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3 METODOLOGIA DE DESENVOLVIMENTO E PESQUISA

5.1 IMPLEMENTAÇÃO DO ROTEIRO SOBRE CALOR LATENTE E CALOR ESPECÍFICO

5.1.4 Análise dos relatórios dos alunos

Na escola B, o professor pediu para os alunos produzirem um relatório sobre a atividade realizada. O professor deixou os alunos livres para elaborarem o relatório da maneira que considerassem adequadas. A seguir apresentamos alguns recortes desses relatórios para analisar como o texto histórico ou algum momento do processo de investigação do procedimento experimental influenciaram na elaboração dos relatórios. Salientamos que as práticas referentes ao professor não foram analisadas nos relatórios. Os relatórios são sobre o experimento de calor específico (o professor não pediu que os alunos efetuassem relatórios sobre o experimento do calor latente):

Figura 7 – Recorte de um dos relatórios dos alunos. Legenda: “Conforme foi apresentado no texto, o calor específico é uma propriedade específica de cada matéria, ou seja, uma matéria precisa de uma maior quantidade de calor do que uma outra substância [...]”.

Fonte: Elaborada pelos alunos.

Figura 8 – Recorte de um dos relatórios dos alunos. Legenda: “Quando diferentes objetos com massas diferentes estão em um local e são submetidos a mesma temperatura, o que determina se esse objeto esquentaria mais que o outro é o calor específico, que é o quanto de energia que o material pode absorver”.

Fonte: Elaborada pelos alunos.

Nos trechos destacados dos relatórios acima, observamos como o texto histórico foi importante para que dois grupos de alunos se baseassem nele ao construírem seus relatórios. Os alunos, no primeiro relatório (figura 7), retomaram o TH para explicarem o conceito científico sobre calor específico com suas palavras. No segundo relatório (figura 8) os alunos também utilizaram o TH para escrever o que foi destacado. Esse grupo de alunos questionou a pesquisadora sobre como poderiam começar a elaboração do relatório. A pesquisadora sugeriu aos alunos discutirem no relatório o que haviam compreendido da realização da atividade de forma geral. Os alunos nesse momento retomaram o TH para escreverem, com suas palavras, o trecho que foi destacado.

Portanto o TH influenciou na atividade fornecendo subsídios conceituais para que ambos os grupos de alunos elaborassem seus relatórios. Assim, o TH desempenhou o papel de reflexão no momento que os alunos trabalharam suas ideias articuladas com o texto, e também ajudou durante a atividade HI, no caso, a elaboração dos relatórios.

Como apontam diversos autores (2,4,55,63-64,67-70) o uso da HFC é importante para contextualizar e humanizar a ciência, permitir uma visão sobre a cultura material da experimentação científica, mostrar a evolução da construção de uma teoria, erros e tentativas até chegar a uma teoria aceita atualmente.

Ao analisar as práticas epistêmicas dos recortes dos dois relatórios acima, verificamos a presença da prática PE1 (produção do conhecimento), PE2 (apropriação e comunicação do conhecimento) e PE3 (análise do conhecimento) no momento em que descreveram, relacionaram informações para comunicarem o que entenderam sobre um conceito físico ou procedimento experimental e no momento em que avaliaram a evidência ou explicação que é fornecida pelo TH para a construção de seus textos. Os recortes dos relatórios não exibem práticas relacionadas ao planejamento de investigação científica e testes experimentais. Portanto a prática PE4, não foi contemplada. Assim as práticas específicas favorecidas estão associadas à investigação realizada pelos alunos ao interpretarem e discutirem o texto histórico nos relatórios.

Os relatórios a seguir, da escola B, não apresentaram nada relacionado ao texto histórico, porém apresentam processos da elaboração do procedimento experimental. Os recortes dos relatórios são dos experimentos sobre calor específico:

Figura 9 – Recorte de um relatório de um grupo de alunos sobre o experimento calor específico. Fonte: Elaborada pelos alunos.

Figura 10 – Recorte de um relatório de um grupo de alunos sobre o experimento de calor específico. Fonte: Elaborada pelos alunos.

Alguns grupos de alunos apresentaram em seus relatórios (figuras 9 e 10) a elaboração do procedimento experimental que realizaram. A ação manipulativa da atividade foi transformada em conhecimento e comunicada na forma escrita/desenho. Além disso, os alunos realizaram cálculos matemáticos, para encontrar o valor do calor específico de um metal, comunicando o conhecimento adquirido durante a atividade.

Ao analisar as práticas epistêmicas, a prática PE1 (produção do conhecimento) foi contemplada quando os alunos elaboraram desenhos e textos para explicar como foi planejado e realizado o procedimento experimental. A prática PE2 (apropriação e comunicação do

conhecimento) quando descreveram, relacionaram informações para comunicar o procedimento experimental na forma escrita, e a prática PE4 (planejar investigações e realizar testes experimentais) no momento em que os alunos realizaram o experimento, coletaram os dados e executaram desenhos sobre o experimento proposto e realizaram cálculos matemáticos. A PE3 que se refere a avaliar explicações e evidências, não foi contemplada. As PE específicas contempladas estão relacionadas aos alunos sistematizarem a investigação do procedimento experimental que realizaram na atividade.

Sumarizando todas as discussões realizadas acima (seção 5.1), percebemos de um modo geral, que a habilidade de mediação da pesquisadora fez com que a implementação da abordagem HI fosse realizada de maneira parcialmente satisfatória. A pesquisadora conseguiu utilizar o TH e a problematização e ambos influenciaram nas discussões e na aprendizagem dos alunos sobre os temas abordados. (1-2,4,8,13-14,21-22,55,67-68,124) Houve um momento da atividade de calor específico em que os alunos apresentaram uma dificuldade relacionada à conexão do TH com o experimento. Isso ocorreu pela falta de contato com a HFC, leitura e discussões relacionadas a ela por parte dos alunos. Debater sobre a história e filosofia da ciência contribuiu para contextualizar a atividade e a compreensão dos conceitos científicos. (2,4,55,66,124) Considerando o LD na implementação da abordagem HI realizada, houve a aproximação do conhecimento científico com o mundo material, a articulação entre o saber discente com o conhecimento científico/mundo material nos momentos de utilização do TH, discussão da problematização, realização da atividade experimental e elaboração dos relatórios e o conhecimento historicamente construído na utilização do TH. Portanto, a abordagem HI favoreceu na aprendizagem dos alunos, que produziram, comunicaram e construíram o conhecimento e o nível requerido pelo roteiro foi quase alcançado.

Já o professor PRF não conseguiu implementar a abordagem HI plenamente, e consequentemente, o nível requerido pelo roteiro não foi completamente alcançado. Em algumas aplicações (escola A e D) ele teve algumas dificuldades relacionadas a infraestrutura da escola, tempo e comportamento dos alunos, que o fez recorrer ao ensino tradicional. Ele interferiu em alguns momentos da atividade, fornecendo respostas aos alunos. Nas atividades em que essas dificuldades estavam presentes, o professor optou por não utilizar o TH e a problematização. Portanto, percebemos que o apego ao ensino tradicional, habilidades de mediação do professor, controle da sala, tempo disponível na aula, insegurança do professor, e

a abordagem ser algo nova para alunos e professores, foram obstáculos que influenciaram na implementação da abordagem HI. (45-46,49,63,73,76,125-126)

Nos momentos da atividade de calor específico em que o professor PRF apresentou habilidades de mediação durante a atividade, os alunos conseguiram realizar investigações científicas. O professor PRF fez uso do TH em somente um momento da atividade e ele o utilizou de forma a recordar aos alunos a teoria abordada em sala de aula. Esse fato mostrou que faltou capacitação do professor em conseguir abordar a história da ciência, possuir conhecimento da HFC e debater as ideias, evidências e conceitos científicos presentes no TH. (63,73,76,126)

A pesquisadora e o professor PRF utilizaram o roteiro de forma qualitativa. Ambos priorizaram que os alunos compreendessem os procedimentos experimentais realizados, os fenômenos observados e, no caso da pesquisadora, a compreensão e discussão do conteúdo histórico e as variáveis envolvidas no fenômeno. Apesar do professor PRJ na escola B pedir que os alunos elaborassem relatórios valendo nota, a pesquisadora não se preocupou que os alunos comprovassem e verificassem leis matemáticas.