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Análise dos dados extralinguísticos em Serra Talhada

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

4.4 ANÁLISE DOS RESULTADOS EXTRALINGUÍSTICOS

4.4.2 Análise dos dados extralinguísticos em Serra Talhada

4.4.2.1 Contexto de Antropônimo

Do total de variáveis sociais selecionadas para análise, o programa apontou para a significância das variáveis: sexo e escolaridade.

4.4.2.1.1. Sexo

Como já mencionamos na subseção 3.6.1.2.1, controlamos essa variável levando em consideração apenas o sexo biológico do indivíduo por motivos já mencionados. Os

resultados quantitativos obtidos através das rodadas dos dados no programa computacional GoldVarb X são apresentados a seguir no quadro 66:

Quadro 66: Resultado da variável sexo para o contexto de antropônimo em Serra Talhada

Sexo Presença Ausência P.R Nº % Nº % Feminino 14/252 6 238/252 94 0,30 Masculino 27/193 14 166/193 86 0,74

Existe, no quadro 66, uma diferença pouco significativa entre o sexo do indivíduo no que se refere à preferência pela realização do artigo diante de nomes próprios de pessoas. Apesar de os dois fatores não apresentarem uma percentagem de uso acima de 50%, percebemos que o sexo masculino favorece um pouco mais a variante em que o artigo se faz presente do que o sexo feminino: aquele apresentou uma percentagem de 14% de ocorrência, enquanto este, 6%.

Se olharmos para o P.R dessa variável, notaremos que, de fato, os homens serratalhadenses são os que mais favorecem a realização do determinante diante de nomes próprios. O P.R é de 0,74, valor que se aproxima bem do valor máximo que um P.R pode atingir.

As mulheres, por seu turno, oferecem um P.R bem inferior ao P.R oferecido pelos homens (0,30), colocando-as como as que menos produzem antropônimos regidos por artigo definido.

Em Almeida Mendes (2009) e Silva (1996), vimos que o sexo feminino é o que mais produz artigo diante desse contexto: a primeira constatou esse fato no município de Abre Campos (MG) e a segunda, no Rio de Janeiro (RJ). Assim, nossa análise apresenta um resultado que se distancia desse perfil sociolinguístico. Por outro lado, nosso perfil parece se aproximar do perfil verificado em Campos Jr (2011) e em Alves (2008), aquele analisa a capital Vitória (ES) e, esta, o município de Barra Longa (MG). Nesses estudos, é evidenciado que a preferência pela realização do artigo ocorre na fala dos homens.

Observamos, então, que parece haver uma uniformização: nas comunidades em que há preferência pelo uso, ou seja, nas comunidades onde a variante predominante é aquela onde se

tem artigo diante de nomes próprios de pessoas, como é o caso da comunidade do Rio de Janeiro (cf. SILVA, 1998) e da comunidade de Abre Campos (cf. ALMEIDA MENDES, 2009), as mulheres são as responsáveis por produzir mais artigo. Já, nas comunidades em que a variante predominante é aquela cujo antropônimo não é acompanhado por artigo, como a comunidade aqui analisada e as comunidades de Vitória (cf. CAMPOS JR., 2011) e de Barra Longa (cf. ALVES, 2008), as mulheres são aquelas que menos utilizam a variante nova.

Dessa forma, o informante do sexo feminino parece refletir o padrão da comunidade de fala a que pertence.

Em nossa pesquisa, verificamos então que o sexo feminino é mais conservador, uma vez que não utiliza com frequência a variante inovadora. Nesse sentido, o que Labov (1990) chama de change from bellow não se aplica à comunidade em questão, já que mesmo o fenômeno não sofrendo pressão social, ou seja, estigmatizado, as mulheres não foram responsáveis pela produção da variante nova.

4.4.2.1.2 Escolaridade

O programa selecionou, além da variável sexo, a variável social escolaridade como sendo significativa em nossa análise. Como já foi informado, selecionamos três níveis de ensino: fundamental, médio e superior. O quadro abaixo mostra o quanto essa variável foi significativa em nossa análise:

Quadro 67: Resultado da variável escolaridade para o contexto de antropônimo em Serra Talhada Escolaridade Presença Ausência P.R Nº % Nº % Fundamental 17/157 11 140/157 89 0,58 Médio 4/133 3 129/133 97 0,24 Superior 20/155 13 135/155 87 0,65

Percebemos que os falantes com nível superior são os que mais produzem a realização do artigo diante de antropônimos, tomando por base o P.R de 0,65. Já os de ensino médio são

os que menos apresentam a ocorrência de realização do determinante (0,24). Já os falantes do nível fundamental presentaram um P.R um pouco acima do nível neutro (0,58).

Acreditamos que, talvez, o fato de os indivíduos que estão no nível superior apresentarem uma produção alta da variante com o artigo venha de seu convívio com moradores de outras regiões do país. É sabido que muitas instituições de ensino superior recebem anualmente estudantes de várias localidades devido à adesão das universidades aos programas de acesso ao ensino superior, como, por exemplo, o SISU e o PROUNI; ou pela própria escolha do estudante de fixar residência em outras localidades onde se encontra a instituição. Além disso, muitos dos professores que formam o quadro docente das universidades também são de outras localidades e podem trazer com eles a variante inovadora.

É de suma importância destacarmos que a comunidade analisada possui uma unidade de uma universidade federal e que tem seu corpo docente formado por vários professores vindos de regiões que usam, por exemplo, a variante inovadora (ex.: A Maria). Não seria, então, de estranharmos que o convívio com tais docentes influenciasse no sistema linguístico dos informantes. O mesmo se pode dizer das demais instituições de ensino presente na localidade.

Também é sabido que, por meio de programas de bolsas universitárias, os alunos do nível superior realizam mais viagens para outras regiões do país e, como consequência, têm mais contato com a nova variante.

Os fatos apresentados não parecem ocorrer com os alunos do ensino básico, que, em muitas vezes, possuem contato apenas com as pessoas dos bairros circunvizinhos. Assim, não são expostos com frequência à variante inovadora, o que acaba não interferindo em seu sistema.

4.4.3 Contexto de Pronome Possessivo

Do total de variáveis sociais selecionadas para análise do contexto de pronome possessivo, o programa acusou a significância de apenas uma variável, a saber: faixa etária.

4.4.3.1 Faixa etária

Para o controle da variável faixa etária, selecionamos indivíduos de 06 a 17 anos, de 18 a 35 anos e acima de 35 anos. Em Silva (1998), vimos que os informantes mais velhos (26- 49 anos e 50-71 anos), mais especificamente as mulheres mais velhas, foram responsáveis pelo maior P.R em sua anaálise. Partindo disso, vamos verificar nossos resultados, a fim de sabermos se, tal como verificado por esses autores, a variável faixa etária é condicionadora da realização do artigo em frente a possessivos pré-nominais.

Quadro 68: Resultado da variável faixa etária para o contexto de possessivo pré-nominal em Serra Talhada Faixa etária Presença Ausência P.R Nº % Nº % Faixa 1 22/121 18 99/121 82 0,34 Faixa 2 47/152 31 105/152 69 0,51 Faixa 3 36/104 35 68/104 65 0,65

Diante do que nos é apresentado no quadro, percebemos que estávamos corretos ao lançarmos a hipótese de que quanto maior a faixa etária do informante, maior seria a ocorrência de artigo anteposto ao pronome possessivo.

Em se tratando de percentagens, vemos que a faixa 1 é a que menos favorece a realização do artigo, ao passo que as faixas 2 e 3 são as que mais favorecem, mesmo não ultrapassando os 50% de produção. O P.R acaba por confirmar nossa hipótese ao indicar que apenas a faixa 1 possui um peso inferior a 0,5. Todavia, não podemos deixar de mencionar que o P.R da faixa referente aos informantes com idade entre 18 a 35 anos está muito próximo do ponto neutro. Mas, em compensação, o peso da faixa 2 (0,51) está mais próximo do P.R apresentado para a faixa 3 (0,65) do que aquele apresentado para a faixa 1. Então, na comunidade serratalhadense, indivíduos com idade acima de 35 são os que mais realizam o determinante.

O resultado apontado pelo programa para o município de Serra Talhada é semelhante ao resultado que o programa apontou para o município de Carnaíba, onde os informantes com

idade acima de 35 anos foram os que possuíram o maior P.R, a saber: 0,69, mesmo peso alcançado pelos informantes da faixa 3 em Serra Talhada.