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Análise do DSC do terceiro momento

No terceiro momento, analisou-se a perspectiva futura para o Tocantins. Para tanto, formulou-se a seguinte questão: 1) Quais são as perspectivas para o Tocantins daqui a 10 anos?

Das respostas analisadas, chegou-se a três categorias distribu- ídas de acordo com a Figura 27. Dos 23 entrevistados, sete (31%) têm perspectivas positivas (categoria A); nove (39%) têm perspecti- vas incertas (categoria B); e sete (30%) disseram que o estado tem de

superar desafi os (categoria C). Unindo as categorias B e C, têm-se um percentual de 69% com perspectivas incertas, mesmo no tempo em que o questionário foi aplicado, entre janeiro e fevereiro de 2015, começo de mandato de governo federal e estadual. Esse percentual é elevado e indica preocupação com o desenvolvimento socioeconômi- co do território do Tocantins no futuro.

Os entrevistados sobre a categoria A – têm boas perspectivas futuras para o Tocantins – acreditam que os próximos governantes serão políticos mais qualifi cados. Questões políticas atrasam o de- senvolvimento do estado e do país. Na visão deles, é preciso reforma profunda na política partidária eleitoral.

Figura 27 - Perspectivas futuras para o território do estado do Tocantins na opinião

dos atores-chaves

A seguir, apresenta-se o DSC da categoria A – perspectiva positiva.

Eu vejo que o Tocantins dobra nos próximos dez anos. Nós somos a bola da vez, eu acredito que o Sudeste, o Sul, são ricos, fortes, quem somos nós pra compa- rar. Nós representamos 0,6% do PIB, nós podemos ser 1,2%. Então vamos crescer dessa forma. O que crescermos, o que dobrarmos não chega perto do que eles são. Mas nós temos condição, então eu vejo que o Tocantins tem condição de dobrar a sua produção.

Fica claro o otimismo desse depoente. Ele ressalta que melho- raram muito o apoio e os incentivos ao empresariado do Tocantins por parte de organizações como o Sebrae e a Fieto. Há boas pers- pectivas em relação à nova gestão estadual. Ele acredita na expansão do agronegócio no estado, principalmente na produção de soja e na logística que o estado possui. Segundo ele, o processo de desenvolvi- mento daqui para frente será irreversível.

O discurso sobre a expansão do agronegócio no Tocantins con- firma os dados apresentados pela Conab (2014), segundo os quais, a região do Matopiba produziu cerca de 3,5 milhões de toneladas de grãos, sendo 2,2 milhões de toneladas de soja produzidas na safra 2013/2014.

Os Stakeholders ressaltaram que o estado é rico em recursos na- turais, minério, água, solo fértil e está localizado no centro do Brasil, posição estratégica ao escoamento e recebimento da produção para o mercado interno e externo. Há dez anos um alqueire de terra no To- cantins custava R$ 5.000,00 reais; atualmente (2015), custa cerca de R$ 40 mil reais, ou seja, uma valorização de 8 vezes o alqueire. O To- cantins é o entroncamento das regiões Sul, Sudeste, Norte e Nordeste, tudo e todos precisam convergir para cá, assim como antes convergiam para o Triângulo Mineiro. Os Stakeholders destacaram que o Tocan- tins vive fase de grande progresso e tem apenas 26 anos. Consideram- -no um estado novo que tem muito a crescer e se desenvolver.

Acredita-se que a UFT e outras instituições de ensino superior promoveram outro cenário para a educação na região, possibilitando a qualificação de pessoas para o mercado de trabalho. O fortaleci- mento das instituições, dos três poderes, do Tribunal de Contas do Estado também é um aspecto muito positivo.

A seguir, será apresentado o DSC da categoria B – perspectiva incerta. Os entrevistados mostraram-se insatisfeitos com a condução da gestão pública tanto estadual quanto municipal. Acreditam que dificilmente haverá transformação, pois prevalece o conservadoris- mo na política. É preciso que os gestores sejam éticos, conheçam a legislação e tenham capacidade de captar recursos para promover o desenvolvimento. Destacaram que o clientelismo deve ser enfrentado com coragem, com bons projetos para substituir o “cabide de empre- go”. Alguns servidores públicos ganham salários muito altos para um estado pobre como o Tocantins. Há crise financeira e distorções que pressionam o orçamento do estado e dificultam a implantação de um programa com recursos próprios que promova o desenvolvimento nos próximos 10 anos.

Eles não acreditam que o setor industrial vá se expandir; con- tudo pode haver pequena agregação de valor na produção agropecu- ária, na extração de minério e calcário, na industrialização de frutas e de couro.

A visão desse grupo de entrevistados sobre a agricultura familiar não foi otimista. Disseram que o governo federal não prioriza a refor- ma agrária, não valoriza as comunidades tradicionais; porém, incentiva a soja, o eucalipto e a pecuária de corte. A economia do Tocantins está vinculada à base da agropecuária. Todavia, isso não se reflete em todo território, pois muitos municípios estão abaixo dessa base de polo de manutenção, são considerados pobres e de corredores da miséria, seu consumo é de produto primário da agricultura de subsistência.

grande parte dos recursos. Há grande dependência do poder público estadual e municipal na geração de emprego e renda.

A seguir, é apresentado o DSC sobre os desafios a serem supe- rados sobre a gestão pública.

Nós precisamos, na realidade, encontrar uma forma de gestão pública mais séria. O grande gargalo que nós temos com a criação do Tocantins, infelizmente é um mal nacional, é a falta de seriedade dos gestores públicos.

Para esse entrevistado, o grande desafio passa pela seriedade dos políticos na administração dos bens públicos. Alguns desafios na área da indústria de transformação são destacados, como a elevada carga tributária no estado e no Brasil; escassez de mão de obra quali- ficada; competição acirrada de mercado, reflexo dos produtos impor- tados de baixo nível de competitividade; baixa agregação de valor nos produtos do Tocantins; inadimplência das famílias consumidoras; preço elevado das matérias primas e financiamento de longo prazo.

Outro desafio destacado foi a questão da pobreza no estado. Quase metade da população sobrevive com até um salário mínimo de renda, isso significa que o estado tem economia fraca quanto ao poder de consumo. Nesse caso, cabe ao Estado dinamizar as bases produtivas nos pequenos municípios, principalmente nas camadas mais pobres da população, criando projetos produtivos de pequena escala que incorporem essas camadas nas atividades econômicas e que as insiram na economia formal e no consumo.

No Tocantins, predominam baixos salários e pouca qualifica- ção profissional. Uma atividade que pode ser estimulada, segundo os entrevistados, é a consolidação da cadeia produtiva da piscicultura, que poderia absorver parte da população com baixa qualificação nos municípios banhados pelo lago da Usina Hidrelétrica de Lajeado e pelo rio Tocantins. Além disso, poderia ser desenvolvida infraestru- tura básica no setor de turismo a fim de aquecer a economia local na

época de praia, no distrito de Taquaruçu e no Parque Estadual do Jalapão, em que as demandas vão desde caixas eletrônicos até restau- rantes, pousadas e hotéis.

Para os atores-chaves, os desafios passam pelo planejamento estratégico, independentemente de ações partidárias, por alternati- vas simples, com participação da sociedade, das organizações e das governanças. Desse modo, seria possível, a médio e a longo prazo, construir e desenvolver um projeto sustentável para a população to- cantinense, principalmente para os municípios de base retardatária, que precisam muito da matriz institucional, da governança para al- cançar autonomia e empoderamento.