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Análise do Desenvolvimento de Competências Profissionais em Sistemas de

2.4 RESULTADOS DA PESQUISA

2.4.1 Análise do Desenvolvimento de Competências Profissionais em Sistemas de

A análise do desenvolvimento da temática de Competências Profissionais em Sistemas de Informações Contábeis ao longo dos anos (objetivo específico 01) é divida em dois produtos: (1) distribuição dos artigos por ano e, (2) evolução temporal sobre a temática. Os dados são obtidos a partir de dois principais objetos de análise: ano de publicação dos artigos e leitura completa do conteúdo do artigo. As informações são comparadas a outros dados obtidos pela amostra no momento de refinamento das unidades de análise (artigos relacionados a SIC) e também demais informações pertinentes evidenciadas ao longo da pesquisa.

2.4.1.1 Distribuição dos artigos de CPSIC por ano

A distribuição dos artigos por ano evidencia uma tendência crescente do assunto de CPSIC - em especial nos últimos 5 anos - como pode ser observado na Figura 2.6. Dos 18 artigos, 72% foram publicados nos últimos 5 anos, sendo 77% destes nos últimos 2 anos (06 em 2017 e 04 em 2018). Ampliando-se a visão para todos os artigos de SIC (638) encontrados na etapa de classificação da mesma amostra, é possível observar que o crescimento do assunto de CPSIC segue a mesma tendência de SIC, em especial nos últimos 15 anos.

Figura 2.6 – Tendência de publicação crescente dos artigos de CPSIC

Fonte: elaborado a partir dos dados de pesquisa (2020)

O primeiro artigo que aborda sistemas de informações contábeis (na amostra em questão) é datado de 1964, porém, foi mais de 20 anos depois que houve o marco em relação a CPSIC, em 1988. Antes dessa data, havia muitos artigos que tratavam sobre como sistemas de informações contábeis deveriam estar inseridos nos currículos contábeis e metodologias de ensino, além de várias experiências de ensino-aprendizagem envolvendo a temática. Os estudos evidenciaram a importância profissional de SIC, mas ainda sem estreita relação com competências profissionais. Isso também se deve ao fato da maturidade do conceito de competência profissional que foi mais bem disseminado na área de negócios a partir da obra de Boyatizis (1982). Dessa forma, o conceito foi se desenvolvendo até chegar na literatura contábil e ainda é utilizado, muitas vezes, de forma subjetiva nos artigos analisados ao abordarem habilidades dos profissionais necessárias ao mercado. Cabe destaque que nenhum dos artigos desta amostra dedicou-se a explicar o termo competência profissional ou delimitá-lo para sua pesquisa. A próxima subseção é destinada a compreender a evolução temporal da temática de CPSIC.

2.4.1.2 Evolução temporal sobre a temática de CPSIC

Para a presente análise os artigos da amostra foram lidos e analisados de forma temporal crescente, e da mesma forma é apresentado a seguir. O marco teórico da literatura de CPSIC data da década de 80, em 1988. Wan e Choo (1988) questionaram universitários e profissionais que lidavam com sistemas de informações contábeis a respeito da importância de aprender determinados tópicos de SIC para desenvolver suas habilidades no mercado. Os entrevistados precisaram escolher entre “necessário”, “opcional” ou “desnecessário” para 15 tópicos e, a

0 2 4 6 8 10 0 20 40 60 80 100 1964 1969 1974 1979 1984 1989 1994 1999 2004 2009 2014 2019 SIC [n=638] CPSIC [n=18]

maioria deles foram considerados necessários; nenhum dos tópicos foi considerado desnecessário pela maioria dos entrevistados; e, nota-se também que a análise e o processamento tecnológico de dados já se mostravam relevantes para os profissionais que se dedicavam a Sistemas de Informações Contábeis naquela época.

Na década de 90, dois artigos foram publicados em relação a CPSIC. O primeiro, de Baldwin-Morgan (1995) tem a inteligência artificial como temática central de seus estudos. O autor aborda que havia um uso crescente de sistemas especialistas em áreas contábeis (bem como na indústria e no governo), indicando a necessidade de contadores acompanharem essa demanda de mercado e desenvolverem tal conhecimento. Já Theuri e Gunn (1998), apresentam em sua pesquisa habilidades que o empregador deseja de profissionais contábeis em relação a SIC e entende que há uma lacuna entre o que é ensinado na universidade e as expectativas do mercado. Os autores abordam também a necessidade do trabalho em conjunto entre mercado e academia na diminuição da lacuna dos futuros profissionais. Nota-se, até então, uma preocupação com o desenvolvimento de habilidades tecnológicas emergentes na área de sistemas de informações contábeis para os profissionais.

Dos anos 2000 a 2010, apenas um artigo mostrou-se relevante para análise em se tratando de CPSIC. Ismail (2009) declara que a tecnologia da informação impôs maior demanda de contadores com habilidades e conhecimentos em SIC. Em seu estudo os avanços são abordados também em relação às declarações da IFAC (Federação Internacional de Contabilidade). O autor afirma ainda a meta de que o contador se torne um profissional híbrido, capaz de compreender a TI no nível de alinhamento estratégico e aplicar tais avanços de forma a entregar valor para a organização. É possível perceber que é uma década em que a tecnologia avança de forma exponencial nas organizações e que o contador é necessário como um profissional mais analítico, e menos mecânico (BELFO; TRIGO, 2013).

A partir de 2010 e até 2015, mais dois artigos foram publicados sobre a temática. O foco de tais artigos é na necessidade do contador gerencial. Lallo e Selamat (2013) apresentam um

framework para desenvolvimento de conteúdo para cursos com SIC, evidenciando a

necessidade do mercado como uma das variáveis independentes na construção do framework, evidenciando os conhecimentos centrais, conhecimentos do ambiente de negócio e as habilidades pessoais/interpessoais. O estudo de Stanciu e Bran (2015) tem como base o fato de as organizações atuarem em um ambiente dinâmico e complexo. Os autores mapearam habilidades genéricas (como habilidades de aprendizado e pensamento; de reflexão; interpessoais; de criatividade) e técnicas (trabalho em equipe; solução de problemas; analíticas) que os contadores devem possuir para lidarem nesse novo mercado, mais tecnológico e

dinâmico. Os autores também apresentam que há um debate sobre a maneira mais apropriada de obter tais habilidades, visando melhorar o ensino de contabilidade, em especial de sistemas de informação contábil. Nesse sentido, há uma ênfase no uso de estudos de caso e projetos de grupo.

E são nos últimos quatro anos onde há maior incidência de publicações a respeito de CPSIC (67% da amostra). Em 2016, dois artigos foram publicados. Gamage (2016) concentra seu estudo em big data e contabilidade, aborda aspectos gerais a respeito do conceito e seus efeitos na profissão contábil. O autor também destaca as habilidades necessárias aos profissionais para atuarem em um mercado centrado em dados massivos ("como adotar novas formas de dados e maneiras criativas de incorporá-las à tomada de decisões de negócios"; "explorar novas maneiras de interpretar os dados para melhor informar a gerência”). Já Pan e Seow (2016) realizaram uma revisão de literatura visando o período entre 2004 e 2014 a respeito da temática de competências relacionadas a tecnologia da informação e o desenvolvimento de habilidades necessárias ao profissional contábil por meio de análise de conteúdo. Os autores apontam como resultado principal o argumento que a TI está cada vez mais presente no desempenho de contadores que precisam usar tecnologias de análise e mineração de dados para atingir a demanda do mercado.

Em 2017, seis artigos foram publicados, evidenciando-se um maior debate sobre análise de dados e big data. O estudo de Yeo e Carter (2017) objetiva revisar e validar competências dos contadores na Malásia e novas habilidades necessárias a esse profissional como o uso das tecnologias SAP, ERPs e Hadoop. Já Sledgianowski, Gomaa e Tan (2017) utilizaram como base a estrutura de integração de competências gerais para educação contábil de Lawson et al. (2014) a fim de acrescentar aspectos de competências de big data e business analytics em cada uma das competências já mapeadas (como adicionar o uso de software para melhorar a eficácia das auditorias na competência geral de “Tributação, conformidade e planejamento”). A pesquisa de Janvrin e Watson (2017) busca compreender a importância do big data na carreira contábil e mapeou muitas ferramentas que podem ser usadas para apoiar o ensino de sistemas de informação contábil - como softwares e bancos de dados públicos para uso em sala de aula. Os estudos de Anggadini (2017) e de Barus, Putri e Setiawati (2017), por meio de metodologias distintas, buscam realizar uma análise para provar o quanto as competências profissionais em SIC afetam a qualidade da informação contábil. Por fim, Richins et al. (2017) avaliam os desafios da análise por big data para contadores, que devem se utilizar de tais competências para alavancar suas carreiras de forma estratégica.

Em 2018, foram publicados quatro artigos. O estudo de Dzuranin, Jones e Olvera (2018, p.24) apresenta desafios do contador frente às novas demandas do mercado, como, por exemplo, “desenvolver as habilidades necessárias para extrair valor dos dados por meio de análises avançadas”. Traz tópicos de competências necessárias à demanda de tecnologia da informação (como o uso de softwares para auditorias, o uso do Microsoft Excel e etc.) e de como abordar tais tópicos nos currículos contábeis. A pesquisa de Rezaee e Wang (2018, p.268) destaca a importância do big data na contabilidade forense. Sua condução é realizada por profissionais e alunos que julgaram a importância de determinadas habilidades à formação do contador forense. Como resultado principal, verifica-se que “big data e análise de dados na contabilidade forense devem ser integrados nos currículos [das universidades] de negócios”. Já Al-Htaybat, Von Alberti-Alhtaybat e Alhatabat (2018) buscam compreender como o contador precisa ser educado para o mercado de trabalho (a cada dia mais tecnológico). Os autores entendem que os currículos devem ser revisitados periodicamente para que as novas competências necessárias ao profissional contemporâneo sejam reavaliadas e atualizadas, já que se espera que a contabilidade se torne uma profissão mais automatizada e integrada a processos tecnológicos. Por fim, Zhang (2018) entende que a contabilidade deve mudar para se adaptar e inovar dentro do contexto de big data. A Figura 2.7 sintetiza o tema central de cada artigo em relação a CPSIC, bem como indica os 18 artigos que compõem a amostra da presente pesquisa.

Figura 2.7 – Principais CPSIC abordadas nos artigos

Fonte: elaborado a partir dos dados de pesquisa (2020)

Em resumo verifica-se que, desde as primeiras discussões a respeito de CPSIC, aborda- se uma lacuna entre instituições de ensino e mercado, evidenciando a evolução tecnológica e

sua dinâmica acentuada como propulsoras da necessidade de atualização de competências do contador, sempre que tais propulsoras são legitimadas pelo mercado (ou seja, sempre que uma empresa reconhece que uma nova tecnologia é necessária ao papel que o contador desempenha em tal empresa). Espera-se uma contabilidade cada vez mais integrada com a tecnologia e que o contador atue como um profissional mais analítico, preparado para assumir cargos de gestão e tomada de decisão, a partir dos dados gerados pelos sistemas de informações contábeis.

Tais alegações são objetos da atuação da IFAC e da AACSB (Association to Advance

Collegiate Schools of Business) que, a partir de seus pronunciamentos, orientam a preparação

de um contador atualizado para o mercado. Por fim, é possível verificar na amostra estudada uma preocupação em citar o potencial do big data e de outras tecnologias, todavia não sendo exposto: i) o impacto de fato dessa tecnologia para a necessidade de competências profissionais do contador; ii) qual será a necessidade de novas habilidades, conhecimentos e atitudes (BARUS; PUTRI; SETIAWATI, 2017); ou ainda iii) como adequar tais demandas aos currículos.