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Análise Documental Qualitativa Por Meio De Análise De Conteúdo: Uma

CAPÍTULO 3 METODOLOGIA DA PESQUISA DOCUMENTAL QUALITATIVA:

3.2 Análise Documental Qualitativa Por Meio De Análise De Conteúdo: Uma

Primeiramente, antes de dissertarmos acerca das nossas escolhas e decisões metodológicas, gostaríamos de relembrar os nossos objetivos e perguntas de pesquisa a fim de situá-las neste contexto:

Objetivo Geral: realizar, no âmbito da LA, uma análise crítica sobre as

concepções de letramento no ensino de Português em dois currículos oficiais prescritos.

Objetivos Específicos:

o Verificar quais são as concepções de letramento presentes nos currículos oficiais prescritos e

o Verificar e analisar quais eventos e práticas de letramentos são mencionados nos currículos oficias prescritos selecionados.

3. Quais eventos e práticas de letramentos são mencionados nos currículos oficiais prescritos analisados?

4. Como as concepções de letramento presentes nos currículos oficiais prescritos analisados se relacionam com os eixos de ensino (leitura, escrita e análise linguística) de LP?

Decorrência do Trabalho: esperamos contribuir para com as pesquisas

sobre currículos oficias prescritos e concepções de letramentos nas aulas de língua materna nos anos finais do EF.

Optamos pela estratégia de pesquisa cunhada como documental por meio de uma Análise de Conteúdo tomando como referência os autores Ludke e André (1986), Marinho (2000), Chizzotti (2008, 2008) e Lankshear e Knobel (2008) e, já que, em termos de metodologia, o nosso propósito é construir “’interpretações’ para identificar ou construir significados” (LANKSHEAR; KNOBEL, 2008, p. 105), pois investigamos significados construídos através de documentos oficiais na forma de currículos oficiais prescritos. Diferentemente de trabalhos empíricos, nos quais o pesquisador vai a campo gerar dados, na pesquisa documental os dados já existem nos documentos disponíveis e, por isso, são coletados.

Assim, a fim de atingirmos esse objetivo, o primeiro passo, realizado e exposto na Introdução, foi retratar a dissertação por meio de uma síntese dos principais conceitos estudados – currículos oficiais prescritos e letramentos – e de uma justificativa pública do papel e da importância da pesquisa como política pública. Nos capítulos teóricos, realizamos uma discussão sobre questões curriculares como tendência, o papel do Estado; um aprofundamento histórico-acadêmico acerca dos currículos oficiais prescritos, das leis e normas reguladoras do ensino no Brasil; abordamos a constituição da Língua Portuguesa como disciplina escolar e traçamos um panorama histórico-acadêmico acerca dos estudos internacionais e nacionais sobre o conceito de letramento, mais especificamente os relacionados à escola.

Neste sentido, Lankshear e Knobel (idem) apontam para a importância de examinarmos os argumentos dos autores que são relevantes para o nosso estudo, pois é necessário analisarmos se a argumentação com a qual estamos tendo contato é clara ou ambígua e se há evidências que justifiquem a aceitação desses argumentos.

Não é porque estamos fazendo pesquisa documental qualitativa que temos de seguir tudo o que é posto pelos autores que estamos estudando; precisamos avaliar essas informações para decidirmos se as aceitamos ou não e em que bases. Segundo Lankshear e Knobel (ibdi, p. 117),

Quando usamos documentos como dados, devemos examinar cuidadosamente até onde vão suas afirmações conceituais no que se refere a reforçar determinados sistemas de significação e as várias crenças e práticas nele baseadas. E devemos perguntar-nos se queremos acompanhar essas afirmações conceituais e seus vínculos. Se não quisermos, não devemos aceitá-las.

Voltando à metodologia da pesquisa documental propriamente dita, após estes dois primeiros passos, partimos para a análise interpretativa dos dados gerados pela análise textual dos currículos oficiais prescritos selecionados tendo em mente os referenciais estudados nos capítulo teóricos.

Para efetivar tal análise, optamos por recorrer à Análise de Conteúdo que é definida, segundo Krippendorff (1980, p. 21 apud LUDKE; MENGA, 1986, p. 41) como “uma técnica de pesquisa para fazer inferências válidas e replicáveis dos dados para o seu contexto”. Deste modo, a análise de conteúdo investiga “mensagens” de diferentes maneiras e sob diferentes enfoques que, por sua vez, dependendem dos objetivos de pesquisa.

Já que o contexto é levado em consideração, o pesquisador, de acordo com o autor, é levado a fazer inferências não apenas de modo formal e lógico, mas também por meio de “percepções, sensações, impressões e intuições” (idem), já que, para Chizzotti (2008, p. 115) “um texto contém sentidos e significados, patentes ou ocultos, que podem ser apreendidos por um leitor que interpreta a “mensagem” contida nele por meio de técnicas sistemáticas apropriadas”, o que vai de encontro com o que Krippendorff afirma sobre a subjetividade: “o reconhecimento desse caráter subjetivo da análise é fundamental para que possam ser tomadas medidas específicas e utilizados procedimentos adequados ao seu controle” (1980, p. 21 apud LUDKE; MENGA, 1986, p. 41).

Nesse sentido, também nos inspiramos em Marinho (2000) ao focarmos em aspectos tidos como relevantes a serem pensados em relação às concepções de letramentos presentes nos currículos oficiais prescritos. Os aspectos que selecionamos a fim de orientar a nossa análise documental, nesse contexto, são: a terminologia utilizada pelos currículos oficiais prescritos para tratarem de letramentos (“letramento”;

“letramentos”; “novos” e “multi”) e as respectivas definições do conceito e as concepções abordadas; a terminologia para tratar das prática(s) (sociais) de leitura e escrita, ou seja, buscamos o(s) termo(s) “prática(s) de leitura”; “prática(s) de escrita” e “práticas de leitura e escrita”; os eixos de ensino (leitura, escrita, oralidade e análise linguística) e as obras citadas e sugeridas pelos documentos.

Por meio delas pretendemos verificar e analisar quais concepções de letramentos emergem dos currículos oficiais prescritos e refletir sobre em que medida as pesquisas acerca dos letramentos impactaram esses documentos em relação à disciplina Português. Este controle se dá por meio do pressuposto de que o léxico é uma unidade discreta do texto que “constitui uma síntese condensada da realidade e a frequência de seu uso pode revelar a concepção de seu emissor, os seus valores, opções, preferências” (CHIZZOTTI, 2008, p. 117). A análise de contexto levando em conta as preferências por determinados termos, ambiguidades, significados subjacentes e latentes aliada à contabilização das palavras “fisicamente presentes” (idem) em torno de categorias compõem a Análise de Conteúdo.

Na análise interpretativista dos currículos também analisaremos, além do texto, algumas categorias que nos permite inferir acerca do processo de produção e de organização dos documentos. À luz de Marinho (2000), tomamos como categorias de análise interpretativista o índice (a estrutura global), o número de páginas, o projeto gráfico-editorial (MARSARO, 2013) e a configuração linguística (sintaxe, registro e estilo).

Em relação ao índice, segundo Marinho (2000, p. 51), “o leitor pode verificar as prioridades, a seleção de informações e o modo como deve supostamente ser lido, em função da ênfase que é atribuída a cada tópico”. Porém, neste contexto, a autora ressalta que isso não significa que “a forma contém o sentido, pois categorias formais recorrentes podem traduzir significados distintos” (idem).

Já a estrutura global diz respeito à organização textual que, em relação aos currículos, é, historicamente, na seguinte ordem: pressupostos teóricos, objetivos, conteúdos, metodologia e avaliação. Marinho (2000), no entanto, afirma que pode ser impossível encontrar um significado consensual e fronteiras nítidas entre essas categorias. O número de páginas, por sua vez, pode parecer secundário num primeiro momento, mas também é importante, pois trata-se, segundo a autora, “de uma estratégia

para constituição de um ‘novo’ leitor. A extensão do texto sugere o tempo de leitura, principalmente se somada à forma de organização” (MARINHO, 2000, p. 53).

Marinho (2000) refere-se ao projeto gráfico-editorial dos currículos como material constitutivo do texto, isto é, suporte, fonte e tamanho de letra, encadernação e recursos gráficos, mas preferimos utilizar o termo cunhado por Marsaro (2013) para livros didáticos de Língua Portuguesa: projeto gráfico-editorial. Pensamos ser possível e adequado utilizarmos esse conceito em currículos porque, de acordo com a autora, este é “o planejamento – editorial – e a realização – gráfica – da forma e composição visual” (MARSARO, 2000, p. 2), mas também compreende a dimensão do discurso e da subjetividade, já que seus autores, ao produzirem um currículo oficial prescito, também produzem um enunciado em um gênero do discurso ou um design de sentido de aprendizagem.

Por fim, mas não menos importante, a configuração linguística, segundo Marinho (2000, p. 55), compreende desde a sintaxe chegando pelo registro ou ao estilo, pois, para ela, este “é o caminho por onde trilha o leitor em busca de um sentido ou de um conteúdo”. Ludke e Menga (1986) afirmam não haver regras pré-estabelecidas para a criação das categorias, já que estas também dependem dos objetivos da pesquisa, mas concordam com Chizzotti (2008) quando este afirma que as categorias devem reunir conceitos, com um grau de generalidade, a fim de atribuir unidade a um grupo de palavras ou a uma área do conhecimento em função da qual o léxico é classificado. À luz de Guba e Lincoln (1981), Ludke e Menga (1986, p. 43) listam alguns critérios para a elaboração das categorias: homogeneidade interna, heterogeneidade externa, inclusividade, coerência e plausibilidade. Segundo as autoras, Guba e Lincoln nomeiam esta etapa como “convergente” (1981 apud LUDKE; MENGA, 1986, p. 43). Acreditamos que a terminologia, as definições, os eixos de ensino e as obras citadas constituem um grupo de categorias de análise que se encaixam neste perfil de pesquisa, pois por meio delas podemos ter a clara ideia de quais concepções de letramentos estão presentes nos currículos oficiais prescritos.

A próxima etapa recebe o nome de “divergente” (idem) e inclui as estratégias de aprofundamento, ligação e ampliação pelas quais o pesquisador volta a ler e a examinar os documentos a fim de aumentar o seu saber, perceber novos ângulos e aprofundar a sua

análise. Neste momento, é possível estabelecer relações, associações e começar a fazer novas organizações.

Por fim, pensamos ser pertinente ressaltarmos que não se trata de um estudo classificatório, no qual será apontado, em uma escala valorativa, o melhor e o pior currículo oficial prescrito. Inclusive, não esperamos que esta seja uma análise esgotada em si mesma nem que seja a única possível, já que, à luz de Marinho (2000, p. 53), objetivamos “visualizar os currículos nas suas possíveis condições de leitura por um determinado leitor, em determinadas condições de trabalho no magistério”.