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7. Resultados

7.1. Individualização das unidades litológicas na área estudada

7.2.1. Análise da rede de drenagem

7.2.1.1. Análise dos lineamentos de drenagem

Com o objetivo de mapear as principais orientações da drenagem e, eventualmente, correlacioná-las aos padrões e anomalias apresentados pelos rios, foram extraídos os lineamentos de drenagem a partir do mapa de drenagem obtido do modelo SRTM. Os segmentos foram traçados na rede de drenagem de modo uniforme, buscando obedecer a características como a dimensão, de modo que pudessem representar uma feição geológica em subsuperfície (falha ou fratura).

Os segmentos retilíneos de drenagem foram extraídos para as quatro direções (N-S, E-W, NE-SW e NW-SE) e cada conjunto foi individualizado, conforme mostrado nas figuras 31 e 32. Para dar uma conotação mais quantitativa, optou-se pela determinação dos locais com maior ou menor densidade, utilizando a análise estatística segundo o modelo de Kernel aplicado para linha. Os mapas elaborados por essa técnica possibilitam a observação de tendências, muito embora isso não possa corresponder necessariamente à caracterização de zonas de falhas e fraturas. No entanto, tal determinação pode auxiliar na melhor descrição de locais onde determinados lineamentos possuem um significado geológico.

Os mapas obtidos para as quatro direções integradas não é um procedimento adequado, uma vez que pode resultar em falsas tendências. Porém, quando separadas, conforme apresentado nas figuras 31 e 32, é possível notar áreas com maior ou menor densidade. A direção N-S, por exemplo, apesar de discreta, está bem representada na porção oeste da área, nas cercanias da região do lago de Mamiá e em trechos do rio Coari, se estendendo para norte desse local. Nas demais regiões esta direção é presente mais pouco significativa (Figura 31 A e C). Cinco importantes lineamentos N-S foram definidos, tais como: a) lineamento de Mamiá; b) lineamento transversal lago Ajura – lago Acará – Foz do rio Badajós; c) lineamento na confluência dos rios Luna – Jará – Beruri – Anamã; d) lineamento do baixo curso do rio Coari; e) lineamento lago Preto. Os segmentos de drenagem E-W, assim como a orientação N-S, são sutis e mostram-se mais freqüente nas porções norte e sul da área estudada, nas áreas a montante do lago Aiapuá e cruzando a região de Anamã. Como a freqüência de lineamentos com essa orientação é baixa, não foi possível estabelecer os locais onde eles são importantes (Figura 31 B e D).

Um fato curioso, observado nos mapas de densidade de Kernel, é a falsa interpretação que esses dados podem representar para uma dada direção. Por exemplo, no mapa de lineamentos E-W observa-se que também ocorre uma distribuição de contornos na direção N-S. Isso se deve a forma de elaboração dos mapas, pois pode ocorrer uma concentração de lineamentos E-W alinhados segundo N-S. Tais considerações devem ser observadas para não induzir caracterização de lineamentos por erro na leitura do mapa.

A Figura 32 mostra as orientações dos lineamentos de drenagem nas direções NE-SW e NW-SE. Essas são as principais orientações notadas nesse setor. A direção NE-SW mostra expressivos lineamentos individualizados na porção sul do rio Solimões: lineamento do rio Purus, lineamento igarapé Uauaçu, lineamento do igarapé Tambaqui, lineamento igarapé do Salsa, lineamento rio Urucu, lineamento rio Mamiá.

Na porção norte, destaca-se o lineamento do lago Miuá – igarapé Anamã, lineamento Coari – Codajás e o lineamento Codajás – Anamã (Figura 32 A e C). Os segmentos na direção NW-SE apresentam maior densidade quando comparados com os demais. A sul do rio Solimões destacam-se o lineamento dos paranás do Salsa – Uauaçu, lineamento do igarapé Envira e lineamento do lago Água Fria, enquanto que para norte, temos o lineamento de Codajás, lineamento Anori, lineamento igarapé Anamã e lineamento do interflúvio Badajós – Piorini (Figura 32 B e D).

A partir da distribuição dos segmentos de drenagem foi possível elaborar diagramas de rosetas com a representação das principais direções estruturais para os lineamentos obtidos na rede de drenagem (Figura 33). A elaboração dos diagramas de rosetas foi confeccionada em compartimentos específicos, individualizados nas porções norte do rio Solimões, margem direita do rio Purus e a região entre Coari ao lago Aiapuá (sul do rio Solimões). Essa separação teve o objetivo de buscar observar áreas que pudessem revelar uma tendência de orientação estrutural, conforme notada nos diagramas de densidade de Kernel.

Para cada compartimento foi elaborado diagramas de rosetas tanto para o comprimento total quanto para a freqüência de lineamentos (número de lineamentos). A Figura 33 mostra que a direção NW-SE (N45W) é predominante na porção norte, seguido das direções E-W, N-S e, de modo secundário, a direção NE-SW (N45E), conforme Figura 34. Para o total de lineamentos nota-se que essas direções predominam nessa ordem.

Na área da margem direita do rio Purus notou-se a mesma correlação. A direção NW-SE é abundante tanto para o comprimento total quanto para o número de lineamentos. Para o comprimento total a direção N35-55W é marcante. As direções E-W e N-S mostram equivalência para o comprimento total, mas com diferenças significativas na freqüência de

lineamentos. Assim como na porção norte, a direção NE-SW foi pouco notada (Figura 34). A média dos valores para o diagrama dessa porção mostrou, no entanto, que as direções N-S e NE- SW (N35-75E) predominam (Figura 34).

Já para a porção sudoeste (área entre os rios Coari e o lago Aiapuá), as direções NW-SE (N45W) e E-W têm maiores comprimentos totais, com importantes segmentos N-S e, mais uma vez, menos abundante da direção NE-SW (N45E). No entanto, para a freqüência de lineamentos notou-se que a orientação E-W é mais significativa que a N45W (Figura 34). Os valores médios, observados nessa figura mostram que a direção NE-SW é importante.

Figura 34. Diagramas de rosetas para os lineamentos de drenagem da área estudada (área total) e para as respectivas porções norte, sudeste e sudoeste. Os diagramas compreendem o comprimento total e o número ou freqüência de lineamentos.

7.2.2. Análise do relevo

A análise do relevo da área estudada foi baseada no reconhecimento de feições morfoestruturais observadas nas imagens de satélites, modelos digitais de elevação e seções topográficas. A identificação de formas e unidades de relevo não demonstra, por si só, a ocorrência de um elemento morfoestrutural. Dessa forma, o mapa de unidades morfoestruturais (Figura 11 p. 24) apresentado pelo IBGE (2006), não permite tal análise, mas serve como parâmetro para a discussão do estudo neotectônico.

A Figura 35 apresenta o mapa de curvas de nível extraídas do modelo SRTM. De acordo com o mapa, observa-se que o relevo predominante na região está em torno de 50 metros de altura, sendo que as maiores altitudes são encontradas na porção oeste-sudoeste e alcança altitudes pouco acima de 70 metros. De fato, essa área plana da Amazônia Ocidental é muito baixa, conforme pode ser notado nas cartas topográficas da área estudada. Os poucos valores de cotas presentes nas cartas topográficas, na escala 1: 250.000, são pontuais e variam entre 30 a 56 metros, na área de terra-firme, e entre 15 e 27 metros nas várzeas. A falta de contorno topográfico nessa região é justificada, portanto, pela baixa altitude da área estudada.

A planície fluvial do rio Solimões (conforme a Figura 35) se desenvolve numa superfície topográfica cujos valores mais elevados não ultrapassam 30 metros. A densidade de contornos, obtida através do modelo SRTM, permite analisar com maior clareza a distribuição dessa superfície, comprometida na base cartográfica regional. O mapa de curva de nível obtido representa, portanto, um excelente documento auxiliar na análise do relevo para áreas como a Amazônia (Silva et al. 2007). Isso tem permitido a interpretação de feições tectônicas na paisagem pouco notadas em cartas topográficas da região (Almeida Filho et al. 2005, Rossetti et al. 2005, Silva et al. 2007).

Na área estudada, é possível observar duas superfícies topográficas bem discriminadas: a área de terra-firme e a planície fluvial. Daí a conotação planalto rebaixado e depressões interfluviais, apresentada por diversos estudos, tais como os de Costa et al. (1978), Nascimento et al. (1976), Mauro et al. (1978), IBGE (2006). Entretanto, tais abordagens permitem apenas uma análise morfológica sem interpretação dos processos que resultaram na formação e compartimentação da paisagem.

A superfície mais elevada, denominada regionalmente por terra-firme, foi elaborada em rochas sedimentares da Formação Içá. A pediplanização plio-pleistocênica nessa superfície resultou na formação de interflúvios tabulares e colinas pouco dissecadas, onde a drenagem foi instalada. Já a Planície Amazônica, situada em nível topográfico mais baixo, é um sítio amplo de acumulações de sedimentos e tem sua evolução associada à dinâmica fluvial e flúvio-lacustre.

Essas superfícies se apresentam desniveladas e a maior parte dos seus limites é marcada por quebras abruptas alinhadas no relevo. O modelo digital de elevação SRTM, apresentado na Figura 36, mostra superfícies com caimentos diferenciados para as porções norte e sul. Os seus limites retilinizados são elementos morfotectônicos que têm importante papel na compartimentação do relevo.

A zona interfluvial entre os rios Purus e Coari tem caimento geral de sudoeste para nordeste, onde as bacias dos rios e igarapés tributários dos canais principais fluem, no geral, para nordeste, conforme pode ser observado na Figura 36. Os rios nessa área têm formas retilíneas (ver item 7.1.1), configurando áreas retangulares, como, por exemplo, na região de Coari. Essa zona escarpada possui diferença topográfica da ordem de 20 metros (perfis da Figura 37). Tal situação configura a morfologia em falésias fluviais ou margens escarpadas, muito citado na literatura por Costa et al. (1978), Mauro et al. (1978) e Iriondo (1982). Exemplos dessa morfologia estão presentes margeando a cidade de Coari, ao longo dos lagos Aiapuá, Uauaçu e Salsa e da margem direita do rio Purus até Beruri. A dinâmica de erosão fluvial também produziu as feições de erosão recurvadas ou reentrâncias, como aquelas observadas nos rios Mamiá e fortemente notada no rio Purus (Figura 36 e 37). Estas feições representam os rebordos erosivos descritos por Costa et al. (1978) e Mauro et al. (1978). Ainda no interflúvio entre os rios Purus e Coari, a região entre a margem esquerda do rio Purus até o lineamento no igarapé Uauaçu, compreende uma importante área diagnosticada como terraço fluvial. Formas erosivas recurvadas e marcas de paleomeandros caracterizam essa área retangular e alongada na direção NE-SW, cujo limite é retilíneo e está marcado por um desnível baixo, porém significativo, de cerca de 10 metros (figuras 20, 21 B, 28 e 36).

A margem direita do rio Solimões, a norte da cidade de Coari, configura um amplo e significativo rebordo erosivo, bastante recurvado na área onde estão os paranás do Piorini e Badajós. Já o furo onde se deu a passagem do rio Solimões no sentido de Coari é marcado como uma feição retilínea no relevo. Os desníveis topográficos entre essas superfícies chegam a alcançar valores de 25 a 30 metros (Figura 36).

A margem direita do rio Purus, no entanto, está suavemente inclinada para sudeste. Boa parte dos canais que fluem neste sentido faz parte da bacia do rio Madeira, fora da área pesquisada. Nesse caso, o divisor das bacias desses dois rios está próximo a margem direita do rio Purus e descreve uma orientação retilínea na direção NE-SW, como também foi diagnosticado por Costa et al. (1978) e Mauro et al. (1978), conforme as figuras 36 e 37. É notável observar a assimetria da bacia desse rio, uma vez que apresenta segmentos muito pequenos na margem direita. A maior parte dos canais não faz parte da bacia hidrográfica do rio Purus, como pode ser notadas nas figuras 23 e 37 (Perfil A-B).

Na porção norte, a zona entre os rios Piorini e Badajós tem fluxo de noroeste para sudeste, mas a norte de Codajás a tendência é de oeste para leste. Embora uma pequena área situada em Codajás, Anori e Anamã tenha inclinação para sul-sudeste, ela representa regiões de depósitos em terraços fluviais, desnivelados cerca de 10 metros abaixo da área de terra-firme (Figura 37 Perfil C-D). Nesses locais também ocorrem formas erosivas fluviais, mas as margens representam feições retilinizadas (Figura 37 Perfil E-F). Os exemplos mais notáveis destas feições retilinizadas compreendem as margens escarpadas na foz do rio Piorini (com direção N- S), a margem do lago Acará (NW-SE) e toda a margem do rio Solimões desde a ilha de Cipotuba, a montante de Codajás, até Anamã. A variação topográfica entre as margens e o nível dos rios, neste último trecho, pode alcançar 20 metros de altura. As margens esquerdas dos paranás Piorini e Badajós, entretanto, elaboraram a mais ampla erosão fluvial que se estende até próximo à ilha Cipotuba, de acordo com as figuras 23, 35 e 36.

Figura 36. Modelo topográfico digital (MDT), re-interpolado a partir de modelos SRTM, que indica elementos morfoestruturais na paisagem: Rebordos erosivos (seta), escarpas (linha com pontas) e relevo alinhado separando áreas altas e baixas (linha pontilhada A – área alta, B – área baixa). A cota mais, da ordem de 70 metros, tem como substrato a unidade Formação Içá. Na planície amazônica as áreas não são superiores a 35 metros.

Figura 37. Perfis topográficos que mostram o caimento geral da área de estudo, obtidos a partir do modelo SRTM. A-B – perfil topográfico na região do interflúvio dos rios Purus e Coari; C-D – porção norte de Codajás, E-F – Planície Amazônica.

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