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7. Resultados

7.3. Compartimentação Morfotectônica

Com base nas análises na drenagem e no relevo da região obteve-se um quadro com os principais lineamentos observados na paisagem da área estudada, conforme a Tabela 3.

DIREÇÃO LINEAMENTO DE RELEVO LINEAMENTO DE DRENAGEM

NE-SW 1. L. Rio Purus;

2. L. Igarapé Uauaçu; 3. L. Igarapé Tambaqui; 4. L. Igarapé do Salsa; 5. L. Paraná do Mamiá; 6. L. Coari-Codajás; 7. L. Anori-Anamã;

8. L. transversal aos rios Piorini-Badajós.

1. L. Rio Purus; 2. L. Igarapé Uauaçu; 3. L. Igarapé Tambaqui; 4. L. Igarapé do Salsa; 5. L. rio Urucu; 6. L. Paraná do Mamiá 7. L. Coari - Codajás; 8. L. Codajás - Anamã;

9. L. Lago Miuá – Igarapé Anamã.

NW-SE 1. L. Baixo curso do rio Mamiá;

2. L. Paraná do Salsa-Paraná Uauaçu; 3. L. Lago Acará;

4. L. Codajás - Lago Miuá; 5. L. Paraná do Badajós.

1. L. Paraná do Salsa-Paraná Uauaçu; 2. L. Lago Acará;

3. L. Codajás - Lago Miuá; 4. L. Paraná do Badajós; 5. L. Baixo curso do rio Piorini; 6. L. Anori;

7. L. Lago Anamã.

N-S 1. L. Rio Coari;

2. L. Lago Ajura-Lago Acará;

3. L. Rio Jará - Rio Luna - Beruri - Lago Anamã.

1. L. Rio Mamiá;

2. L. Transversal lago Ajura - Lago Acará - Foz do rio Badajós;

3. L. Confluência do rio Luna - Rio Jará - Beruri - Anamã;

4. L. Baixo curso do rio Coari; 5. L. Lago Preto.

E-W 1. L. Rio Luna;

2. L. Rio Mamiá - Lago Uauaçu - Lago Ipiranga;

3. L. Rio Coari - Lago do Salsa.

Poucos lineamentos definidos, ocorrendo apenas nas porções norte de Anamã e sul do rio Purus.

Tabela 3. Principais lineamentos mapeados a partir das análises no sistema de drenagem e no relevo da região e suas correlações.

Nota-se que os lineamentos representam tanto feições lineares no relevo quanto na drenagem. Isso representa provavelmente que tais lineamentos são existentes e podem ser considerados como importantes elementos morfoestruturais. Assim sendo, foi elaborado o mapa de lineamentos estruturais da área de estudo e, para facilitar a observação, este foi sobreposto ao modelo SRTM, de acordo com a Figura 42.

A análise comparativa entre os lineamentos de relevo e drenagem mostra que os lineamentos mais representativos (com direção NE-SW) e que podem significar estruturas geológicas são: Lineamento Rio Purus, Lineamento Igarapé Uauaçu, Lineamento Igarapé Tambaqui, Lineamento Igarapé do Salsa, Lineamento Paraná do Mamiá, Lineamento Coari- Codajás, Lineamento Anori-Anamã e Lineamento transversal aos rios Piorini-Badajós. Já para aqueles na direção NW-SE, os mais representativos são: Lineamento Baixo curso do rio Mamiá, Lineamento Paraná do Salsa-Paraná Uauaçu, Lineamento Lago Acará, Lineamento Codajás - Lago Miuá e Lineamento Paraná do Badajós. Para a direção N-S: Lineamento Rio Coari, Lineamento Lago Ajura-Lago Acará e Lineamento Rio Jará - Rio Luna - Beruri - Lago Anamã. Por fim, para a direção E-W podem ser individualizados os seguintes segmentos: Lineamento Rio Luna, Lineamento Rio Mamiá - Lago Uauaçu - Lago Ipiranga e Lineamento Rio Coari - Lago do Salsa.

A interpretação morfotectônica mostra que as estruturas NW-SE correspondem a falhas normais, com mergulhos para nordeste e sudoeste. A Falha de Codajás e a do paraná do Salsa- Uauaçu compreendem os limites tectônicos que limita a sedimentação quaternária na Planície Amazônica. Esses lineamentos controlam a orientação do canal do rio Solimões, a formação de terraços assimétricos, a distribuição dos lagos afogados (rias fluviais) e a sedimentação aluvionar quaternária. O desnivelamento causado pela Falha do paraná do Salsa – Uauaçu foi responsável pela anomalia notada no canal do rio Purus. Na região do Lago Acará, o lineamento homônimo representa um segmento com as mesmas características, funcionando como falha normal. Essa mesma correlação pode ser feita com o lineamento Paraná do Badajós que representa a continuidade do lineamento Codajás e também tem comportamento similar à falha normal.

Entre os lineamentos com direção NE-SW destacam-se o sistema de falhas no rio Purus (lineamento do rio Purus) e o lineamento do Igarapé Uauaçu que parecem corresponder a um sistema de falhas de transferências, podendo ter componente direcional importante. O controle efetivo na orientação do rio Purus, a estreita faixa de sedimentação quaternária aluvial limitada no vale, a assimetria do canal desse rio na margem direita e as divagações apresentadas na superfície de terraço situado na margem esquerda são indícios fortes do controle tectônico dessa área. O lineamento Coari-Codajás e Anori-Anamã, ambos com direção aproximada N70E, devem representar o mesmo segmento de falha. A análise morfotectônica demonstra que essa estrutura não apresenta características como desnivelamento de relevo significativo. Nota-se que essa direção estrutural desloca as falhas normais NW-SE (falha do Lago Acará e Falha do Paraná do Badajós), em ambas as margens. Isso é sugestivo de falha direcional destral.

O trend com direção NNW-SSE posicionado na porção leste da área de estudo, denominado de Lineamento Codajás – Miuá pode representar o Arco de Purus (figuras 38 e 42). Essa feição estrutural do embasamento teve papel fundamental na evolução da sedimentação ao longo das bacias do Amazonas e Solimões, sendo considerada inclusive uma feição que limita essas duas bacias paleozóicas. Recentemente, Almeida Filho et al. (2005) têm mostrado que essa estrutura mostra ativações tectônicas no cenozóico, influenciando de modo significativo no condicionamento das bacias de drenagem na porção oeste de Manacapuru.

Os lineamentos com direção N-S estão compartimentados nas áreas leste e oeste da região pesquisada e possuem controle efetivo na segmentação de canais e drenagens de ordem variada. Compreendem lineamentos que seccionam a região dos rios Coari e Mamiá (Lineamento do rio Coari e lineamento do rio Mamiá) e aquele que passa no Lago Acará (Lineamento Lago Ajurá-Lago Acará). Na porção leste o destaque é para o trend que passa na região do município de Beruri (Lineamento Jará-Luna-Beruri-Anamã) e controla trechos dos rios Jará e Luna, na porção mais ao sul, e trechos do rio Anamã, na porção norte da área. Foi através desse lineamento N-S na região de Coari que o rio Solimões teve seu curso desviado para sul, criando o Lago de Coari.

Os lineamentos E-W são pouco expressivos, pois aparecem não apresentar um componente de mergulho no relevo da região, ou seja, não formam desnivelamentos no relevo. Estão mais discriminados na área sul, os quais estão representados pela orientação de pequenos segmentos de drenagem, como aquela do rio Luna (Lineamento do rio Luna). Mostram pouca expressão no relevo e sua caracterização tectônica merece estudo de campo para análise estrutural. Silva et al. (2002) e Bezerra (2003) descrevem que tais estruturas podem funcionar como falhas transcorrentes, mas não há descrição de dados de campo. Na cidade de Manaus, onde é possível a análise estrutural em diversos cortes na área urbana, Oliveira et al. (1995), Silva (2005) e Silva et al. (2007) descrevem que a direção E-W compreende falhas transcorrentes destrais mais novas que as direções NE-SW e NW-SE. Silva (2005) comenta que para o caso das falhas N-S estas são falhas transcorrentes possivelmente sinistrais, cuja estruturação é a mais nova da região.

Portanto é possível descrever um quadro neotectônico responsável por todo o controle do sistema de relevo e drenagem, na planície do rio Solimões, que causou importante ajustes na dinâmica fluvial desse rio. O sistema tectônico mapeado nessa região compreende um sistema de falhas normais NW-SE, com mergulho ora para nordeste e ora para sudoeste, que representa os limites da planície aluvionar do rio Solimões. Essa situação possibilitou o condicionamento de toda a sedimentação na planície do rio Solimões nessa bacia, a qual tem sido determinada com

uma geometria romboédrica. As falhas NE-SW que atua no limite do rio Purus e desloca as falhas normais NW-SE, são, portanto, mais jovens, e devem funcionar como um sistema de transferência. Para o caso do controle no rio Purus, esta bacia é limitada e alongada, muito similar as bacias transtensivas. As falhas N-S e E-W devem estar associadas a esse regime tectônico, mas são nitidamente mais jovens.

A paleogeografia dessa área foi elaborada a partir da associação das zonas de falhas existentes e das unidades sedimentares individualizadas no mapa geológico e estrutural elaborado (Figura 43). A sedimentação do rio Solimões já era condicionada pela falhas NW-SE. No entanto, o seu curso era diferente do curso atual e passava ao longo do sistema do paleocanal situado cerca de 40 km a sul da região de Codajás (Figura 44). Esse antigo curso também se desenvolvida na região do lago Acará passando a norte do canal atual. A confluência do antigo rio Solimões com o rio Purus se dava cerca de 70 km a montante da atual confluência. Tal situação paleogeográfica justifica a extensa planície flúvio-lacustre existente entre o antigo e o atual curso. Adicionalmente, o desnivelamento de blocos pela ação dessa falhas normais resultou em fortes anomalias nas drenagens, como por exemplo, as rias fluviais, o lago Aiapuá e a anomalia do canal do rio Purus, com formas retilíneas e meandrantes ao longo do seu curso. Esse sistema foi fortemente modificado a partir da atuação da falha transcorrente destral ENE-WSW, representada pelo Lineamento Coari-Codajás. A atuação dessa falha transcorrente deslocou a escarpa de falha do lago Acará daquela situada no igarapé do Salsa. Nesse processo houve o condicionamento do rio Solimões na zona de falha, modificação do padrão do canal de meandrante para retilíneo, afogamento da região de Coari (lago de Coari), abandono do antigo curso na região do paraná do rio Badajós e formação do curso atual. A análise tectônica do sistema de falhas normais (NW-SE), mais antigo, deslocado pela falha transcorrente destral (ENE-WSW) está enquadrada no modelo neotectônico transcorrente destral para a Amazônia Ocidental.

Figura 44. Paleogeografia do rio Solimões na região entre Coari e Anori (AM) observado em modelo tridimensional SRTM. O antigo curso desse rio fazia a volta na região hoje ocupada pelo paraná do rio Badajós. O registro do paleocanal pode ser acompanhado cerca de 30 km a sul da posição atual. Naquela época o rio Purus desembocava no Solimões a montante de Beruri (60 km distante da confluência atual).

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