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5. RESULTADOS DA PESQUISA

5.2. ANÁLISE DOS RESULTADOS DOS QUESTIONÁRIOS SEMI-

Como informado no capítulo anterior, os questionários submetidos ao pré – teste e validados por acadêmicos da área com questões abertas e fechadas basicamente sobre: perfil, atribui- ções, capacitação, organização e funcionamento da CRUE, foram aplicados a MR pertencen- tes ao grupo de profissionais reguladores que atuam no Rio de Janeiro, em setores privados e/ou públicos, ou seja, quase a quinta parte da população-alvo. Além disso, foram coletados dados dos profissionais, tais como: sexo, idade, especialização, tempo de atuação em CRUE e participação em cursos de gestão de saúde. A realização do teste ocorreu sem qualquer inter- corrência. Foi feita uma breve explicação de cada pergunta enfatizando a necessidade de res- postas mais próximas da realidade, para uma análise consistente do estudo. A duração do questionárioesteve dentro do tempo sugerido pela literatura (até uma hora). Todas as questões foram analisadas quantitativamente, com cálculos percentuais simples e distribuição de fre- quência.

Quadro 5: Médicos reguladores por sexo, faixa etária e especialidades SEXO Número de MR FAIXA ETÁRIA Número de MR ESPECIALIDADE Número de MR

MASCULINO 08 25 a 35 anos 03 ANESTESIA 01

FEMININO 07 35 a 45 anos 05 CIRURGIA GERAL 02

45 a 55 anos 04 CLINICA MÉDICA 04

> 55 anos 03 GERIATRIA 01

INTENSIVISTA 02

MEDICINA DO

TRABALHO 02

PEDIATRIA 03

Apenas como ilustração do perfil dos profissionais e não como um dado significativo do estu- do, dos quinze médicos entrevistados, oito são do sexo masculino e sete do feminino. Oito estão na faixa de 25 a 45 anos e os demais acima de 45 anos. Nota - se um equilíbrio entre os gêneros, as faixas etárias. Observa-se também uma variedade de especialidades, sinalizando que a regulação médica, apesar de não ser ainda reconhecida no país como uma especialidade médica, atrai diferentes especialistas. Esta variedade de saberes traz uma importante contri- buição na formação de um consenso para atuação na regulação, pois, uniformiza as atividades e pode contribuir na construção ou na atualização dos protocolos clínicos de urgên- cias/emergências. Estes abarcam vários assuntos de interesse clínico, sendo, portanto um guia prático de respostas às necessidades dos solicitantes de socorro. Além disso, dois (um intensi- vista e o outro anestesista) declararam ter curso de gestão em saúde, no nível de pós- graduação, lato sensu. Sendo um com Master Business Administration (MBA)65 ministrado por uma renomada instituição brasileira. Em ambos os casos com tempo de duração de 2 anos.

65 O Master Business Administration (MBA) em saúde tem como objetivos: desenvolver competências e habilidades relacionadas ao pensar e agir estratégico frente aos desafios específicos da gestão de sistemas e serviços públicos e privados de saúde e desenvolver competências quanto à utilização de técnicas gerenciais contemporâneas que permitam identificar e apresentar soluções aos problemas organizacionais.

Quadro 6: Atuação dos médicos entrevistados em nº absolutos e relativos TEMPO DE ATUAÇÃO DOS MR EM REGULAÇÃO MÈDICA EM PRONTO SOCORRO EM APH (MÉDICO INTERVENCIONISTA) 02 a 05 anos 09 (60%) 02 (13,4%) 03 (20%) 05 a 10 anos 03 (20%) 03 (20%) 03 (20%) > 10 anos 03 (20%) 10 (66,6%) 09 (60%)

Observa-se que 60% dos profissionais entrevistados atuam em menor tempo na regulação médica quando comparado com a atuação na APH (20%) e em PS (13,4%). Sendo os que atuam em PS e APH, o fazem há mais tempo. É possível que o número maior de entrevistados atuando há menos tempo na regulação, esteja relacionado a uma maior divulgação nos meios profissionais da atividade, nos últimos cinco anos. Em contrapartida observa-se que o número de entrevistados atuando no PS e na APH, serviços mais conhecidos, é maior em um tempo superior a dez anos. De todos os entrevistados apenas um frequentou curso de capacitação em procedimentos de regulação, como preconizado na legislação. Embora, oito deles (53,4%) informam ter conhecimento da legislação sobre as urgências e emergências e a sua regulação. Surpreendentemente, neste grupo não se inclui o entrevistado que informou ter realizado a capacitação em regulação médica. Concluí-se que a maioria dos entrevistados tem uma expe- riência maior em medicina intervencionista, tanto no PS quanto na APH (capacidade técnica) do que em regulação médica, que envolve uma capacidade gestora e uma técnica. A falta da capacitação exigida por lei pode ser um fator que dificulte o bom desenvolvimento do proces- so de trabalho na CRUE. O conhecimento da legislação apontado por pouco mais da metade dos entrevistados, por si só não é suficiente para o desempenho da função de regulador. Este é apenas uma pequena parte do conteúdo programático do curso de capacitação em regulação médica.. Além disso, o conhecimento das normas legais funciona como um embasamento do serviço, legitimando - o. Isto pode impor um caráter de maior autonomia na tomada de deci- sões dos profissionais.

Foram interpelados sobre o conhecimento legal das suas atribuições e se estas eram plena- mente utilizadas e a respeito do seu perfil como gestor e sua aptidão/capacitação para o exer- cício das atividades gestoras /técnicas. Esta capacidade como já discutida é uma atribuição importante para o perfil de um MR, logo difícil de não se ver como tal. As respostas foram as

que se seguem no quadro esquematizado abaixo:

Quadro 7: Respostas em nº absolutos e percentuais sobre o perfil e as atribuições do médico regulador Perfil e atribuições gestoras

e técnicas do Médico Regulador

Respostas em números absolutos e percentuais

SIM NÃO

Conhece suas Atribuições legais 13 (85,6) 02 (13,4%)

Usadas plenamente 09 (60%) 06 (40%)

Perfil gestor e técnico 14 (94%) 01 (<7%)

Apto/capacitado 14 (94%) 01 (<7%)

Como mostrado no quadro acima, a grande maioria (85,6%) conhece as suas atribuições e se vê com perfil gestor/técnico e apto assim como capacitado (94%) para o exercício da regula- ção, apenas uma pessoa nega essas qualificações. É interessante observar que apesar de ape- nas uma pessoa informar ter sido capacitada em curso especializado e somente duas terem realizado um curso de pós graduação em gestão, a esmagadora maioria se sente qualificada. Esta auto percepção pode vir a ser um dificultador na implantação de cursos regulares de ca- pacitação para MR, quer seja por falta de corum ou mesmo por entendimento das organiza- ções de que este instrumento é desnecessário, visto que o profissional médico já se encontra habilitado a este tipo de prática, independente da capacitação. Quando mais da metade afirma que consegue usar plenamente estas funções, é como se estivesse afirmando que não existem impeditivos de qualquer natureza para o desempenho da atividade. Esta informação se contra- põe ao observado na prática, até porque, por mais organizados que os serviços estejam sempre se tem algo a melhorar, a acrescentar ou mesmo mudar. Ainda sobre as respostas do questio- nário, o quadro abaixo mostra informações sobre a organização e o funcionamento da CRUE, da APH e dos serviços de saúde em geral, na percepção dos MR, seguindo-se no texto algu- mas considerações citadas pelos entrevistados sobre este tema.

Quadro 8: Respostas sobre a Organização e Estrutura da Central de Regulação, da APH e de demais serviços de

saúde

Organização e Estrutura da Central de Regulação, APH e de- mais serviços de saúde

RESPOSTAS

Sim Não

Recursos Humanos suficientes na Central 12 (80%) 03 (20%)

Recursos Físicos suficientes na Central 06 (40%) 09 (60%)

APH estruturada/organizada 03 (20%) 12 (80%)

Serviços de Saúde estruturados/ organizados Zero 15 (100%)

A análise desses dados sinaliza uma percepção bem próxima do que é exposto pela mídia so- bre a organização e funcionamento dos serviços de saúde e da APH na cidade. Para a maioria dos entrevistados, a estrutura da CRUE, embora pareça satisfatória do ponto de vista dos re- cursos humanos, deixa a desejar quanto aos recursos físicos (área física, mobiliário, telefonia, gravação, protocolos clínicos, tecnologia, comunicação, etc.). Esses elementos fundamentais para um perfeito funcionamento do serviço apresentam como principal queixa: a manutenção inadequada ou mesmo a falta dela que é mais comumente observada na Central pública. A APH foi avaliada por oitenta por cento dos entrevistados como insuficiente, principalmente, quando se trata das unidades móveis (ambulâncias). Estas foram consideradas tanto nos servi- ços privados quanto no público, em número abaixo do necessário para atender todas as suas demandas. Os veículos da CRUE pública, em particular, estão sucateados. Os pneus gastos e a falta de ar condicionado é o padrão. As unidades quebram sistematicamente e não possuem manutenção preventiva, expondo a equipe e os pacientes, a toda sorte de riscos. Nas centrais privadas, as unidades são melhores. Em geral, os recursos humanos (médicos, enfermeiros e condutores) não têm qualquer tipo de treinamento, comprometendo a qualidade do atendimen- to e expondo as organizações a problemas éticos e legais. Entre outros, dois problemas foram apontados como muito graves: a constante falta de vagas nos hospitais (públicos/privados), em particular, leitos de UTI e os constantes atrasos na execução de exames em outras unida- des de saúde (público-privadas), que muitas vezes estão muito distantes da origem. Ambos os casos, levam a um tempo maior de ocupação da unidade móvel, ocasionando entre outros dis- sabores: fila de espera para os atendimentos e insatisfação dos assistidos.

principalmente os que deveriam estar articulados (integrados) com a CRUE, tais como: os hospitais de retaguarda, o sistema de referência e contra referência e a Central de Leitos. A estrutura em geral é vista por todos, como adequada em serviços de alta complexidade, porém na AP e nas urgências/emergências, deixa muito a desejar. A falta de equipamentos e medi- camentos básicos nas salas de emergência sempre lotadas, somado a inexistência de treina- mento das equipes hospitalares, piora o quadro destes serviços. O controle do transporte e dos leitos de observação e de internação é precário, comprometendo a agilidade que o serviço requer. Os serviços não estão ainda devidamente hierarquizados. Na esfera privada, todos concordam que a maioria dos serviços é mais organizada, entretanto, apontam para a grande dificuldade de integração com a rede de saúde em geral e em particular com a pública.

As últimas perguntas do questionário foram: se havia obstáculos que impediam o perfeito exercício da função, caso positivo, quais eram; a percepção sobre a qualidade ofertada pelo serviço e a recebida pelo cliente; se existia igualdade (equidade) no atendimento da Central e finalmente se uma adequada regulação médica é capaz de evitar a superlotação. Todos con- cordaram que existem obstáculos para um melhor exercício da função de MR e apontaram basicamente as seguintes causas:

Ø 1 - Pouca ou nenhuma autonomia do MR na decisão de necessidades/prioridades. Este papel na esfera pública é quase sempre exercido pelo poder político local. Na privada, está condicionado a políticas de relacionamento dos planos de saúde com a rede de sa- úde conveniada;

Ø 2 - A desorganização da rede de saúde, principalmente da AP, que não cumpre com o seu papel de atender aos casos de menor complexidade e a falta crônica de leitos de UTI;

Ø 3 - Ausência de processos de trabalhos claros e bem definidos;

Ø 4 - A falta de capacitação das equipes e de recursos físicos (unidades móveis, equipa- mentos, etc.).

Sobre as percepções da qualidade da atenção, ofertada e recebida, num escore, de “muito boa, boa e péssima”, os resultados foram: Tanto a qualidade dos serviços ofertados pela Central quanto os serviços recebidos pelo cliente foram considerados como bons para oitenta por

cento dos entrevistados e péssimos, para os demais. Estas pessoas são as mesmas que avalia- ram como “péssimo”, os serviços da CRUE. As duas últimas perguntas sobre equidade no acesso e superlotação apresentaram unanimidade no quesito “não” para a primeira e “sim” para a outra. Observa-se que a maioria das respostas aponta para a problemática da gestão e organização dos serviços de saúde, em particular, dos serviços de urgências/emergências. Apesar disso, a qualidade dos serviços (ofertada e a recebida) é percebida pelos entrevistados como satisfatória. Este antagonismo pode ser justificado, no que diz respeito aos serviços da CRUE, pelo comprometimento dos profissionais das emergências em dar o melhor possível frente às piores adversidades e no caso dos serviços recebidos, talvez pela situação de emer- gência, maior expressão da fragilidade de um ser humano. Neste momento, tudo que é possí- vel fazer, é recebido de bom grado, e mesmo que os meios não sejam os mais adequados é percebido como de boa qualidade. O reconhecimento de todos os MR entrevistados sobre a desigualdade no acesso e a gestão na CRUE como meio de conter a superlotação, são pontos importantes para refletir sobre a atenção de urgências/emergências e promover as mudanças, tão necessárias a este tipo de cuidado.