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ANÁLISE DOS DESAFIOS ENFRENTADOS NA ELABORAÇÃO DOS ROTEIROS

3 METODOLOGIA DE DESENVOLVIMENTO E PESQUISA

4.2 ANÁLISE DOS DESAFIOS ENFRENTADOS NA ELABORAÇÃO DOS ROTEIROS

Ao reelaborar os roteiros, em versão preliminar, ou seja, sem apresentá-los aos professores, deparamo-nos com alguns obstáculos, tanto relacionados com a inserção da parte investigativa, quanto na parte da história da ciência.

Os desafios enfrentados pelo grupo na elaboração dos roteiros e que são foco da presente discussão foram:

• Utilizar o material já existente da Experimentoteca,

• Elaborar um texto histórico em linguagem acessível aos alunos,

• Selecionar e traduzir as fontes primárias e secundárias utilizadas para a construção do texto histórico,

• Relacionar o contexto histórico com as práticas experimentais investigativas,

• Elaborar uma problematização que se conecte ao texto histórico e ao experimento,

• Adequar o nível de investigação das atividades dos roteiros.

A pesquisa conta com a renovação dos roteiros experimentais existentes nos kits da Experimentoteca e esse foi o maior problema que nosso grupo de pesquisa (orientadora e pesquisadora) enfrentou. O material dos kits experimentais não sofreu mudanças. Portanto, o grupo de pesquisa teve que criar atividades com esse material. Essa etapa foi complexa, pois tivemos que buscar fontes primárias e secundárias relacionadas ao tema, estudar o modo como poderia ser conectada ao experimento, e unir de uma forma investigativa.

Para relacionar a história da ciência com as práticas experimentais investigativas, escolhemos trabalhar com episódios históricos que retratassem situações, observações e experimentos semelhantes aos experimentos contidos nos kits da Experimentoteca.

A seleção de fontes primárias adequadas ao material experimental disponível não foi trivial. Essa etapa para a construção do texto histórico envolveu outros problemas, como elaborar o texto em linguagem acessível aos alunos, traduzir as fontes sem distorcê-las, considerar os conceitos abordados no tema e deixá-los com uma linguagem menos complexa.

Balancear todos esses fatores foi um aspecto importante (124-126) para que o texto histórico retratasse os aspectos conceituais e contextuais em consonância com a historiografia moderna. Além disso, como aponta Forato e colaboradores (126), o texto também deve ser acessível para os professores utilizarem e deve-se considerar o tempo didático. Um texto histórico muito complexo demanda tempo para ser discutido, podendo interferir no andamento da atividade e atrasar a aula.

O desafio enfrentado pelo grupo de pesquisa ao elaborar a problematização foi criar um problema que remetesse ao cotidiano do aluno ou a conhecimentos gerais. (8,122-123) Esse processo é importante, pois os alunos devem interpretar o problema através de sua vivência e intuição. Além disso, a problematização deve estar conectada com a atividade experimental e o texto histórico. Assim, os alunos ao tentar solucionar a problematização e discuti-la, são conduzidos à leitura do texto histórico, ou vice-versa.

Outro aspecto relacionado à reelaboração dos roteiros foi determinar quão investigativo deveriam ser. Elaboramos o roteiro seguindo o grau de abertura de investigação IV (tabela 1). Elaborar nesse nível foi um obstáculo, pois o professor é o mediador do processo investigativo. Sua atuação e intervenção na sala de aula é que dita o grau de abertura de investigação efetivo. Além do papel do professor na sala de aula, o nível de abertura também varia em função da motivação e engajamento dos alunos. Dessa forma, criar um roteiro em um nível não significa que esse seja atingido quando aplicado em sala de aula.

Após elaborarmos uma primeira versão dos roteiros, eles foram apresentados para os professores e discutidos com eles. Os professores contribuíram nas modificações de alguns aspectos dos roteiros. Houve apontamentos bem específicos para cada roteiro. Enxergamos essa contribuição como aceitável pelo fato de que os professores não estão acostumados com essa abordagem e um roteiro nesse formato.

Como alteração importante de caráter geral, os professores sugeriram a inclusão de uma revisão dos conteúdos específicos para cada roteiro. Inicialmente havíamos considerado que essa revisão dos conteúdos não necessitava fazer parte do roteiro do professor, já que pode ser encontrada em livros didáticos. Porém os professores acharam interessante manter.

Sobre a problematização inicial dos roteiros, os professores gostaram e o professor PRF destacou ser importante sua relação com o cotidiano dos alunos.

ProfessorPRF: “Eu acho que seria melhor começar com uma problematização mais geral, e depois ir para uma mais específica [do conteúdo], porque às vezes você generaliza tanto que eles não entendem a pergunta, o que você tá perguntando de fato. Então você começa com uma mais geral e depois vai especificando melhor o que você quer. Então essas perguntas que estão no dia a dia deles, eles conseguem responder certo, porque vai mais do que eles já conhecem do dia a dia deles, de lógica”.

Ao discutir sobre o nível de investigação do roteiro (nível IV), os professores julgaram ser interessante esse nível por permitir os alunos a serem mais ativos na atividade:

ProfessorPRF: "Eu até acho mais interessante deixar os alunos mais livres para desenvolver o conteúdo do que seguir a receita de bolo, porque se os alunos fazem o que está pedindo no roteiro, eles não investigam, e pronto, qualquer um pode fazer o que se pede, e chega em resultados satisfatórios, mas sem entender o que está acontecendo. Então eles fazendo, mesmo dando errado, a primeira vez, a segunda vez, as primeiras vezes, mas claro com a orientação do professor, mas sem seguir uma receita, deixar eles se virarem, é melhor”.

O segundo professor também achou interessante, porém ressaltou algumas preocupações:

ProfessorPRJ: “Eu gosto da ideia, eu fiz isso em algumas aulas, e eles gostaram da abordagem [investigativa] foi algo mais de deixá-los pensar a respeito. Mas tenho dúvidas se não teremos que dar uma “forcinha” para que eles saibam exatamente o que fazer...Normalmente nós passamos os procedimentos...”.

Essas preocupações foram discutidas e o professor compreendeu o modo como o nível IV poderia ser lecionado dentro da sala de aula.

Sobre os textos históricos elaborados, de forma geral, os professores gostaram do modo como cada tema foi abordado e houve algumas modificações relacionadas a palavras

complexas e algumas dúvidas sobre o conteúdo. Discutimos essas modificações específicas nos tópicos de cada roteiro reelaborado.

Já a versão inicial do roteiro dos alunos continha somente o texto histórico. Porém, os professores sugeriram que fossem incluídos as ilustrações e materiais disponíveis, pois como a atividade é algo muito nova para os alunos, eles poderiam ficar confusos.

ProfessorPRF: “Aqui, nesse você não coloca nada de procedimento né. O que conversamos na semana passada, de que eles [alunos] criam um procedimento experimental”.

Pesquisadora: “É, porque...”.

ProfessorPRF: “É que você joga lá os materiais e não tem como, você tem que dar uma orientada, é tudo novo para eles”.

Portanto, o roteiro dos alunos foi reelaborado novamente de forma a conter os materiais listados e as ilustrações. Ao apresentar esse roteiro aos professores, os mesmos avaliaram de forma positiva:

Professor PRF: “Isso, assim [com a imagem e materiais] fica perfeito. Deixa assim”. ProfessorPRJ: “Gostei”.

Dessa forma, as mudanças gerais sugeridas pelos professores foram inseridas em todos os roteiros, tanto dos professores quanto dos alunos.