicialmente, dos estímulos ligados à propriedade do objeto descrito.

Algumas produções literárias também são feitas como forma de crítica ao sistema

econômico e político e podem ser sim produzidas mesmo que o estímulo reforçador

não se faça presente com a imediaticidade que se deseja.

Para a crítica central, apresentada anteriormente, e, partindo do princípio de

que para o Behaviorismo nenhum comportamento surge “do nada” ou é produto de

algo puramente abstrato, Skinner salienta que é possível que uma pessoa tenha um

vocabulário maior do que aquele que foi tecnicamente ensinado em função do que

chamava de “recombinação de unidades funcionais”. Assim sendo, uma resposta

verbal maior poderia ser o resultado de uma combinação de respostas menores

presentes no repertório do sujeito (BANDINI; ROSE, 2010, p. 21).

Dessa forma, se uma pessoa havia aprendido uma determinada quantidade

de sílabas seria possível que ela conseguisse recombiná-las em vista do alcance de

novos objetivos. Poderia até mesmo ler novas palavras mediante o uso destas

recombinações e assim ampliar o seu repertório verbal.

Outro tipo de causa poderia ser a recombinação de respostas verbais, que

seria a junção de dois operantes que possuíssem a mesma força, ao mesmo tempo

e que se uniriam como uma nova resposta, mas de forma distorcida. Neste caso,

poderiam ser criados os chamados “neologismos” que passariam a ser reforçados

pelo ouvinte (BANDINI; ROSE, 2010, p. 37).

Além dos motivos apresentados, Skinner trabalhava com o conceito de

modelagem comportamental. Esta consistia, conforme visto no capítulo primeiro, em

sucessivos reforçamentos de respostas semelhantes ao comportamento ideal a ser

atingido. No processo da aquisição da linguagem, por exemplo, a criança que emite

sons como “ma, ma, ma...” vai sendo estimulada, através de sorrisos e palmas, por

exemplo, a que consiga cada vez melhor dizer: “mamãe”. A capacidade dela de

pronunciar a palavra de modo correto não foi resultado de uma entidade mental

abstrata, mas de estimulações e reforçamentos seguidos que aos poucos a

modelaram.

Não obstante as diferenças apresentadas entre estes dois autores, o debate

em torno da geratividade da linguagem está longe de ser encerrado. As

contribuições teóricas tanto da abordagem cognitiva quanto do Behaviorismo

contribuem para enriquecer a compreensão deste fenômeno bem como para

evidenciar a complexidade do assunto. Mesmo com enfoques e pressupostos

diferentes, os dois autores reconhecem no tema da linguagem a sua dinamicidade e

a impossibilidade de reduzir o seu estudo apenas a uma área de conhecimento. Tal

fato favorece que outras pesquisas com um enfoque diverso possam contribuir com

o debate.