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4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

4.4 ANÁLISE DOS RESULTADOS EXTRALINGUÍSTICOS

4.4.1 Análise dos dados extralinguísticos em Carnaíba

4.4.1.1 Contexto de Antropônimo

Após as cinco rodadas feitas com os dados obtidos na cidade de Carnaíba, o programa não tomou como significativa nenhuma das variáveis extralinguísticas controladas, a saber: sexo, escolaridade, familiaridade e faixa etária para o contexto de antropônimos. Optamos por não mexer mais nos dados e, assim, não realizarmos mais rodadas para que não corrêssemos o risco de comprometermos nossa amostra. Realizamos várias tentativas de fazer com que o programa apontasse a significância de alguma variável extralinguística, mas não obtivemos sucesso, nem com amalgamações de fatores e nem com o “enxugamento” dos dados, isto é, com a retirada de fatores que apresentaram poucos dados. No entanto, como é apontado por Guy & Zilles (2007, p.214):

[...] é importante lembrar que a falta de significância de uma relação ou efeito é, em si, um fato, uma descoberta, uma evidência, uma resposta às perguntas do pesquisador! Se queremos saber se a presença de certo elemento numa oração tem alguma influência sobre o uso de uma variável, a resposta pode ser sim ou não, e tanto o não quanto o sim contam igualmente como resposta à pergunta feita.

Dessa forma, não devemos deixar de lado as variáveis que não foram tomadas como significantes pelo programa, pois a não significância também pode nos dizer algo sobre o fenômeno em estudo. Diante disso, dedicaremos a seção 4.5 para a discussão das variáveis que não foram tomadas como significativas pelo programa.

4.4.1.2 Contexto de Pronome Possessivo

Diferentemente do que aconteceu com o contexto de antropônimo, o programa acabou por selecionar duas das três variáveis extralinguísticas, como significativa para a nossa análise. As variáveis são discutidas nas subseções 4.4.1.2.1 e 4.4.1.2.2.

4.4.1.2.1 Sexo

Em Carnaíba, o sexo do informante interfere na realização do artigo diante do contexto de pronomes possessivos, de acordo com o que nos foi apresentado pelo GoldVarb X. Para tanto, vejamos o quadro que segue:

Quadro 64: Resultado da variável sexo para o contexto de possessivo em Carnaíba

Variável Presença Ausência P.R Nº % Nº % Feminino 29/148 20 119/148 80 0,37 Masculino 38/145 26 107/145 74 0,62

Ao visualizarmos o quadro 64, percebemos que, na comunidade de Carnaíba, são os homens que se apresentam como sendo um pouco mais sensíveis à variante inovadora, ou seja, aos SNs em que o possessivo vem acompanhado de artigo apesar de a percentagem não ultrapassar 50%. As mulheres realizam 20% de artigo definido, ao passo que os homens, 26%, existindo, assim, uma diferença de 6% entre os sexos. Apesar da pouca diferença, podemos pensar que os homens privilegiaram, mesmo que minimamente, a variante onde o possessivo é antecedido por artigo.

A análise com o P.R acaba por confirmar a preferência masculina em usar o artigo nesse contexto. Os homens obtiveram um P.R de 0,62, ou seja, um peso acima do ponto neutro. As mulheres, por sua vez, apresentaram um P.R de 0,37. Em Silva (1998, p.270), a autora observa que no Rio de Janeiro acontece o contrário: são as mulheres “que usam mais

artigo, de modo leve, mas constante”, com números de 40% (0,52), contra 35% (0,48) dos homens.

Os resultados encontrados com essa análise vão de encontro ao que Labov (1990) chama de Change from bellow. Segundo o autor, nas mudanças vindas de baixo, isto é, que não sofrem pressão social, as mulheres são as inovadoras. Assim, nessa comunidade, não são as mulheres que caminham para a adoção da variante nova, segundo os resultados obtidos nos P.Rs, mas, sim, os homens.

Em Carnaíba, como observamos, as mulheres apresentam um comportamento mais conservador, tendo uma preferência para a variante predominante, isto é, aquela cujo possessivo não vem regido por artigo definido.

4.4.1.2.2 Faixa etária

Sendo considerada significativa pelo programa, é importante lembrarmos que a variável em análise encontra-se distribuída em: faixa 1, entre 06 a 17 anos; faixa 2, entre 18 a 35 anos e, a faixa 3, acima de 35 anos. No quadro, a seguir, expomos os resultados alcançados na última rodada:

Quadro 65: Resultado da variável faixa etária para o contexto de possessivo pré-nominal em Carnaíba Faixa etária Presença Ausência P.R Nº % Nº % Faixa 1 13/101 13 88/101 87 0,37 Faixa 2 20/82 24 62/82 76 0,37 Faixa 3 34/110 31 76/110 69 0,69

Segundo o que mostramos no quadro 65, quanto maior a idade do informante, maior será a frequência de realização do artigo definido diante de possessivos nessa cidade, assim como foi na comunidade carioca analisada por Silva (1998). Os informante da faixa 1,

segundo o GoldVarb X, apresentaram uma frequência de ocorrência de artigo de apenas 13%, contra 24% da faixa 2 e 31% da faixa 3.

Os resultados descritos na coluna destinada ao P.R também evidenciam que os informantes mais velhos são os que mais favorecem a realização, com P.R de 0,69. Já os informantes da faixa 2 são os que menos favorecem, com P.R de 0,37, seguidos dos informantes da faixa 1 que também obteve o P.R de 0,37.

É possível percebermos, dessa forma, que, quanto maior a idade do informante domiciliado na cidade, maior é a chance de se ter a realização de artigo definido diante de possessivos.

O que a observação do peso relativo nos diz é há mais chances de o possessivo vir acompanhado por artigo definido na fala dos informantes mais velhos com idade superior a 35 anos.

Poderíamos especular, nesse caso, que os informantes mais jovens, como é o caso dos informantes da faixa 1, são aqueles que menos têm contato com pessoas que estão fora de sua comunidade. Já os informantes mais velhos, responsáveis por uma frequência maior de artigo, são aquele que tiveram mais contato com pessoas de fora de sua comunidade, como salientado em nossa ficha social. Diante disso, acreditamos que o contato com pessoas de outras localidades – seja através do marcado de trabalho ou do nível de escolaridade – pode interferir na frequência de realização do artigo na fala dos informantes da faixa 3.