• Nenhum resultado encontrado

3 METODOLOGIA DE DESENVOLVIMENTO E PESQUISA

3.1 DESIGN BASED-RESEARCH E OS CICLOS DE REFLEXÃO

Na década de 1990, Ann Brown (117) e Allan Collins (118), ao perceberem que as metodologias tradicionais, apesar de suas contribuições, apresentavam dificuldades no desenvolvimento, implementação e solução que implicariam um avanço das práticas educacionais, propuseram uma metodologia de pesquisa, que já era utilizada em áreas da engenharia. Brown (117) enfatiza que esse tipo de metodologia inclui a colaboração contínua entre pesquisador-profissional da área, visto que, quando há algo no projeto que não funciona,

os atores envolvidos trabalham juntos de forma a fazer as mudanças necessárias para melhorar o projeto.

Assim, a DBR pode compor uma metodologia coerente que liga pesquisa teórica e prática educativa e vislumbra ao mesmo tempo o design de uma intervenção e suas especificações como objetos de pesquisa, produzindo práticas inovadoras e fornecendo princípios para serem utilizados por outros. (16, p. 8) As vantagens de utilizar esse tipo de metodologia é que envolve contextos reais e a cada projeto aplicado, há a chance de analisá-lo e efetuar as modificações necessárias para a próxima aplicação, refletindo um compromisso para a compreensão do processo de ensino e aprendizagem.

A DBR envolve a cooperação entre pesquisador e profissional da área para definir um problema, desenvolver sua solução e avaliá-la, dentro de um ambiente de aprendizagem. Essa dinâmica envolve uma abordagem de “refinamento progressivo”, ou seja, ao aplicar a primeira versão de um projeto e analisar seu funcionamento, obstáculos e erros, o projeto deve ser reelaborado de forma a sanar os problemas iniciais e posteriormente ser reaplicado, quantas vezes necessário. Assim, a avaliação do projeto é um ciclo evolutivo que vai se modificando até uma versão final do projeto. (16,117-118)

Segundo Collins (118-119), uma DBR deve ser desenvolvida de forma a abordar alguns pontos como: questões teóricas sobre a natureza da aprendizagem em um determinado contexto, situações do mundo real, ir além da aprendizagem tradicional e obter resultados de forma a detectar as dificuldades que aparecem durante a aprendizagem. Ela também deve contribuir para (16):

• Desenvolver teorias sobre o processo de aprendizagem;

• Validar conhecimentos através de um ciclo que contém a elaboração do projeto, aplicação, análise e reelaboração;

• Levar a teorias compartilháveis e relevantes para professores e pesquisadores;

• Elaborar o projeto de forma que os resultados sejam expressivos da realidade do ensino que se pretende promover;

• Utilizar métodos que documentem e conectem o processo de aplicação do projeto com os resultados.

Ao utilizar a DBR no projeto, os professores tornam-se ativos em todo o processo, desde identificação de problemas no contexto da pesquisa, quanto definição de novos temas/problemas relevantes para a área, para que no fim do projeto haja o maior progresso possível dos participantes envolvidos, além de poder produzir novas ferramentas de ensino. As formas de documentação da metodologia podem ser diversas, como anotações, gravações, fotografias, entre outros. Esses registros são de extrema importância para a metodologia de pesquisa, visto que é por eles que os momentos de ensino são analisados para gerar uma reelaboração do projeto aplicado.

No presente trabalho, a DBR é utilizada de forma a organizar toda a pesquisa, que é composta por momentos distintos que evoluem de forma cíclica (figura 4). Os “ciclos de reflexão”, entendidos como ações contínuas de pesquisa e desenvolvimento que proporcionam suporte didático e pedagógico visando a parceria entre professores e pesquisadores, além de guiar todas as ações da pesquisa. Esta metodologia foi usada e testada em outros trabalhos do grupo (120-121), desenvolvida a partir de outros trabalhos envolvendo colaboração com professores. (16,89)

A evolução do ciclo é realizada por etapas que definem a constituição do grupo de trabalho envolvendo pesquisadores (no caso a pesquisadora e sua orientadora) e professores (etapa A), a iniciação do trabalho de pesquisa e desenvolvimento (etapa B) e a aplicação, avaliação e novas adaptações a partir dos resultados da aplicação do material (etapa C).

Figura 4 – Esquema representativo dos Ciclos de Reflexão. Fonte: Adaptada de COLOMBO JUNIOR (120)

Constituição do grupo de trabalho: Foram convidados professores de física,

matemática e química, via Diretoria de Ensino (DE) e contato direto através dos professores que utilizavam o CDCC, para participarem desta pesquisa voluntariamente. Nesta etapa a proposta de trabalho foi apresentada e discutida com o grupo.

Atualização de conteúdos: Discussões acerca da abordagem HI e dúvidas dos

professores são tiradas, de forma a preparar o docente para a aplicação em sala de aula. Esta etapa, apesar de estar contida na Etapa A, pode ocorrer em todo o desenvolvimento da pesquisa.

Compartilhamento de ideias, perspectivas e identificação de problemas e soluções: Compartilhamento de ideias entre pesquisador e professores sobre os tópicos

e conteúdos referentes à elaboração/reelaboração dos roteiros e identificação e solução de problemas que possam surgir.

Coleta de material: Após encontros e discussões realizados com os

professores anteriormente, pesquisador e professor definem os tópicos que serão abordados em sala de aula sobre a pesquisa. Neste momento o professor assume papel de maior importância, visto que somente ele é capaz de apontar os problemas, especificidades de sua escola e possibilidades de trabalho com seus alunos.

Desenvolvimento do material: Elaboração dos novos roteiros. Neste momento

há o diálogo e discussão com o professor de forma a adequar o material tanto para o professor, quanto para o projeto de pesquisa. A elaboração do material também é realizada de acordo com as questões de pesquisa que se deseja responder, como por exemplo, como implementar a abordagem HI nos roteiros, como relacionar a história da ciência com experimentos investigativos e em qual nível de investigação elaborar o roteiro.

Aplicação, avalição e reelaboração do material: Aplicação do material

desenvolvido na parceria, além de reuniões com os professores para discutir e avaliar o material. Isso engloba analisar os dados obtidos avaliando as questões de pesquisa e, caso haja a necessidade de adequação do material desenvolvido, a reelaboração é efetuada visando sanar os problemas encontrados.

Disponibilização do material: Divulgação e disponibilização de todo o

conteúdo e material produzido, tanto para o professor aplicar em outras turmas, quanto para a utilização do CDCC. Além disso, essa disponibilidade também é feita em artigos científicos, congressos e tese.