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Variáveis linguísticas desconsideradas para o contexto de antropônimo

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

4.5 SOBRE AS VARIÁVEIS DESCONSIDERADAS PELO PROGRAMA

4.5.1.1 Variáveis linguísticas desconsideradas para o contexto de antropônimo

4.5.1.1.1 Título/Parentesco

Observamos essa variável nos dois municípios analisados, porém o programa GoldVarb X não a considerou como sendo significativa. Ela foi selecionada com base em Silva (1998) que, ao analisar o contexto de antropônimo na comunidade do Rio de Janeiro, analisou aqueles antropônimos que foram produzidos após a aparição de algum título, como:

Dona e Seu. Em nossa análise, optamos por transformar esse título em uma variável,

estendendo nossa observação não só às formas de tratamento, mas também aos títulos de parentescos e social, como podemos ver a seguir:

(27) a. “Dona Ana também é uma ótima professora (...)” (Inf4-ST) b. “eu gostava do kiko, do Seu Madruga” (Inf10-CA)

(28) a. “Tio Tião, mora em Rondônia (...)” (Inf12-ST)

b. “Tia Cida perguntando: "cadê os Kênios?” (...) (Inf12-CA) (29) a. “Eu lembro também do professor Didi” (Inf18-CA)

De (27) a (29), observamos que, no contexto de antropônimo antecedido por algum título, a variação quanto à presença versus ausência do artigo definido também se faz presente. Os quadros, a seguir, trazem os resultados alcançados em cada cidade analisada:

Quadro 73: Resultado da variável título diante de antropônimos em Carnaíba

Título Presença Ausência P.R Nº % Nº % Com título 6/36 17 30/36 83 0,47 Sem título 67/452 15 385/452 85 0,50

Notamos que, em Carnaíba, o fato de haver um título diante do antropônimo, realmente, não é algo condicionador para a ocorrência do artigo definido. Quando foi registrada a presença de algum título, a ocorrência de artigo foi de apenas 17%, contra 83% de ausência.

A análise com o P.R acaba por reforçar a não significância dessa variável. Quando temos um título em nosso corpus, o peso é de apenas 0,47. Já, quando o nome não aparece acompanhado de nenhum dos títulos analisados, o P.R foi de 0,5, isto é, a falta de título nem contribuiu e nem tão pouco desfavoreceu a ocorrência do artigo, uma vez que se apresentou no ponto neutro.

Em Serra Talhada, os resultados foram diferentes dos resultados apresentados em Carnaíba:

Quadro 74: Resultado da variável título diante de antropônimos em Serra Talhada

Título Presença Ausência P.R Nº % Nº % Com título 5/37 13,5 32/37 86,5 0,53 Sem título 36/408 9 372/408 91 0,46

Em Serra talhada, a diferença entre a frequência de realização do artigo diante de antropônimo acompanhado por um título e sem título é de 4,5%. Quando o nome próprio é acompanhado de algum título, a frequência é de 13,5% de ocorrência, com P.R de 0,53. Já, quando não foi registrado título diante do antropônimo, a frequência foi de apenas 9% e seu P.R é de 0,46. Assim, observamos que, quando o antropônimo vem acompanhado de algum título, a frequência da presença do artigo é ligeiramente maior.

4.3.2.1.6 Informação Compartilhada

Aqui analisaremos a interferência do compartilhamento do conhecimento do indivíduo referido entre os membros participantes da entrevista, isto é, do quão importante é o entrevistador também conhecer o indivíduo mencionado pelo entrevistado (cf. (30)), lembrando que tal variável não foi tomada como significativa pelo programa GoldVarb X nos dois municípios em análise:

(30) a. Gosto de Chico Buarque (Inf18-CA) b. Eu acho Neymar muito bom (Inf14-ST)

Quadro 75: Influência da variável Informação Compartilhada no contexto de Antropônimo em Carnaíba Informação Compartilhada Presença Ausência P.R Nº % Nº % Compartilhada 53/232 23 179/232 77 0,57 Não-Compartilhada 20/256 8 236/256 92 0,46

Analisando os resultados no quadro 75, percebemos que o fato de o informante compartilhar do conhecimento acerca do referido com o entrevistador parece interferir um pouco nos dados de Carnaíba. Nesse município, quando a informação era compartilhada, obtivemos uma porcentagem de 23% de ocorrência de artigo. Já quando a informação não era comapatilhada, obtivemos uma porcentagem menor de ocorrência: 8%. Em números

porcentuais, vemos que existe uma diferença de 15% entre as informações compartilhadas e as informações não compartilhadas.

Nesse caso, mesmo o programa não tendo selecionado a variável informação

compartilhada, nos parece que o fato de a informação ser compartilhada é mais significativo

para a realização do artigo do que quando pertence ao anonimato da mídia, como salientado por Silva (1998). Quando o referido era de conhecimento público, obtivemos um P.R de 0,57; já, quando o mesmo referido não pertencia ao conhecimento popular, o P.R caiu para 0,46.

Em Silva (1998), essa variável foi considerada neutra, uma vez que o VARBRUL 2S, programa probabilístico utilizado por ela, apontou um número de 0,50 para os dois fatores – pessoa de domínio público e pessoa não conhecida pelo público. Assim, através de nossos resultados, Carnaíba acaba se distanciando da comunidade carioca.

Já, em Serra Talhada, o resultado foi o seguinte:

Quadro 76: Influência da variável Informação Compartilhada no contexto de Antropônimo em Serra Talhada Informação Compartlhada Presença Ausência P.R Nº % Nº % Compartilhada 24/248 10 224/248 90 0,30 Não-Compartilhada 17/197 9 180/197 91 0,73

Nossos dados atestam que o fato de o informante acreditar que o entrevistador conhece a pessoa referida não garante a presença do artigo definido diante do contexto analisado, como é possível percebermos através dos resultados quantitativos presentes no quadro. Quando a informação é compartilhada, temos uma percentagem de apenas 10% de ocorrência contra um total de 90%.

A análise com P.R acaba por reafirmar a não influência do compartilhamento de informação na realização do artigo, uma vez que o programa gerou um peso de apenas 0,30.

Assim, pelo que é visto no resultado dessa variável, o fato de tanto o entrevistado quanto o entrevistador compartilharem do conhecimento acerca do referido acaba não interferindo nessa realização, como parece ter interferido em Silva (1998) e Alves (2008).

Dessa forma, essa variável se apresentou de forma diferente nas duas cidades analisada. Em Carnaíba, a informação compartilhada parece interferir, mesmo que

minimamente, na realização do artigo. Todavia, em Serra Talhada, o fato de tanto o entrevistado quanto o entrevistador conhecerem o indivíduo referido não interfere na ocorrência do determinante diante do contexto analisado.

4.5.1.1.2 Status Informacional

Analisamos essa variável com base em Silva (1998) que verificou o fato de que, quando o antropônimo é inserido pela primeira vez no discurso do informante (informação nova), ele tende a aparecer com o artigo definido, em uma frequência de 67% (0,53). Já em Pereira (2011), esse fato foi desconsiderado pelo programa GoldVarb X. Em vista disso, acabamos também controlando essa variável em nossa análise:

(31) a. “Era Messias, meu Deus, Messias! Ninguém gostava de Messias”. (Inf12- ST)

b. “O Rick, ele é o principal. (...) Rick!” (Inf15-CA)

É de suma importância frisarmos que essa variável não foi considerada apenas no município de Carnaíba. Vejamos o comportamento dessa variável em nossos dados a partir dos resultados quantitativos obtidos:

Quadro 77: Resultado da variável status informacional diante de antropônimos em Carnaíba

Status Informacional Presença Ausência P.R Nº % Nº % Informação nova 27/378 7 351/378 93 0,45 Informação antiga 14/67 21 53/67 79 0,73

Em Carnaíba, constatamos que o fato de o antropônimo ser inserido pela primeira vez no discurso não é de muita relevância para a ocorrência do artigo, como é possível notarmos tanto nos números apresentados em porcentagem, quanto nos números dos P.Rs. Quando o nome próprio é inserido pela primeira vez no discurso, o número de ocorrência foi de apenas 7%. O P. R. também acaba por reafirmar o que é dito com as porcentagens. Nessa cidade, o

peso para a informação nova foi de 0,45, mostrando o motivo pelo qual essa variável não foi selecionada pelo programa.

Em linhas gerais, a cidade analisada se distancia da comunidade carioca analisada por Silva (1998), em que a variável status informacional fez-se significativa. Por outro lado, Carnaíba se aproxima dos resultados obtidos em Pereira (2011).