• Nenhum resultado encontrado

Análise do DSC do primeiro momento – segunda questão

A segunda questão busca averiguar se houve ou não envolvi- mento dos grupos políticos e da comunidade para emancipar o an- tigo norte goiano. No conjunto das respostas, chegou-se a quatro categorias. A Figura 23 apresenta a seguinte distribuição: nove entre- vistados (39%) disseram que houve interesse político (categoria A); sete (31%) disseram que houve participação da população (categoria

B); três (13%) disseram que houve pouca participação da população (categoria C); e quatro entrevistados (17%) nada declaram sobre essa questão (categoria D).

Figura 23 - Envolvimento dos políticos e da população na emancipação do norte

de Goiás

Fonte: Resultados da pesquisa.

Os resultados da pesquisa junto aos Stakeholders apontaram que houve interesse político na criação do Tocantins e na distribuição de poder entre os novos municípios recém-criados. Antes da divisão, o norte de Goiás tinha 79 municípios e logo o novo estado passou a ter 139. Houve grande empenho político no sentido de empregar e contratar as pessoas que estavam naquele distrito que virou municí- pio.

Essa informação confi rma os dados das tabelas 2 e 3. Em to- das as microrregiões foram criados novos municípios, a maioria deles

ticipação dos Municípios, com baixa arrecadação e pouca atividade econômica. Isso gera um grave problema de gestão pública: como administrar essas novas prefeituras sem receita própria? A prolifera- ção desses novos municípios era uma maneira de redistribuir poder entre os políticos do Tocantins, mas com pouco ou nenhum benefício para população.

A seguir, apresenta-se o DSC da categoria A - interesse político.

Depois da criação do Tocantins os municípios se mul- tiplicaram do meu ponto de vista, muito irresponsável, para o senhor ter uma ideia, o município de Oliveira de Fátima tinha 836 habitantes, então não tem ca- bimento um agrupamento de pessoas se tornar mu- nicípio com essa quantidade de habitantes, não tem sustentação nenhuma, do ponto de vista político, foi uma irresponsabilidade.

Então você estabilizou as demandas sociais, tá tudo muito confortável, para um lugar que não tinha nada, você passou a ter vereador, prefeito, primeira dama, secretário, virou tudo uma coisa muito boa, uma dis- puta política muito grande, e pouca preocupação com desenvolvimento econômico e social.

Eu, particularmente, tenho uma interpretação, que esse movimento de separação se deu, porque a elite política do antigo norte de Goiás tinha pouca partici- pação dentro da estrutura política do estado de Goiás, assim se precisava consolidar uma estrutura política mais independente. Então a leitura que eu faço é que a separação do estado do Tocantins obedeceu forte- mente ao interesse para constituir uma hegemonia política territorialmente com maior poder: “constru- ção de novos currais eleitorais”.

No discurso da categoria A, nota-se que a divisão propiciou a construção de um novo espaço de referência para implantar a hege-

monia política no novo território. Os depoentes disseram que o de- putado federal Siqueira Campos fez greve de fome, que andou pelo estado clamando ao povo para participar desse processo histórico e político. No processo de emancipação, houve influência de velhos po- líticos da porção norte do Tocantins.

A organização e a dominação de um território dependem das forças políticas e da circulação de informações que ocorrem num campo de poder. E todo poder é exercido no campo da comunicação, na dominação desse novo espaço, Tocantins. Para que o poder exerça seu controle e dominação sobre os homens são necessários três ele- mentos: 1) população - componente dinâmico do qual resulta a ação; 2) território – é o espaço político por excelência, o campo da ação do poder; 3) os recursos que definem os horizontes realizáveis da ação, condicionam e atingem a ação (RAFFESTIN, 1993).

O pensamento de Foucault (1985, 1987) auxilia o entendi- mento sobre como se formam o poder e suas relações no território, sujeitos chaves que ordenam o território pelos seus discursos e por processos jurídicos e religiosos, entre outros.

Na sequência, será apresentado o DSC da categoria B – parti- cipação da população. A fala dos atores-chaves ressaltou que houve sim mobilização da população para a criação do estado do Tocantins. A Conorte, por exemplo, ouviu mais de 90% dos eleitores. Para tanto, instalou bancas nas principais cidades para anotar o nome da pessoa, a identidade, o título de eleitor e a posição a favor ou contra. A Co- norte foi responsável por levar o debate sobre as potencialidades eco- nômicas da região para toda população, bem como apontou o descaso do governo pela região (OLIVEIRA, 1998). Para alguns entrevista- dos, Siqueira Campos usou de oportunismo para se promover junto à população na causa separatista; para outros, foi o idealizador dessa campanha e mentor da criação do estado e da capital do Tocantins.

Foi a mobilização popular que coletou assinaturas para dividir o esta- do de Goiás. E como foi essa coleta de dados? Mais ou menos assim: colocava-se uma mesa em algum lugar estratégico (aeroportos, rodo- viárias, logradouros públicos) e se solicitava às pessoas que informas- sem CPF, identidade e que assinassem a lista de apoio à divisão de Goiás, com a justificativa de que beneficiaria, sobretudo, o sul.

Difundiu-se a ideia de que, assim que Goiás abrisse mão do norte, o sul ficaria melhor e o norte poderia reorganizar sua estrutura produtiva e de poder para dar melhores condições à sua população. Mas a divisão seria muito melhor para o sul.

A seguir, apresenta-se o DSC da categoria B - participação da população.

Houve, isso foi uma luta de muitos anos, houve mo- bilização política e também da sociedade, inclusive das sociedades religiosas, a igreja católica foi muito importante nesse processo, teve uma participação muito ativa, a justiça também, teve o pessoal de Porto Nacional e o Siqueira, porque o Siqueira teve grande parte nisso, ele era parlamentar em Goiânia, ele já era um político que só aparecia aqui para pedir voto, e nós criamos o Sindicato, a Federação dos Trabalhado- res Rurais da Agricultura. Construímos a pastoral da terra, do lado de cá, do Tocantins, organizamos essas coisas todas, aí veio o plebiscito, e quando veio todo mundo votou para que fosse dividido.

Esse depoente informa que houve plebiscito para saber a opi- nião da população sobre a criação do estado e a resposta foi afirmati- va. A consulta popular no movimento de criação do estado foi muito forte e todo tocantinense fez parte dessa luta.

No entanto, para a categoria C, houve pouca participação da população, não houve um grande debate. A Assembleia Constituinte precipitou-se ao votar a separação. A preocupação era que o norte de Goiás não tinha infraestrutura adequada para se constituir em novo

estado. Para os pequenos agricultores familiares, por exemplo, essa discussão não chegou, por uma série de fatores: localização remo- ta, precariedade dos meios de comunicação, das estradas e rodovias. Quando iam ao centro da cidade, ouviam as conversas nas ruas sobre o processo de divisão de Goiás.

Na opinião de alguns depoentes da categoria C, a discussão que houve foi distorcida, mas a separação teve seu mérito, foi correta, deu oportunidade justa de o norte de Goiás se emancipar política, administrativa e socialmente. Todavia, a forma de administrar politi- camente foi um grande erro, cometeram-se muitos equívocos. A so- ciedade precisa aprender a votar. A cada eleição a situação piora e não se pode só colocar a culpa no político, é preciso que o cidadão assuma a sua culpa porque é ele quem escolhe os maus políticos. Deve haver um amplo debate visando à construção de novas formas de gestão, que melhorem a governança, e isso depende exclusivamente de pro- cesso educacional. Mas, sem sombra de dúvida, havia a necessidade de criar o estado do Tocantins.

Observa-se que houve melhora de gestão tanto na esfera esta- dual como na municipal. Fica evidente o início de uma governança que é, porém, carente nos municípios do interior do Tocantins. Nesse sentido, Williamson (1996) e Dallabrida (2011) reforçam o papel das organizações no controle ao dizer que governança é um conjunto de instituições inter-relacionadas com a capacidade de garantir a inte- gridade de uma gestão. A governança trata da justiça, da transparêni- ca e da responsabilidade dos gestores nas questões que envolvem os interesses da sociedade e de seus cidadãos.