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5. Geomorfologia Regional: Revisão dos estudos

5.1. Planície Amazônica

A Planície Amazônica é representada por planícies e terraços fluviais e flúvio-lacustres elaborados em sedimentos aluviais recentes e correspondem às várzeas permanentemente alagadas e/ou inundáveis nas cheias anuais (Bezerra, 2003). Segundo Costa et al. (1978), esta unidade é caracterizada por apresentar uma colmatagem atual e ativa, onde se destacam lagos, furos, paranás e depósitos lineares recentes. Bezerra (2003) destaca a presença de diques arenosos, correspondentes aos depósitos de barra em pontal, bacias de decantação, como depósitos de transbordamento e lagos de meandro, como aluviões flúvio-lacustres. A drenagem é complexa com trechos meandrantes e retilíneos devido a um forte controle estrutural (Bezerra, 2003).

Costa et al. (1978) descrevem, sucintamente, o desenvolvimento da Planície Amazônica na área estudada. Comentam os autores que no limite ocidental da área até próximo a Coari, faixa de planície fluvial posiciona-se somente ao longo da faixa esquerda do rio Solimões. Deste ponto para a jusante, a Planície Amazônica posiciona-se principalmente ao longo da margem direita deste rio. A norte da junção entre estes dois trechos, a planície passa a acompanhar um antigo curso do rio Solimões dispondo-se de forma arqueada com a convexidade voltada para norte. A partir daí, o curso do rio descreve longos segmentos retilinizados que se orientam para nordeste e sudeste, até próximo à cidade de Manacapuru, a leste da área estudada. Entre as cidades de Codajás e Anori verifica-se um pequeno trecho de terraço na margem esquerda do rio Solimões. No segmento que se localiza entre as cidades de Anori e Anamã tem-se a foz do rio Purus. O traçado semi-retilinizado apresentado pelo canal do rio Purus próximo à sua foz foge ao comportamento normal do rio, que tem no restante de seu percurso um padrão tipicamente meândrico. Tal anomalia se deve a um forte controle estrutural por zonas de falhas normais, conforme Silva et al. (2003). Esta descrição apresentada por Costa et al. (1978) é puramente descritiva e pouco se conhecia na época a respeito da deformação tectônica existente.

Ainda segundo Costa et al. (1978), quatro padrões fisionômicos são distintos para a Planície Amazônica no rio Solimões (Folha SA.20 – Manaus), que são: o padrão de depósitos lineares fluviais recentes; o padrão de colmatagem homogênea; o padrão de lagos e o padrão de depósitos lineares fluviais antigos.

O padrão de depósitos lineares fluviais recentes é composto por diques aluviais, situados às margens dos principais rios. Possuem forma em feixes paralelos e recurvados e tem relação com a sedimentação recente ao longo do canal. Lagos alongados, que se distribuem entre os

segmentos das barras arenosas, foram classificados como lagos de diques. O padrão de colmatagem homogênea foi caracterizado pela textura fina e lisa quando observado nos mosaicos de radar, consistindo em lagos e canais que drenagem áreas em processo de colmatagem.

O padrão de lagos corresponde às áreas mais baixas da planície fluvial onde se desenvolvem principalmente lagos de várzea. Este tipo está situado nas imediações dos maiores lagos da planície da margem esquerda do rio Solimões como, por exemplo, o lago Acará. Marginalmente aos paranás do Piorini e do Badajós também são verificados grandes concentrações lacustres. Os furos e paranás que cruzam estas áreas constantemente alagadas atuam no sentido de subdividir os grandes lagos em lagos menores, através do efeito de colmatagem. Já o padrão de depósitos lineares fluviais antigos corresponde a diques fluviais que se dispõem sob a forma de feixes paralelos com curvatura de grande amplitude e geralmente comportam entre eles lagos interconectados. Sua ocorrência é observada principalmente sobre as áreas mapeadas como terraços fluviais, como, por exemplo, a norte do rio Solimões, entre as cidades de Codajás e Anori, e a norte do paraná Copeá. (Figura 11).

Grande parte da Planície Amazônica no rio Purus foi mapeada por Mauro et al. (1978), na Folha SB.20 – Purus. Tais autores definiram o canal deste rio como sinuoso com curvas de padrão meândrico e retilinizações próximo à foz. O posicionamento dos terraços comprova migrações do leito do rio. A área de planície do rio Purus, no trecho contemplado nesta pesquisa, é caracterizada pela presença de lagos de meandros, lagos de várzea e grandes furos e paranás. Os lagos localizados na margem esquerda do rio Purus, no limite inferior da área, no limite entre a planície fluvial e os relevos pleistocênicos dissecados (Depressão Madeira – Purus) são típicos de meandro. São observados, ainda, rios com trechos afogados e em processo de colmatagem, além de vários lagos abertos nos cursos inferiores de rios quando estes atingem a planície fluvial. Tais lagos, definidos como lagos de barragem, podem ser classificados como “rias fluviais” (Figura 11). Mauro et al. (1978) classificaram que alguns paranás situados na região do rio Purus são adaptados tanto à tectônica quanto a diferença litológica.

Próximo à sua desembocadura no rio Solimões, o rio Purus caracteriza-se pelo traçado de seu curso essencialmente retilinizado com sinuosidades localizadas. A área de planície correspondente a essa seção do rio particulariza-se por apresentar elevado número de lagos de várzea, lagos de diques e lagos residuais e de colmatagem. Os lagos de meandro constituem exceção, segundo Costa et al. (1978). Silva et al. (2003) descrevem que tais associações e formações lacustres decorrem da combinação de processo tectônico com adaptação da drenagem à mudança em seu gradiente.

O rio Purus encontra-se deslocado contra os relevos dissecados tabulares dos sedimentos pliopleistocênicos (Depressão Madeira – Purus), não construindo assim, planície fluvial pela margem direita (Mauro et al., 1978). No entanto, a partir da margem esquerda, o rio Purus expande a planície numa vasta área subtriangular, onde os furos são classificados como furo ligando lagos. Outro furo encontrado na região, o do paraná do Salsa, aparece interligando os dois maiores lagos desse trecho da Planície Amazônica no rio Purus – lagos Aiapuã e igarapé do Salsa (Figura 11). Nessa região, observam-se extensos furos em processo de colmatagem, onde a drenagem é francamente anastomosada em função do elevado número de lagos de várzea, com superfícies nunca superiores a 1km2 e unidas entre si por uma complexa rede de furos. Até o rio Solimões, a drenagem apresenta feição similar, porém, com lagos de várzea mais esparsos. Alinhamentos de diques são indicativos dos direcionamentos da sedimentação mais recente.

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