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Análise do Discurso Jornalístico

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CAPÍTULO VI – BATALHA DISCURSIVA

6.2 Análise de Discurso

6.2.2 Análise do Discurso Jornalístico

O principal objetivo do uso da AD de perspectiva francesa para esse estudo de tese foi em razão da AD constituir-se como disciplina mais completa para a interpretação do discurso jornalístico, que se forma a partir do material textual dos diários Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo. A partir do quadro teórico levantado pela AD tornar-se-ão presentes nos capítulos de análise (Capítulo VII e VIII) as seguintes formulações:

I ─ Esquecimentos: Segundo M. Pêcheux (apud ORLANDI, 2010, p.34-5) há duas

formas de esquecimentos no discurso, a primeira conceituada como número dois, e a segunda conceituada como número um. O esquecimento número dois é da ordem da enunciação. “Ao falarmos ‘sem medo’, por exemplo, podíamos dizer ‘com coragem’, ou ‘livremente’ etc. Isto significa em nosso dizer e nem sempre temos consciência disso” (ORLANDI, 2010, p.35). Ou seja, quando o indivíduo fala de uma maneira e não de outra; e ao longo desse dizer, formam-se “famílias parafrásticas” que indicam que o dizer sempre podia ser outro. Para Orlandi esse “esquecimento” produz no indivíduo a impressão da “realidade do pensamento”. E, logo, essa impressão, que se denomina na AD como “ilusão referencial”, é que faz o indivíduo acreditar que há uma relação direta entre o pensamento, a linguagem e o mundo, nesse sentido essa relação é tão fundamentada que o quê é dito, falado, dá o significado que só poderia ser dito e falado com aquelas palavras, e não com outras. E a autora vai além afirmando que o esquecimento é parcial, “semi-consciente e muitas vezes voltamos sobre ele, recorremos a esta margem de famílias parafrásticas, para melhor especificar o que dizemos. É o chamado esquecimento enunciativo e que atesta que a sintaxe significa: o modo de dizer não é indiferente aos sentidos” (ORLANDI, 2010, p.35).

O esquecimento número um, também conceituado como esquecimento ideológico, “[...] é da instância do inconsciente e resulta do modo como qual somos afetados pela ideologia”. Por meio desse esquecimento tem-se a ilusão, do indivíduo

que fala, ser o primeiro a se expressar com aquelas palavras, quando na realidade, se retoma sentidos já existentes no cenário social.

Na realidade, embora se realizem em nós: eles são determinados pela maneira como nos inscrevemos na língua e na história e é por isso que significam e não pela nossa vontade. [...] Essa é um determinação necessária para que haja sentidos e sujeitos. Por isso que dizemos que o esquecimento é estruturante. Ele é parte da constituição dos sujeitos e dos sentidos (ORLANDI, 2010, p.36).

Nesse sentido é importante que os “sujeitos” tenham esse esquecimento, para que ao se identificarem com o que dizem, constituam sujeitos. Para Orlandi é desta forma que as palavras constituem sentido, pois é assim que os sujeitos se significam ao retomarem palavras que existam como se elas surgissem primeiramente deles, portanto é nesse cenário que sentidos e sujeitos estão sempre em movimento. “Sempre as mesmas, mas ao mesmo tempo, sempre outras” (ORLANDI, 2010, p.36).

II ─ Paráfrase e Polissemia: são processos, no funcionamento da linguagem, que

permitem o discurso se constituir, no resultado da tensão entre eles. Os processos parafrásticos representam a memória, o dizível, ou seja, são aqueles elementos que se mantém em todo dizer. “A paráfrase está do lado da estabilização” (ORLANDI, 2010, p.36). E a polissemia está do lado do deslocamento, da ruptura de processos de significação, porque os processos polissêmicos representam o novo, o diferente.

Essas duas forças que trabalham continuamente o dizer, de tal modo que todo discurso se faz nessa tensão: entre o mesmo e o diferente. Se toda vez que falamos, ao tomar a palavra, produzimos uma mexida na rede de filiação dos sentidos, no entanto, falamos com palavras já ditas. E é nesse jogo entre paráfrase e polissemia, entre o mesmo e o diferente, entre o já dito e o a se dizer que os sujeitos e os sentidos se movimentam, fazem seus percursos, (se) significam. [...] Daí dizemos que os sentidos e os sujeitos sempre podem ser outros. Todavia nem sempre o são. Depende de como são afetados pela língua, de como se inscrevem na história. Depende de como trabalham e são trabalhados pelo jogo entre paráfrase e polissemia (ORLANDI, 2010, p.36-7).

A partir desse entendimento que a AD diferencia o que é criatividade do que é produtividade. O modo de processar o discurso em sua dimensão técnica é produtividade, ocorre a “reinteração de processos já cristalizados”. A produtividade é regida pelo processo parafrástico, bem como mantém o indivíduo num retorno constante ao espaço do dizível, reproduzindo sempre uma variedade do mesmo. Ao contrário da

criatividade, que implica na ruptura do processo de produção da linguagem. Isso ocorre por meio do deslocamento das regras, possibilitando a intervenção pelo diferente, “[...] produzindo movimentos que afetam os sujeitos e os sentidos na sua relação com a história e com a língua. Irrompem assim sentidos diferentes.” (ORLANDI, 2010, p.37).

Contudo Orlandi adverte que para que haja criatividade é necessário um trabalho que ponha em conflito o já produzido e o que se vai instituir. “Passagem do irrealizado ao possível, do não-sentido ao sentido.” (ORLANDI, 2010, p.38). Por isso que se pode afirmar que a paráfrase é o cerne do sentido, não há sentido sem repetição e nem identidade com o saber discursivo, e a polissemia é a fonte da linguagem, pois é dela que há os movimentos distintos de sentido no mesmo objeto simbólico. “Esse jogo entre paráfrase e polissemia atesta o confronto entre o simbólico e o político. Todo dizer é ideologicamente marcado. É na língua que a ideologia se materializa. Nas palavras dos sujeitos. Como dissemos, o discurso é o lugar do trabalho da língua e da ideologia” (ORLANDI, 2010, p.38). Portanto a partir da compreensão de relação entre a paráfrase e a polissemia (entre mesmo e diferente) afirma-se que é possível entender como o político e o linguístico se “[...] interrelacionam na constituição dos sujeitos e na produção dos sentidos, ideologicamente assinalados” (ORLANDI, 2010, p.38). Ou seja, como o sujeito (e os sentidos), pela repetição, “[...] estão sempre tangenciando o novo, o possível, o diferente. Entre o efêmero e o que se eternaliza. Num espaço fortemente regido pela simbolização das relações de poder.” (ORLANDI, 2010, p.38).

III ─ Relações de Força, Relações de Sentido, Antecipação: Formações Imaginárias. Esses são os fatores que condicionam a formação dos discursos. O

primeiro a relação de sentidos parte da premissa que não existe discurso que não se relacione com outros. Ou seja, os sentidos dos discursos resultam de processos de relação, sempre. “Um dizer tem relação com outros dizeres realizados, imaginados ou possíveis.” (ORLANDI, 2010, p.39).

A antecipação funciona como um mecanismo em que o indivíduo se antecipa ao seu interlocutor, quanto ao sentido que suas palavras produzem. E desta forma “[...] esse mecanismo regula a argumentação, de tal forma que o sujeito dirá de um modo ou de outro, segundo o efeito que pensa produzir em seu ouvinte” (ORLANDI, 2010, p.39). Logo, o mecanismo de antecipação define o processo de argumentação, e isso se dá estrategicamente, ou seja, o resultado desse processo objetiva efeitos sobre o interlocutor (ORLANDI, 2010, p.39). Complementando essa ideia as pesquisadoras e

professoras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Marcia Benetti Machado e Nilda Jacks, no estudo O discurso Jornalístico, afirmam que o jornalista

[...] fala tendo como horizonte um leitor de sua fala. Pesquisas de opinião procuram enquadrar esse leitor em certas definições normalmente, referentes às condições socioeconômicas e culturais. São as formações imaginárias que possibilitam a diferenciação de linguagens e estilos entre os veículos. O jornalista tem sempre em mente, mesmo que de modo internalizado ou intuitivo, o seu “público leitor” (MACHADO; JACKS, 2001, p.05).

A relação de forças se explica com a ideia de que o lugar, o cenário, o contexto do qual fala o sujeito é constitutivo do que ele diz, por exemplo, “[...] se o sujeito fala a partir do lugar de professor, suas palavras significam de modo diferente do que se falasse do lugar do aluno.” (ORLANDI, 2010, p.39). As sociedades, de maneira geral, apresentam hierarquias sociais, e as mesmas exercem relações de força, que são sustentadas no “poder” desses diferentes lugares, os quais são reincorporados e mantidos no processo comunicativo.

As formações imaginárias ocorrem da hibridização desses fatores que condicionam a formação do discurso. Delas se explica que as imagens projetadas dos lugares sociologicamente concretos e inscritas na sociedade são as formações que atuam no cenário imagético do discurso, e que apresentam relação com o contexto, com a memória e com as posições dos lugares (ORLANDI, 2010, p.40).

Orlandi destaca um exemplo de como a formação social consolidada na história pode ser regida sob as relações de forças, de sentidos e pelo mecanismo de antecipação no funcionamento da formação imaginária:

Em nossa formação social, se pensamos, por exemplo, a Universidade podemos explorar algumas dessas possibilidades: a imagem que o professor tem do que seja um aluno universitário, a imagem que um aluno tem do que seja um professor universitário, a imagem que se tem de um pesquisador, a imagem que o aluno (o professor, o funcionário) tem de um Reitor, a imagem que o aluno (o professor, o funcionário) tem de um dirigente de um diretor acadêmico, a imagem que o aluno (o professor, o funcionário) tem de um dirigente de um associação de professores universitários etc. Mas, pelo mecanismo da antecipação, também temos, por exemplo: a imagem que o dirigente sindical tem da imagem que os funcionários têm daquilo que ele vai dizer. E isto faz com ele ajuste seu dizer a seus objetivos políticos, trabalhando esse jogo de imagens. Como em um jogo de xadrez, é melhor orador aquele que consegue antecipar o maior número de “jogadas” [...] (ORLANDI, 2010, p.41-2).

Portanto, pode-se concluir que o entendimento que se tem, por exemplo, de professor, não veio do nada, a imagem foi constituída do confronto do político com o simbólico, num processo que liga discurso e instituições de poder, por isso que a formação do imaginário faz parte do funcionamento da linguagem, como um importante fator nessa lógica da produção dos sentidos (ORLANDI, 2010, p.42).

IV ─ Formação Discursiva: Para o pesquisador e teórico da AD, Dominique

Maingueneau, em Os termos-chave da Análise do Discurso, (1997, p.50-1) as formações discursivas designam todo o sistema de regras que “[...] fundam a unidade de um conjunto de enunciados dos sócio-historicamente circunscritos”, ou seja, a formação discursiva determina o que pode e deve ser dito, mas leva em conta para sua constituição as formações ideológicas dadas ─ a partir de uma posição e uma conjuntura histórica social dadas. Desse entendimento as pesquisadoras e professoras Marcia Benetti Machado e Nilda Jacks também entendem as formações discursivas como ancoradas nas “[...] formações ideológicas também regras de existência, mas agora de estruturas de pensamento”. Pois a forma com que o indivíduo formula seu mundo deriva de um modo específico (MACHADO; JACKS, 2001, p.06).

Incluem-se aí a elaboração e o uso de conceitos sobre o mundo dos objetos e o próprio conhecimento, o posicionamento a respeito dos papéis ocupados historicamente pelos sujeitos, a visão do passado e do futuro, a consciência, ainda que difusa, a respeito do que desejamos ser e de como devemos agir, as noções de moral e de ética, enfim, tudo que pode ser sistematizado de forma mais ou menos estruturada como regras de visão, desejo e ação (MACHADO; JACKS, 2001, p.06).

Orlandi (2010, p.43) destaca dois pontos importantes da formação discursiva. A primeira parte da premissa de que o discurso se forma em seus sentidos, porque a fala que o sujeito diz se inscreve em uma formação discursiva, com isso passa a ter um sentido específico e não outro, aleatório. Nessa lógica permite afirmar que as palavras não apresentam um sentido nelas mesmo, mas derivam seus sentidos das formações discursivas em que se inscrevem.

As formações discursivas, por sua vez, representam no discurso as formações ideológicas. Desse modo, os sentidos sempre são determinados ideologicamente. [...] Tudo que dizemos tem, pois, um traço ideológico em relação a outros traços ideológicos. E isto não está na essência das palavras, mas na discursividade, isto é, na maneira

como, no discurso, a ideologia produz seus efeitos, materializando-se nele. O estudo do discurso explicita a maneira como linguagem e ideologia se articulam, se afetam em sua relação recíproca (ORLANDI, 2010, p.43).

Contudo, vale ressaltar que a formação discursiva não se apresenta como blocos homogêneos, que funcionam independentes, são constituídas por um processo de contradição, são heterogêneas e apresentam suas fronteiras fluídas, num mecanismo de configurar-se e reconfigurar-se de acordo com suas relações (ORLANDI, 2010, p.44).

Outra questão importante que Orlandi destaca nesse primeiro ponto da formação discursiva é o entendimento de metáfora, como noção imprescindível no cenário da AD. Ela afirma que a metáfora não é considerada, como na retórica, como um termo que se trata de uma figura de linguagem, a metáfora na AD é definida como “transferência” ─ tomada de uma palavra por outra ─ desta forma a metáfora estabelece a maneira como as palavras significam. E é por meio dessa superposição (transferência), “[...] que elementos significantes passam a se confrontar, de modo que se revestem de um sentido” (PÊCHEUX apud ORLANDI, 2010, p.44). Portanto o sentido acontece precisamente em razão das relações de metáfora ─ que se apresentam em forma de sinônimos, paráfrases, como efeito de substituição. Em decorrência dessas relações de metáfora a formação discursiva é historicamente um lugar provisório.

O outro ponto que Orlandi pontua na formação discursiva é sua importância sobre o ato de compreender, no funcionamento discursivo, os diferentes sentidos. Esclarece que palavras iguais podem ter significados diferentes, pois se inscrevem em formações discursivas que também são diferentes. Dá o exemplo da palavra “terra”, que para o índio tem um significado, para o agricultor outro, e para um agricultor sem terra, outro ainda. Ou seja, a palavra “terra” foi usada em condições de produção diferentes, e para tanto, podem se apresentar em diferentes formações discursivas. Por isso que como método para o analista, no trabalho de análise dessa tese, deve se observar as condições de produção, “[...] verificando o funcionamento da memória, ele ─ o analista ─ deve remeter o dizer a uma formação discursiva (e não outra) para compreender o sentido do que ali está dito” (ORLANDI, 2010, p.45).

Portanto é possível afirmar que a formação discursiva permite compreender o processo de produção dos sentidos, verificar sua relação com a ideologia e colaborar ao analista como estabelecer regularidade no funcionamento do discurso (ORLANDI, 2010, p.45).

V ─ a) O dito e o não dito: A ideia do não dito na AD torna-se, metodologicamente,

necessário para a análise, em razão do dizer ter relação intrínseca com o discurso. Orlandi (2010, p.82) a partir da teoria de Ducrot (1972) diferencia duas formas de não dizer: “pressuposto”, como aquilo que não é dito, mas que se origina da própria linguagem, e o “subentendido”, como aquilo que se observa a partir de um determinado contexto. Por exemplo, Orlandi trabalha na ideia “Deixei de fumar” (2010, p.82), o pressuposto é que “eu fumava antes”, e só poderia dizer essa informação se eu realmente fumava antes. Nesse mesmo exemplo o “não dito”, subentendido, seriam as questões subsidiárias do dito, se “deixei de fumar”, poderia ser por que faz mal a saúde ou outra razão subentendida, ou seja, precisa entender o contexto para que o subentendido se desnude.

Segundo Orlandi (2010, p.83) há outras formas de conceituar o não dito, a partir da perspectiva do conceito de “silêncio”. Separa em “silêncio fundador” e “política do silêncio”. O silêncio fundador “[...] indica que o sentido pode ser sempre outro”, e também faz com que o dizer signifique. A política do silêncio se distingue em “silêncio constitutivo” e “silêncio local”. O silêncio constitutivo entende que uma “[...] palavra apaga outras palavras”, ou seja, se constar “sem medo” anula a ideia de “com coragem”, a autora ressalta que para “[...] dizer é preciso não dizer”. Já o silêncio local se vincula a ideia de censura, o que não poderia ser dito em determinado contexto e determinada circunstância, “[...] numa ditadura não se diz a palavra ditadura não porque não se saiba, mas porque não se pode dizê-lo” (ORLANDI, 2010, p.83).

Entre os conceitos do dizer e do não dizer desenrola-se todo o espaço de interpretação no qual o sujeito se movimenta. Nesse sentido é importante salientar as diferentes funções do sujeito na AD:

Locutor: é aquele que se representa como eu no discurso. Enunciador: é a perspectiva que esse eu constrói. Autor: é a função social que esse eu assume enquanto produtor da linguagem. O autor é, dentre as dimensões enunciativas do sujeito, a que está mais determinada pela exterioridade (contexto sócio-histórico) e mais afetada pelas exigências de coerência, não-contradição, responsabilidade (BRANDÃO, 2004, p.84-5).

Portanto o enunciador “[...] é a voz de um ‘ponto de vista’, de uma ‘perspectiva’ a perspectiva de uma posição ideológica que permite ao locutor falar. O locutor é aquele que fala e que pode ser claramente identificado como o responsável ao menos

imediatamente pelo enunciado”. O enunciador deve ser entendido como “a pessoa de cujo ponto de vista é apresentado aos acontecimentos” (DUCROT apud MACHADO; JACKS, 2001, p.07).

O locutor é quem fala, o enunciador é aquele “a partir de quem se vê”, interpelando o sujeito para que se coloque como locutor naquela posição. O enunciador deve ser localizado, na análise, como a perspectiva da qual o locutor enuncia. Nesse sentido, podemos ter locutores distintos enunciando sob a perspectiva de um único enunciador. Por outro lado, um mesmo locutor pode se mover entre dois ou mais enunciadores (em um exercício de argumentação isso pode ficar claro, quando o locutor se move entre diversas perspectivas para convencer seu interlocutor) (MACHADO; JACKS, 2001, p.07).

V ─ b) Inferências/Implícitos: são os conteúdos que, em princípio, não são os

verdadeiros objetos da enunciação, mas que nascem (se originam) do conteúdo explícito. Dominique Maingueneau (1997, p.58) divide o implícito em duas vertentes, o implícito semântico e o implícito pragmático. Maingueneau propõe o exemplo: “O Paulo já não vive em Londres, mas em Paris”. O implícito semântico nesse exemplo orienta-se, pelo contexto do discurso, que o Paulo vive atualmente na França, e que o Paulo vivia antes em Londres, ou seja, é possível pela semântica direcionar formas implícitas do discurso. No implícito pragmático o co-enunciador pode retirar do exemplo, num dado contexto, que talvez Paulo não possa aceitar um convite, ou receber uma carta, do pragmático verifica-se formas implícitas de acordo com as condições de produção dada (MAINGUENEAU, 1997, p.58).

VI ─ Considerações

É importante pontuar que o texto é a unidade que o analista da AD tem diante de si e da qual ele parte. Orlandi interroga: “O que faz ele diante de um texto?”, responde que o analista deve imediatamente remeter o texto a um discurso que se “[...] explicita em suas regularidades pela sua referência a uma ou outra formação discursiva que, por sua vez, ganha sentido porque deriva de um jogo definido pela formação ideológica dominante naquela conjuntura” (ORLANDI, 2010, p.63).

Pensando nesse aspecto do discurso a tese entende o jornalismo, enquanto atividade informativa, como um trabalho sob a perspectiva discursiva. Segundo as pesquisadoras e professoras Marcia Benetti Machado e Nilda Jacks “A informação

jornalística é o dado, o fato, a declaração, o fenômeno apreendido em sua singularidade” (MACHADO; JACKS, 2001, p.01). Nesse sentido:

O indivíduo cindido em vários sujeitos só pode falar porque se desloca e se descentra. Esse sujeito disperso fala por meio do que Foucault circunscreveu como formações discursivas. Uma formação discursiva é comumente definida como aquilo que pode e deve ser dito, em

oposição ao que não pode e não deve ser dito. Parece uma definição

obscura e intransponível, porque depende de si mesma para se fazer compreensível. Mas, quando entendemos que o sujeito sempre fala de um lugar, e que este lugar pode ser diferente daquele que ocupou há um minuto, a noção começa a fazer sentido. Para “agarrar” uma formação discursiva, tarefa sempre difícil, o analista de discurso precisa trabalhar com certas regras de formação, ou seja, com aquelas regras que definem como um mesmo sentido é construído ao longo de enunciados distintos (MACHADO; JACKS, 2001, p.03).

Portanto é imprescindível identificar e investigar o “dito e o não dito”, suas intenções, seus interesses e sua força, nas formações discursivas. Pois se tem como premissa que o discurso nunca se dá fora do contexto social, é por estar sempre em relação com a exterioridade que: “Sabemos que o jornalismo é uma narração do real mediada por sujeitos (no exercício de suas subjetividades) e que as escolhas se dão da pauta à edição, passando pela apuração, pela seleção das fontes e pela hierarquização das informações” (MACHADO; JACKS, 2001, p.06). Por isso que o processo de “relações de força”, “relações de sentido”, “antecipação” e, finalmente, “formações imaginárias” devem ancorar a análise de discurso, pela importância primária das formações ideológicas que esses processos indicam, e logo, os sentidos que se originam, e para que efeitos suas condições de produção ocorrem.

Concluindo o analista de discurso deve partir da materialidade do discurso,

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